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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

CURSO PREPARATÓRIO PARA TESTE DE APTIDÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA

PRODUÇÃO DE TEXTOS NARRATIVOS E ARGUMENTATIVOS

Conceito de texto
O que é o texto?

 Etimologia: Texto < TEXTUM ‘textura’ > textura; tecido; significa ‘tecido, teia, o que é
urdido, o que está entrelaçado.
 Estudos linguísticos: texto é qualquer realização da linguagem humana transmitido um
sentido e um objectivo comunicativo.
 Termos correntes: texto: realizações linguísticas escritas ou impressas; porém, “textos”
ou “discursos” são-no igualmente tanto as realizações da língua oral como os da língua
escrita.
 A palavra texto vem do Latim e significa tecido. Literalmente, quer representar que ao
produzir consiste em entrelaçar ideias tal como na “indústria têxtil se entrelaçam fios de
linha para se fazer o tecido. É o texto, portanto, uma ampla unidade com coesão e
coerência, com frases relacionadas umas às outras e as ideias logicamente articuladas.
Noção de textualidade
 Textualidade: conjunto de propriedades que uma manofestação da linguagem humana
(TEXTO) de possuir para ser um texto (Mateus et al. 1989: 134).
 De maior ou menor extensão, um texto é uma unidade – sonora ou gráfica – que transmite
um conteúdo informativo através dos mecanismos de uma língua (português, por
exemplo). Para que esta unidade de sentido se vá construindo e mantenha, são
necessários dois factores: o encadeado de conceitos ideias ou ideias (COERÊNCIA) e
processos com que a língua organiza as palavras na frase e numa cadeia (COESÃO) –
coerência e coesão – processos de textualidade.

II. TIPOLOGIA TEXTUAL


1. Texto não literário
 Texto não literário: tem como objetivo informar, esclarecer, explicar; apresenta uma carácter
utilitário; também definido como texto informativo, é caracterizado por linguagem clara e
objectiva. Como exemplos deste tipo de textos: são artigos científicos, notícias, textos didáticos,
documentos oficiais.
> Textos administrativos: carta, acta, requerimento, exposição, etc.
> Textos informativos/jornalísticos: notícia, reportagem, entrevista, crónica jornalística,
etc.
> Textos escolares/académcios: resumo, síntese, sumário, dissertação / texto
argumentativo, etc.

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2. Textos literários
 Texto literário: construção textual de acordo com as normas da literatura, com
objetivos e características próprias, geralmente de carácter fictício e verosimel; com uma
linguagem estética, este tipo de texto visa causar emoções no leitor, procurando entretê-lo e
deleitá-lo. Alguns exemplos são: peças teatrais, romances, crónicas, contos, fábulas, poemas, etc.
> Textos narrativos; conto, novela, romance, fábula, etc.
> Textos líricos: soneto, cantiga, elegia, ode, etc.
> Textos dramáticos: drama, tragédia, comédia, tragicomédia, etc.
3. Texto paraliterário
 O texto paraliterário designa o conjunto de textos que não se enquadra no consenso do
cânone literário; ou seja, todos aqueles que não correspondem aos critérios exigidos pela
arte literária, mais convencional. São textos que podem apresentar elementos do texto
literário e elementos do texto não literário. É neste conjunto de texto em que se enquadra
a crónica jornalística.
> Crónica jornalística;
> Sermão religioso;
> Discurso político.

ALGUNS EXEMPLOS DE TEXTOS


Texto não literário (dissertação/argumentativo)

