• Depoimento a Vanessa Lima
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Hamanda e o filho, Bento (Foto: Arquivo pessoal/ Hamanda Garcia)

Hamanda e o filho, Bento (Foto: Arquivo pessoal/ Hamanda Garcia)

“Quem pensa que amamentar é fácil, está redondamente enganado. Parece algo simples, óbvio, da natureza humana, bem fisiológico, mas muitas mães passam por dificuldades porque pode ser doloroso e um período cheio de dúvidas, como foi o meu caso.

Apesar de ser enfermeira e de, supostamente, ter algum conhecimento técnico na área, tive muitos problemas. Quando se é mãe de primeira viagem, como eu, todas nós somos iguais porque amamentar está acima de livros e técnicas. Requer dedicação, entrega, amor e sensibilidade e isso vamos entendendo aos poucos.

Bento nasceu de cesárea depois de 38 semanas e meia, sem nenhuma complicação. Infelizmente, ele não foi estimulado a mamar na sala de parto, perdendo assim a chamada "golden hour" ou “hora de ouro”. Ainda assim, logo que possível, foi amamentado por mim, já no quarto. Começamos a nos conhecer e a entender o corpo um do outro. Os laços começavam a se estreitar. A sensação é única e inigualável.

Em casa, Bento começou a mamar com mais força, mas parecia nunca estar saciado. Era muito choro e, nesse momento, não sabíamos se era por dor ou fome. Busquei, então, ajuda com a pediatra dele, que está conosco até hoje. Ela é especialista em amamentação e uma grande incentivadora do aleitamento materno. Com cinco dias de vida, no consultório, recebemos um diagnóstico: o bebê estava com a chamada pega inadequada, o que significa, na verdade, que ele abocanhava o seio de forma errada. Assim, além de machucar, ele não sugava todo o leite que poderia e chorava, provavelmente de fome, e eu produzia menos porque não era corretamente estimulada.

Iniciamos o trabalho de acertar a pega da mamada, mas era muito difícil, porque os mamilos ficaram muito doloridos. Mesmo assim, seguimos tentando.

Para que um bebê consiga sugar 100% do leite de cada mama, ele precisa estar com a boca na posição chamada de ‘peixinho’, pegando quase toda aréola e não apenas o bico. Bento fazia corretamente no lábio superior, mas no lábio inferior, não. No meio das mamadas, eu tentava corrigir, mas nem sempre dava certo. Essa situação me angustiava muito, era muito doloroso física e emocionalmente. Eu queria muito amamentar e enfrentava dificuldades.

Como as coisas não estavam indo bem, precisamos introduzir o "tão temido" complemento de leite artificial. Meu coração ficou bem apertado. A cada mamadeira que eu dava, me sentia muito mal. Eu me sentia impotente e incapaz. Hoje, acho que pensaria de maneira diferente, mas, na época, era assim que eu me sentia.

Confesso que tudo isso me deixava ansiosa e abalada emocionalmente. Eu me sentia muito pressionada a conseguir amamentar. Era uma cobrança minha. A cada falha, meu choro aumentava.

Fui diagnosticada com depressão pós-parto. Medicada adequadamente e acompanhada por um especialista, respondi muito bem ao tratamento e segui forte para cuidar do meu filho.

Não esmoreci. Colocava Bento para sugar os dois seios, para que os mesmos não deixassem de ser estimulados à produção e, em seguida, oferecia o complemento. O leite artificial ajudava, mas minha intenção ainda era substitui-lo pelo leite materno.

Foi então que tivemos a ideia de alugar uma bomba elétrica. Já que Bento não sugava adequadamente e a produção era baixa, comecei a alternar a bomba com o bebê para estimular o seio a aumentar a produção de leite. Além disso, nos intervalos das mamadas, eu retirava leite para complementar no lugar da fórmula. Com isso, diminuía a oferta de leite artificial.

Aos poucos, a demanda foi se igualando e minha produção aumentava. Com o passar dos dias, Bento melhorava a pega e a força de sucção. Nossa troca aumentava e isso contribuía - e muito!

Quando deseja amamentar, você segue muitos conselhos e um dos que me ajudaram na época foi o aumento do consumo de água.

Voltei ao trabalho depois de oito meses, mas consegui manter a amamentação. Oferecia o seio antes do plantão e no retorno. 

Aos poucos, fui corrigindo a pega do Bento, que nunca foi perfeita, mas melhorou muito. A pediatra costumava falar que ele se ajustou e, do jeito dele, conseguia mamar o que queria. Fui substituindo o leite artificial pelo materno com o aumento da produção. Era muita felicidade. Eu finalmente conseguia.

Bento está com 2 anos e 4 meses e eu continuo amamentando. Acho que todo o meu esforço, bem como o da minha família, valeu muito a pena. Tive todo o apoio do meu marido, da minha mãe e de todos que me cercavam. Esse suporte é fundamental.

Cada mulher é a mãe que pode ser, cada mãe é a melhor que seu filho pode ter. Se ainda está no processo de amamentação e ainda está difícil, acalme-se e não desista. Pode demorar um pouquinho, mas tudo vai se adequar. Precisamos de toda a tranquilidade do mundo, pois o processo nem sempre é fácil.
Ser mãe não estava sendo fácil e, durante todo esse tempo de ajuste, fui aprendendo a esperar e que meu filho também tinha o tempo dele. Devagar, fui entendendo o que era ser mãe e quem era meu filho. O amor vai crescendo e, com ele, nossa maturidade e força sobre a maternidade. Amamentar foi mais que um ato de amor pra mim; foi um ato de autoconhecimento e maturidade"

Hamanda Garcia, 39 anos, enfermeira e mãe de Bento, 2 anos

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