• Amanda Oliveira, do home office
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O pequeno Davi Augusto tem apenas 2 anos e 11 meses, porém, já enfrentou duras lutas contra o câncer infantil. No ano passado, ele foi diagnosticado com um neuroblastoma, um tipo de tumor que acomete principalmente as crianças menores de 10 anos. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), a doença aparece, geralmente, nas glândulas adrenais, localizadas na parte superior do rim e leva normalmente ao aumento do tamanho do abdome. "Quando recebi o diagnóstico, foi um soco no estômago, fiquei sem chão, mas não perdi a esperança", relata a mãe do paciente, Débora Alves dos Santos, 35, à CRESCER. Após diversas quimioterapias, a família de Davi teve que enfrentar uma nova batalha este ano: o bebê desenvolveu um novo tipo de câncer, conhecido como rabdomiossarcoma — tumor maligno que surge de células que desenvolvem os músculos estriados da musculatura esquelética. 

A servidora municipal, que mora em Curitiba (PR), conta que felizmente seu filho foi diagnosticado um pouco mais cedo e vem se recuperando com apoio da equipe médica. "Sabemos que quando descobrimos uma doença no início, é muito mais fácil de tratar".

Apesar do câncer em criança ser raro, ele é responsável pela maioria das mortes na faixa etária de 1 a 19 anos, representando 8% do total, de acordo com o Inca. Por isso, o mês de setembro foi escolhido para se debater sobre à conscientização do câncer infantojuvenil. O movimento "Setembro Dourado" busca alertar os pais profissionais da saúde, educadores e sociedade em geral sobre a importância de se atentar aos sinais e sintomas sugestivos do câncer. Afinal, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e do Ministério da Saúde, a sobrevida estimada no Brasil por câncer na faixa etária entre 0 e 19 anos é de 64%.

Davi foi diagnosticado com câncer no ano passado (Foto: Arquivo Pessoal )

Davi foi diagnosticado com câncer no ano passado (Foto: Arquivo Pessoal )

Meu chão caiu 

Débora diz que, no início, seu filho não demonstrava sinais de que estaria doente. "Ele sempre pareceu muito saudável. Nunca tinha precisado de nenhum antibiótico". No entanto, um dia, ela percebeu que seu filho estava um pouco quente e logo depois notou que o abdome do pequeno parecia um pouco saltado e duro. Esse sinal ligou uma luz de alerta para a servidora municipal. Após algumas consultas, o pequeno fez os exames e a biópsia. Logo depois, o bebê foi diagnosticado com o neuroblastoma. A mãe se lembra nitidamente do dia em que recebeu esse difícil resultado. "A médica chegou e falou que não tinha boas notícias. Quando disse que era um tumor, foi um soco no meu estômago".

Desde então, começou a luta do pequeno contra a doença. A vida de Débora, que tem mais três filhos, mudou completamente. Ela passou a ficar mais tempo no hospital do que em casa. Além disso, Davi começou seu ciclo de quimioterapia e ficou bem debilitado. A servidora municipal lembra que um dos piores momentos que passou foi quando seu filho teve sepse — conjunto de manifestações graves em todo o organismo produzidas por uma infecção — e precisou ficar 17 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Com tempo, felizmente, o pequeno se recuperou e respondeu bem ao tratamento. "Foi uma fase muito tensa. Um susto muito grande, mas graças a Deus e aos profissionais conseguimos seguir em frente sem perder as esperanças", relata a mãe. 

Em 2020, Davi enfrentou cinco ciclos de quimioterapias e por pelo menos seis procedimentos cirúrgicos. Após responder bem ao tratamento, o pequeno conseguiu remover o tumor em agosto e em outubro fez um transplante de medula. Logo após, ele já estava fazendo fisioterapia para voltar a andar. "Como o neuroblastoma foi bem agressivo, ele ficou acamado e parou de andar e engatinhar", diz Débora.

Davi reaprendendo a andar (Foto: Arquivo pessoal )

Davi reaprendendo a andar (Foto: Arquivo pessoal )

Entretanto, a família recebeu mais uma notícia difícil meses depois. Após alguns exames de rotina, Débora descobriu que o filho tinha um novo tumor. No início, os médicos tentaram removê-lo, mas não conseguiram, porque o tumor já estava com nove centímetros. Depois da biópsia, foi descoberto que era outro tipo de câncer conhecido como rabdomiossarcoma embrionário. Diagnosticado com o seu segundo câncer, Davi está em seu quinto ciclo de quimioterapia e ainda faltam quatro. Mês passado, ele retirou parte do tumor e continua em tratamento para se recuperar completamente. Segundo sua mãe, no geral, o pequeno está bem, já voltou a falar e está reaprendendo a andar. "Ele nos surpreende a cada dia", diz a servidora municipal.

