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Tabagismo em Portugal

Article in Arquivos de Medicina · September 2005

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Fraga S et al Tabagismo em Portugal
REVISÃO ISSN 0871-3413 • ©ArquiMed, 2005

Tabagismo em Portugal

Sílvia Fraga*, Sandra Sousa*, Ana-Cristina Santos*, Margarida Mello†, Nuno Lunet*, Patrícia Padrão*, Henrique
Barros*
*Serviço de Higiene e Epidemiologia, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto; † Faculdade de Economia da
Universidade do Porto

Os efeitos do tabaco e as consequências que ele produz a nível da saúde já estão bem estudados e documentados.
Fumar é o factor de risco modificável com o maior número de mortes atribuídas.
Portugal encontra-se num estádio da epidemia menos adiantado em relação à maioria dos países desenvolvidos.
Contudo, existem diferenças de consumo de cigarros entre as zonas rurais urbanas do país, sendo superior nas zonas
urbanas, e o padrão de evolução é distinto, verificando-se uma ligeira diminuição nos homens e um aumento nas
mulheres, o que faz esperar, além das complicações comuns a ambos os sexos, adicionais consequências na função
reprodutiva e no resultado da gravidez. A prevalência de consumo de tabaco é elevada nas grávidas, sendo
necessárias fortes medidas de combate ao consumo de tabaco nesta população. O consumo de tabaco inicia-se
frequentemente na adolescência, sendo as iniciativas destinadas à prevenção do consumo de tabaco especialmente
importantes nestas idades. A elevada prevalência de fumadores no grupo dos profissionais de saúde, nomeadamente
nos médicos e enfermeiros, e entre os professores, merece particular atenção, uma vez que poderão funcionar como
exemplos na sociedade.
A lei portuguesa sobre a Prevenção do Tabagismo é restritiva, sendo necessária a fiscalização do seu efectivo
cumprimento. É importante a monitorização periódica da prevalência de fumadores em Portugal, incluindo amostras
representativas da população continental e regiões autónomas, que permitam a análise de dados estratificados,
demográfica e socioeconomicamente, bem como trabalhos de investigação, com atenção especial a grupos
populacionais mais vulneráveis, como são adolescentes, grávidas e profissionais de saúde.
Palavras-chave: tabaco; Portugal; legislação; prevenção.

ARQUIVOS DE MEDICINA, 19(5-6): 207-229

INTRODUÇÃO o intuito de aumentar o consumo nesta franja de mercado


(4).
As primeiras referências ao tabaco surgem entre as O tabaco foi fortemente utilizado pelas tropas aliadas
populações nativas do continente americano, que o durante a II Grande Guerra, e o hábito começou a suscitar
usavam não apenas fumado, como psicoestimulante, interesse científico no mundo anglo-saxónico, que, ao
mas também em pasta como produto medicinal, pois contrário da Alemanha nazi, durante a primeira metade
acreditavam no seu poder divino (1, 2). A sua introdução do século XX não se havia interessado pelo tabagismo.
na Europa deu-se no século XVI e foi consequentemente O primeiro estudo epidemiológico surge em 1943 (5) e
exportado para países africanos e asiáticos em 1950 são publicados quatro artigos sobre o tema (6-
acompanhando a grandiosidade das trocas comerciais 9). Nos anos 60 a relação entre tabaco e cancro do
no período dos Descobrimentos (1). pulmão estava estabelecida (2).
O consumo de tabaco observa-se há vários séculos, Contudo, à crescente preocupação com os efeitos
através do mastigar das folhas, do fumo do cachimbo ou sanitários do consumo de tabaco contrapôs-se o ambiente
da inalação, mas o cigarro surge somente no fim do liberal dos anos 70 e a agressividade da política comercial
século XIX. Pelo seu custo e pela facilidade no da indústria tabaqueira, levantando barreiras à
manuseamento foi produzido em massa e contribuiu implementação de campanhas e medidas efectivas con-
para uma rápida expansão do consume de tabaco a nível tra o consumo de tabaco (2). As medidas legislativas e as
mundial (2, 3). políticas públicas no sentido da prevenção e combate ao
Após a I Guerra Mundial, a indústria de tabaco explorou consumo do tabaco generalizaram-se durante a década
as ideias de liberdade, de emancipação, de poder, criando de 80 (2). A Organização Mundial de Saúde (OMS) criou
novos significados dos papéis sociais das mulheres, com em 1987 o Dia Mundial sem Tabaco (31 de Maio) e lançou
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ARQUIVOS DE MEDICINA Vol. 19, Nº 5/6

campanhas preventivas, em particular dirigidas aos jovens longo dos anos através do acompanhamento de algumas
e adultos jovens, os alvos preferenciais da indústria coortes de adultos estudadas em Inglaterra mostrou que
tabaqueira (2). Apesar dos esforços que têm vindo a os fumadores apresentavam uma diminuição da
desenvolver-se na área da prevenção, estima-se que esperança de vida em 10 anos (13).
ocorram anualmente 4,9 milhões de mortes relacionadas O tabaco tem igualmente efeitos nefastos na gravidez,
com o tabaco, sendo o cigarro o único produto legal que estando associado a aborto espontâneo, gravidez
mata através do consumo regular (10). ectópica, morte fetal in utero, parto pré-termo e baixo
Para além das consequências individuais é de realçar peso ao nascimento (14, 15). Estima-se que seja possível
o impacto social do tabagismo, nomeadamente através reduzir em 10% a mortalidade infantil eliminando o
dos elevados custos económicos associados a gastos tabagismo materno (16).
em saúde, absentismo ou incapacidade precoce (11), e Foram identificados numerosos agentes
à substituição de parte dos consumos familiares em bens carcinogénicos e co-carcinogénicos no fumo de tabaco,
de primeira necessidade pela aquisição de tabaco com o sendo o aumento do risco de morbilidade e mortalidade
que isso arrasta de empobrecimento adicional. Pode proporcional ao tempo e à intensidade da exposição (4).
ainda ser gerador de diversos acidentes relacionados Os fumadores involuntários encontram-se também
com a condução, fogos domésticos ou florestais (12). em risco em relação a muitas das doenças inerentes ao
fumo directo. Os malefícios do tabaco trazem consequên-
cias nefastas não só para o fumador como também para
TABACO E SAÚDE os não fumadores expostos à poluição tabágica ambiental
PTA), que corresponde ao conceito de Environmental
O consumo de tabaco é uma das principais causas de Tobacco Smoke (ETS) ou Secondhand Smoke, também
morte evitável. Para além do substancial aumento do designada por fumo passivo, ocorre quando o fumo
risco de cancro do pulmão, o tabaco é causa directa ou exalado de uma pessoa é inalado por outra. Está
provável de outros cancros (e.g. cavidade oral, laringe, demonstrada uma associação entre a poluição tabágica
esófago, estômago, rim, bexiga), é causa importante de ambiental e a patologia cardiovascular e pulmonar (17,
doença cardiovascular (e.g. acidente vascular cerebral, 18), podendo também ser uma das causas do baixo peso
doença vascular periférica, enfarte do miocárdio) e à nascença ou do síndrome de morte súbita (15).
pulmonar (e.g. doença pulmonar obstrutiva crónica, A dinâmica da epidemia do consumo de tabaco pode
enfisema pulmonar, otites). A evidência recolhida ao ser definida em quatro fases distintas (Figura 1). Na

Fig. 1 - Fase de evolução da epidemia do tabaco.


