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Língua manesa

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Manx
Outros nomes:Manês, Yn Ghaelg, Yn Ghailck
Falado(a) em: Ilha de Man
Total de falantes: 1800, cerca de 2,2% da população (2015)
Família: Indo-européia
 Celta
  Insular
   Gaélica
    Manx
Estatuto oficial
Língua oficial de: Ilha de Man
Códigos de língua
ISO 639-1: gv
ISO 639-2: glv
ISO 639-3: glv

O Manx, manês ou manquês (Gaelg ou Gailck, IPA: [ɡilk] ou ɡilɡ)[1] é uma das línguas gaélicas, junto com o irlandês e o escocês. As línguas gaélicas são um subgrupo das línguas célticas insulares, pertencentes à família indo-europeia.

Estreitamente relacionada com o gaélico da Escócia e com os dialetos irlandeses orientais (Ulster e Galloway), o primeiro documento literário é uma tradução de um livro de orações anglicano por volta de 1610 encomendada pelo Bispo de Sodor e Mann, John Phillips.[2] Conheceu uma época de esplendor literário nos séculos XVII e XVIII. As baladas históricas conservaram-se num manuscrito de finais do século XVIII, que recolhe uma tradição oral anterior. Também se conservam baladas de tema ossiânico; poesia religiosa (carvals, equivalentes aos carols (cânticos) ingleses, embora nem sempre de tema natalício, canções de embalar, pastoris e marítimas.

Mapa que mostra a Ilha de Man, em vermelho, no Mar da Irlanda.
Mapa que mostra a Ilha de Man, em vermelho, no Mar da Irlanda.

O Manx é língua oficial da Ilha de Man, onde é falado. É regulado pelo Coonceil ny Gaelgey, uma subdivisão da Fundação do Patrimônio Manês. O manx é usado pelo Tynwald, o parlamento da Ilha de Man, sendo todas as leis lidas em voz alta pelo Yn Lhaihder ("o leitor") tanto em manx como em inglês. É reconhecido pela Carta Europeia das Línguas Minoritárias.

A ressurreição do manx tem sido ajudada pelas gravações efetuadas durante o século XX por investigadores, em particular pela comissão irlandesa para o folclore em 1948, assim como pelo trabalho do entusiasta e falante fluente da língua Brian Stowell.

Na sequência do declínio do uso do manx, durante o século XIX, foi fundada a Sociedade da Língua Manx, Yn Cheshaght Ghailckagh, em 1899.

Os nomes maneses estão a tornar-se novamente comuns na Ilha de Man, especialmente Moirrey (Mary), Illiam (William), Orry, Breeshey ou Breesha (Bridget) e Aalish ou Ealish (Alice). Juan (Jack/Johnny), Ean (John), Joney, Fenella (Fionnuala), Pherick (Patrick) e Freya (a partir da deusa nórdica) continuam populares.

Não existem muitas informações sobre a história antiga da língua Manx, mas sabe-se que a primeira língua falada na Ilha de Man era bretônica, cuja origem mais aceita é o protocelta. Durante o século V, diversos falantes de irlandês antigo, originado a partir do irlandês primitivo, se estabeleceram na Ilha de Man. Não se sabe se o irlandês antigo sobreviveu à presença escandinava na ilha, dos séculos X ao XIII, o que faz com que seja possível que o Manx moderno seja derivado do irlandês médio, que surgia justamente nessa época.[3]

Na Baixa Idade Média, a Ilha de Man passou a sofrer forte influência inglesa, principalmente pela atuação de magnatas anglo-normandos,[3] um grupo pertencente ao estamento da nobreza inglesa, de tal maneira que, entre os séculos XIII e XVIII, a ilha de Man foi considerada posse dos lordes da família de John Stanley, fato que os levaria a ser chamados de “lordes de Man”.

Durante o século XIX, a língua manesa foi gradualmente subordinada ao Inglês, predominantemente utilizado no cotidiano. Além disso, no imaginário popular, a língua perdeu valor e foi associada à recessão do meio do século XIX, fato evidenciado por um ditado comum na época "Cha jean oo cosney ping lesh y Ghailck", traduzido para “Você não vai ganhar um centavo com Manx”.[4] De acordo com o censo de 1901, 9,1% da população manesa da época falava o idioma. Em 1921, o número de falantes regulares da língua era de apenas 1,1%.[5] Em 1974, morreu o último falante nativo de Manx, Ned Maddrell, apesar de existirem relatos do uso da língua em situações particulares,[6] até que, em 1985, foi organizado o Conselho do Manx gaélico, responsável por regular e padronizar o uso oficial de Manx. Em 2009, com a edição do Atlas de Línguas Mundiais em Perigo da UNESCO, a língua Manesa foi considerada morta.