Após passar por essa experiência, Débora ressalta a importância de confiar na equipe médica. No entanto, se tiver dúvidas, conversar com os especialistas e não recorrer a informações da internet. A mãe também faz um apelo: "Temos que ficar atentos aos mínimos detalhes".

De uma dor de cabeça ao câncer

Há dois anos, Syang Ysabelli Bokorny Ribeiro,12, começou a sentir muita dor de cabeça, que vinha acompanhada por vômito e dor na barriga. No início, os médicos pensavam que era apenas uma enxaqueca, porém, em março deste ano, seu quadro piorou e após fazer uma tomografia, veio o diagnóstico: a pequena tinha um tumor cerebral conhecido como glioblastoma mutiforma grau 4.

A mãe de Syang, Elisabete Bokorny Ribeiro, 40, relata que após a filha fazer o exame, no caminho de volta para casa, já recebeu a ligação para pegar um encaminhamento para uma consulta médica. "Aí foi o começo de tudo! Fiquei em choque. Não sabia o que fazer", conta a mãe. 

No dia 15 de março, Syang passou por sua primeira cirurgia. "Foi muito difícil ver a minha filha sair da sala de cirurgia toda cheia de aparelho e intubada", lembra Elisabete. Felizmente, Syang reagiu bem ao tratamento de radioterapia e quimioterapia. "Atualmente, ela está bem e seus cabelos estão crescendo", diz a mãe.  Agora, a família está pedindo doações para custear o tratamento da menina. 

Syang Ysabelli foi diagnosticada após sentir dores de cabeça e dor de barriga  (Foto: Arquivo pessoal )

Syang Ysabelli foi diagnosticada após sentir dores de cabeça e dor de barriga (Foto: Arquivo pessoal )

Diagnóstico precoce salva vidas! 

Quando uma criança é diagnosticada com câncer, seja qual for, os pais sentem um grande aperto no peito! É impossível não pensar na cena dos pequenos passando por sessões de quimioterapia e logo depois seu cabelo caindo. No entanto, com o diagnóstico precoce, é possível fazer um tratamento muito menos agressivo para a criança. "Ele é de extrema importância para as indicações do tratamento, bem como para as maiores chances de cura. Para a maior parte dos tipos de câncer na criança, quando o diagnóstico é precoce, o tratamento é muito menos agressivo", explica Ana Paula Kuczynski, oncologista do Hospital Pequeno Príncipe, em entrevista à CRESCER. 

Segundo a médica, em alguns casos, apenas é necessário fazer uma cirurgia com a retirada do tumor. Porém, para as crianças com câncer, o tempo é valioso. A demora para um diagnóstico pode resultar em altas doses de quimioterapia e com drogas mais fortes, podendo causar complicações graves como infecções e hemorragias. Ana Paula ainda complementa que, conforme o tipo do câncer, também pode ser necessário o tratamento com radioterapia, a qual pode causar vários efeitos colaterais.

Mas, quais sinais devo ficar atento? Existem vários sintomas que os pais precisam ficar de olho, como por exemplo: febre prolongada, dor nas pernas ou em outros locais que não melhoram com analgésicos comuns, dor de cabeça associada a vômitos, perda de peso, palidez associada a cansaço e sonolência, falta de atenção e queda no rendimento escolar, perda do equilíbrio e quedas, alterações visuais, ínguas (caroços) em qualquer local do corpo, dor e crescimento do abdome, manchas no corpo e sangramento. Então, se seu filho apresentar esses sinais, não hesite em levá-lo ao pediatra. 

De acordo com a especialista, no caso dos pequenos, geralmente, os tipos de câncer mais comuns são leucemias agudas, tumores do sistema nervoso central, linfomas, neuroblastoma, tumor de Wilms (tumor renal), sarcomas, tumores ósseos, tumores de células germinativas e retinoblastoma (tumor ocular). 

Durante o tratamento, é importante ressaltar que o apoio à família é essencial. "Muitas vezes os pais devem receber o apoio em conjunto com seu filho (a) pela equipe multidisciplinar do hospital ou clínica, constituída por médicos, enfermeiros e psicólogos, para que haja um bom entendimento sobre a doença, o tratamento e suas consequências", afirma Ana Paula. 

É essencial também que os pais possam apoiar sem filhos e que estejam serenos, demonstrando muita confiança no tratamento e, claro, na cura da doença. "Respeitar os seus sentimentos nos momentos de angústia, procurando acalmá-los e confortá-los. Explicar que será uma fase de algumas mudanças no seu estilo de vida, com algumas limitações, mas que será por um período passageiro, reforçando a confiança nos bons resultados", pontua a oncologista. 

Com informações da Agência Brasil e da Sociedade Brasileira de Pediatria