TABAGISMO
O consumo de cigarro é a mais devastadora causa evitável de doenças e mortes prematuras da
história da humanidade. O consumo do tabaco atingiu a proporção de uma epidemia global,
provocando, em cada ano, a morte de quatro milhões de pessoas em todo o mundo: um quadro
preocupante com consequências graves sobre a saúde da população, a economia e o meio
ambiente.
A organização Mundial da Saúde – OMS regista mais de 60 mil pesquisas publicadas e
reproduzidas em diversos lugares do mundo, comprovando a relação causal entre o
consumo do cigarro e doenças graves como o câncer de pulmão (90% dos casos), enfisema
pulmonar (80%), enfarte do miocárdio (25%), bronquite crónica e derrame cerebral
(40%).
Cada vez mais, as autoridades governamentais estabelecem regulamentos que protegem o não-
fumador. É evidente o aumento da consciencialização dos indivíduos sobre o ar que respiram, não
só em casa, como nos ambientes e locais públicos.
Mas pode-se fazer mais, estimulando-se locais de trabalho, escolas, unidades hospitalares
e outros sectores da sociedade a desenvolverem uma política de protecção ao não fumador
em ambientes fechados.
Maria Helena Miguel e Maria Antónia ALVES, in “Convergências”, p. 21

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Texto não literário (notícia)

José Patrício acreditado embaixador no Irão


Com a apresentação, este domingo, em Teerão, das cartas credenciais ao Presidente da República
Islâmica do Irão, Ebrahim Raisi, o diplomata José Patrício oficializou as funções de embaixador de
Angola naquele país, com residência em Ancara (Turquia).
Nas audiências, sábado, com o ministro dos Negócios Estrangeiros e, hoje, com o Presidente
iraniano, o embaixador José Patrício ouviu daquelas altas individualidades a firme vontade do
Irão desenvolver relações de cooperação sólidas com Angola em vários domínios, principalmente
na Agricultura, Energia, Petróleo e Gás e, ainda, Ciências e Tecnologias.
Para além da Turquia e, agora, o Irão, José Patrício cobre, também, a República da Geórgia,
devendo, em breve, ser acreditado como representante de Angola na República Islâmica do Iraque
como parte da estratégia do Executivo de cobertura diplomática regional.
Jornal de Angola (online; in: Jornal de Angola - Notícias - José Patrício acreditado embaixador no Irão;
consultado a 20/08/2023).
Textos literários (narrativo)
MALIDZA
Caminhai célere, ó jovens do povo de Quiteve, vinde ouvir a história de Malidza que, à certa
hora de uma madrugada sem referência, encontrou Kilombo. O guerreiro voltava dos seus
combates, cabeça emplumada, nos dedos firmes a lança em riste. Malidza estremeceu, nos olhos
fundos a mesma grande timidez das gazelas que um pranto sem razão liquefazia. Kilombo não
pôde desviar o olhar e a lança caiu-lhe pela primeira vez da mão invencível. Ficaram assim
eternidades, silhuetas legendárias de uma aproximação cuja idade remonta à primeira caverna
que o homem habitou.
Sabei, ó jovens do povo de Quiteve, que Kilombo esperava o fim da guerra para desposar
Malidza, o fragor do último combate. Odiava as guerras, mas queria o pior para os bárbaros que
impunham a sua gente.
Mas um dia apareceu na aldeia o “nhamessoro” para invocar Zúzu, o espírito das águas. O
tambor anunciou-o surdamente. Cessou a dança das donzelas e um pedaço de lua tornou mais
negro o perfil distante da montanha que assinalava o princípio do reino de Maruça. À primeira
batida imobilizaram-se, na posição em que foram surpreendidas, as ancas das dançarinas. Veio
para o terreiro todo o povo da aldeia.
Seguiu-se a cerimónia do “nhamessoro”, o batuque, o estrépito das vozes. Todos viram
aparecer do fundo das águas, recoberto de raízes, o novo oficiante. Malidza tentou esconder-se
atrás das outras, evitar o olhar repasse do “nhamessoro” nas curvas adolescentes do seu corpo.
Tinha chegado o momento da dádiva e o mago poderia escolher, à sua vontade, a jovem que mais
o impressionasse. Malidza viu a febre nos olhos de Kilombo. Viu, depois, que o corpo lhe tremeu de
dor, enquanto o dedo do “nhamessoro” apontava para si.
Gritavam as mulheres saudando a escolha. Mas Malidza recuou para sempre, levou consigo
o sofrimento de Kilombo e o espanto das outras mulheres que não compreendiam a razão da fuga
sacrílega.
Diz-se que a floresta matou Malidza.
Mas notai, ó jovens do povo de Quiteve, que Kilombo sabe onde repousa o corpo de Malidza,
que foi encontrar no sítio onde a viu pela primeira vez. Dois abutres debicavam-lhe os olhos.
Levantaram-se para o céu quando Kilombo se aproximou. E o antigo guerreiro também sabe que
o espaço agora é mais belo, porque o encheram de luz mais duas estrelas.
Carneiro Gonçalves (moçambicano), in «Contos e Lendas», 1975 (ed.
póstuma)

