amamentação (Foto: Thinkstock Photo)

Conheça como funciona a lactação (Foto: Thinkstock Photo)

Quem disse que só pode amamentar quem gera um bebê? Com o aumento no número de casais homossexuais, a procura pela lactação também tem aumentado. Este, inclusive, foi um dos assuntos do VI Simpósio Internacional de Assistência ao Parto (Siaparto), que terminou no último domingo (8), em São Paulo (SP). Em um bate-papo com CRESCER, uma das palestrantes do evento, a consultora de amamentação Kely Carvalho Torres, da clínica Lumos (SP), tirou as principais dúvidas sobre a técnica.

+ Leite em dose dupla: casal de mulheres compartilha a amamentação de filhos gêmeos

C: Como é possível fazer uma mulher que não teve filhos amamentar uma criança?
K: Existem estudos antigos que dizem que basta colocar o bebê para mamar que sua produção de leite vai ser estimulada. É claro que mulheres que já tiveram filhos e amamentaram têm tendência a produzir mais leite, mas também podemos usar protocolos que simulem uma gestação em uma mulher que nunca gestou e quer amamentar o filho de uma companheira, de útero solidário ou ainda de adoção. Hoje, para isso, usamos medicação, estímulo com bomba e também medicação fitoterápica. É uma espécie de tratamento que deve começar seis meses antes de o bebê chegar. No entanto, é importante afirmar que, como preparamos o corpo dessa mulher com uma indução com hormônios, nem todas podem passar por esse processo. Existem efeitos colateriais, então, antes, é preciso passar por uma avaliação médica.

C: Quais são os efeitos colaterais?
K: Ela pode sentir irritabilidade, dor de cabeça, problemas grástricos, além do cansaço da extração do leite. O ideal, antes de o bebê nascer, é estimular a produção a cada três horas, inclusive de madrugada. Então, é um trabalho árduo.

C: Então, quer dizer que tudo isso é possível com o uso de hormônios?
K: A barriga não vai crescer, é claro, é uma simulação hormonal. Esses hormônios são parecidos com o que as mulheres produzem na gestação, que é o aumento de progesterona, estrogênio e depois entramos com prolactina. E, com isso, temos a produção de leite. Vale lembrar que nunca será como em uma gestação comum, mas estamos com oito casais de mulheres e todas elas produziram leite.

C: Algumas pessoas podem não conseguir?
K: Até agora, todas produziram alguma quantidade de leite. Mas nem todas podem produzir uma quantidade suficiente para alimentar um bebê. A literatura mostra que a maior parte das mulheres não vai conseguir alimentar exclusivamente os bebês com esse leite produzido via indução da lactação. Mas qualquer gota de leite conta e é nisso que focamos. Amamentação também tem a ver com relação, ou seja, vai além de produzir leite. Uma mãe não alimenta seu filho só por causa do leite, mas também porque ela pode se relacionar com ele dessa maneira. Mas as mulheres que se submetem a esse processo precisam ter consciência de que não vão simplesmente abrir a blusa e o leite vai jorrar. Isso não acontece, muitas vezes, nem com as mulheres que gestam um bebê.

+ Você tem alguma dúvida sobre amamentação? Compartilhe com outras mães no FÓRUM CRESCER

C: E em relação à qualidade, o leite é o mesmo da mãe que gera um bebê?
K: Temos poucos estudos que falam de comparação de leite, mas eles mostram que o leite induzido não é igual ao colostro, que é primeiro leite que a mãe produz. Pois, não tem saída de placenta. A produção de colostro depende da saída da placenta. Mesmo assim o leite da indução é muito comparável ao leite maduro, isto é, que a mãe produz depois de um tempo de amamentação. Então, é um leite maravilhoso, com todos os benefícios. Por isso que no caso de um bebê com duas mães, a gente prioriza que a criança mame na mãe que gestou por causa do colostro, que é muito importante pro recém-nascido. Mas depois desse início, as duas podem amamentar.

C: Depois que a produção de leite começou, a mulher para de fazer o tratamento?
K: A sugestão é que ela continue com algumas das medicações por um período e, inclusive, a estimulação por bomba, mesmo quando o bebê já estiver mamando. Então, a realidade, às vezes, é mais dura do que se imagima. Demora um pouco para o corpo entender quem é aquele bebê e o quanto ele mama. Então, em alguns casos, será necessário usar complemento no início e ir tirando aos poucos. Mas depois de um período, será possível, sim, tirar todas as medicações. Já no caso de duas mães, por exemplo, podemos ter uma que não é estimulada em sua totalidade. Pois, o que faz a mulher manter sua produção é a quantidade de leite que o bebê mama. Então, quando temos quatro peitos para um bebê, pode ser que a produção de leite seja comprometida e até interferir no peso do bebê. Por isso, nesse caso, é importante ter um bom acompanhamento.

C: Em caso de adoção, existe uma idade limite para o bebê começar a mamar no peito?
K: Geralmente, até os dois meses de vida ainda é possível fazer com que um bebê mame no peito. Já os bebês mais velhos, que já estavam na mamadeira, geralmente, não pegam mais o peito, a não ser os que mamavam, anteriormente, em outra mulher.

C: A indução também interfere no tempo de amamentação?
K: Isso é muito pessoal, pois existem vários fatores que interferem no tempo de amamentação, inclusive a licença maternidade. Tive mulheres que amamentaram 15 dias e outras três meses. Mas dos oito casos que estou acompanhando, tem dois bebês que estão há quase um ano mamando em duas mães. Mas é imprevisível, não tem como saber antecipadamente. 

Você já curtiu Crescer no Facebook?