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Aspectos Epidemiológicos do
Tabagismo

Jane Domingues de Faria Oliveira


Especialista em Atividade Física e Qualidade de Vida – Unicamp

TABAGISMO

O
tabagismo é uma doença crônica que surge devido à depen-
dência da nicotina, estando, portanto, inserido, desde 1997, na
Classificação Internacional de Doenças (CID10) da Organi-
zação Mundial de Saúde (OMS), classificada no grupo de transtornos
mentais e de comportamento decorrentes do uso de substâncias psico-
ativas. Diversas pesquisas científicas constataram que 56 doenças dife-
rentes estão relacionadas ao consumo de cigarro, reforçando o fato do
tabagismo ser considerado pela OMS, um dos mais graves problemas de
saúde pública no mundo (ROSEMBERG, 2004).
O tabaco contém aproximadamente 4.720 substâncias químicas,
destas, 43 substâncias provocam câncer, chamadas carcinogênicas, e
alteram o núcleo das células. A nicotina é uma droga que apresenta
alto poder de modificar a biologia e a fisiologia do cérebro, sendo
fortemente indutora de dependência. Outra substância altamente
cancerígena é o alcatrão. Com todos esses dados, é fácil concluir que
o hábito de fumar pode trazer conseqüências devastadoras para o
organismo humano (BRASIL, 2003).
O alcatrão irrita os órgãos respiratórios, favorecendo a ocorrên-
cia de doenças como bronquite e enfisema pulmonar; o monóxido
de carbono penetra no sangue e dificulta o transporte e a distribui-

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ção de oxigênio para as células do organismo, diminuindo a resis-
tência física, além de prejudicar a atividade mental. O benzopiremo,
outra substância encontrada no tabaco, é uma substância canceríge-
na (CAVALCANTE, 2002).
Alguns efeitos sobre o uso contínuo do tabaco:

• Quando o fumante dá uma tragada, a nicotina é absorvida


pelos pulmões, chegando ao cérebro aproximadamente em
dez segundos.
• A nicotina, quando utilizada ao longo do tempo, pode pro-
vocar o desenvolvimento de tolerância, ou seja, o indivíduo
tende a consumir um número cada vez maior de cigarros
para sentir os mesmos efeitos que, originalmente, eram pro-
duzidos por doses menores.
• Alguns fumantes, quando suspendem repentinamente o con-
sumo de cigarros, podem sentir “fissura”, um desejo incon-
trolável de fumar, irritabilidade, agitação, prisão de ventre,
dificuldade de concentração, sudorese, insônia, tontura e dor
de cabeça. Estes sintomas caracterizam a síndrome de absti-
nência, desaparecendo dentro de uma ou duas semanas.
• O cérebro dependente de nicotina tem sua neurobiologia modi-
ficada pelo uso contínuo da substância, funcionando de modo
diferente de um cérebro não-dependente (BRASIL, 2003).

O tabagismo representa um problema de saúde pública, não


somente nos países desenvolvidos como também em países em de-
senvolvimento, como o Brasil. O tabaco, em todas as suas formas,
aumenta o risco de mortes prematuras e limitações físicas por do-
ença coronariana, hipertensão arterial, acidente vascular encefálico,
bronquite, enfisema e câncer. Entre os tipos de câncer relacionados
ao uso do tabaco incluem-se os de pulmão, boca, laringe, faringe,
esôfago, estômago, fígado, pâncreas, bexiga, rim e colo de útero
(MORAES, 2006).
Também é um fator de risco para a osteoporose, provavelmente
pelos efeitos tóxicos sobre os osteoblastos (célula óssea responsável
pela formação do osso) prejudicando a absorção do cálcio. A altera-
ção do metabolismo de cálcio contribui para acelerar a perda óssea e
favorece o desenvolvimento de osteoporose senil (MORAES, 2006).