Fonte: Lopez AD, Hollinshaw NE, Piha T. A descriptive model of the cigarette epidemic in developed countries. Tob
Control. 1994; 3: 242-47, sob autorização.
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Fraga S et al Tabagismo em Portugal

primeira, fumar é um comportamento de excepção e é tabaco per capita estabilizou, mas as taxas de cancro no
típico das classes mais altas ou mais favorecidas. No pulmão continuaram a aumentar. A estabilização nestas
estádio dois fumar torna-se mais comum entre os homens, taxas a partir de 1986 resulta de um claro decréscimo na
alargando-se este comportamento a todas as classes prevalência de homens fumadores (20).
sociais. A evolução deste comportamento nas mulheres Nos países europeus, o tabaco é a causa mais
está 10 a 20 anos atrasada em relação à situação importante de mortalidade, provocando mais de meio
observada para os homens e o consumo de tabaco é milhão de mortes anualmente, metade das quais em
adoptado sobretudo nas classes sociais mais favorecidas. indivíduos com menos de 70 anos. Assiste-se a uma
No estádio três a proporção de homens fumadores desce estabilização na mortalidade por cancro do pulmão nos
acentuadamente e atinge o pico máximo nas mulheres. homens na maioria dos países do centro e sul europeu,
Durante o quarto e último estádio, a frequência do consumo e observa-se igualmente uma clara tendência decrescente
decresce em ambos os sexos e torna-se mais frequente nos países nórdicos e mais ocidentais e um aumento nos
nas classes sociais mais baixas (13). Os Estados Unidos países do leste europeu. Nas mulheres, o consumo de
da América e a maioria dos países do norte da Europa tabaco tende a aumentar em vários países europeus que
atingiram já o quarto estádio, o que significa uma maior se encontram nas fases menos avançadas da epidemia,
prevalência de consumo de tabaco entre as classes prevendo-se o aumento da mortalidade por causas
sociais mais desfavorecidas e menos escolarizadas. No relacionadas com o tabaco nas próximas décadas (21).
lado oposto, no estádio dois, estão países asiáticos e Globalmente, o consumo de tabaco é responsável por
latino americanos que apresentam maiores prevalências 4 milhões de óbitos por ano, cerca de uma por cada dez
entre os homens, sem distinção entre estratos sociais, e mortes em adultos, estimando-se que cause 450 milhões
em mulheres mais escolarizadas (13). A maioria dos de mortes nos próximos 50 anos (22).
países do sul da Europa enquadra-se no estádio 3,
enquanto Portugal se encontra na transição entre as
fases 2 e 3 (19). CONSUMO DE TABACO
Uma grande parte das doenças relacionadas com o
tabaco apresenta um período de latência longo, o que se É possível avaliar a dimensão populacional do
traduz num desfasamento temporal entre o consumo nas tabagismo através do consumo de tabaco estimado pelo
populações e a carga de doença que se lhe associa. consumo aparente, que resulta do valor da produção
Apesar de nem todos os países poderem ser mais a importação, ao qual se subtrai a exportação, ou
directamente enquadrados num destes estádios, esta através de estimativas de prevalência de fumadores.
caracterização ilustra a forma como a epidemia progride Na figura 2 pode observar-se o consumo aparente de
se não for contrariada por políticas eficazes no controlo tabaco em diferentes países. Nos EUA é acentuado o
do consumo. decréscimo na disponibilidade de tabaco a partir dos
Nos EUA, o consumo aumentou 44% entre 1920 e anos 80 e na Finlândia a partir dos anos 90. O crescimento
1950, repercutindo-se no aumento da mortalidade por do consumo de cigarros na China verifica-se a partir dos
cancro do pulmão. Após os anos 50, o consumo de anos 70, mas não se observa grande variação na última
Consumo aparente per capita (cigarros)*

Fig. 2 - Consumo aparente per capita (cigarros)‡ em países da África, América, Ásia e Europa.
Fonte: American Cancer Society, Inc., World Health Organization, and International Union Against Cancer. The
Tobacco Control Country Profiles 2003 (2nd edition)

Consumo aparente de cigarros per capita = (Produção + Importação - Exportação) / (população com 15 ou mais anos).
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ARQUIVOS DE MEDICINA Vol. 19, Nº 5/6

década do século XX, assim como em Portugal, que teve masculino é ainda pouco clara nos adultos, mas já notória
um ligeiro decréscimo também nos anos 90. nos adolescentes, enquanto que no sexo feminino se
O consumo de tabaco, medido pela proporção de regista um aumento da proporção de fumadoras adultas
fumadores, é também diferente em diferentes áreas geo- e adolescentes.
gráficas. Na população adulta, a prevalência de fumadores A quase totalidade dos fumadores inicia o consumo
é mais elevada no sexo masculino, mas a diferença entre durante a adolescência (23), ou em idade escolar (24). O
sexos é praticamente inexistente na Nova Zelândia e European Smoking Prevention Framework Approach
muito acentuada na China e nos países do continente (ESFA) criado em 1998 envolveu sete cidades de seis
Africano. Nos adolescentes, verifica-se que as diferenças países da Europa (Dinamarca, Finlândia, Holanda, Por-
entre sexos são menores em todas as regiões, sendo, tugal, Espanha e Reino Unido) e acompanhou durante 4
por exemplo no Chile a proporção de fumadores já supe- anos uma amostra de 23.531 adolescentes com média
rior nas raparigas (Tabela 1). de idade de 13,3 anos no momento da primeira avaliação
A análise da evolução da prevalência de adultos (25). A prevalência de fumadores regulares nesse estudo
fumadores na última década e a proporção de adoles- foi de 4,0%. A média de idades dos alunos portugueses
centes fumadores nos anos mais recentes (Tabela 2) avaliados era 13,5 anos e a prevalência de fumadores
permite observar a heterogeneidade dos países europeus regulares foi superior no sexo feminino (4,2% nas
relativamente ao seu enquadramento nas diferentes fases raparigas 3,0% nos rapazes). Em Portugal, como na
da epidemia. Por exemplo, na Holanda observa-se uma Finlândia e no Reino Unido, as raparigas eram mais
diminuição da prevalência em adultos de ambos os sexos frequentemente fumadoras regulares que os rapazes
e prevalências ainda inferiores nos adolescentes; em (Figura 3).
França a descida da prevalência nos fumadores do sexo

Tabela 1 - Prevalência de fumadores na população adulta e nos adolescentes em países de África, América,
Ásia e Oceânia.

População adulta* Adolescentes (13-15 anos)†


2003 2000-2003

Homens(%) Mulheres(%) Homens(%) Mulheres(%)

América
Canadá 22,0 18,0 ---- ---
México 35,9 15,0 24,0 20,0
EUA 24,1 19,2 26,0 20,0
Brasil 26,3 17,5 21,0 18,0
Chile 48,3 36,8 33,0 42,0

Ásia e Oceânia
Japão 47,9 12,2 --- ---
China 57,4 3,5 14,0 6,0
Índia 42,3 8,6 29,0 20,0
Israel 38,6 22,1 --- ---
Nova Zelândia 25,1 24,8 --- ---

África
Marrocos 32,1 0,2 17,0 9,0
Etiópia 7,3 0,6 12,0 6,0
Congo 16,5 1,7 --- ---
Zimbabué 26,2 3,1 19,0 14,0
África do Sul 37,0 11,2 38,0 27,0

*Fonte: Organização Mundial de Saúde [http://www3.who.int/whosis/core/core_select.cmf]


†Fonte: Organização Mundial de Saúde [http//globalatlas.who.int/globalatlas/dataQuery/default.asp]

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Fraga S et al Tabagismo em Portugal

Tabela 2 - Proporção de fumadores na população adulta e nos adolescentes em países Europeus.

Proporção de fumadores %

População adulta Adolescentes (13anos)

1994-1998 1999-2001 2002-2005 2002-2005


Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Rapazes Raparigas
Alemanha 43,0 30,0 38,9 30,6 37,1 30,5 32,2 33,7
Bélgica 34,0 27,0 36,0 26,0 30,0 25,0 23,1 23,8
Espanha 42,1 24,8 39,2 24,6 34,2 22,4 23,6 32,3
Finlândia 29,0 20,0 27,0 20,0 27,0 20,0 22,0 230
França 35,0 21,0 33,0 21,0 33,3 26,5 26,0 26,7
Fed. Russa 62,0 10,9 62,2 12,6 61,3 15,0 27,4 18,5
Grécia 46,0 28,0 46,8 29,0 --- --- 13,5 14,1
Holanda 38,5 30,7 38,9 30,2 31,0 25,0 22,5 24,3
Hungria 46,0 28,0 40,6 26,3 40,5 27,8 28,2 28,8
Itália 32,0 17,5 31,6 17,1 31,3 17,2 21,8 24,9
Noruega 33,5 32,3 29,5 29,7 27,2 24,8 20,1 26,6
Polónia 44,0 24,0 42,0 23,0 38,0 25,6 26,3 17,0
Portugal 32,7 7,6 32,8 9,5 --- --- 17,6 26,2
Reino Unido 29,0 28,0 29,0 25,0 27,0 24,0 20,3 27,4
Suécia 17,0 21,1 17,9 19,9 14,0 19,0 11,1 19,0
Ucrânia 48,5 20,5 58,0 14,0 62,0 17,0 44,6 22,8

Fonte: World Health Organization - Regional Office for Europe [URL: http://data.euro.who.int/tobaco/?TabID=2404].

CONSUMO DE TABACO EM PORTUGAL 1805 cigarros por adulto em 1980 para 1998 cigarros em
Em Portugal observamos nas últimas três décadas 2000, observando-se um pico em 1990 (2203 cigarros
um aumento da disponibilidade de tabaco per capita por adulto) (26).
(Figura 4), mas nos últimos 20 anos tem oscilado num A prevalência de fumadores tem sido avaliada em
intervalo de valores relativamente estreito. Aumentou de alguns estudos desenvolvidos no nosso país. Grande

Fig. 3 - Prevalência de fumadores adolescentes dos países europeus participantes do Projecto ESFA, 1998.
Fonte: European Smoking Prevention Framework Approach (ESFA)

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ARQUIVOS DE MEDICINA Vol. 19, Nº 5/6

Fig. 4 – Evolução da disponibilidade de tabaco em Portugal nas últimas três décadas.


