• Por Sergio Oyama Junior
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Neste projeto da paisagista Ana Paula Magaldi, a árvore nativa serve de apoio para as orquídeas  (Foto: Raphael Briest/Divulgação)

Neste projeto da paisagista Ana Paula Magaldi, a árvore nativa serve de apoio para as orquídeas (Foto: Raphael Briest/Divulgação)


Cultivando orquídeas em apartamento há dez anos, sempre lamentei o fato de não poder vê-las desenvolvendo-se agarradas aos troncos das árvores, como acontece na natureza.
Vejo os atos de retirar uma orquídea de seu vaso e de colocá-la em uma árvore como um manifesto em prol da liberdade, algo análogo à soltura de um pássaro engaiolado. Guardadas as devidas proporções, claro.

Só há vantagens neste processo. Em seu lar original, a árvore, a orquídea não precisa ser regada nem adubada. Não há necessidade de controlar a umidade relativa do ar. Telas de sombreamento também são dispensáveis, já que a copa do hospedeiro encarrega-se de filtrar a luz solar, fornecendo a luminosidade ideal para que a orquídea se desenvolva e floresça normalmente.

Apesar do meu recalque de não poder fazer o mesmo, costumo presenciar este belo ato altruísta com frequência. De modo geral, os moradores de condomínios de apartamentos estão acostumados a presenciar dois fenômenos antagônicos e igualmente corriqueiros. Orquídeas são frequentemente descartadas nas lixeiras dos prédios após o término de suas florações. Subsequentemente, os sábios porteiros e zeladores encarregam-se de salvá-las, amarrando-as às árvores, tanto da área comum como da calçada em frente ao edifício. É uma febre que tomou conta das cidades.

No entanto, para que esta experiência seja bem-sucedida, é preciso atentarmo-nos a alguns detalhes. Muitos costumam amarrar as orquídeas nas árvores com vaso, substrato, espetos, arames e tudo. É bom evitarmos este procedimento, uma vez que estes materiais irão atrapalhar a fixação das raízes ao tronco, além de servirem como abrigos para pragas.

O ideal é que as raízes das orquídeas estejam livres do vaso e do substrato, envoltas apenas em um punhado de musgo, para ajudar a manter a umidade na fase inicial de adaptação ao novo lar. É bom evitarmos a utilização de metal ou plástico no material que vai prender a orquídea à árvore. Barbante de algodão, meia-calça e estopa são alguns dos itens que podem ser utilizados na fixação. A ideia é que eles possam se desintegrar com o passar do tempo, para não impedir o crescimento da orquídea.

Nesta primavera, coloque uma orquídea na árvore (Foto: Divulgação)

Nesta primavera, coloque uma orquídea na árvore (Foto: Divulgação)

É importante salientarmos que nem todas as orquídeas podem ser afixadas às árvores. Apenas aquelas de hábito epífito, que naturalmente desenvolvem-se sobre outras plantas, têm raízes adaptadas a este modo de vida. Existem orquídeas, no entanto, que são terrestres. Estas não se desenvolvem bem em árvores.

Também é bom sabermos que nem todas as árvores são apropriadas para receberem orquídeas epífitas como hóspedes. Aquelas de copas muito densas, como a mangueira, fazem sombra em excesso, dificultando a floração. Outras costumam perder a camada mais externa de seus troncos, denominada periderme, o que resulta em uma dificuldade para a fixação das raízes. É o caso da goiabeira e pitangueira, entre outras.

Tomados estes pequenos cuidados, colocar orquídeas em árvores é sempre uma experiência prazerosa e enriquecedora. Evidentemente, a grande maioria das orquídeas que encontramos nas floriculturas é composta por híbridos asiáticos, plantas que não pertencem à nossa flora nativa. Da mesma forma, a maioria das árvores utilizadas no paisagismo urbano é composta por espécies estrangeiras.

Ainda assim, a experiência de caminhar pelas calçadas e descobrir orquídeas floridas nas árvores, em diferentes épocas do ano, é extremamente agradável, além de educativa. Morando em casa ou apartamento, na cidade ou no campo, sempre podemos aproveitar a estação mais florida do ano para plantarmos orquídeas em árvores. Todos saem ganhando.

O biólogo Sergio Oyama Junior é colunista de Casa e Jardim sobre orquídeas (Foto: Zeca Wittner/Divulgação)

O biólogo Sergio Oyama Junior é colunista
de Casa e Jardim sobre orquídeas
(Foto: Zeca Wittner/Divulgação)

Graduado em Biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em Bioquímica pela USP, Sergio Oyama Junior dedica-se ao cultivo de orquídeas e outras plantas em apartamento, desde 2009, compartilhando suas experiências no blog Orquídeas no Apê. www.orquideasnoape.com.br