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Textos literários (texto lírico – poesia)
O rosto retrata a alma
Amarfanhada pelo sofrimento

Nesta hora de pranto


Vespertina e ensanguentada
Manuel
O seu amor
Partiu para S. Tomé
Para lá do mar.

Até quando?

Além do horizonte repentinos


O sol e o barco
Se afogam
Escurecendo
O céu escurecendo a terra
E a alma da mulher

Não há luz
Não há estrelas no céu escuro
Tudo é sombra

Não há luz
Não há norte na alma da mulher

Negrura
Só negrura…

Agostinho Neto, in “Convergências”, de Maria H. Miguel e Maria A. Alves, 2006: 257

Texto Paraliterário (Crónica jornalística)


Luanda Em São Paulo

Um taxista, ou taxeiro como com mais propriedade se diz em Luanda, estranhou o meu sotaque
quando em Novembro do ano passado visitei o Recife.
-- Você me desculpe, moço, mas você vem de onde?
Disse-lhe que era angolano e ele olhou para mim espantado.
-- Angola? Isso fica no Brasil?
Expliquei que não, Angola fica em África, do outro lado do mar. Um país com mais de dez milhões
de habitantes, mais ou menos do tamanho do estado do Amazonas, rico em recursos naturais e
destruído por uma prolongada guerra civil.
-- Mas você é filho de brasileiros?
-- Também não.
-- Então onde aprendeu a falar português?

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Respondi-lhe, já um pouco irritado, que embora existam em Angola muitas outras línguas, quase
toda a gente entende e fala português.
-- E então os portugueses?
-- Os portugueses? – o taxeiro sorriu superior. – Bons, esses falam um dialecto meio atravessado,
não é bem português…
Mais tarde, passeando pelas ruas de Olinda (o casario pintado de cores loucas, os quintalhões
protegidos por grossos muros de adobe) lembrei-me como sempre da velha cidade de São Filipe
de Benguela. Em Salvador reencontrei Luanda (a festa permanente, o ritmo e o riso, o caloroso
calulu). Corumbá, ardendo ao sol, em frente às águas lentas do Paraguai, trouxe-me à memória a
Feira do Dondo, na margem direita do Quanza, a primeira cidade que os portugueses construíram
nos sertões de Angola. Atordoado pelo calor, voltei a experimentar o estranho sentimento de me
encontrar num sítio esquecida, longe da fúria e do fragor do mundo. Em Cachoeira, no recôncavo
baiano, reencontrei a alegre vendedeira de raízes, santinhos e prodígios, que no mercado de São
Paulo, em Luanda, me vendeu certa vez um pedaço de brututu, par o fígado, e estranhando que eu
ainda não tivesse filhos se propôs vender-me também Pau de Cabinda. Num bar de esquina, no Rio
de Janeiro, reconheci os velhos funcionários públicos, de impecável terno de linho branco, que
todas as tardes se reúnem a uma mesa da Biker, a mais antiga cervejaria de Angola, e à luz
esplêndida do crepúsculo discutem todas as grandes questões do nosso tempo (sobretudo
mulheres).
Por tudo isto eu quase acreditei estar em Angola quando vi, em viagem de ônibus entre São Paulo
e Campo Grande, uma placa na estrada anunciando: Luanda, cem quilómetros. Mas depois disso
conversei com a vendedeira de milagres em Cachoeira, com os funcionários públicos no Rio de
Janeiro, centenas de outros brasileiros, e quase todos quiseram saber, como o taxeiro do Recife,
onde ficava o meu país. O confronto entre a memória remota de África, que persiste em
praticamente todas as regiões do Brasil, pelo menos a norte do Rio de Janeiro, e a absoluta
ignorância do que é o continente nos nossos dias, deixa-me sempre perturbado. É como descobrir,
o fim da vida, um irmão que partilhou connosco uma infância feliz, e que depois partiu para longe.
Nós, em África, nunca deixámos de ter notícias dele. Ele nunca mais soube de nós. Ainda se recorda
das canções que cantávamos, do tempero do calulu e do som do berimbau – mas já não sabe quem
somos.
É importante para o Brasil redescobrir Angola (África)?
A mim, parece-me que será no espaço africano que o Brasil poderá exercer com mais vantagem, e
proveito geral, a sua brasilidade. Parece-me também que o encontro com África poderia ser
importante para ajudar uma certa inquietude racial, latente, que é no fundo parte de uma mais
vasta e profunda inquietação de identidade. Esta, porém, é uma questão a que só aos brasileiros
cabe responder.
Nós, em África, continuamos à espera.
José Eduardo Agualusa (jornalista e escritor angolano) in Revista Lusofonia, Cascais, Portugal,
Julho, 1996