Fonte: Dados sobre consumo de tabaco. Centers for Disease Control and Prevention, 2002.

parte desses trabalhos refere-se a grupos específicos da a 65 anos, em particular nas mulheres (28-30).
população ou inclui apenas algumas regiões do país, o A idade de início de consumo de tabaco é um
que torna por vezes difícil efectuar comparações directas, importante determinante do consumo regular (10).
nomeadamente relativas à evolução temporal (Tabela 3). Quando o consumo se inicia na infância ou nas fases
Dados sobre hábitos tabágicos em Portugal mostram mais precoces da adolescência é mais provável que
que o padrão de consumo de tabaco se assemelha mais resulte num consumo regular e futuramente num risco
ao verificado em países do leste europeu, nos quais a acrescido de morte por doenças habitualmente
prevalência de fumadores é bastante superior nos homens relacionadas com o tabaco (3). Mundialmente, observa-
(19). Paralelamente, assiste-se a um aumento da se uma tendência para a diminuição progressiva da idade
prevalência de mulheres fumadoras, especialmente en- de início de consumo de tabaco e na Figura 6 verifica-se
tre as mais novas e mais escolarizadas (19), salientando- que em Portugal tem vindo igualmente a diminuir nas
se que embora crescente, a proporção de mulheres mulheres, sendo a variação menos acentuada nos
portuguesas que fuma diariamente é inferior à média homens.
europeia. Isto poderá mostrar que Portugal se aproxima As mulheres fumadoras são mais escolarizadas,
lentamente do padrão de consumo dos países da Europa principalmente as que nasceram na primeira metade do
do Sul (27). século XX mas estas diferenças têm vindo a atenuar-se
Em 1987 (28), 1995/96 (29) e 1998/99 (30) o Inquérito nas mulheres nascidas nas últimas décadas. Nos homens
Nacional de Saúde avaliou amostras probabilísticas da não se verificam diferenças entre os fumadores e não
população de Portugal Continental, tendo sido recolhidas fumadores relativamente à escolaridade (Figura 7).
informações sobre os hábitos tabágicos em indivíduos Poderíamos pensar que as pessoas mais
com idade igual ou superior a 15 anos. Comparando a escolarizadas teriam maior formação e informação e
prevalência de fumadores que declararam fumar pelo deveriam possuir mecanismos que inibissem a aquisição
menos um cigarro por dia observou-se, nos homens, um e/ou manutenção do consumo de tabaco. O facto de
decréscimo entre 1987 e 1995/1996 (33,3% e 29,2%, serem as mulheres mais escolarizadas que fumavam
respectivamente), mantendo-se estável em 1998/1999 nas décadas anteriores aos anos 70 remete-nos a um
(29,3%). Nas mulheres, as frequências têm aumentado período cuja ideologia dominante não considerava
ao longo do tempo (5,0% em 1987, 6,5% em 1995/1996 aceitável o consumo de tabaco pelas mulheresr. Daí se
e 7,9% em 1998/1999) (28-30), apesar de serem ainda compreender o crescimento acentuado verificado a partir
inferiores (Figura 5). Ao comparar a prevalência de da década de 70, que se prolonga até à actualidade, e
fumadores nas diferentes classes etárias observamos que acompanhou outras manifestações da determinação
que os consumos são mais elevadas nos indivíduos entre do género.
os 25 e os 34 anos, em ambos os sexos, nos três O Centro de Estudos de Cardiologia Preventiva
inquéritos nacionais (embora a prevalência de fumadores recolheu informação sobre hábitos tabágicos nos
nestas idades seja decrescente nos homens e crescente inquéritos que efectuou em 1975, 1977 e 1980 (31). Em
nas mulheres). As proporções mais baixas de fumadores 1975 foi avaliada uma amostra de 2060 indivíduos entre
observam-se nos indivíduos com idade igual ou superior os 25 e os 64 anos, residentes nos distritos da Guarda,
212
Fraga S et al Tabagismo em Portugal

Fig. 5 – Prevalência de fumadores, segundo os Inquéritos Nacionais de Saúde (INS).


Fonte: Inquérito Nacional de Saúde, 1987(14) ; 1995/1996 (15) ; 1998/1999 (16).
Idade em que se inicia o consumo de tabaco

Fig. 6 - Idade média (intervalo de confiança a 95%) de início de consumo de tabaco de acordo com as coortes de
nascimento (16).
Fonte: INS, 1998/99 (16)

Castelo Branco, Leiria e Santarém, encontrando-se uma Cardiovasculares na Comunidade, foram observadas
proporção de fumadores menor no meio rural do que no proporções de fumadores próximas das relatadas no
meio urbano, sendo a prevalência de fumadores bastante estudo anteriormente referido, embora em 1980 a
superior nos homens, quer em meio urbano (52,6% de prevalência de fumadores fosse inferior em ambos os
homens vs. 6,2% de mulheres fumadores) quer em meio sexos (homens: 48,4% em 1975/77 e 45,7% em 1980;
rural (34,7% de homens vs. 5,7% de mulheres fumadores) mulheres: 3,3% em 1975/77 e 0,5% em 1980) (31).
mas semelhante nas mulheres em ambos os meios (31). O primeiro Inquérito de Saúde realizou-se em 1983,
Em 1975/77 e 1980, nos inquéritos realizados no da responsabilidade do Departamento de Estudos e
Bairro da Musgueira (bairro urbano degradado), no âmbito Planeamento da Saúde (DEPS), restringindo-se à área
do Programa de Prevenção e Controlo das Doenças metropolitana de Lisboa (32). Nesse Inquérito a
213
ARQUIVOS DE MEDICINA Vol. 19, Nº 5/6

Escolaridade (anos)
Escolaridade (anos)

Fig. 7 - Comparação da escolaridade média (intervalo de confiança a 95%) entre fumadores e não fumadores
(esquerda: mulheres; direita: homens), por coortes de nascimento (16).

prevalência de fumadores foi 40,9% nos homens e 8,7% por 1582 mulheres (1573 responderam às questões
nas mulheres (32, 33). Estes resultados aproximam-se sobre hábitos tabágicos), inquiridas em 41 hospitais do
dos valores encontrados no estudo realizado um ano Continente e dos Açores, 24 a 72 horas após o parto. A
depois, em 1984, pelo Centro de Estudos de Cardiologia prevalência de mulheres fumadoras durante a gravidez
Preventiva, em colaboração com a Euroexpansão (Análise foi de 11,5%, com diferenças significativas entre as
de Mercados e Sondagens, AS) e com o Conselho de grandes regiões do país e com um valor muito superior
Prevenção do Tabagismo, no qual foram inquiridos 1040 nos Açores (41).
indivíduos de ambos os sexos, representativos da Num estudo realizado no Porto foram avaliados os
população portuguesa com mais de 15 anos, em que as hábitos tabágicos das grávidas que recorreram à consulta
prevalências de fumadores foram 37,3% nos homens e entre a 26ª e a 36ª semana da gravidez, e 15,5% das
10,1% em mulheres (31). mulheres referiram fumar durante a gravidez, sendo a
Em 1989, na cidade de Lisboa, os hábitos tabágicos maior proporção grávidas adolescentes (42). Um outro
de uma amostra de 1361 indivíduos com idade igual ou estudo realizado em Lisboa, na maternidade Alfredo
superior a 15 anos (35% de homens fumadores e 13% Costa, incluindo 1994 mulheres grávidas, estimou uma
mulheres) (34) foram semelhantes aos observados no prevalência de 17,8% de fumadoras na primeira consulta,
Inquérito Nacional de Saúde de 1987 relativos à área (43) (Tabela 5).
metropolitana de Lisboa (38% nos homens e 10% nas
mulheres) (28).
Quatro anos mais tarde (31), foi avaliada uma amostra Profissionais de saúde, professores e estudantes
representativa da população de Portugal Continental, Os profissionais de saúde e os professores têm um
constituída por 2078 indivíduos com idades papel de educadores para a saúde e de modelos,
compreendidas entre os 15 e os 78 anos e foi encontrada funcionando como exemplo para a população geral e
uma prevalência de homens fumadores de 43% e de para os mais jovens (Tabela 6).
mulheres fumadoras de 14%. Em 1980, em Coimbra, foram estudados os hábitos
Na tabela 4 são apresentados dados de prevalência tabágicos de profissionais de saúde (364 médicos e 351
de consumo de tabaco obtidos noutros estudos realizados enfermeiros), tendo-se identificado nos médicos, uma
em Portugal proporção de fumadores de 51% em homens e 46% em
mulheres (44, 45). Os enfermeiros do sexo masculino
apresentavam uma prevalência de fumadores próxima
Tabagismo e Gravidez da observada nos médicos (49,3%), enquanto que a
A prevalência de tabagismo durante a gravidez foi proporção de enfermeiras fumadoras era bastante infe-
estimada em Portugal, em 1995, numa amostra constituída rior à dos colegas homens e à das médicas (20,7%) (44,
214
Fraga S et al Tabagismo em Portugal

Tabela 3 - Prevalência de fumadores na população geral.

