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História de Bangladesh

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Bangladesh fez parte da Índia britânica, como ficou conhecida a parcela do subcontinente indiano incorporada ao Império Britânico, até o momento da independência e da partilha de Bengala (1947), quando integrou-se ao Paquistão, o estado muçulmano criado na parte setentrional do subcontinente indiano. O distanciamento físico, cultural e econômico em relação ao Paquistão Ocidental, maior e economicamente mais desenvolvido, provocou uma guerra cruenta dos bengalis da parte oriental do país contra o domínio paquistanês. Com a colaboração do governo indiano, que expulsou o exército paquistanês, o até então Paquistão Oriental tornou-se uma república independente em 1971, adotando o nome Bangladesh.

O primeiro governo do país foi constituído em janeiro de 1972 sob a liderança carismática como primeiro-ministro de Sheikh Mujibur Rahman, líder da Liga Awami (Awami League) e da oposição ao governo paquistanês. Suas primeiras atividades consistiram em reconstruir o Estado destruído pela guerra, restabelecer a lei e a ordem e integrar ao país os numerosos bengali procedentes da Índia.

O novo Estado, embora contasse com o apoio das Nações Unidas, da União Soviética e de outros países, enfrentou graves problemas internos, intensificados pela inexperiência administrativa. No princípio, o xeque Mujibur Rahman governou de acordo com a Constituição promulgada em 1972, mas em meados de 1974, a desordem política se intensificou e foi declarado estado de emergência nacional, investindo-se Mujibur Rahman de poderes quase absolutos. Isso provocou forte oposição interna, especialmente por parte do exército, o que resultou no golpe militar de agosto de 1975 e no assassinato de Mujibur Rahman e sua família. Depois de um segundo golpe, ocorrido em novembro do mesmo ano, subiu ao poder o general Zia ur-Rahman. Entre 1978 e 1981, Rahman exerceu a presidência da República.

Depois do assassinato de Ziaur Rahman em maio de 1981 por rebeldes que invadiram uma casa de hóspedes mantida pelo regime em Chittagong [1] e do breve governo de seu sucessor, o vice-presidente Abdus Sattar, as Forças Armadas entregaram em março de 1982 o poder ao general Hossain Mohamed Ershad, que foi eleito presidente da República em 1983. O general Ershad instaurou a lei marcial, dissolveu o Parlamento e se arrogou poderes extraordinários. Esse golpe sem derramamento de sangue foi a princípio muito bem acolhido pela população, acostumada à violência política e à miséria. Para isso contribuíram as repetidas promessas de reinstaurar a democracia. Em 1990, no entanto, pressionado pela oposição, Ershad foi forçado a renunciar e deixou o poder.

Khaleda Zia.

Em fevereiro de 1991, a begume Khaleda Zia, viúva de Zia ur-Rahman e líder do Partido Nacionalista de Bangladesh (Bangladesh National Party), foi eleita primeira-ministra e, depois de uma série de alterações na Constituição, restabelecendo-se o parlamentarismo após 16 anos de presidencialismo, assumiu o controle do governo com plenos poderes executivos. Em outubro, Abdur Rahman Biswas elegeu-se presidente. Em 1996, Shaikh Hasima Wajed (Liga Awami), filha do presidente fundador de Bangladesh Mujibur Rahman, assumiu o governo por nomeação e Khaleda Zia tornou-se a líder da oposição. Em 2001, Khaleda Zia voltou a ser primeira-ministra.

Em 26 de dezembro de 2004, registou-se o maior terremoto dos últimos tempos (8,9 graus da escala de Richter) com epicentro ao largo da ilha indonésia de Samatra. Este sismo originou maremotos que assolaram a costa de vários países do sudeste asiático, como o Sri Lanka, o mais afetado, seguido da própria Indonésia, da Índia, Tailândia, Malásia, Maldivas e do Bangladesh, tendo provocado milhares de mortos e de desalojados.

Shaikh Hasima Wajed.

Em 2007, ocorre um golpe de Estado, organizado pelo chefe do Exército, sendo o país comandado por um governo provisório nos dois anos seguintes, até Sheikh Hasina assumir o poder, em 2009[2]. Nesse mesmo ano, insatisfeitas com seus salários, forças paramilitares iniciam um movimento de revolta na capital do país, Daca, que acabou se espalhando por diversas cidades, terminando após seis dias [3]. Em 2012, o Exército anunciou ter frustrado uma tentativa de golpe de Estado por oficiais da reserva e da ativa com a finalidade de introduzir a sharia no país[4].

Em janeiro de 2024, houve uma onda de protestos contra a quarta reeleição consecutiva de Hasina em um pleito do qual a principal oposição se retirou alegando fraude [5]. Em junho de 2024, o Supremo Tribunal do país restabeleceu um sistema de cotas reservando 30% dos cargos públicos para as famílias dos veteranos que lutaram na guerra de independência do país em 1971, anulando uma decisão de 2018 do governo da premiê Hasina Wajed de o abolir. Em julho, eclodiram protestos liderados por grupos de estudantes contra a lei de cotas no serviço público, que evoluíram para uma mobilização mais ampla contra o governo, resultando em centenas de mortes. Em 5 de agosto, Hasina, que estava no poder havia 15 anos, renunciou ao cargo de primeira-ministra e fugiu para a Índia. Após a renúncia, o presidente Mohammed Shahabuddin ordenou a libertação das pessoas detidas durante as manifestações e da ex-primeira-ministra e líder da oposição, Khaleda Zia, que esteve anos em prisão domiciliar, destituiu o comandante da polícia nacional e dissolveu o Parlamento, uma das principais exigências dos estudantes e do Partido Nacionalista de Bangladesh (BNP). O chefe do Exército, general Waker-uz-Zaman, declarou em pronunciamento a formação de um governo interino. Muhammad Yunus, ganhador do Nobel da Paz, foi designado para liderar o governo interino após reunião entre o presidente, comandantes militares e líderes dos protestos estudantis [6].

  1. «Renúncia de primeira-ministra em Bangladesh reacende história de golpes do país». Folha de São Paulo. 5 de agosto de 2024. Consultado em 9 de agosto de 2024 
  2. «Renúncia de primeira-ministra em Bangladesh reacende história de golpes do país». Folha de São Paulo. 5 de agosto de 2024. Consultado em 9 de agosto de 2024 
  3. «Renúncia de primeira-ministra em Bangladesh reacende história de golpes do país». Folha de São Paulo. 5 de agosto de 2024. Consultado em 9 de agosto de 2024 
  4. «Renúncia de primeira-ministra em Bangladesh reacende história de golpes do país». Folha de São Paulo. 5 de agosto de 2024. Consultado em 9 de agosto de 2024 
  5. Anversa, Luiz (6 de agosto de 2024). «Primeira-ministra de Bangladesh renuncia; mais de 300 já morreram em protestos no país». Exame. ISSN 0190-8286. Consultado em 7 de agosto de 2024 
  6. «Ganhador do Nobel da Paz vai liderar governo interino em Bangladesh». Bol. 6 de agosto de 2024. ISSN 0190-8286. Consultado em 7 de agosto de 2024