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CONCEPÇÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS

As vias de acesso ou caminho da escrita, ou seja, da elaboração ou composição de texto são


diversas e complexa, que exige certo treinamento e hábito. Desde a antiguidade até aos nossos
dias, tem sido propotas muitas estratégias, que são objecto de estudo na escola ou em cursos de
redacção específicos.
O conhecimento e estudo dos diferentes produções textuais e os critérios associdados a este
processo tornam-se indispensáveis, hoje como ontem, quer para o desempenho de um papel
social activo e responsável quer para simples exercício de cidadania. Neste caso, são necessárias
algumas etapas:
I. Busca de Ideias
O desenvolvimento de um tema é a exposição de uma ou várias ideias, textualmente construídas
e organizadas de forma a manifestarem, sem dúvidas nem ambiguidades, o sentido que leva à
sua compreensão; é um estudo que queremos o mais completo possível.
Pressupõe o levantamento de uma interrogação, seguida de uma resposta, a do autor, que deve
aprecer argumentada, lógica, fundada num exemplo. O conjunto de respostas a várias perguntas
conduz a uma conclusão que delimita o assunto, formando o núcleo da mensagem cujo
destinatário é, na escola, normalmente o professor.
As ideias, vinda com essas respostas, são colocadas de forma pessoal no texto, bem relacionadas
umas com as outras, pois a composição é individual. Formam um todo coerente, coeso,
objectivo...
II. Plano
O plano de um texto é uma indicação do caminho, comparável ao projecto de uma vaiagem; um
conjunto de etapas a precorrer ou de balizas a ter em conta na progressão, para que nem o autor
nem o leitor se percam. É constituído por uma lista de elementos hierarquicamente organizados
e apresentado por palavras ou frases: trata-se de uma espécie de índice escrito no início do livro.
Pode ser visto como o fio condutor de um texto, o seu esqueleto...

III. Redacção ou desenvolvimento de um plano


Esta etapa constitui o momento de redigir, realizar, exprimir com agrado e eficácia as ideias,
antes pensadas, idealizadas, mas, nessa altura, ainda vagas e informes. É a fase de concretizar
tudo que foi planificado, pôr as ideias no papel, de forma lógica e organizada, considerando
vários aspectos, quer linguísticos (ortografia, gramática, estilo) quer extralinguísticos (aspectos
contextuais e enunciativas).
Pode envolvee, no mínimo, a primeira redacção (versão provisória), a revisão desses primeiros
escritos e a segunda redacção (versão definitiva).

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PARTES LÓGICAS DE TEXTO: INTRODUÇÃO; DESENVOLVIMENTO E CONCLUSÃO
I. Intodução
A introdução é a parte do texto que tem a função de apresentar o que se vai desenvolver, de
atrair a atenção e de prender o interesse do leitor. É uma parte nuclear do texto. Cabe à
introduçãi desencadear nos leitores uma reacção de “amor à primeira vista, ou seja, se tanto não
conseguir, de suscitar neles posturas de respeitoso acolhimento.
II. Desenvolvimento
O desenvolvimento é a parte do texto necessária à compreensão do que foi anunciado de modo
sintético na introdução. É, portanto, o lugar próprio para decompor o tema em tantas partes
quantas as necessárias a sua clara apreensão; o local para priorizar o que, de modo genárico, foi
proposto ao leitor; o espaço para esclarecer, para a argumentação – discussão para a
apresentação de exemplos, para, sobre o que se está a desenvolver, introduzir opiniões ou juizos
de pessoas credenciadas (aspectos teórico-metodológicos apoiados em outros autores).

III. Conclusão
A conclusão é uma síntese que deve destacar – com vivacidade e concisão – o essencial do que
foi dito, do modo a que perdure na memória do destinatário. Uma boa conclusão é bem diferente
de uma simples repetição descolorida.

TEXTO NARRATIVO
Texto narrativo – relato de acontecimentos – é um tipo de texto literário no qual um narrador conta uma
história, facto ou acontecimente, geralmente fictício, com certo carácter de verosimelhança, envolvendo
personogen(s) em acção/acções, que se situa(m) num derminado espaço e tempo. Geralmente escrito em
prova, é caracterizado por uma linguagem estética, subjectiva e conotativa, sendo também marcado por
grande valor de plurissignificação.
Gramaticalmente, o texto narrativo pauta-se pelo uso constante de verbos dinâmicos que
sugerem actividades e dinamismo por parte das personagens. Os textos predominantes são
todos os pretéritos, com uma paticularide relevada para o pretérito perfeito. Utiliza também,
frequentemente o presente do indicativo, embora com um valor de falso tempo, como presente
histórico. Geralmente, a escrita de um texto narrativo deve obedecer a uma sequência e uso
frequente de recursos expressivos,como forma de embelezamento textual (Matos 2012, p. 308-
309).

ESTRUTURA DA NARRATIVA
I. Apresentação: parte intodutória ou inicial do texto no qual se apresentam resumidamente o
assunto, as personagens, o espaço e o tempo da história.
II. Desenvolvimento: parte em que se desenvolve a história, em diferentes enredos que
constituem a acção, praticada pela(s) personagen(s), que se denselvem em determinado(s)
espaço(s) e situado(s) num tempo específico.

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III. Clímax: constitui o ponto mais alto da narrativa, em que a história atinge o seu auge, tornando-
se mais emocionante.
IV. Desfecho: é a parte final da narrativa, a conclusão, na qual se dá o desenlance da história e se
define a sorte ou o destino das personagens. Neste caso, a narrativa pode ser aberta (não se
conhece o desenlace nem a sorte das personagens) ou fechada (conhece-se o desenlace e o
destino das personagens).

CATEGORIAS DA NARRATIVA
Constituem o conjunto de elementos indispensáveis ao processo narrativo e que conformam este
tipo de lexto: narrador/narratário, acção, personagens, espaço e tempo.
I. Narrador e narratário:
O narrador é a entidade imaginária que, numa narrativa, tem a função de contar a história
para um narratário, que também é uma entidade fictícia que recebe a história contada. Não se
pode confundir o narrador com o autor, pois o autor é a entidade real que escreve a história,
ao passo que o narrador é a voz que conta os factos, narrando para o narratário.
Quanto à sua presença ou participação na narrativa, o narrador pode ser: (i) narrador
participante: participa na ação como personagem, contando a história na 1ª pessoa, podendo
ser a personagem principal ou protagonista (autodiegético), ou uma personagem secundária
(homodiegético); e narrador não participante (heterodiegético): não participa na ação, conta
a história na 3ª pessoa, de modos que a sua existência não seja percetível.
Quanto à focalização ou ciência, o narrador pode ser: (i) de focalização externa ou não
omnisciente: o narrador é objectivo e um simples observador, pois não detém um ponto de
vista, narrando apenas o que qualquer um poderia ver, descreve os espaços, narra os factos,
mas não penetra no interior das personagens; (ii) e de focalização interna: o narrador conta
os fatos baseando-se no ponto de vista de uma personagem inserida na diegese, contando tal
como foram vistos por essa personagem; e (iii) de focalização omnisciente: o narrador
demonstra um conhecimento absoluto de todos os acontecimentos relativamente à narrativa,
incluindo o interior das persongens. Sabe o que irá acontecer , logo, sabe mais que as
personagens.
Quanto à posição, o narrador pode apresentar as seguintes posturas: (i) posição objectiva: o
narrador limita-se a contar o que vê, assumindo um papel neutro, pois não dá opinião, nem
revela simpatias ou antipatias; e (ii) posição subjectiva: o narrador intromete-se na história,
relatando os acontecimentos de forma a dar opiniões, fazendo comentários e revelando uma
posição ideológica.