Autor Data Participantes Idade Prevalência (%)


Regiões
Homens Mulheres

Centro de Estudos de 2060


Cardiologia Preventiva 1975 25-64
(INSA) (31) Meio Rural 34,7 5,7
Meio Urbano 52,6 6,2

Centro de Estudos de 1301


Cardiologia Preventiva 1975/77 Bairro da >15 48,4 33,0
(INSA) (31) Musgueira

Centro de Estudos de 711


Cardiologia Preventiva 1980 Bairro da 25-64 45,7 0,5
(INSA) (31) Musgueira

D.E.P.S. (Inquérito Nacio- 7530


nal de Saúde) (32,33) 1983 Área Metropolitana ≥15 40,9 8,7
de Lisboa

Magalhães, E.
(Euroexpansão e CPT) 1984 1040 >15 37,3 10,1
(31) Portugal

ONSA (Inquérito Nacional 1987 40000 >15 33,3 5,0


de Saúde) (28) Portugal

Carvalho, B. (34) 1989 1361 >15 35,0 13,0


Lisboa

Magalhães, E. (31) 1993 2078 15-78 42,0 14,0


(Euroexpansão) Portugal

ONSA (Inquérito Nacional 1995/96 40000 >15 29,2 6,5


de Saúde) (29) Portugal

ONSA (Inquérito Nacional 1999 40000 >15 29,3 7,9


de Saúde) (30) Portugal

Santos, AC. et al (19) 2000 1644 >17 24,3


Porto

45). Os estudos realizados mais tarde com o mesmo Em estudantes da Universidade de Coimbra avaliados
objectivo apresentam também elevadas prevalências de em 1979 verificou-se uma prevalência de mulheres
fumadores em médicos e enfermeiros (46-48) mas mais fumadoras bastante superior à verificada em 1965 (39,5%
baixa nas mulheres. vs. 10,3%), enquanto que nos homens a proporção de
Um estudo realizado em 2002 revelou uma prevalência fumadores sofreu um aumento muito ligeiro entre 1965 e
de 30,3% de fumadores nos professores do sexo mas- 1979 (de 57,3% para 58,6 %) (31). Nos estudos efectuados
culino e 24,3% de fumadores nas professoras (49). posteriormente, apesar das dificuldades de comparação
215
ARQUIVOS DE MEDICINA Vol. 19, Nº 5/6

Tabela 4 - Prevalência de fumadores em amostras não representativas da população geral.

Autor Data Participantes Idade Prevalência (%)


Amostra
Homens Mulheres

Crun, Z.J., et al (35) 1992 222 Idosos


Estudo EuroNut-Seneca 70-75 12,0 0

Nunes, L., et al (36) 1997 1852 ±20 15,9 5,2


voluntários

Bordalo-Sá, A., et al (37) 1997 2439


doentes com enfarte do ----- 44,0 11,0
miocárdio

Pinto, A., et al (38) 1997 Doentes consulta ----- 46,0 13,0


alcoologia

Granja, C., et al (39) 2002 275 doentes admitidos


na Unidade de Cuidados ≥18 13,0
Intensivos

Santiago, L.M., et al (40) 2003 1013 30-79 18,2


voluntários

Tabela 5 - Prevalência de consumo de tabaco em grávidas.

Autor Data Participantes Idade Prevalência (%)

Almeida, S, et al (41) 2001 1573 ----- 11,5


Portugal

Figueiredo, B, et al (42) 2005 130 14-40 Antes da gravidez:


Porto 37,7
Durante a gravidez:
15,5

Ferreira-Borges, C. (43) 2005 1994 ---- 17,8


Lisboa

directa dos resultados, parece ter ocorrido uma diminuição alguns trabalhos realizados no nosso país (Tabela 8),
da prevalência entre os estudantes do sexo masculino e encontramos em 1980 num estudo de 324 estudantes de
um ligeiro aumento nos estudantes do sexo feminino (50- escolas secundárias de Coimbra, uma prevalência de
53) (Tabela 7). fumadores de 20,6% nos rapazes e 16,4% nas raparigas
Focando o grupo etário da adolescência, e analisando (55). Estes valores são superiores, para ambos os sexos,
216
Fraga S et al Tabagismo em Portugal

Tabela 6 - Prevalência de fumadores entre os profissionais de saúde e professores.

Autor Data Participantes Idade Prevalência (%)


(anos)
Homens Mulheres

Profissionais de Saúde

Medeiros, J (44) 1980 364 médicos 23-62 51,0 46,0

Medeiros, J (45) 1980 351 enfermeiros 20-55 49,3 20,7

Sá AB, et al (47) 1984 1177 médicos ----- 41,0 30,0

Almeida, IM (48) 1998 76 médicos 25-55 57,7 28,0

Almeida, IM (46) 2003 101 enfermeiros 24-61 27,7

Professores
Brandão, MP (49) 2002 280 professores 22-66 30,3 24,3

Tabela 7 - Prevalência de fumadores em estudantes universitários.

Autor Data Participantes Idade Prevalência (%)


Regiões (anos)
Homens Mulheres

Goulão, M. (31) 1965 509


Coimbra ----- 57,3 10,3

Goulão, M. (31) 1979 300 58,6 39,5


Coimbra -----

Rocha, E., et al (53) 2001 1148 17-63 16,0


Lisboa

Marques-Vidal, P., et al (50) 2001 1001 17-22 24,0 17,0


Lisboa

Rodrigues, H.L., et al (54) 2003 168 20-22 8,3


Lisboa

Monteiro, A.B., et al (51) 2004 4314 17-38 30,3 24,6


Porto

Precioso, J. (52) 2004 388 20,0 16,0


Braga -----

217
ARQUIVOS DE MEDICINA Vol. 19, Nº 5/6

Tabela 8 - Prevalência de fumadores em adolescentes.

Autor Data Participantes Idade Prevalência (%)


Regiões (anos)
Homens Mulheres

Goulão, M (55) 1980 324 estudantes 15-19 20,6 16,4


Coimbra

Machado AP, et al (56) 1993 16013 estudantes 12-19 14,6 11,3


Portugal Continental

Pires, S. (60) 1996 172 estudantes 14-18 25,0


Castelo Branco

Azevedo A, et al (57) 1996 1974 estudantes 15-19 15,9 14,0


Porto

Silva DM, et al (58) 1997 1390 estudantes 12-18 26,7 22,9


Viseu

Manso, J. (61) 1998 1812 estudantes 12-16 15,5 9,1


Vila Real

Faria, H. (59) 1999 1234 estudantes 12-22 10,9 6,6


Viana do Castelo

Ribeiro, TT (62) 2000 732 estudantes 14-22 47,7 52,3


Porto

Marreiros, MC (63) 2002 706 estudantes Nascimento no 85,5 61,3


Bragança e Faro ano de 1982

Matos M, et al (64) 2003 7331 estudantes


Portugal Continental 11,13,15,16 8,8 8,1
(Estudo HBSC 2002)

Vitória PP, et al (11) 2003 3034 estudantes


Portugal 12-15 3,0 4,2
(Projecto ESFA)

Correia P, et al (65) 2004 183 estudantes 11-16 6,6


Vila Nova de Gaia

Correia, T. (66) 7423 estudantes


Portugal Continental 15-19 37,7 31,8
(excepto Leiria e Guarda)