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O tabagismo, diabetes, hipertensão arterial e dislipidemia são
fatores de risco para as doenças cardiovasculares, responsáveis por
cerca de 30% das mortes no mundo, o impacto na qualidade de vida
é um aspecto muito relevante (CAVALCANTE, 2002).
Dados do Ministério da Saúde apontam que no Brasil, cerca de
63% dos homens e 33% das mulheres adultas fumam cigarro, dentre
estes, os com menores condições socioeconômicas e níveis educa-
cionais fumam mais. O cigarro brasileiro tem o preço muito baixo,
sendo o sexto mais barato do mundo em comparação com países
desenvolvidos e em desenvolvimento, tornando-o um produto de
acesso físico simples, facilitando a iniciação entre crianças e adoles-
centes (BRASIL, 2003).
Estimativas da OMS indicam que um terço da população mun-
dial adulta, isto é, um bilhão e 200 milhões de pessoas, entre as quais
200 milhões são mulheres, seja fumante. Salienta ainda que anual-
mente os produtos derivados do tabaco são responsáveis pela morte
de 4,9 milhões de pessoas em todo o mundo por ano, o que corres-
ponde a mais de 10 mil mortes por dia, sendo 50% nos países em
desenvolvimento (BRASIL, 2003).
No Brasil, o tabagismo é responsável por aproximadamente 45%
das mortes nos homens com menos de 65 anos, por mais de 20% de
todos os óbitos por doença coronariana nos homens com idade maior
que 65 anos e por 40% dos óbitos por doença coronariana em mulheres
com mais de 65 anos de idade. Além disso, homens fumantes entre 45
e 54 anos de idade têm quase três vezes mais probabilidade de morrer
de infarto do miocárdio do que os não-fumantes da mesma faixa etária
(BRASIL, 2003).
Não havendo uma mudança de curso da exposição mundial ao
tabagismo, a Organização Mundial de Saúde estima que o número
de fumantes passará do ano 2000 a 2030 de 1,2 bilhões para 1,6 bi-
lhões e que o número de mortes anuais atribuíveis ao tabagismo au-
mentará de 4,9 milhões para 10 milhões, sendo que 70% ocorrerão
nos países menos desenvolvidos (MORAES, 2006).
A morbidade e a mortalidade onde o tabaco está relacionado ten-
derá a aumentar significativamente nas próximas décadas, pela maior
prevalência do hábito e pelas políticas mais agressivas das empresas do
tabaco. Esta projeção impõe a implementação urgente de efetiva políti-
ca anti-tabagista (ROSEMBERG, 2004).

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ATIVIDADE FÍSICA E TABAGISMO

A idade escolar é um momento oportuno para a realização de


ações de controle do tabagismo, pois a grande maioria dos fumantes
começa a fumar nessa fase da vida, coincidindo com a crise da ado-
lescência, da auto-estima, da formação da consciência crítica, cren-
ças e incorporações de hábitos que, geralmente, estarão presentes
por toda a vida (MORAES, 2006).
Os benefícios associados à atividade física em jovens incluem a
perda de peso com melhora dos parâmetros metabólicos, a redução
da pressão arterial e da resistência à insulina, o bem-estar psíquico,
maior chance de manter o hábito da atividade física regular na fase
adulta, o aumento da expectativa de vida e a diminuição do risco
cardiovascular (CAVALCANTE, 2002).
Existem evidências bastante significativas da influência da atividade
física na melhora do sistema imunológico, podendo reduzir a incidên-
cia de alguns tipos de câncer. A adoção de um estilo de vida fisicamente
ativo irá proporcionar mudança no comportamento dos indivíduos, o
que contribui para a redução de diversos agravos à saúde.
A principal explicação para o efeito da atividade física no au-
mento da densidade óssea seria o efeito “piezoelétrico”, que seria a
transformação de energia mecânica em energia elétrica que acon-
tece durante a contração muscular. Essa energia é transmitida dos
músculos para o osso através dos tendões. Isso provoca aumento na
atividade dos osteoblastos, aumentando a incorporação do cálcio no
osso (PITANGA, 2004).
Segundo Nahas (2001), a prática regular da atividade física pode
auxiliar o fumante e o ex-fumante a obter uma maior aptidão física,
melhorando sua qualidade de vida e diminuir o risco de doenças
crônicas, como problemas cardíacos que estão relacionados intima-
mente com o tabaco.
A preocupação com o ganho de peso pode inibir tentativas de
parar de fumar, principalmente entre as mulheres. Alguns estudos
têm demonstrado que uma das razões pelas quais as meninas co-
meçam a fumar é o medo aliado à crença de que fumar emagrece
(BRASIL, 2003).
A prática regular da atividade física é um excelente auxílio na
melhora do estado psicológico, como por exemplo no controle da

