• Chris Nicklas
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amamentação (Foto: Thinkstock)

Muito além da amamentação, o bebê precisa ter uma mãe saudável para que isto aconteça  (Foto: Thinkstock)

O sangramento não cessava... E o que começou como uma simples menstruação, alguns meses depois do nascimento de sua bebê, desembocou numa hemorragia desenfreada. Em pouco tempo sua saúde indicava os efeitos inevitáveis de tanta perda de sangue. A anemia, a diminuição do peso, a aparência abatida e muito, muito cansaço. Mas ela seguia amamentando, apegada ao que ela acreditava ser o melhor para a sua filha. Havia lido tantos textos, livros e posts sobre os benefícios da amamentação e de o quanto a “mãe que ama” luta por alimentar seu filho ao seio. Mas na primeira tentativa bem sucedida de tratamento medicamentoso para interromper o sangramento, a diminuição da produção de leite materno foi visível. Ao buscar uma explicação o médico lhe informou que entre as substâncias que ingeria através dos remédios estavam hormônios incompatíveis com o aleitamento materno.

A notícia teve o efeito de um soco na cara que a nocauteou destroçando o que ainda lhe restava de esperança de que amamentaria sua filha ainda por muito tempo. Chegou a mim já neste ponto, angustiada porque acreditava que aquela situação a colocava na triste posição de ter que escolher entre sua saúde e a de sua filha, afinal a “mãe que ama”... E agora? O que fazer? A opressão que esta mãe sentia era massacrante. 

Me vi imediatamente compelida a desviar minha tradicional rota de incentivo a amamentação para o que considero tão importante quanto, que é a descompressão do discurso que defende o princípio de que quem ama amamenta. Em seguida vêm a máxima de que leite materno é amor líquido e por aí vai... Mas em que categoria se encaixam as que não amamentam? Vi ali em suas palavras que ela encarava a possibilidade de desmamar como um ato seu de negligência materna, abandono, egoísmo...

Mas o fato era que havia uma forte suspeita de que ela pudesse estar com algo muito sério, que apresentava inclusive risco à sua vida. Durante vários dias trocamos mensagens e a mim coube a missão de acolher sua angústia e também, com todo cuidado, resgatá-la deste sequestro mental que promove o discurso radical em prol do aleitamento materno que impõe regras, prazos, metas e em nenhum momento considera a subjetividade humana. Nossa última troca de palavras foi difícil.

Eu, já enfática, lhe dizia que sua bebê em primeiro lugar precisava dela! Saudável, enérgica, vibrante... Viva! E que se para isso fosse preciso desmamar... Que assim fosse. Nada mudaria a qualidade de seu amor, sua intensidade e verdade. Aliás, diga-se de passagem, nada no desmame, seja ele pelo motivo que for, muda a qualidade, a intensidade e a verdade do nosso amor pelos nossos filhos. E viva a amamentação e tudo o que ela carrega em si de subjetividade! Nunca mais tive notícias suas. Espero que esteja bem.

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Chris Nicklas (Foto: Edu Rodrigues )

Chris Nicklas (Foto: Edu Rodrigues)

Chris Nicklas é apresentadora, criadora e gestora do site Amamentar é…, estudante de Psicologia e mãe dos gêmeos Luca e Nina de 15 anos. (Foto: Edu Rodrigues)

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