Cardoso, A. (67) 2005 1005 11-21 26,1 14,6


Lousada

aos encontrados num estudo realizado treze anos depois, onde se inserem os indivíduos. O último estudo
em 1993, numa amostra nacional de 16109 adolescentes contemplou uma amostra nacional representativa dos
a frequentar escolas portuguesas, na qual se observou estudantes do ensino secundário, incluindo meio rural e
uma prevalência de fumadores de 14,6% no sexo urbano, enquanto no primeiro estudo apenas foram
masculino e 11,3% no sexo feminino (56). Para lá de estudadas escolas urbanas.
diferenças no tamanho e representatividade amostral a Valores intermédios para a prevalência de fumadores
discrepância encontrada pode dever-se também ao meio foram encontrados em 1996, numa amostra de 2974
218
Fraga S et al Tabagismo em Portugal

estudantes de escolas secundárias do Porto, sendo a Dos adultos avaliados (n=2434), 44,8% eram fumadores,
proporção de fumadores regulares 15,9 % nos rapazes e sendo a prevalência superior nos homens (71,6% vs.
14 % nas raparigas (57). 28,1%).
Uma amostra representativa de 1390 estudantes do Observa-se na Figura 8, que as mulheres das coortes
7º ao 12º ano de escolaridade, do concelho de Viseu, de nascimento mais antigas iniciaram mais tardiamente
mostrou prevalências de tabagismo superiores às o consumo de tabaco, ao contrário dos homens que o
encontradas no Porto (26,7% nos rapazes e 22,9% nas faziam ainda no período da adolescência. No entanto,
raparigas) (58). observa-se também que a idade de consumo de tabaco
Um estudo levado a cabo em 1999 avaliou uma tem diminuído para as mulheres, mas não se observaram
amostra representativa dos alunos do 7º ao 12º ano do diferenças significativas ao longo do tempo nos homens.
distrito de Viana do Castelo constituída por 1234 As observações efectuadas nos participantes do
estudantes, estimando proporções de fumadores estudo EpiPorto relativamente à escolaridade média dos
inferiores às encontradas tanto em Viseu como no Porto fumadores e não fumadores de cada coorte de nascimento
(10,9 % nos rapazes e 6,6 % nas raparigas) (59). As (Figura 9) foram semelhantes às efectuadas no âmbito
diferenças encontradas, para além da especificidade do INS. Procedeu-se a uma avaliação do grau de
metodológica inerente a cada trabalho, sugerem-nos, dependência de nicotina através do Teste de Fagerström
novamente, uma associação entre os hábitos tabágicos (69) nos fumadores regulares (pelo menos um cigarro por
e o meio onde se habita, designadamente a localização dia), para o qual consideramos as categorias dependência
geográfica (litoral vs. interior; rural vs. urbano). muito leve, leve/moderada e elevada, segundo os anos
completos de escolaridade (Tabela 9).
Nas mulheres o grau de dependência aumenta com a
As Coortes Portuguesas escolaridade, não se verificando esta diferença nos
O estudo EpiPorto permitiu traçar um quadro da homens.
distribuição e dos determinantes do consumo de tabaco O estudo Epiteen (70, 71) constituiu uma coorte de
(19). Para caracterização dos hábitos tabágicos foi adolescentes nascidos em 1990 e que no ano lectivo
recolhida informação sobre a frequência de consumo e 2003-2004 estavam inscritos nas escolas públicas e
número de cigarros fumados e idade de início do consumo. privadas da cidade do Porto. Dos adolescentes avaliados,
Os participantes foram classificados de acordo com os 394 (19,9%) declararam apenas ter experimentado fumar,
critérios da Organização Mundial de Saúde (68). 35 (1,8%) fumavam ocasionalmente e 25 (1,3%) fumavam
Consideraram-se fumadores actuais os participantes que diariamente. A proporção de raparigas que já tinham
fumavam pelo menos um cigarro por dia, e fumadores experimentado fumar (22,4%) era maior do que a dos
ocasionais os que fumavam menos de um cigarro por dia. rapazes (17,1%), sendo também o uso de tabaco mais
Idade em que se inicia o consumo de tabaco

Fig. 8 - Idade média (intervalo de confiança a 95%) com que começou a fumar por coorte de nascimento (Estudo
EpiPorto).

219
ARQUIVOS DE MEDICINA Vol. 19, Nº 5/6

Escolaridade (anos)
Escolaridade (anos)

Fig. 9 - Comparação de homens fumadores e não fumadores relativamente à escolaridade média (intervalo de
confiança a 95%) (Estudo EpiPorto).

frequente nas raparigas: 2% declararam fumar pelo menos Estes resultados vão ao encontro dos valores
um cigarro por dia enquanto apenas 0,4% dos rapazes o revelados pelo ESFA (11) em que Portugal já mostra uma
admitiram (Figura 10). prevalência de fumadores mais elevada nas raparigas.
A curiosidade foi a razão mais frequentemente referida Os nossos resultados seguem o padrão de outros países
para o consumo de tabaco (raparigas: 48,4%; rapazes: desenvolvidos do sul da Europa, onde se assiste a um
45,6%). A segunda razão mais citada foi ter algum amigo declínio do início do consumo de tabaco por parte dos
fumador (raparigas: 13,6%; rapazes: 21,1%) (Tabela 10). rapazes e um aumento por parte das raparigas (25), o
A escola foi o local referido como o mais frequente- que permite especular acerca do posicionamento de
mente usado para fumar, em ambos os sexos, quer pelos Portugal numa fase inicial do estádio 3 da evolução da
adolescentes que apenas experimentaram (36,7%), quer epidemia do tabaco (13).
pelos fumadores habituais (43,6%).
Quanto ao número de cigarros fumados no mês que
antecedeu a realização do questionário, 44,9% (raparigas: Poluição tabágica ambiental (PTA)
38,3%; rapazes: 60,1%) referiram ter fumado menos de Num estudo promovido pelo Conselho de Prevenção
10 cigarros durante esse mês, 18,4% (raparigas: 14,8%; do Tabagismo observaram-se percentagens elevadas
rapazes: 26,6%) fumaram 10 cigarros e 36,7% (raparigas: de carboxi-hemoglobina nos não fumadores, estimando-
46,9%; rapazes: 13,3%) referiram ter fumado mais de 10 se que cada hora de permanência em local poluído pelo
cigarros ao longo do mês.

,0 ,0

Fig. 10 - Prevalência dos hábitos tabágicos no Estudo Epiteen de acordo com o sexo.
220
Fraga S et al Tabagismo em Portugal

Tabela 9 - Grau de dependência de consumo de tabaco segundo a escolaridade (Estudo EpiPorto).

Mulheres Homens

Grau de Grau de Grau de Grau de Grau de Grau de


dependência dependência dependência dependência dependência dependência
Muito Leve Leve/Moderada Elevada Muito Leve Leve/Moderada Elevada
n(%) n(%) n(%) n(%) n(%) n(%)

Anos
Escolaridade

≤4 4 (50,0) 4 (50,0) 0 7 (24,2) 13 (44,8) 9 (31,0)

5-9 8 (61,5) 4 (30,8) 1 (7,7) 11 (50,0) 6 (37,3) 5 (22,7)

10-12 3 (30,0) 2 (20,0) 5 (50,0) 1 (11,1) 6 (66,7) 2 (22,2)

≥13 10 (35,7) 10 (35,7) 8 (28,6) 7 (30,5) 11 (47,8) 5 (21,7)

Tabela 10 - Razões referidas pelos adolescentes como mais importantes para terem experimentado fumar,
segundo o sexo (Estudo Epiteen).

Raparigas Rapazes

n(%) n(%)

Dar conforto 5 (2,3) 1 (0,7)

Ser nervoso 18 (8,1) 14 (9,5)

Haver fumantes na família 6 (2,7) 8 (5,4)

A melhor maneira de se sentir bem 8 (3,6) 6 (4,1)

Libertar-se de preocupações 10 (4,5) 4 (2,7)

fumo de tabaco equivale em média a fumar um cigarro crianças com uma idade média de 4 anos, internadas por
(54). Ainda no mesmo âmbito, foi realizado um estudo em exarcebação de asma, durante um período de dois anos,
que eram colhidas amostras de ar interior, concluindo e comparados com os registados numa amostra de
que os filhos de pais fumadores na sua própria habitação crianças observadas em primeira consulta de
estarão mais sujeitos a infecções respiratórias por inalação Imunoalergologia, no mesmo período de tempo, com
passiva do fumo do tabaco (54). diagnóstico clínico de asma brônquica, emparelhada por
Um estudo realizado mais tarde pelo Hospital Dona idade, sexo e meio sócio-económico-cultural (72). Os
Estefânia em Lisboa, avaliou a importância da exposição resultados mostraram que o consumo de tabaco eram
tabágica como factor de gravidade, relacionado com o significativamente mais frequente nas famílias das
internamento hospitalar, na asma brônquica. Foram crianças internadas, estando presentes em 80% destas
caracterizados os hábitos tabágicos de 128 famílias de comparativamente a 46% das famílias das crianças
221
ARQUIVOS DE MEDICINA Vol. 19, Nº 5/6

observadas na consulta (72). Em conclusão, a exposição Europeia do Tabaco e Sistema Nacional de Informação
involuntária das crianças ao fumo de tabaco dos pais é online sobre o Tabaco (74). Verificou-se neste estudo
um factor de risco para a gravidade da asma brônquica que nas duas últimas décadas o preço real do cigarro
infantil. (estandardizado pela inflação) de uma marca estrangeira
diminuiu, apesar de verificadas algumas oscilações,
(diminuiu de 1,97 € em 1980 para 1,73 € em 1984,
ECONOMIA E TABACO aumentou para 2,47 € em 1987, diminuindo para 1,36 €
em 1993 e aumentou ligeiramente para 1,75 € no ano
Portugal, antes da revolução de 1974 era um dos 2000) (74).
países mais pobres e isolados da Europa ocidental, mas O preço real de uma marca nacional apresentou uma
desde então convergiu económica e socialmente ao nível tendência diferente ao longo do período analisado,
dos países vizinhos europeus. Para o evoluir desta mostrando-se constante entre 1980 e 1992 (1,11 € nos
situação muito contribui a entrada de Portugal na União dois anos), aumentando ligeiramente de 1993 até 2000
Europeia em 1986, pois permitiu o estreitamento de laços (1,53 €) (74).
comerciais com outros países europeus, beneficiando A estimativa da elasticidade do rendimento relativa ao
dos fundos europeus, abrindo caminho ao crescimento consumo de cigarros, indicou-nos, neste estudo, que 1%
económico e a profundas mudanças estruturais. no aumento no rendimento leva a 0,44% de aumento no
Na última década, as despesas com o tabaco têm consumo de cigarros. Da mesma forma que a estimativa
assumido um peso crescente nos agregados familiares da elasticidade do preço nos indica que 1% no aumento
portugueses (Figura 11), atingindo em 2000 cerca de do preço real se traduz numa diminuição de 0,66% no
1,6% da despesa média anual total (73). consumo de cigarros.
Observando a Figura 12 verifica-se que embora os A lei da oferta e da procura indica que quanto mais
indivíduos com um nível de instrução mais elevado caro é o produto menos pessoas o compram.
tenham valores superiores de despesa total, na despesa A indústria tabaqueira insiste no argumento da
relacionada com o consumo de tabaco a relação é cessação de impostos sobre o tabaco pois considera que
inversa, quer em valor absoluto quer considerando a estes favorecem o aumento do contrabando. Segundo
proporção total de despesas do agregado familiar. esta indústria o contrabando surge como consequência
No âmbito de um projecto europeu sobre economia do das diferenças de preço, devido à carga fiscal sobre o
tabaco e economia da saúde, foi estudado o efeito do tabaco. No entanto, verifica-se que o contrabando é mais
preço no consumo de tabaco nas últimas décadas (74). prevalente nos países onde o tabaco é mais barato, como
Os dados retrospectivos sobre economia e saúde em é o caso de Espanha. Nos países onde se reduziram os
Portugal foram recolhidos em instituições nacionais e impostos com vista à diminuição do contrabando, como
internacionais: Instituto Nacional de Estatística, Ministério na Suécia e Canadá, o consumo aumentou de forma
da Saúde, Ministério das Finanças, Guarda Nacional alarmante (21).
Republicana, Alfândegas, Banco Mundial, Indústria

Fig. 11 - Despesa média anual em tabaco por agregado familiar, segundo as regiões NUTS II (preços correntes).
Fonte: Dados referentes do INE, 2002 (69).

222
Fraga S et al Tabagismo em Portugal

Europa sem Tabaco”.


Estas estratégias e orientações são divulgadas nas
comemorações do “Dia Mundial Sem Tabaco”, a 31 de
Maio, constituindo sempre uma ocasião para se
aprofundar certos aspectos da política global de combate
ao consumo do tabaco. A comunicação social enaltece
as iniciativas realizadas nesta data, no sentido de
confrontar responsáveis políticos com as medidas
implementadas. Em Portugal também foi instituído o Dia
Mundial do Não Fumador (17 de Novembro) pela
Resolução nº35/84 do Conselho de Ministros de 11 de
Junho de 1884. A responsabilidade das actividades
relacionadas com este dia foi atribuída ao Conselho de
Prevenção do Tabagismo (CPT).
Ainda a nível do contexto europeu pode-se mencionar
a criação do “Programa Europa contra o Cancro” que no
ano de 1989 lançou a Campanha publicitária do “Código
Europeu contra o Cancro”.
O Banco Mundial adoptou uma política em 1991 que
tinha como princípio base não fornecer investimentos ou
Fig. 12 - Despesa média anual em tabaco por agregado empréstimos à produção de tabaco, ao seu
familiar, segundo o nível de instrução do representante processamento ou marketing.
do agregado familiar. A União Europeia já aprovou duas directivas: - A
Fonte: Dados referentes ao INE, Inquérito aos Orçamen- Directiva 2001/37/CE, 5 de Junho - para regulamentar a
tos Familiares (73). produção, a rotulagem e avisos dos maços, teores de
nicotina e alcatrão, controlo de comércio e circulação dos
produtos de tabaco; e a - Directiva 2003/33/CE, 26 de
Maio - para o fim da publicidade e patrocínios dos
CONTROLO E PREVENÇÃO DO TABAGISMO produtos de tabaco.
A OMS aprovou em 2003 a “Convenção Quadro sobre
O reconhecimento científico dos malefícios do Controlo do Tabagismo” que é um marco histórico da
consumo de tabaco, da poluição tabágica ambiental e as saúde pública mundial e da efectiva prevenção do
propriedades aditivas da nicotina com repercussões na tabagismo.
efectividade das medidas de desabituação tabágica, têm As políticas de prevenção do consumo de tabaco
estimulado o desenvolvimento e implementação de um deverão ter como grande objectivo proteger as presentes
leque alargado de medidas, programas e políticas de e futuras gerações das consequências sociais,
controlo do consumo (75). económicas, ambientais e para a saúde do consumo do
Falamos de medidas que vão desde programas tabaco (76).
educacionais a legislação que aumenta as taxas inerentes Em 1983 foi criado o Conselho de Prevenção do
às trocas comerciais, restringe o consumo em lugares Tabagismo (CPT) e são definidas como contra-
públicos, acaba com a publicidade a cigarros, requerendo ordenações todas as infracções à proibição do uso do
também a inclusão de avisos dos malefícios relacionados tabaco (77). O Conselho de Prevenção ao Tabagismo
com o consumo de cigarros nas próprias embalagens. (CPT) é o organismo responsável pela implementação
A chave para uma efectiva acção internacional no de medidas e programas para reduzir o consumo de
controlo do tabaco é uma vigorosa liderança a nível das tabaco em Portugal, assim como pela disseminação de
agências internacionais, tais como a Organização Mundial informação dos perigos associados ao consumo de tabaco
de Saúde (OMS), o Banco Mundial, o Fundo Monetário (78). O CPT publicou diversos relatórios que indicavam,
Internacional (FMI), e também as entidades políticas nos últimos anos, uma descida no consumo do tabaco
regionais como a União Europeia (20). em Portugal, apesar de relatórios de mercado e análises
A Organização Mundial da Saúde (OMS) desempenha independentes apontarem para uma tendência contrária.
um papel importante através dos “Planos de Acção para De facto, estima-se que o mercado do tabaco tenha
uma Europa Livre de Tabaco” que tiveram o seu início em crescido significativamente, rondando os 4% no último
1987 defendendo uma estratégia global, compreensiva e ano (78).
gradual para reduzir os efeitos negativos do consumo do Em linhas gerais, estão bem definidos os objectivos
tabaco. gerais de prevenção e controlo do tabagismo: diminuir a
Esta estratégia da OMS foi consolidada pela realização incidência (evitar a habituação tabágica) e a prevalência
da 1ª Conferência Europeia sobre Tabaco ou Saúde em (apoiar a cessação tabágica) de fumadores; regulamentar
1988, na qual ficou aprovada a “Carta Europeia contra o as condições de fabrico e de venda dos produtos do
Tabaco” e foram definidas as “Dez Estratégias para uma tabaco; proteger os não fumadores da exposição ao fumo
223
ARQUIVOS DE MEDICINA Vol. 19, Nº 5/6

