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Depois de receber uma dosagem 10 vezes maior de remédio, Henzo teve edema cerebral e hemorragia (Foto: Reprodução G1/Arquivo Pessoal)

Depois de receber uma dosagem 10 vezes maior de remédio, Henzo teve edema cerebral e hemorragia (Foto: Reprodução G1/Arquivo Pessoal)

O pequeno Henzo Matheus Pinto Elias, 10 meses, chegou ao hospital de Santo Antônio do Içá, município a 881 km de Manaus (AM), com quadro de febre e vômito. Após seis dias internado, o menino morreu na tarde do último domingo (8). De acordo com reportagem publicada no G1, o médico que o atendeu não tinha registro no Conselho Regional de Medicina, e prescreveu para a criança uma dosagem dez vezes maior de um medicamento para tratar alergia. A causa da morte é investigada pelo Ministério Público do Amazonas (MPE-AM), que apura crimes de negligência, exercício ilegal da medicina e até homicídio.

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Receita errada
Na receita assinada por ele, é recomendado o uso de dipirona e 25 miligramas de prometazina (medicamento usado para combater reações alérgicas), quando na realidade o correto seria 2,5 miligramas do medicamento. O pai do bebê, Rômulo Souza, contou que foi chamado pelo médico, que corrigiu a receita para 2,5 miligramas do medicamento. "Meu filho já estava muito doente depois de dois dias, com essa superdosagem, essa overdose no seu corpo. Ele [médico] me chamou em particular, pediu a receita. Eu mostrei uma cópia e ele pegou uma caneta e acrescentou um ponto [entre o 2 e o 5]. Disse, 'eu errei aqui'. Eu fiquei me perguntando, será se ele quis anular a prova?", disse, em reportagem do G1.

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À esquerda, a receita prescrita inicialmente pelo médico. À direita, a cópia com a correção da dosagem para 2,5 mg (um ponto feito com caneta) (Foto: Reprodução G1/Arquivo Pessoal)

À esquerda, a receita prescrita inicialmente pelo médico. À direita, a cópia com a correção da dosagem para 2,5 mg (um ponto feito com caneta) (Foto: Reprodução G1/Arquivo Pessoal)

Os perigos da superdosagem
De acordo com o pediatra e neonatologista Nelson Douglas Ejzenbaum, membro da Academia Americana de Pediatria, os efeitos mais comuns de uma superdosagem de antialérgico são sonolência e mal-estar gástrico, o que pode piorar o quadro que a criança já estava apresentando. “Não posso afirmar com 100% de certeza que uma superdosagem de prometazina pode levar à morte. O médico precisa ser muito cuidadoso ao fazer a prescrição porque todo medicamento é potencialmente tóxico, e os efeitos de uma superdosagem variam dependendo do quadro clínico”, diz.

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O especialista alerta que os pais fiquem sempre de olho na reação dos filhos. Ao perceberem uma piora acentuada do sintoma ou o aparecimento de novos sintomas após o uso de um medicamento é importante falar imediatamente com o médico. “Nunca faça a criança vomitar porque dependendo da substância, isso pode causar um dano ainda maior ao trato digestivo, como é o caso das que ingerem por acidente soda cáustica.” O mais importante é ressaltar que medicamentos e produtos químicos devem ser deixados sempre fora do alcance de crianças, pois a autointoxicação é muito mais comum do que o erro médico na prescrição.

Penalizações
Na certidão de óbito da criança consta que a causa da morte foi edema cerebral e hemorragia intracraniana. O pai do bebê prestou depoimento no Ministério Público. Um dos fatos mais graves da investigação é que o médico não tem registro no Conselho Regional de Medicina. Segundo o promotor de Justiça Carlos Firmino, tanto o médico como quem fez a contratação podem ser penalizados.


O que diz a prefeitura
O prefeito Abraão Magalhães Lasmar informou que o médico não faz parte do quadro de funcionários desde fevereiro, em razão de não ter apresentado o registro do Conselho. Segundo o prefeito, o médico estava atuando no hospital como voluntário por 10 dias, por conta da alta demanda. A reportagem do G1 não conseguiu localizar o médico. A reportagem de CRESCER tentou contato com o hospital, mas eles não quiseram comentar o assunto.

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