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II. Acção:
A acção é o conjunto de acontecimentos inter-relacionados em que as personagens se
envolvem, levando a um desenlance e que ocorre num determinado espaço e tempo (Matos,
2012, p.311). A acção pode caractizar-se quanto ao relevo, a delimitação, a estrutura e a
organzação das sequências narrativas. Quanto ao relevo a acção pode ser: acção principal ou
central: é o conjunto de acontecimentos que carregam maior importância no texto; e acção
secundária: normalmente depende da acção principal, pois os acontecimentos possuem
menor relevância.
III. Personagens:
As personagens são as entidades (reais ou imaginadas) que intervêm na ação. Numa história,
as personagens possuem diferentes papeis. Por esta razão, Matos (2012, p.312) afirma que,
para a sua classificação, é necessário ter em conta os seguintes aspectos: relevo,
caracterização, processo de caractetização e quanto a sua concepção.
Quanto ao relevo, as personagens podem ser: Personagens principais: são as personagens
mais importantes ao longo da história, desempenham um papel central, uma vez que é à volta
delas que a diegese se desenvolve, sendo protagonistas ou antagonistas; Personagens
secundárias: participam activamente na história, porém são menos importantes que os
protagonistas ou antagonistas, intervindo na história sem terem papel de destaque; e
personagens figurantes: não exercem funções relevantes na acção, intervindo indiretamente
na acção, a fim de caracterizar o ambiente.
Ao caracterizarmos as personagens, pretendemos dizer como elas são. Assim, quanto a
caracterização, as personagens podem ser caracterizadas da seguinte forma: carecterização
física: são apresentandas as características corporais ou fisiológicas das personagens, como
altura, beleza, cor da pele; caracterização psicológica: faz-se análise do carácter,
temperamento ou dos valores morais das personagens; e caracterização social: verifica-se o
estatuto social da personagem.
Os processos de caracterização podem ser: caracterização directa: é feita através do que é dito
explicitamente pela própria personagem(auto-caracterização), ou podem ser fornecidos por
outras personagens ou pela afirmação do narrador (hetero-caracterização); caracterização
indirecta: os traços característicos das personagens são deduzidos pelo leitor, por intermédio
das atitudes que as personagens vão apresentando no decorrer da açcão; e caracterização
mista: apresenta simultaneamente, caracterização directa e indirecta.
Quanto à concepção, as personagens podem ser: personagens planas: são personagens que
apresentam comportamentos e atitudes estáveis , por este motivo, são previsíveis durante
toda a diegese; personagens redondas ou modeladas: possuem conflitos psicológicos, tendo
comportamentos instáveis, que podem mudar ao longo da ação; e personagens tipo:

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personagens que representam um grupo social, profissional, cultural, económico, com
características que as definem.
IV. Espaço:
Espaço é o cenário ou o lugar onde os acontecimentos se realizam. Nesta categoria narrativa
podem se identificar três tipos de espaço: espaço físico: é o local geograficamente localizado
onde as personagens atuam; espaço social: é o tipo de ambiente social, cultural ou económico,
no qual as personagens se integram. Tendo como resultado a reprodução de valores, hábitos
e comportamentos; e espaço psicológico: é o conjunto de elementos que informam a
interioridade das personagens, representando suas vivências, sentimentos, emoções,
pensamentos e sonhos.
V. Tempo:
Tempo são os momentos em que decorre a narração. Esta categoria narrativa subdivide-se
em: tempo histórico: faz referência a época histórica em que decorrem os acontecimentos
narrados; tempo diegético/da história: é o tempo em que é organizado as sequências por
ordem cronológica, em que a datação pode ser revestida de maior ou menor rigor; tempo do
discurso: basea-se na ordem pela qual os acontecimentos são contados pelo narrador,
podendo ser apresentados de uma forma linear ou com retrocessos (analepses), como
também com avanços(prolepses); tempo psicológico: tem a ver com a forma como as
personagens vivem o passar do tempo, de acordo o seu estado de espírito.

MODOS DE REPRESENTAÇÃO DA NARRATIVA


Uma narrativa apresenta-se em quatro modos de representação (Alves e Miguel (2011):
I. Narração: são os momentos de avanços da narrativa, privilegiando-se o uso de verbos de
acção, movimento/direcção, processo, etc.
II. Descrição: são os momentos de pausa da narração para descrever pessoas ou ambientes,
preferindo-se o uso do ser e de verbos estativos.
III. Dialógo: fala das personagens, feito em forma do discurso directo.
IV. Monólogo: fala da personagem consigo própria, que reflecte o seu estado interior, muito típico
de romances psicológicos ou introspectivos.

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EXMPLOS
Texto 1

OLÁ, PÁ, NÃO PAGAS NADA?

Sempre fui amigo dele. Desde pequeno que era o chefe do bando. As pernas tortas, as feições duras,
impusera-se pela força. Da sua pontaria com a fisga nasceu o respeito como chefe. Nós gostávamos dele
porque tinha imaginação. Inventava as aventuras na água suja que se acumulava na floresta. Foi inventor
das jangadas que nos levariam à conquista do reduto dos Bandidos do Kinaxixi.
Fomos crescendo. A vida separou-nos. Cada um com a sua cela nessa imensa prisão. Não éramos
mais os cavaleiros da Grande Floresta. Uns continuaram a estudar. Outros trabalham. Ele não continuou a
estudar. Mais tarde soube que tinha tentado ir clandestinamente para América, dentro de um barril, mas
que fora descoberto perto de Matadi.
A vida fez dele um farrapo. As companhias que a vida lhe trouxe modificaram-no. O seu espírito de
aventura compatibilizou-se com a rufiagem. E quando o via nas ruas, ao sol, as pernas cada vez mais
arqueadas, a voz rouca, a pronúncia de negro dirigindo a colocação de tubos para a colocação de tubos para
a conduta da água, ficava a olhar para ele.
Já não me conhecia. Era-lhe estranho. E eu quase chorava ao ver ali o meu chefe da Grande Floresta,
que não me cumprimentava, farrapo da vida.
Muitas vezes tentei a aproximação, mas só o olhar dele de ódio me respondia. Reconhecer-me-ia ele
por detrás do meu disfarce feito de fazenda e nylon, de uma barba bem escanhoada. Dos meus sapatos bem
engraxados? Não, ele não podia que eu era o mesmo menino do bando, que comia com ele jinguba e peixe
na loja do velho Pitagrós. Ele não podia ver que eu era o sócio dele nas grandes rifas que fazíamos.
Um dia eu estava ali, a olhar para tudo. Ele avançou para mim cambaleando. Chegou-se. Conservei-
me quieto. O seu hálito tocava-me. Suportei tudo e inconscientemente sorri. Ele despertava em mim as
imagens da minha infância. Por isso eu sorria, com um sorriso que o tocou. Olhou bem para mim e bateu-me
no ombro.
– Olá, pá não pagas nada? E eu vi no brilho dos seus olhos mortiços e raiados de sangue que me tinha
reconhecido. E na noite quente, eu e ele falámos muito, toldados ambos pelo palhete da taberna. Nunca me
soube tão bem o vinho de palhete!
Cá fora, sumindo-se na escuridão, negra como eles, dois amigos cambaleavam abraçados. E o da
harmónica tirava do instrumento uma música de todos nós, meninos brancos e negros que comemos
quicuérra e peixe frito, que fizemos fugas e fisgas e que em manhãs de chuva deitávamos o corpo sujo na
água suja e de alma bem limpa íamos à conquista do reduto dos bandidos do Kinaxixi.

Luandino Vieira, in A Cidade e a Infância

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Texto 2

ESTUDAR OU APRENDER UM OFÍCIO?


Na véspera do meu exame da 4.ª classe, em vez de estudar, estava na oficina a ajudar o tio
a polir o sofá. Os meus livros estavam sobre a banca. O tio Chico dizia para mim:
- Aprende o ofício, sobrinho! Este é arte. Não deixa pedir esmola. Teu pai anda aí com a
mania de liceu, liceu, liceu, ianhi? Quarta classe chega bem. Depois aprende arte. Uma data de
gente que anda aí no liceu, mas com a mania de “fonchonário” são “calutêiros”. Não pagam as
obras que a gente faz. Alguns matam as famílias com fome. A vida deles é só ter sapato engraxado
e camisa limpo. Mas em casa só comem farinha com açúcar. Mesmo o mano já viu quantos
“dotores” pretos? “Dotor” preto só os “santomês”…
Eu ouvia com todo o interesse o sermão do tio Chico. E estava satisfeito por meter as mãos
numa obra de responsabilidade.
- Felito, para casa, estudar! Ndoko!...
Era a mãe, com um chicote na mão que há muito me esperava para preparar a lição. Corri para
trás do tio. Mas a mãe, num tom exaltado, disse para o tio Chico:
- Ngana Chico, ambul’o mona!...
- Bater, não! A cunhada veja bem – é! É falta de respeito na minha pessoa bater o garoto na
minha “presência”. É um abuso!...
- Falta ia respeito ianhi? O mona mungu ualoia ku izami, eie ua-um-té boba ku mabáia?!...
- E o que isso faz? E o que isso tem?
- E o qu’isso faz, não é?! Mona uami – é! Uevu, Chico? … Mona uami – é!...
- O filho também é do mano. Eu mando! A cunhada não sabe estas coisas e vem aqui com
abusos. Então não sabe que o rapaz que vai no exame tem de brincar um bocado? Agarrar toda
a hora no livro, quando chega no exame, chumba. Portanto, ele vai estudar, mas digo: é um abuso
bater o miúdo na minha “presência”.
A discussão entre a mãe e o tio só acabou com a intervenção dos ajudantes e de alguns
vizinhos.
A mãe tornou a fazer barulho em casa, com o pai, quando este chegou do trabalho.
Pensava a velha Mbamba que o silêncio do marido para com o irmão significava um
consentimento para eu praticar a profissão que, em boa verdade, todos eles detestavam.
Uanhenga Xitu, in “Manana”, pp. 27-29 (adaptado) – cf. Convergências, p. 140

12
ACTIVIDADES
FICHA DE ANÁLISE DO TEXTO NARRATIVO
Estrutura Aspectos
1. Apresentação

2. Desenvolvimento

3. Clímax

4. Desfecho
Categorias Características
1. Narrador/narratário

> presena/participação

> focalização ou ciência

> Posição

2. Acção
> Relevo (acção principal)

13
> Relevo (acção secundária)

3. Personangens
> Relevo (personage(s)
principal(is)/protagonista
> Relevo (personage(s)
secundária(s)
> Tipo de caracterização das
personagens:
- física
- social
- psicológica
> Processo de caracterização:
- directa
- indirecta
- mista
> Concepção:
- personagens planas
- personagens redondas ou
modeladas
- personagens tipo

14
4- Espaço
> Físico

> Social

> Psicológico

5. Tempo
> tempo histórico

> tempo diegético

> tempo diegético/da história

> tempo do discurso

> tempo psicológico

15
16
TEXTO ARGUMENTATIVO
PARÁFRASE TEXTUAL
RESUMO DE TEXTOS

17

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