passivo; criar um clima em que fumar não seja norma desportivos fechados durante a realização de actividades
(36). desportivas (Despacho n.º 134/77, de 19 de Maio) e
relativamente à proibição de qualquer forma de publicidade
relacionada com o tabaco em organizações desportivas
EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO SOBRE O TABAGISMO ou locais destinados à prática desportiva (Despacho n.º
EM PORTUGAL 52/79, de 27 de Setembro) (77).
Através do Art.º 24 do Decreto-Lei n.º 421/80, de 30 de
Historicamente as primeiras medidas legislativas Setembro, foi proibida a publicidade ao tabaco na televisão
remontam aos finais do século XIX, e tinham como e na rádio e restringida noutros canais publicitários (79).
objectivo a protecção de menores contra os efeitos do Portugal participou na IV Conferência Mundial sobre
tabaco, tal como aconteceu nos Estados Unidos e na o Tabaco e a Saúde e durante o ano de 1980 foi
Noruega (77). constituído um grupo interministerial que apresentou ao
A prevenção do tabagismo iniciou-se após a Segunda Governo propostas de medidas educativas e legislativas
Guerra Mundial, tendo vindo a desenvolver-se medidas para minimizar os malefícios do consumo de tabaco. Em
legislativas desde essa altura. 1982 e no âmbito das propostas apresentadas é aprovado
A importância da legislação sobre o tabagismo foi um Decreto-Lei (Lei n.º22/82. Prevenção do Tabagismo.
enaltecida em 1973 pelo Conselho da Europa, através Diário da República) no qual se estabelece que é
das recomendações sobre a proibição de publicidade ao legalmente proibido fumar fora das áreas destinadas a
tabaco, especialmente nos meios de comunicação social fumadores, como unidades em que prestam cuidados de
(imprensa, rádio e televisão) (77). saúde, estabelecimentos de ensino e salas de espectáculo
Em 1974, a Comissão de Especialistas da OMS para (80).
os Efeitos do Tabaco sobre a saúde, reuniu-se em Dado ser um problema que afecta vários sectores,
Genebra apontando para a necessidade de serem como transportes, educação, saúde, desporto e ambiente,
tomadas decisões políticas a nível governamental, é recomendado pela OMS e parece oportuno criar um
nomeadamente através de medidas legislativas, pois órgão interdepartamental para uma actuação integrada
todas as recomendações para serem eficazes têm de relativamente à prevenção do tabagismo. Em 1983 é
comportar um dispositivo legislativo forte (77). criado o Conselho de Prevenção do Tabagismo (CPT) e
Nesta mesma linha de pensamento, realizou-se em são definidas como contra-ordenações todas as infracções
1975 em Nova Iorque a III Conferência Mundial sobre o à proibição do uso do tabaco (77).
Tabaco e a Saúde, realçando a necessidade de medidas A legislação sobre o regime tabaqueiro era dispersa
legislativas em determinados domínios, tais como a o que criava entraves à sua aplicação pela Administração
prevenção de tabagismo em adolescentes, em particular Pública e pelos agentes económicos. Por este motivo, e
nas escolas, a protecção dos não fumadores e a também pela integração de Portugal na Comunidade
publicidade (77). Económica Europeia (CEE) em 1986, foi necessário
A IV Conferência Mundial sobre o Tabaco e Saúde aprofundar a tentativa já iniciada de harmonizar toda a
teve lugar em Estocolmo em 1979, na qual se considerou legislação existente (81). É de sublinhar como alteração
o tabaco como um dos grandes males da sociedade inovadora a uniformização dos prazos de pagamento do
moderna, confirmando deste modo a importância de imposto para fabricantes locais e para importadores dos
publicação e cumprimento da legislação adequada (77). produtos de tabaco, deste modo é criado o Decreto-Lei
As primeiras medidas legislativas sobre prevenção do n.º444/86, de 31 Dezembro que aprova o novo regime
tabaco em Portugal surgem ainda antes das III e IV fiscal do tabaco, através da aplicação de impostos de
Conferências Mundiais sobre o Tabaco e a Saúde, consumo sobre o tabaco.
existindo já a preocupação relativamente aos possíveis Portugal, no sentido de convergir com a legislação de
malefícios relacionados com o tabaco. outros países com máximas restrições à publicidade,
Em Portugal surge o primeiro Decreto-Lei sobre o estabelece no Decreto-Lei n.º57/87 de 30 de Janeiro uma
tabagismo em 1959 (Decreto-Lei n.º 42 661, 20 de excepção, a de permitir a publicidade ao tabaco em
Novembro de 1959), que proibia fumar dentro de recintos provas de automobilismo integradas nos campeonatos
fechados onde se realizassem espectáculos (77). Em do mundo e da Europa (82).
1968, a Portaria n.º 23 440, de 19 de Junho, assinala a Também em 1988, o Decreto-Lei n.º 393, de 8 de
interdição de fumar em transportes públicos urbanos; Novembro vem clarificar a importância da proibição de
esta medida alarga-se aos transportes interurbanos, fumar em locais públicos no sentido de salvaguardar
ferroviários e fluviais através da Portaria n.º 212/78 de 18 espaços livres de fumo (83).
de Abril. Para o cumprimento destas medidas anti- Em 1989, o Decreto-Lei n.º 287/89 de 30 de Agosto
tabágicas, a Portaria n.º 375/78, de 11 de Julho, define a alarga a possibilidade de estabelecer a proibição de
forma de assinalar a interdição de fumar em transportes fumar em estabelecimentos similares dos restaurantes,
públicos, a forma de exercer a fiscalização e cobrança de como pastelarias, cervejarias, cafés, salas de chá e
multas (77). sanduíche-bar (84).
No âmbito dos desportos, foram publicados despachos Em 1990, com o Decreto-Lei n.º 253/90 de 4 de
relativamente à interdição de se fumar em recintos Agosto é reformulada a obrigatoriedade de em todas as
224
Fraga S et al Tabagismo em Portugal

embalagens de cigarros destinadas ao consumo em Em Portugal integraram o Projecto ESFA 25 escolas


território nacional conter nas duas faces maiores do país que leccionavam alunos entre os 12 e os 16 anos.
mensagens de alerta sobre os efeitos nocivos do tabaco, O relatório final do projecto revelou algumas dificuldades
teores de nicotina e classificação referenciando os teores na implementação deste tipo de campanhas em Portu-
de tabaco (85). gal: por sermos um país sem tradição na prevenção do
Sentiu-se uma necessidade de estabelecer medidas tabagismo, pela falta de profissionais neste campo, pela
legislativas comuns aos Estados membros no sentido de falta de material e sobretudo devido à nossa cultura
conjugar as exigências relativas à defesa da saúde e a burocrática que é uma grande barreira para todo o tipo de
liberdade de circulação e comercialização dos produtos trabalhos baseados na direcção de projectos.
do tabaco no espaço europeu, surgindo em Portugal o O Projecto Clube Caça-Cigarros de prevenção do
Decreto-Lei n.º 200/91, de 29 de Maio (86). Para tabagismo desenvolvido, desde 1990, pelo Departamento
complementar este Decreto-Lei é aprovada a Portaria n.º de Educação para a Saúde da Liga Portuguesa Contra o
821/91 de 12 de Agosto, na qual se estabelecem as Cancro - Núcleo Regional do Norte, destina-se a crianças
advertências da nocividade e os teores de nicotina e e jovens com idades compreendidas entre os 8 e os 15
alcatrão que devem constar nas embalagens dos produtos anos, abrangendo assim as faixas etárias
do tabaco que se destinam a ser comercializados em correspondentes ao 1º, 2º e 3º ciclos do ensino básico.
território nacional (87). Este projecto insere-se numa série de iniciativas, com
Em 1998, o Decreto-Lei n.º 283, de 17 de Setembro difusão a nível europeu, que pretendiam aumentar o
introduz, para além da prevenção dos malefícios do conhecimento de crianças e jovens acerca dos malefícios
tabaco, a restrição de fumar em locais com risco de do tabaco, e que contaram com o apoio do Programa
incêndio como é o caso das instalações de acesso ao Europa Contra o Cancro. Os “smokebusters” europeus
metropolitano (88). tornaram-se nos “Caça-Cigarros” em Portugal mas,
Em 2003 é alargada a proibição de fumar em meios de apesar da relação que de imediato se estabelece com a
transporte ferroviário aos transportes ferroviários temática do tabagismo, este Projecto tem um âmbito
suburbanos independentemente da duração da viagem muito mais alargado pretendendo ser um foco de
(89). promoção de saúde e prevenção de riscos,
Um controlo eficiente do consumo do tabaco exige nomeadamente no que diz respeito ao aparecimento do
uma política compreensiva de controlo do tabaco, apoiada cancro.
por uma legislação nacional que seja forte, bem fiscalizada No âmbito da elaboração de um Programa de
e sobretudo respeitada rigorosamente. Prevenção do Comportamento de Fumar em Alunos do
3º Ciclo (91) considerou-se importante a existência de
um manual para professores que fornecesse orientações
MEDIDAS EDUCATIVAS E CAMPANHAS ESCOLARES na implementação de programas, no sentido de contrariar
a adopção do comportamento de fumar, dado grande
É importante a prevenção do início do consumo de parte dos professores não possuírem formação inicial e
tabaco e como diversos estudos têm demonstrado, é na continuada em Educação para a Saúde. O autor considera
adolescência que se manifesta a curiosidade em que as sessões deste programa devem ser integradas
experimentar e quase sempre se inicia a dependência em várias aulas (91).
(90). A nível geral conclui-se que os programas que
Em parceria com o projecto europeu de investigação/ pretendem informar os adolescentes sobre os riscos de
acção designado “European Smoking Prevention Frame- fumar não mostraram sucesso na prevenção do hábito,
work Approach” (ESFA) (25), desenvolvido em 6 países embora contribuam para aumentar o nível de
da Europa (Dinamarca, Finlândia, Holanda, Reino Unido, conhecimentos dos adolescentes sobre os problemas
Espanha e Portugal), o Conselho de Prevenção do associados ao tabaco (25). Os programas de prevenção
Tabagismo realizou entre 1997 e 2002, alguns programas nas escolas acabam por falhar por não se desenvolverem
de intervenção no sentido de desincentivar o consumo de de uma forma continuada mas apenas preverem algumas
tabaco entre os jovens. Este projecto consistia numa aulas. É necessária uma prevenção continuada não só
intervenção para a qual foram realizadas actividades na escola, mas também fora dela, a nível das famílias e
com a escola e os adolescentes, em que se pretendia de toda a comunidade (25).
sensibilizar a escola e os professores para a importância
de intervir junto dos alunos em idades favoráveis ao acto
de experimentar fumar e até desenvolver o hábito. Foram MEDIDAS DE APOIO À CESSAÇÃO TABÁGICA
incluídas 12 sessões de prevenção tabágica no currículo
dos jovens alvo da intervenção deste programa, As medidas de apoio aos fumadores que desejam
estruturada em dois programas: “Querer é poder I e II”. deixar o hábito incluem, para além de medicamentos
Estes dois programas foram reforçados por acções específicos para a substituição da nicotina no processo
realizadas na turma e na escola pelo “Programa “7 OK!”, de desabituação tabágica, outros meios de apoio, como
e também pelo “Programa Turmas Sem Fumadores “.e as linhas telefónicas, sítios na internet, ou grupos de
pelo programa “Política Para Uma Escola Sem Tabaco”. entreajuda.
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ARQUIVOS DE MEDICINA Vol. 19, Nº 5/6

