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Uma nova pesquisa sugere que o consumo de leite materno é muito benéfico para os bebês prematuros. Publicado no jornal acadêmico JAMA Network, o estudo, realizado com 80 bebês prematuros, nascidos entre 2011 e 2013, mostrou que as crianças que receberam o leite materno apresentaram melhor rendimento cardíaco em seu primeiro ano de vida, se aproximando, inclusive, dos resultados encontrados em bebês que nasceram a termo — entre 37 semanas e 42 semanas. 

A pesquisa foi liderada pelo professor e neomatologista Afif EL-Khuffash, da RCSI University of Medicine and Health Sciences, na Irlanda, em colaboração com pesquisadores da Universidade de Oxford; Hospital Mount Sinai, Toronto; Northwestern University Feinberg School of Medicine; Washington University School of Medicine e Harvard Medical School. 

De acordo com os pesquisadores, bebês prematuros expostos a uma alta proporção do leite da própria mãe durante as primeiras semanas após o parto tiveram sua função cardíaca melhorada em comparação com bebês prematuros que tiveram uma maior ingestão de fórmula. Esses resultados foram aparentes antes da alta hospitalar e persistiram até um ano.

A amamentação fortalece o vínculo entre mãe e bebê (Foto: Thinkstock)

A amamentação fortalece o vínculo entre mãe e bebê (Foto: Thinkstock)

“Este estudo fornece a primeira evidência de uma associação entre nutrição pós-natal precoce em bebês nascidos prematuros e função cardíaca durante o primeiro ano de idade, e complementa os benefícios já conhecidos do leite materno para bebês nascidos prematuramente", explica o professor EL-Khuffash. “Bebês prematuros têm função cardíaca anormal. No entanto, aqueles que são alimentados com o leite da própria mãe demonstram recuperação da função cardíaca a níveis comparáveis aos de bebês nascidos a termo saudáveis. Bebês prematuros alimentados com fórmula não demonstram essa recuperação".

Moises Chencinski, pediatra e membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), afirma que estudos já associaram o leite materno humano a um melhor desenvolvimento do cérebro e do pulmão, mas não havia nenhum estudo relacionado à saúde do coração dos prematuros. "Os resultados mostraram que prematuros que receberam leite materno humano precocemente apresentaram desenvolvimento cardiovascular satisfatório, próximo ao de recém-nascidos de termo. Essa é mais uma ação que se comprova do leite materno, razão para estimular doação de leite humano e oferecer, desde o início, leite materno para os prematuros", ressalta o médico. 

Segundo o especialista, uma das "peças-chave" que faltam é o conhecimento do mecanismo que pode ajustar o desenvolvimento e funcionamento cardíaco de longo prazo no bebê prematuro. O especialista explica que podem ser analisados fatores de crescimento e hormônios, moduladores imunológicos e inflamatórios (imunoglobulinas, lactoferrina e células-tronco) oligossacarídeos do leite humano (HMO) para explicar o imapacto do leite materno na saúde do recém-nascido. "O reconhecimento do mecanismo exato de ação será fundamental para ajustar outras intervenções para melhorar a resposta cardiovascular do prematuro", complementa o médico.

Os pesquisadores que conduziram o estudo também ressaltaram que crianças e adultos que nascem prematuros apresentam mais riscos de desenvolverem doenças cardiovasculares, incluindo doença isquêmica do coração, insuficiência cardíaca, hipertensão sistêmica e pulmonar. Sobre o desenvolvimento desses tipos de quadro, Chencinski explica que o sistema cardiovascular dos prematuros, principalmente antes de 29 semanas de gestação, por estar em formação, não está preparado para desenvolver as funções de forma adequada fora do útero, tanto por questões anatômicas quanto em relação a sua função. "Ao nascer antes do tempo, e por conta dessas dificuldades, em longo prazo após o nascimento prematuro, são comuns alterações cardíacas, baixa tolerância ao exercício, hipertensão que podem se desenvolver já no primeiro ano de idade".

Segundo o pediatra, o leite materno é importante em questões nutricionais, imunológicas e de desenvolvimento. Dessa forma, não há um sistema do organismo do prematuro que não se beneficie desse alimento. "Se para os bebês nascidos a termo o leite materno é saúde, para os prematuros ele é vida". 

Diante dos benefícios do leite materno para os recém-nascidos, Chencinski alerta que é importante pensar também na doação de leite materno. "Qualquer quantidade é fundamental para manter essa estrutura em funcionamento pleno. A vida do prematuro depende de cada gota de leite doado".