• Cris Marangon
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Quais bebidas as crianças podem consumir? (Foto: Amber Faust/Pexels)

Quais bebidas as crianças podem consumir? (Foto: Amber Faust/Pexels)

Ai, que calor! A temperatura sobe e é preciso prestar atenção para ver se as crianças estão ingerindo líquidos o suficiente. Quando o objetivo é manter a hidratação, a água pura é unanimidade entre os especialistas – o consumo, portanto, deve ser incentivado à exaustão. Acontece que, nem sempre, eles tomam por vontade própria e nas quantidades adequadas. E ficar sem tomar líquido não é uma opção.

Meu filho não bebe água. E agora?

Sucos, água de coco, chás... Os pais acabam recorrendo a todos os tipos de bebidas com intenção de não deixar os filhos desidratarem. Mas será que essas outras bebidas podem ser vistos como substitutas? Qual é a medida ideal? Tem um limite?

Para que eles entrem na dieta como aliados, sem prejudicar a nutrição, é preciso seguir algumas orientações, que se referem aos critérios de escolha e ao volume máximo diário por faixa etária. Nunca é demais lembrar que, nos seis primeiros meses, o bebê deve receber leite materno exclusivamente – até a água está dispensada. Depois disso, ela é sua principal aliada.

“Cerca de 80% do nosso organismo é constituído de água”, justifica a pediatra Renata Aniceto, da Pueri Nutri Consultoria e Assessoria em Nutrição Infantil (SP). Funções básicas no organismo, como transporte de nutrientes, oxigênio e saisminerais, além da eliminação de substâncias pela transpiração e pela urina, dependem dela para acontecer. A seguir, esmiuçamos o que você precisa saber sobre cada bebida e mostramos as medidas ideais, além de trazer três receitas refrescantes, elaboradas por chefs e nutricionistas, que são ótimas pedidas para os dias quentes. Confira:

Água

Não há substitutos à sua altura. Mesmo que você inclua outras bebidas na rotina do seu filho, a água deve ser oferecida insistentemente, afinal, ela é fundamental para um organismo saudável e equilibrado. 

Dos 7 aos 12 meses, o volume indicado é de 800 mililitros, distribuídos em pequenas quantidades ao longo do dia. Se você amamenta seu filho, lembre-se de que o leite materno já tem água – embora seja difícil mensurar a quantidade que o bebê suga, tenha em mente que é natural não sentir sede logo depois de uma mamada.

A demanda por água aumenta para 1.300 ml quando a criança completa 1 ano e permanece igual até os 3 – média que inclui de 100 ml a 150 ml de sucos naturais permitidos nessa faixa etária. Dos 3 aos 8 anos, a recomendação cresce novamente para 1.700 ml (contemplando nessa conta de 200 ml a 240 ml de sucos naturais).

A única ressalva é que servir água durante as refeições não é uma boa ideia, já que isso pode promover a distensão do estômago. O ideal é oferecê-la antes de comer ou 30 minutos depois. Nos intervalos, pode tomar à vontade, sem nenhuma restrição.

Água de coco

Sim, mas somente após 1 ano de idade. Porém, frequentemente, os pais cometem o equívoco de oferecê-la como substituta da água. Mas a nutricionista Priscila Maximino, do Centro de Dificuldades Alimentares do Hospital Infantil Sabará (SP), alerta para o risco das calorias em excesso, já que a água de coco mantém uma quantidade expressiva de glicose.

Por outro lado, se ingerida com moderação, a água de coco é bem-vinda, pois é rica em minerais, como o potássio e o fósforo. "Um bom parâmetro é incluir a água de coco na conta do suco", ensina Priscila.

Quando se trata da bebida natural, retirada do coco na hora e vendida em quiosques, o mais prudente é que o consumo seja imediato. Já o produto em caixinha, vendido no mercado, costuma conservar suas propriedades por mais tempo. E o melhor: esse tipo de embalagem dispensa conservantes e aditivos. De qualquer forma, cheque o prazo de consumo depois de aberto.

Que tal uma bebida refrescante para oferecer ao seu filho? Confira receita de suco de morango com água de coco e alecrim

Suco de frutas natural

Até o bebê completar 1 ano, os sucos naturais devem ser evitados, segundo o manual de orientação do Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Não se trata de uma proibição, mas de algumas restrições: “Se forem administrados, que sejam no copo, de preferência, após as refeições principais e não em substituição a elas, em dose máxima de 100 ml por dia, com a finalidade de melhorar a absorção do ferro”.

Frutas como laranja e limão favorecem o aproveitamento do mineral. Essas precauções se devem ao fato de que os sucos concentram muita frutose, o açúcar natural das frutas, o que induz o organismo a produzir muita insulina, contribuindo para o surgimento de diabetes e obesidade no futuro.

Ao completar 1 ano, aí, sim, a criança pode beber de 100 ml a 150 ml de suco por dia, até os 3 anos. Aproveite as frutas da época, que são mais doces. Se for realmente necessário adoçar, a nutricionista Priscila Maximino, do Centro de Dificuldades Alimentares do Hospital Infantil Sabará (SP), sugere o açúcar orgânico demerara ou o mascavo. Mas basta uma colher de café, vale avisar. A partir de 3 anos, o limite diário aumenta novamente, para cerca de 20 ml por quilo de peso, mas não deve ultrapassar 240 ml.

Vale destacar que qualquer fruta manipulada perde alguns nutrientes. Então, para tirar o melhor proveito, o ideal é oferecer o suco imediatamente após o preparo. Para se ter uma ideia, frutas ricas em vitamina C, como o limão e a laranja, perdem essa propriedade no prazo máximo de quatro horas, conforme explica Priscila.

