• Malu Echeverria
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criança; triste; castigo; tristeza (Foto: Thinkstock)

(Foto: Thinkstock)

Você já teve a impressão de que as crianças que costumam levar umas palmadas são as mais levadas? De acordo com uma pesquisa da Universidade do Texas em Austin em parceria com a Universidade da Virginia, publicada recentemente na revista da Associação para Psicologia da Ciência (EUA), crianças que apanharam de seus pais aos 5 anos têm mais problemas de comportamento aos 6 e aos 8.

Para chegar a essa conclusão, os cientistas analisaram dados de aproximadamente 12 mil crianças que participaram de um estudo longitudinal sobre primeira infância nos Estados Unidos. Eles perguntaram aos pais, quando as crianças tinham 5 anos, quantas vezes haviam batido nelas na última semana (se é que tinham), levando também em consideração outros dados como idade, gênero, saúde e problemas de comportamento, status socioeconômico e tamanho da residência, assim como os conflitos familiares.

Posteriormente, foram analisadas as avaliações escolares dessas crianças aos 5, 6 e 8 anos, onde os professores responderam com que frequência os alunos brigavam, argumentavam, ficavam bravos, agiam impulsivamente e perturbavam as atividades em classe. O resultado? Em comparação com aquelas que nunca apanharam, as crianças apresentaram piora no comportamento à medida que cresciam.

“Nossas descobertas sugerem que bater não é um método eficiente e, na verdade, faz com que a atitude das crianças piore em vez de melhorar”, afirma a pesquisadora Elizabeth T. Gershoff, da Universidade do Texas em Austin, uma das autoras da pesquisa e autoridade mundial nesse assunto.

Mas as conclusões da pesquisa não são exatamente uma novidade. Segundo a bióloga e estudiosa do assunto Andréia Mortensen, isso já foi comprovado em inúmeros estudos anteriores. “Há resultados consistentes entre grupos de pesquisa de diferentes lugares no mundo todo, realizados por pessoas diferentes e com metodologias diversas, o que reforça e corrobora que o achado é real”, afirma Andréia, que uma das autoras do livro Educar Sem Violência - Criando Filhos Sem Palmadas (Editora 7 Mares). Para ela, um dos méritos dessa pesquisa em especial foi o uso de uma análise estatística com atribuição aleatória - ou seja, houve o cuidado de analisar todas as variáveis matematicamente para se estimar as probabilidades. “Dessa forma, eles puderam concluir que o aumento de problemas comportamentais da criança não pode ser atribuído a características da criança, dos pais ou do ambiente familiar e, sim, um resultado específico da palmada”, conclui.

Além disso, a faixa etária analisada na pesquisa é inédita, de acordo com Andréia, uma vez que estudos prévios analisaram crianças mais novas. O que mostra que as consequências negativas das palmadas se estendem também a crianças mais velhas.

Como educar sem bater

Quando o adulto bate no filho, ele está reconhecendo que ficou impotente diante da atitude da criança. Mostra claramente que perdeu o controle de si mesmo e a agressão passa a ser a única maneira de manter a autoridade. Além disso, depois de bater muitos pais se arrependem. Essa atitude contraditória não é positiva para a criança. E como agir, então, em situações em que as crianças tiram os pais do sério ou ultrapassam limites?

A questão é colocar os limites claramente para as crianças antes, conhecer bem os seus filhos. Tapas não são capazes de corrigir as falhas na educação, só vão estancar uma ação que provavelmente irá se repetir.

Fontes: Kátia Teixeira, psicóloga da clínica EDAC (SP), Cacilda Paranhos, especialista contra a violência infantil do Laboratório de Estudos da Criança (Lacri), do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP)