• Paula Perim, Infância de Primeira
Atualizado em
Pai e filho: a interação pode trazer benefícios desde cedo (Foto: Thinkstock)

(Foto: Thinkstock)

A pergunta era para um menino de 8 anos, mais novo de três irmãos que já estavam na adolescência, diante de avós, tios e primos. Antes que ele pudesse responder, os dois maiores foram logo dizendo suas preferências: Vou ser engenheiro! Vou fazer publicidade! Os olhos se voltaram para ele novamente, depois do atropelo dos irmãos. "E você, o que quer ser quando crescer?”. E o garoto respondeu com os grandes olhos, brilhando: “Eu? Eu vou ser pai!”.

Adoro essa história. O olhar genuíno, o pensamento espontâneo, desprovido de qualquer amarra que vamos criando durante a vida, por necessidade ou costume, faz com que as crianças nos surpreendam. Quem disse que para a pergunta do título a única resposta seria uma profissão? O que você vai ser? Para o menino, ser pai veio à cabeça antes de qualquer profissão.

Claro que ele não tinha a menor ideia de que ser pai incluiria a enorme preocupação diante de cada febre, da torcida em cada desafio, da angústia quando o celular não é atendido, do primeiro tchau no aeroporto. Da mesma maneira que não imaginava que seria possível sentir tanto, mas tanto amor por alguém.

Na época em que ele deu essa reposta para a família, há pouco mais de 40 anos, a ideia de um homem que de fato fazia parte da vida e do dia a dia dos filhos ainda era raridade no imaginário masculino. Ok, ok, sei que para alguns homens ainda estamos mais perto do século 18 do que do 21, mas a evolução da percepção masculina e da sociedade sobre a importância do papel do pai cresce com constância, felizmente, e por diversas razões.

Como me disse uma psicóloga certa vez, em uma família, quando uma das pessoas faz mudanças em seu papel, certamente os outros personagens desse grupo também terão de fazer. A mudança do papel da mulher na sociedade, desde as primeiras feministas até os movimentos atuais, tirou os homens de suas zonas de conforto em relação ao tema. E isso foi para o bem de todos, deles, das mulheres e, principalmente, das crianças.

A CRESCER fez uma entrevista, há algum tempo, com o jornalista Paul Raeburn autor do livro Do Fathers Matter?: What Science Is Telling About the Parent We’ve Overlooked (Os pais importam?: O que a ciência está dizendo sobre o pai que a gente negligencia, em tradução livre). O autor é pai de cinco filhos e foi buscar na ciência a confirmação do que ele já percebia em casa: o quanto sua presença é fundamental para o desenvolvimento das crianças. Vale a leitura.

Sobre o menino do começo da história, fico feliz que ele tenha realizado seu sonho. Hoje ele é pai de duas meninas, já no final da adolescência. Ele foi e é pai todos os dias, perto ou longe, na conversa do jantar, no Whatsapp, indo buscar na festa de madrugada, conversando sobre o namorado, sobre as escolhas profissionais, falando bobagens daquelas que deixam a mãe de cabelo (mais) em pé. Mas com um amor imenso, emocionante de se ver. A melhor parte dessa história? Eu sou a mãe das filhas dele.

Paula Perim (Foto: Arquivo pessoal/ Paula Perim)

PAULA PERIM, mãe da Júlia, 20 anos, e Beatriz, 18 anos, é coordenadora de Comunicação da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, organização que promove o fortalecimento da causa da primeira infância no Brasil. É também autora do livro 101 ideias para curtir com seu filho — antes de ele completar 10 anos (Editora Globo)

Você já curtiu Crescer no Facebook?