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ansiedade ou outras alterações orgânicas no processo de cessação do
tabaco (NAHAS, 2001).
Segundo Nahas (2001), o avanço conceitual e metodológico re-
cente, bastante difundido em artigos científicos sobre os procedi-
mentos relacionados à mudança de hábitos nocivos à saúde, difunde
a idéia de que a mudança de comportamento é um processo dinâmi-
co, além de uma simples atitude do indivíduo de estar ou não pronto
para a mudança. Trata-se do “modelo de estágios de mudança” que
foram descritos por Prochaska & Clemente (1983), esse modelo des-
creve o processo de mudança de comportamento, aplicável à muitas
condições de risco à saúde. Pode ser aplicado para análise do nível
de envolvimento ou adoção do hábito de realizar atividade física re-
gular de pessoas ou populações.
Estágios de mudança de comportamento:

• Pré-Contemplação: estágio caracterizado pela ausência da cons-


cientização sobre a importância da mudança de comportamen-
to. O indivíduo também pode negar sua importância ou assu-
mir a opinião de que a mudança gera custos que superam os be-
nefícios. Mesmos para os indivíduos conhecedores dos riscos à
saúde associados a alguns hábitos, é elevado o número daqueles
que, incluídos nesse estágio, tendem a minimizar a severidade
ou probabilidade de acometimento por conseqüências adversas
relativas a esses comportamentos.
• Contemplação: o indivíduo sente-se motivado e envolvido
com a possibilidade da mudança comportamental, onde, a
partir de um conjunto de fatos e estímulos dados pelo am-
biente, pela família e pela equipe de saúde. Ações educacio-
nais que facilitem o entendimento sobre a relação do com-
portamento e os riscos à saúde, em geral favorecem a mudan-
ça da situação anterior para esse estágio de contemplação.
• Preparação: o indivíduo decide por em prática seu plano de
mudança de comportamento, planejando e pensando em es-
tratégias para os próximos meses.
• Ação: O indivíduo, envolvido na prática regular de atividade
física, tem maior chance de manter-se nesse estágio ao defi-
nir metas possíveis de serem atingidas a curto e longo prazo.
Também adaptar o programa de exercícios para atingir su-

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cessos imediatos e reduzir riscos de conseqüências adversas,
como lesões e agravos do sistema locomotor.
• Manutenção: para evitar o retorno aos antigos comportamen-
tos não saudáveis, os profissionais de saúde devem adotar, du-
rante o acompanhamento da prática da atividade física, ações
preventivas diferenciadas. O indivíduo deve sentir-se dono das
próprias decisões relacionadas à saúde e a realização do progra-
ma de atividade física proposto. Este deve estar preparado para
reconhecer e auto-gerenciar as mudanças conseguidas com a
progressão do programa de atividade física, além de controlar
pequenas situações do ambiente familiar e do trabalho, relacio-
nado ao comportamento de risco. Os programas de intervenção
de controle de hábitos e comportamentos também devem esti-
mular a capacidade de decisão do indivíduo, definindo limites
flexíveis que permitam alterações não comprometedoras das
metas e objetivos iniciais.

BIBLIOGRAFIA

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER –INCA. PRO-


GRAMA DE CONTROLE DO TABAGISMO: MODELO LÓGICO E AVALIAÇÃO. 2ª EDIÇÃO, RIO
DE JANEIRO: INCA, 2003.

CAVALCANTE, J. S. O IMPACTO MUNDIAL DO TABAGISMO. FORTALEZA: REALCE EDI-


& IND. GRÁFICA LTDA, 2002.
TORA

MORAES, M.A. AVALIAÇÃO DA IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA DE CONTROLE DO


TABAGISMO NO HOSPITAL SANTA CRUZ –SÃO PAULO. (TESE DE DOUTORADO EM SER-
VIÇOS DE SAÚDE PÚBLICA) – FACULDADE DE SERVIÇOS DE SAÚDE PÚBLICA, UNIVERSI-
DADE DE SÃO PAULO, SÃO PAULO, SP, 2006.

NAHAS, M.V. ATIVIDADE FÍSICA, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA: CONCEITOS E SU-


GESTÕES PARA UM ESTILO DE VIDA ATIVO. LONDRINA: MIDIOGRAF, 2001.

PITANGA, F.J.G. EPIDEMIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSICA, EXERCÍCIO FÍSICO E SAÚDE.


SÃO PAULO: PHORTE, 2004.
PROCHASKA, J. O & DICLEMENTE, C. C. THE STAGES AND PROCESS OF SELF-
CHANGE IN SMOKING: TOWARDS AN INTEGRATIVE MODEL OF CHANGE. J. CONSULT.
CLIN. PSYCOL., 51:390-5, 1983.
ROSEMBERG, J. NICOTINA: DROGA UNIVERSAL. SÃO PAULO: SESC/CVE, 2004.

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