No final do século XX e início do século XXI, a língua passou por um processo de revitalização linguística e o Manx passou a ser falado e ensinado na escola primária de Bunscoill Ghaelgagh, contribuindo para o aprendizado do idioma pelas novas gerações. Em reação à caracterização da língua manesa como morta em 2009, diversas crianças escreveram para a UNESCOIf our language is extinct then what language are we writing in?” (Se nossa língua está extinta, então em qual língua estamos escrevendo?). Desde então, a língua é caracterizada pela Unesco como “criticamente ameaçada”. De acordo com fontes oficiais da ilha de Man, em 2015, mais de 1800 pessoas afirmavam conseguir falar, ler e escrever em Manx.[4]

Atualmente, o manx é usado como único meio de ensino em cinco das escolas pré-primárias da ilha, por uma companhia chamada Mooinjer Veggey, que também opera a única escola que ensina exclusivamente em manx, a Bunscoill Ghaelgagh. O manx é ensinado como segunda língua em todas as escolas primárias e secundárias e ainda na Universidade da Ilha de Man e no centro de estudos de manx.

É comum a divisão da língua manesa de acordo com três períodos[7]:

  1. Manx inicial: referente ao século XVII, usado na tradução de um livro de orações Anglicano pelo Bispo John Phillips.
  2. Manx Clássico: referente ao século XVIII, usado na tradução da Bíblia para a língua manesa.
  3. Manx tardio: língua nos séculos XIX e XX, correspondente ao período dos últimos falantes nativos de Manx antes de sua revitalização.

Os fonemas consonantais da língua manesa estão representados na tabela a seguir[8]:

Bilabial Labiodental Dental Alveolar Pós-Alveolar Palatal Palato-velar Velar Labiovelar Glotal
Plosiva p b tʲ dʲ kʲ ɡʲ k g
Fricativa f v s ʃ xʲ ɣʲ x ɣ h
Nasal m n ŋʲ ŋ
Vibrante r
Aproximante j w
Lateral l

O diacrítico ʲ significa que os fonemas são palatalizados. O diacrítico ◌̪ em t̪ e d̪ significa que estes são sons dentais.

Os fonemas vocálicos da língua manesa estão representados na tabela a seguir[9]:

Anterior Central Posterior
Fechada i iː u uː
Média e eː ə øː o oː
Aberta æ æː a aː ɔ ɔː

O Manx conta também com a formação de alguns ditongos. As vogais /a/, /e/, /ə/ podem formar ditongos terminados em /i/ e /u/; /o/ e /u/ podem formar apenas ditongos terminados em /i/; /i/ e /u/ podem constituir ditongos terminados em /ə/. Observe os ditongos da língua Manx na tabela a seguir[10]:

Segundo elemento vocálico
/i/ /u/ /ə/
Primeiro elemento vocálico Fechada ui iə uə
Média ei əi oi eu əu
Aberta ai au

Os ditongos terminados em /ə/ possuem um enfraquecimento de /r/, como nas palavras a seguir:

/miːr/ (pedaço) → /miːə/

/muːr/ (grande) → /muːə/

Com exceção de monossílabas, antes de /l, r/, os ditongos terminados em /i/ e /u/ são resultado da vocalização de fricativas palatais, labiais e eventualmente dentais.

/iə/ e /uə/ estão sujeitos a monotongação, como nas palavras:

/biəl/ (boca) → /biːl/

/kuːəg/ (cuckoo) → /koːg/

Como observado acima, comumente o primeiro elemento do ditongo é longo.

Transformações fonológicas

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Na língua manesa mais recente, surgiram diversos alofones para cada fonema original. Além disso, no manx mais recente, vogais curtas podem ser mais alongadas. Em alguns casos, vogais longas originalmente tônicas podem ter pronúncia encurtada. Outra modificação consiste na preclusão, com o surgimento de uma variedade fraca da plosiva vozeada antes de /m/, /n/ e /ŋ/ finais em monossílabas tônicas, causando o encurtamento de vogais originalmente longas, como nos exemplos abaixo[11]:

/troːm/ → /trobm/ (pesado)

/k´oːn/ → /k´odn/ (cabeça)

/loŋ/ → /logŋ/ (navio)

Durante o último século, assim como em outras línguas celtas, nota-se uma forte tendência de mutação na língua manesa, em especial na língua falada. Há dois tipos de mutação: lenição (também conhecido como aspiração) e eclipsis, mais rara. As letras l, n e r não sofrem esses fenômenos. Percebe-se que a única alteração desse tipo que pode ser feita a vogais se dá pela adição de um “h” anterior a elas, enquanto nas consoantes há mais possibilidades de mutações.[12]

Lenição e eclipsis

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A lenição é um fenômeno que torna as consoantes mais sonorizadas. O eclipsis, por sua vez, é responsável por vozear /p, t, k, f/ e eclipsa /b, d, g/, além de adicionar /n/ antes de vogais.[13] O sistema para consoantes únicas iniciais, incluindo variantes palatalizadas, pode ser representado da seguinte forma:

Inalterado Com Lenição Com Eclipsis
p (/p/) /f/ /b/
t (/t̪/) /h/, /x/ /d̪/
çh (/tʲ/) /h/, /xʲ/ /dʲ/
c, k (/kʲ/) /xʲ/ /ɡʲ/
c, k, qu (/k/,/kw/) /x/, /h/ /hw/ /ɡ/
b, bw (/b/,/bw/) /v/, /w/ /m/, /mw/
d (/d̪/) /ɣ/, /w/ /n/
j (/dʲ/) /ɣʲ/, /j/ /nʲ/
g (/ɡʲ/) /ɣʲ/, /j/ /ŋ/
m, mw (/m/,/mw/) /v/, /w/ Permanecem inalterados
f, fw (/f/,/fw/) f permanece inalterado, fw vira /hw/ /v/, /w/
s, sl, sn (/s/,/sl/, /snʲ/) /h/, /l/, /nʲ/ Permanecem inalterados
sh (/ʂ/) /h/, /xʲ/ Permanecem inalterados

Observe na tabela a seguir elementos que causam lenições:

Elementos causadores de mutações Exemplos
As lenições são comumente causadas pelas palavras: dy (de), ro (também), feer (muito), my (meu), dty (seu) e e (dele). bree (energia) → lane dy vree (cheio de energia)

kayt (gato) → e chayt (o gato dele)

Um conjunto semelhante de lenições ocorre depois de yn ou y em substantivos femininos no singular cleaysh (orelha) → y chleaysh (a orelha)

shiaghtin (semana) → yn çhiaghtin (a semana)

Adjetivos que seguem substantivos femininos no singular também são aspirados daaney (corajoso) → ben ghanney (uma mulher corajosa)

gorrym (azul) → lioar ghorrym (um livro azul)

As preposições er (sobre) e ayns (em) causam lenição em substantivos com y/yn anteriores a eles:

Tais lenições são semelhantes àquelas causadas por y/yn antes de substantivos femininos. No entanto, a mudança de s, sh, sl e str para t, çh, cl e tr, respectivamente, não são consideradas lenições.

boayrd (mesa) → er y voayrd (sobre a mesa)

cree (coração) → ayns y chree (no coração)

Un (um) e daa (dois) causam lenições que, causadas por un, lembram mais aquelas após y/yn em substantivos femininos un ven - uma mulher

un vee - um mês

Quando falando com um interlocutor pelo nome, este sofre lenição, se possível Kys t’ou, Yuan? (Como você está, Juan?)

Voirrey, c’raad ta Peddyr? (Moirrey, onde está Peddyr?)

O eclipsis, fenômeno mais raro, ocorre após nyn (que significa “nosso”, “seus” ou “deles”) e após cha e nagh. Às vezes, também ocorre eclipsis após er nos tempos verbais perfeito e passado perfeito. Como na lenição, em geral, apenas consoantes sofrem o processo de eclipsis baatey (barco) → nyn maatey (nosso barco)

nyn jengey (nossa língua)

No entanto, quando “e” significa “dela”, não ocorre lenição com as consoantes, mas há a adição de ‘h’ antes de vogais:

e mac - o filho dela

e h-ayr - o pai dela

No plural, preposições não causam lenição:

buird (mesas) → er ny buird (sobre as mesas)

creeaghyn (corações)

ayns ny creeaghyn (nos corações)

Como nyn pode significar “nosso”, “seus” ou “deles”, para evitar desentendimentos semânticos e eclipsis, comumente se utiliza as formas ain (“de nós”), eu (“de vocês”) e oc (deles):

y baatey ain - nosso barco

y caashey eu - queijo de vocês

y cheeill oc - a igreja deles

A ortografia do manx, ao contrário daquela do irlandês e do gaélico escocês não representa a etimologia gaélica e apresenta considerável influência do galês e do inglês (observável na utilização de 'y' e 'w' e em combinações de letras como 'oo' e 'ee').

Por exemplo, Ilha de Man seria escrito em irlandês como "Oileán Mhanainn" ou em gaélico escocês como "Eilean Mhanainn", enquanto que em manx é escrita "Ellan Vannin", sendo as três variantes pronunciadas aproximadamente da mesma maneira.

Se existia alguma literatura escrita de forma distinta em manx antes da Reforma, perdeu-se ou já não era possível identificá-la na altura em que o ensino da escrita passou a ser seriamente defendido. Assim, quando foram feitas tentativas (sobretudo por parte da Igreja Anglicana) para introduzir uma ortografia normalizada, foi desenvolvido um sistema novo. Supõe-se que tenha sido pura e simplesmente inventado por John Philips, o bispo de Sodor e Man, de origem galesa, que traduziu o pequeno livro das orações para manx.

Porém, parece ter de fato algumas semelhanças com alguns sistemas ortográficos encontrados por vezes na Escócia. Por exemplo, o "Livro do Leão de Lismore" foi escrito em gaélico escocês, usando um sistema ortográfico semelhante.

O alfabeto Manx é composto por 24 letras, cujos nomes estão representados a seguir:

A (aittyn) B (beih) C (couyll) D (darragh) E (eboin) F (faarney)
G (guilckagh) H (hibbin) I (iuar) J (juys) K (keirn) L (lhouan)
M (malpys) N (neaynin) O (onnane) P (pobbyl) Q (quinsh) R (rennaigh)
S (shellagh) T (tramman) U (unjin) V (vervine) W (wooshlagh) Y (yiarn)

A língua manesa também conta com um diacrítico, a cedilha, aplicada na combinação “ch”, indicando que sua pronúncia se dá de maneira igual ao inglês, como em paitçhey (criança).[14]

Abaixo estão representadas as letras e seus possíveis fonemas correspondentes:

a /a/, /aː/, /ə/, /i/, /a/ m /m/ /ᵇm/
b /b/ /β/ /v/ n /n/ /nʲ/ /ᵈn/ /ᵈnʲ/
c /k/ /ɡ/ /ɣ/ o /ɔ/ /ɑ/ /ɔː/ /ɑː/ /o/ /oː/ /u/
d /d̪/ /dʲ/ /dʒ/ /ð/ p /p/ /v/
e /e/ /eː/ /ɛ/ /i/ /ə/ q /kw/
f /f/ r /r/ [ɹ̝] [ə̯]
g /ɡ/ /ɡʲ/ /ɣ/ s /s/ /z/ /ʃ/ /ð/ /z/
h /h/ t /t̪/ /tʲ/ /tʃ/ /d̪/ /ð/ /dʲ/ /dʒ/
i /ə/ /i/ u /ʊ/ /o/ /ø/ /ə/
j /dʒ/ /ʒ/ /j/ v /v/
k /k/ /kʲ/ w /w/
l /l/ /lʲ/ /ᵈl/ y /ə/ /i/ /ɪ/ /j/

O Manx também conta com diversos dígrafos e trígrafos, cujos fonemas estão representados a seguir[15]:

Dígrafo/trígrafo Fonema Dígrafo/trígrafo Fonema Dígrafo/trígrafo Fonema Dígrafo/trígrafo Fonema
a_e/ia_e /eː/ eei/eey /iː/ ooa/iooa /uː/ dj /dʒ/ /ʒ/ /j/
aa/aa_e /ɛː/ /øː/ /eːa/ /eː/ /aː/ ei /eː/ /e/ /a/ ooi /u/ ll /l/ /lʲ/ /ᵈl/
aai /ɛi/ eih /ɛː/ ooy /uː/ le /əl/
ae /i/ /ɪ/ /eː/ eoie /øi/ oy /ɔ/ lh /l/
aew /au/ eu/ieu /uː/ /eu/ ui/iu /ʊ/ /o/ /ø/ /ə/ mm /m/ /ᵇm/
ah /ə/ ey /eː/ /ə/ ua /uːa/ ng /ŋ/ /nʲ/ /ᶢŋ/
ai/ai_e /aː/ /ai/ /e/ ia /aː/ /a/ /iː/ /iːə/ ue /u/ pp /p/ /v/
aiy /eː/ ie /aɪ/ uy /ɛi/ /iː/ qu /kw/
aue /eːw/ io /ɔ/ wa /o/ rr /r/ [ɹ̝] [ə̯]
ay /eː/ io_e /au/ /oː/ bb /b/ /β/ /v/ ss /s/ /z/ /ʃ/ /ð/ /z/
ea /ɛː/ o/oi /ɔ/ /ɑ/ /ɔː/ /ɑː/

/o/ /oː/ /u/

cc/ck /k/ /ɡ/ /ɣ/ sh /ʃ/ /ʒ/ /j/
eai /eː/ o_e /ɔː/ /oː/ ch /x/ st /s/
eau/ieau /uː/ oa /ɔː/ /au/ çh/tçh /tʃ/ tt/th /t̪/ /tʲ/ /tʃ/ /d̪/ /ð/ /dʲ/ /dʒ/
eay /eː/ /iː/ /ɯː/ /uː/ /yː/ oh /ɔ/ dd/dh /d̪/ /dʲ/ /dʒ/ /ð/
ee /iː/ oie /ei/ /iː/ gg /ɡ/ /ɡʲ/ /ɣ/
eea /iːə/ /iː/ /jiː/ oo/ioo/ooh /uː/ gh/ght /ɣ/ /x/

Pronomes pessoais

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Os pronomes pessoais podem ser usados na forma simples e enfática. Esta segunda é utilizada para destaque ou contraste ou ainda antes de uma oração relativa. No entanto, no Manx mais recente, a forma enfática é comumente usada no lugar da forma simples.

As tabelas a seguir mostram os pronomes pessoais no singular e plural:

Singular Plural
Simples Enfático Simples Enfático
1ª pessoa mee mish shin shinyn
2ª pessoa oo uss shiu shiuish
3ª pessoa (feminino) ee ish ad adsyn
3ª pessoa (masculino) eh eshyn

Observa-se que, no plural, há uma forma única para a 3ª pessoa, independente do gênero.

Os substantivos da língua manesa são divididos nos gêneros feminino e masculino, que não é marcado. Assim, parte-se do princípio de que o substantivo é masculino, a não ser que haja evidência para o contrário.

As distinções de gênero aparecem em pronomes pessoais singulares, mas a referência a qualquer coisa além de seres humanos é feita exclusivamente pelo pronome eh (ele).

A forma mais comum de flexão de número na língua manesa se da pela adição do sufixo indicativo de plural “-yn”. Observe o exemplo a seguir:

Voayll (o lugar) → voayllyn (os lugares)

Genitivo e relações de posse

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Em idiomas como o alemão e inglês, é comum o uso do caso gramatical genitivo principalmente para a indicação de relação de posse.[16]

No inglês, para se dizer, por exemplo, “a casa do homem”, utilizaria-se “The man’s house”, em que “man’s” representa o genitivo de “man”. A mesma frase em Manx seria:

Thie y dooinney (Equivalente a “A casa do homem”)

Nesse caso, dooinney é uma forma genitiva, idêntica à palavra “dooinney” comum. Muito tempo atrás, a maioria dos substantivos na língua manesa tinha uma forma especial para o genitivo, mas houve uma forte tendência de parar de usá-las, empregando, ao invés delas, a forma acusativa/nominativa. Alguns substantivos em Manx, especialmente concretos, ainda têm a forma genitiva, mas seu uso não é comum.