No entanto, se o intuito for dar o suco algumas horas depois, em um passeio ou lanche fora de casa, as melhores escolhas são as frutas que demoram mais tempo para oxidar, como a manga, a goiaba e o maracujá. A melancia, ao contrário, costuma ter suas características alteradas rapidamente, como o sabor e o aroma. Outra dica valiosa é preparar cubos de gelo com os sucos e armazená-los em uma garrafa térmica. “Assim, eles derretem aos poucos e têm sua conservação prolongada”, sugere Priscila.

As polpas de frutas compradas no mercado também são alternativas bem interessantes. Elas costumam ser naturais e, no máximo, contém ácido ascórbico adicionado, que não faz mal e ajuda a manter suas características.

Suco de caixinha

Devido à grande concentração de açúcar, fuja do suco de caixinha, especialmente antes dos 3 anos. Depois disso, raras exceções são aceitáveis – no máximo, duas vezes por semana e em quantidade pequena (cerca de 100 ml), que fique claro. “Reserve esses produtos para situações pontuais, como uma viagem e, se possível, faça melhores escolhas entre eles, como os sucos integrais ou orgânicos”, diz a pediatra Renata Aniceto, da Pueri Nutri Consultoria e Assessoria em Nutrição Infantil (SP).

Não deixe de se atentar às informações descritas nas embalagens. Os sucos que têm mais fruta do que néctar são superiores, do ponto de vista nutricional, assim como os que são livres de aromatizantes e sem adição de açúcar. Em relação à embalagem, na opinião da
nutricionista Priscila, as latas e embalagens longa vida conservam melhor a bebida.

Chá e café

O café não é recomendado por causa da cafeína, que é estimulante. No entanto, se a bebida fizer parte do hábito da família, pode ser consumida a partir dos 3 anos. Mesmo assim, em pequena dose, apenas para provar -- um ou dois goles. A partir dos 6 anos, a criança pode tomar com moderação. Uma xícara (café) por dia é o limite e, se for descafeinado, melhor. O ideal é oferecer fraco e com bastante leite (3/4 para 1/4 de café), assim, ela se satisfaz, ao passo que ingere pouca cafeína e mais cálcio e zinco. Cuidado na hora de adoçar: basta uma colher (café) de açúcar.

Quando o assunto é chá, Priscila Maximino, do Centro de Dificuldades Alimentares do Hospital Infantil Sabará (SP), alerta que ele seja consumido preferencialmente para fins fitoterápicos, já que não agrega grandes propriedades nutricionais: "Nesse caso, consulte um profissional habilitado para indicar o tipo, a quantidade e a periodicidade". Se quiser abrir uma exceção, esporadicamente (depois dos 6 meses), opte pelos clássicos hortelã, erva-doce ou camomila, reconhecidamente seguros.

Leite

O leite também hidrata, mas sua função principal é nutrir a criança (principalmente o materno, que deve ser mantido, de forma complementar, até os 2 anos). Passado esse período, o
leite continua sendo a principal e mais rica fonte de cálcio, fundamental para a saúde dos ossos. Por isso, seu consumo deve ser estimulado – nesse momento, é o leite de vaca que entra em cena.

No entanto, vale ressaltar que ele não é apropriado para bebês menores de 1 ano, por comprometer a absorção do ferro. Sem falar que a proteína desse tipo de leite pode provocar alergia – um em cada 20 lactentes apresenta o problema, segundo a Sociedade Brasileira de
Pediatria. Entre 1 e 2 anos, se a criança tiver desmamado por algum motivo, converse com o pediatra sobre como os laticínios devem entrar no cardápio dela, a fim de suprir a demanda de cálcio.

Tenha cuidado, entretanto, com a substituição das refeições principais pelo leite. Embora a bebida ofereça proteínas, ela carece de outros nutrientes indispensáveis, como carboidrato, algumas vitaminas e minerais. Sem contar que uma ingestão superior a 700 ml de leite de vaca integral nessa faixa etária é um fator de risco para a anemia – novamente, por
conta do ferro, já que sua deficiência é a principal causa da doença.

Dos 3 anos em diante, a recomendação são três porções de leite ou derivados por dia – cada porção corresponde a uma xícara (chá) de leite, um pote de iogurte de frutas ou duas fatias de queijo branco.

Refrigerante

Fuja ao máximo do refrigerante. Além de não apresentar benefício nutricional, é rico em açúcar (uma lata pode ter 35 gramas!), o que contribui para a obesidade e doenças como diabetes e osteoporose, no futuro. Infelizmente, essas bebidas ainda estão presentes na geladeira do brasileiro: 32,3% das crianças com menos de 2 anos tomam refrigerante ou suco artificial, segundo a Pesquisa Nacional em Saúde, feita em 64 mil domicílios em todo o país.

Até os 2 anos, não dê a bebida, já que o paladar e o metabolismo se estabelecem nessa fase. A partir dessa idade, evite-a sempre que possível, liberando-a apenas eventualmente, como em festas infantis. Se ainda não se convenceu dos malefícios, saiba que o consumo regular de refrigerantes toma o espaço do leite e de seus derivados, afetando a ingestão de cálcio e a formação dos ossos.

Isotônico


As chamadas bebidas esportivas não são bem-vindas para crianças, como reforçou uma revisão de estudos publicada no periódico americano Pediatrics. Destinados a repor os nutrientes eliminados pela transpiração nos atletas, os isotônicos são ricos em açúcar e sais minerais, como o sódio (que causa hipertensão). Ocorre que, para equilibrar o excesso de sais no organismo, será preciso ingerir bastante água – em vez de suprir a necessidade do líquido, ele aumenta. Sem contar que alguns contêm substâncias capazes de provocar erosão nos dentes. Mesmo aqueles casos em que há prática esportiva intensa ou condições de saúde específicas requerem o aval do pediatra.