• Juliana Malacarne
Atualizado em
 (Foto: jupiterimages/getty images)

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Entrevistamos o jornalista inglês Tim Harfordsai, pai de três filhos, autor do livro Messy: how to be creative and resilient in a tidy-minded world (Bagunceiro: como ser criativo e resiliente em um mundo certinho, traduzido livremente), disponível em e-book na Amazon (US$ 16,49), sobre como organização demais pode afetar a capacidade de a criança ir além. 

O jornalista Tim Harfordsai é um ávido defensor da bagunça (Foto:  )

O jornalista Tim Harfordsai é um ávido defensor da bagunça (Foto: )

De que maneira uma casa organizada demais pode afetar as crianças?
Todos nós precisamos ter controle dos nossos espaços, incluindo as crianças. Um estudo que me fez parar e refletir sobre isso foi conduzido pelos psicólogos Alex Haslam e Craig Knight. Os dois pediram para que os participantes trabalhassem em escritórios simples, para ver como diferentes ambientes os afetariam. E foi assim que eles descobriram que o ambiente físico não importava muito. Geralmente as pessoas preferiam vasos de planta e pôsteres do que um ambiente muito minimalista. Mas a coisa mais decisiva foi o sentimento de empoderamento. Quando as pessoas foram convidadas a decorar o próprio escritório, elas ficaram mais felizes e produtivas. Mas, se os pesquisadores reorganizassem o local depois, elas começam a odiar tudo – o escritório, a tarefa, os pesquisadores... O ato de desempoderar as pessoas anulando as decisões que tomaram provoca ressentimento. Esse estudo realmente me fez pensar sobre a maneira com que trato meus filhos – e, em particular, o quarto deles. Antes, eu me envolvia em discussões, exigindo que arrumassem aquilo. Agora, eu digo que o quarto é o espaço deles e que precisam decidir qual é a melhor forma de cuidar dali. A cozinha é um espaço da família que arrumamos juntos – mas o quarto é problema deles. O cômodo continua bagunçado, mas não mais do que antes. E nós temos menos discussões.

A bagunça pode ser positiva para as crianças, então?
Nós passamos por uma fase em que tentamos controlar as brincadeiras dos nossos filhos. Os parquinhos, muitas vezes, são espaços firmemente controlados com superfícies emborrachadas. Isso parece mais seguro – mas evidências sugerem que esses espaços são entediantes, e as crianças começam a se arriscar neles. Espaços que parecem mais perigosos – com pedras, superfícies naturais, lama, partes soltas, água – não parecem gerar mais acidentes. Em vez disso, as crianças se ajustam aos riscos sendo mais cuidadosas e aprendendo a julgar melhor as situações. Imagine um jogo de futebol de rua comparado a uma partida em um gramado com treinadores e juízes. O jogo organizado parece melhor, certo? E talvez seja mesmo quando se trata de aprender como jogar futebol. Mas o jogo de rua ensina mais sobre a vida: as crianças devem garantir que os dois times estejam balanceados, precisam encontrar uma maneira para que as mais velhas e as mais novas participem da brincadeira, têm que estabelecer regras sozinhas e contornar os desentendimentos. É uma preparação melhor para a realidade – mesmo que seja só um jogo de rua bagunçado.

Como os pais podem estimular a criatividade das crianças com a bagunça?
Precisamos passar menos tempo em atividades altamente estruturadas e mais tempo ouvindo nossos filhos e improvisando uma resposta. As crianças já são criativas! Somos nós, os adultos, que precisamos responder com atenção e engajamento. Tentamos controlar as atividades dos nossos filhos frequentemente para nossa própria conveniência. Se aceitarmos o que estão dizendo e nos deixarmos levar, vamos começar uma jornada imprevisível, mas muito mais divertida.

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