Pode-se dividir as formas genitivas da língua manesa em 5 classes principais:

  1. Genitivo terminado em “-agh” (não confundir com a terminação em “-agh” de alguns adjetivos). Exemplo: faiyr y vagheragh (a grama do campo).
  2. Genitivo terminado em “-ey”, predominantemente em substantivos femininos. Exemplo: cainley (forma genitiva de “vela”).
  3. Genitivo terminado em “ee”. Exemplo: moddee (forma genitiva de “cachorro”).
  4. Substantivos cujos genitivos não têm sufixos, mas são formados por uma mudança no radical, geralmente mudando a consoante final. Em grande parte dos substantivos dessa classe têm o genitivo idêntico ao plural. Exemplo: kione (cabeça), cujo genitivo é king e o plural também é king.
  5. Genitivos irregulares, formados de maneira única, particular.

Alguns substantivos em Manx têm uma forma genitiva no plural:

Nominativo singular Genitivo singular Nominativo plural Genitivo plural Tradução
cabbyl cabbil cabbil gabbyl cavalo
cainle cainley cainleyn gainle vela
keyrrey keyrragh kirree geyrragh ovelha
kiark kirkey kiarkyn giark galinha

Na língua manesa, o verbo pode ser flexionado nos modos indicativo, subjuntivo e imperativo.[17]

Além disso, há os seguintes tempos verbais no Manx: presente, pretérito, imperfeito, perfeito, pluperfeito, futuro, futuro perfeito (raro), condicional e condicional passado.

No Manx, geralmente as formas verbais finitas são formadas através de perífrases: as formas flexionadas dos verbos auxiliares ve (ser) ou jannoo (fazer) são combinadas com o substantivo verbal do verbo principal. Apenas o futuro, pretérito, condicional e imperativo podem ser formados diretamente pela flexão do verbo principal, mas as formas perifrásticas são preferidas.

Observe a conjugação do verbo “perder” na primeira pessoa do singular e em tempos verbais diferentes (no indicativo) e sua tradução na tabela a seguir:

Tempo verbal Forma perifrástica Forma flexionada Tradução (em glosa)
Presente Ta mee coayl - Eu perco/Eu estou perdendo
Pretérito Ren mee coayl Chaill mee Eu perdi
Imperfeito Va mee coayl - Eu estava perdendo
Perfeito Ta mee er choayl - Eu perdi
Pluperfeito Va mee er choayl - Eu havia perdido
Futuro Neeym coayl Cailleeym Eu vou perder
Condicional Yinnin coayl - Eu perderia

Os números de 1 a 10 na língua manesa, assim como suas traduções, estão escritos na tabela a seguir:

Manx Português
nane - /neːn/ (Sul), /naːn/ (Norte) Um
jees - /d´iːs/ Dois
Tree - /triː/ Três
kiare - /k´eːr/ Quatro
Queig - /kweg/ Cinco
Shey - /s´eː/ Seis
shiagt - /s´aːx/ Sete
hoght - /hoːx/ Oito
nuy - /niː/ (Sul), /nei/ (Norte) Nove
jeih - /d´ei/ Dez
nane jeig - /neːn d´eg/ Onze
ghaa yeig - /ˈɣeː jeg/ Doze
tree jeig - /triː d´eg/ Treze
kiare jeig - /k´eːr d´eg/ Quatorze
queig jeig - /kweg d´eg/ Quinze
shey jeig - /s´eː d´eg/ Dezesseis
shiaght jeig - /s´aːx d´eg/ Dezessete
hoght jeig - /hoːx d´eg/ Dezoito
nuy jeig - /ni d´eg/ Dezenove
feed - /fid/ Vinte

Dos números 11 ao 19, a sílaba tônica fica na primeira palavra usada para expressar o número.

Para formar números entre 20 e 40, realiza-se uma soma entre algum número menor que 20 e 20. Para expressar o resultado linguisticamente, o número menor que 20 é colocado primeiro e, depois dele, vem a expressão as feed, traduzida para “e vinte”, indicando a soma com 20. Para expressar o número trinta e dois, por exemplo, dir-se-ia:

  • ghaa yeig as feed (/γeː jeg əs fıd/) → “doze e vinte” (12 + 20 = 32)

O número 40 é expresso por daeed, que pode ser traduzido como “dois vintes”.

Para expressar números entre 40 e 60, repete-se o procedimento, mas dessa vez os números são adicionados a 40, expresso por as daeed. O número 55, por exemplo, seria expresso por:

  • queig jeig as daeed (/kweg d´eg as ˈdaid/) → “quinze e quarenta” (15 + 40 = 55)

Números entre 60 e 100, incluindo o 60, são expressos pela multiplicação do vinte por outro número adicionado a qualquer outro número. O número 67, por exemplo, seria expresso por:

  • tree feed as shiagt (/triː fi dəs ˈs´aːx/) → “três vintes, e sete” (3 * 20 + 7 = 67)

Ordem da frase

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Na língua manesa, a ordem convencional dos elementos de uma frase é a seguinte: verbo + sujeito + objeto direto + objeto indireto (SVOI). Elementos adverbiais podem ser inseridos no início ou no fim de frases. Observe o exemplo abaixo:

Hug eh yn skian da’n dooiney.
Verbo Sujeito artigo objeto preposição + artigo núcleo do objeto indireto
Deu ele a faca para o homem.

Frases comparativas

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Na língua Manx, as frases comparativas são feitas pela adição da partícula “ny” antes de um adjetivo no superlativo. Observe o exemplo abaixo:

S’messey = o pior -- ny s’messey = pior (que)

Para construir frases, a partícula “yn” deve anteceder o substantivo ao qual o adjetivo no comparativo se refere, como no exemplo:

Shoh yn lhun s’messey.
Verbo Sujeito Predicativo do sujeito Adjetivo comparativo
É Essa cerveja pior

Expressões do dia a dia

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Abaixo estão representadas algumas expressões cotidianas em Manx e suas traduções:

She dty vea. = De nada.

Gura mie ayd. = Obrigado.

Kys t'ou? = Como você está?

Moghrey mie. = Bom dia.

Fastyr mie. = Boa noite. (cumprimento)

Uso na mídia

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A Língua manx foi tema de um problema da Olimpíada Brasileira de Linguística, na prova da segunda fase da edição Paraplü, em 2013.[18]

Referências

  1. Jackson 1955, 49
  2. «BBC - Voices - Multilingual Nation». www.bbc.co.uk. Consultado em 23 de abril de 2021 
  3. a b Chrimes, Stanley Bertram; Ross, Charles; Griffiths, Ralph Alan (1972). Fifteenth-century England, 1399-1509: Studies in Politics and Society (em inglês). [S.l.]: Manchester University Press 
  4. a b «How the Manx language came back from the dead». the Guardian (em inglês). 2 de abril de 2015. Consultado em 23 de abril de 2021 
  5. disquisitive (16 de março de 2010). «Lesson #92: Manx Gaelic». And Everything In Between (em inglês). Consultado em 23 de abril de 2021 
  6. «Manx language, alphabet and pronunciation». omniglot.com. Consultado em 23 de abril de 2021 
  7. 4. The formal linguistic development of Manx (em inglês). [S.l.]: Max Niemeyer Verlag. 2 de maio de 2011 
  8. The Celtic Languages, 2nd edition, Broderick, George, capítulo 8, página 310
  9. Broderick, George. The Celtic Languages, 2nd edition. Capítulo 8, página 307-309.
  10. Broderick, George. The Celtic Languages, 2nd edition. Capítulo 8, página 310.
  11. Broderick, George. The Celtic Languages, 2nd edition. Capítulo 8, página 312.
  12. Abbyr shen!, Starting to Speak Manx - A couse by Brian Stowell
  13. Broderick, George. The Celtic Languages, 2nd edition. Capítulo 8, página 313.
  14. «Manx/Abbyrlhit as Coraaghey - Wikibooks, open books for an open world». en.wikibooks.org (em inglês). Consultado em 26 de abril de 2021 
  15. «Manx language, alphabet and pronunciation». omniglot.com. Consultado em 24 de abril de 2021 
  16. Wheeler, Max (abril de 2015). «Manx Gaelic inflection, 2. Genitive case» (PDF). Consultado em 25 de abril de 2021 
  17. Kelly, John. «CHAPTER XIII - OF A VERB.». Consultado em 25 de abril de 2021 
  18. Olimpíada Brasileira de Linguística (2013). «Prova da segunda fase da edição Paraplü» (PDF). Consultado em 26 de maio de 2021 

Ligações externas

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