As intervenções a nível da informação e educação do O Estado gasta mais a minimizar os efeitos negativos
fumador devem estar associadas às consultas de do tabaco do que lucra com os impostos. Embora não
desabituação tabágica que contemplam intervenções haja dados em Portugal sobre este assunto, há estudos
diferenciadas. No entanto, é necessário capacitar o de outros países que reflectem a realidade em geral e
Sistema Nacional de Saúde no sentido de obter uma revelam que os gastos em saúde são muito superiores ao
resposta eficaz às necessidades daqueles que querem montante que o Estado obtém através dos impostos. Aos
deixar de fumar nomeadamente através de consultas de custos motivados pelas doenças e mortalidade,
cessação tabágica. O Programa Nacional de Prevenção adicionam-se os custos socio-económicos devidos ao
e Controlo da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica prevê absentismo laboral, das incapacidades permanentes e
a necessidade de criação de consultas de desabituação da redução da esperança de vida.
tabágica, planeadas regionalmente com o objectivo de
promover ajuda para deixar de fumar (92).
Estas medidas são importantes para o apoio à PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS COM
desabituação tabágica, no entanto, a situação actual DADOS DE PORTUGAL
portuguesa requer medidas preventivas no sentido de
evitar o início do consumo. A investigação científica em saúde é essencial para
cada país uma vez que contribui para o conhecimento
dos problemas e identificação das prioridades permitindo
MEDIDAS ECONÓMICAS E A PREVENÇÃO DO o delineamento de estratégias de promoção e prevenção
CONSUMO DE TABACO em saúde.
Numa pesquisa efectuada na Base de Dados da
Os estímulos ao consumo de tabaco são constantes, PubMed com as palavras chave “tobacco OR smoking
apesar dos esforços para os minimizar. A liberalização do AND (país respectivo)” obteve-se o número de publicações
comércio e o desaparecimento de barreiras às trocas por cada país. Com esta informação calculou-se o número
comerciais permitiu um aumento da competitividade que de publicações por milhão de população de cada país.
se traduziu numa diminuição dos preços, mais publicidade Registaram-se para Portugal cerca de 10 artigos por
para promoção do tabaco, e num consequente aumento milhão de habitantes, quase 25 vezes menos do que o
do consumo. observado para a Suécia (Figura 13).
As exigências do sector produtivo são muitas vezes Na área biomédica, Portugal publica por ano cerca de
contraditórias e até concorrenciais face aos objectivos da 37,85 artigos por milhão de habitantes (94), sendo dos
saúde pública, como é o caso do consumo de tabaco, o países da Europa com mais baixo número de publicações,
qual se assume como um paradigma de interesses o que se observa também relativamente ao tema do
conflituais entre os determinantes económicos e a preven- tabaco.
ção do comportamento de fumar (93). As companhias
multinacionais de tabaco reclamam uma mudança nas
suas práticas de mercado e de marketing, mas o que se CONCLUSÔES
verifica é um aumento dos seus gastos em publicidade,
nomeadamente em formas mais efectivas de atrair os Os efeitos do tabaco e as consequências que ele
mais jovens ao início do consumo. Promovem ainda produz a nível da saúde já estão bem estudados e
campanhas de saúde que, à partida, são infrutíferas e documentados e fumar é o factor de risco modificável
continuam a opor-se à regulamentação do seu produto com o maior número de mortes atribuídas.
(93). Portugal encontra-se num estádio da epidemia menos
A maioria destas empresas multinacionais embarcou, adiantado em relação à maioria dos países desenvolvidos.
através da Corporate Social Responsability (CSR), numa Contudo, o padrão de evolução é distinto, verificando-se
tentativa vigorosa de se redefinir como empresas com uma ligeira diminuição nos homens e um aumento nas
responsabilidade civil. Neste âmbito têm promovido um mulheres, o que faz esperar além das complicações
alargado leque de actividades que pretendem mostrar comuns a ambos os sexos, adicionais consequências na
que a indústria tem aderido aos princípios do CSR, no função reprodutiva e no resultado da gravidez.
entanto, existe pouca evidência de mudanças Existem diferenças de consumo de cigarros entre as
fundamentais nos seus objectivos ou práticas (27). zonas rurais urbanas do país, sendo superior nas zonas
Uma intervenção eficaz requer a acção dos governos. urbanas
A subida do preço do tabaco resultaria numa queda do O consumo de tabaco inicia-se, frequentemente, na
consumo de cigarros (12, 74). O aumento dos preços não adolescência, sendo as iniciativas destinadas à prevenção
iria reduzir somente o consumo de cigarros, mas também do consumo de tabaco especialmente importante nos
as prevalências de fumadores. Mais fumadores iriam adolescentes. A elevada prevalência de fumadores no
decidir deixar de fumar e menos pessoas optariam por grupo dos profissionais de saúde, nomeadamente nos
iniciar este hábito (12). Os adolescentes e as classes médicos e enfermeiros, e nos professores, merece alguma
sociais mais desfavorecidas economicamente seriam os atenção, uma vez que poderão funcionar como exemplos
mais vulneráveis ao aumento dos preços. na sociedade.
226
Fraga S et al Tabagismo em Portugal

Fig. 13 - Publicações sobre tabagismo em revistas indexadas na MEDLINE por milhão de habitantes em diferentes
países, até Novembro de 2005.

A prevalência de consumo de tabaco é elevada nas 7 - Wynder EL, Graham EA. Landmark article May 27, 1950:
grávidas, sendo necessárias fortes medidas de combate Tobacco Smoking as a possible etiologic factor in bronchio-
ao consumo de tabaco nesta população. genic carcinoma. A study of six hundred and eighty-four
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A lei portuguesa sobre a Prevenção do Tabagismo é 9 - Doll R, Hill AB. Smoking and carcinoma of the lung;
restritiva, sendo necessário uma entidade que fiscalize o preliminary report. Br Med J 1950;2(4682):739-48.
seu efectivo cumprimento. 10 - WHO. Development Goals and Tobacco Control.: World
É importante a monitorização da prevalência de fuma- Health Organtization; 2005.
dores em Portugal, incluindo amostras representativas 11 - Vitória P, Raposo C, Peixoto F, Pais Clemente M, de Vries
da população continental e regiões autónomas, que per- H. Prevenção do tabagismo nos jovens: Resultados do
mitam a análise de dados estratificados, demográfica e Projecto ESFA. Clin-Saude 2004;1 (4):41-45.
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79 - Decreto-Lei n.º421/80 In: Diário da República, I série, 4200-319 Porto
n.º226, 30 de Setembro; 1980.

e-mail:[email protected]

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