• Fernanda Montano
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Qual era seu jogo preferido na infância? Eu amava Detetive, Cara a Cara, Banco Imobiliário, Jogo da Vida, Imagem & Ação e Mau Mau (que hoje é o Uno). Minha mãe guardou todos eles e agora eu brinco com meus filhos – as mesmas memórias afetivas que tenho, de momentos em família jogando, seja em casa, na praia, seja na casa da prima, agora crio com a nova geração.

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Jogos de tabuleiro para divertir a família toda nas férias (Foto: Getty Images)

Os jogos (de tabuleiro, cartas e estratégia) têm esse poder: de criar vínculos, aproximar e até de tirar as crianças das telas – algo tão desejado nesses tempos... Por isso, eles foram (e vêm sendo) ótimos aliados dos pais durante a pandemia. Uma pesquisa feita pela rede de comunicação britânica Channel Mum, com 2 mil famílias, demonstrou que quatro em cada cinco delas acreditam que formaram laços e vínculos ainda mais fortes durante a quarentena por estarem mais próximas das crianças. Metade dessas famílias afirmou que essa conexão vem de momentos de jogos de tabuleiro, com filhos e pais juntos.

E se uma das maiores reclamações dos pais nessa rotina em casa com as crianças é sobre o tempo que elas passam nas telas, por que não recorrer a “novas velhas estratégias” para lidar com isso? Nesse momento, precisamos, além de limites, de bons argumentos para que eles desgrudem dali, e os jogos se encaixam muito bem, pois aliam a diversão ao momento em família, com a atenção dos pais 100% para eles. “Os jogos proporcionam a oportunidade de criar memórias inesquecíveis em família, com diversão, qualidade e segurança numa época em que todos estão mais em casa. Esse desenvolvimento emocional também é de extrema importância para as crianças”, afirma Anne Solai, gerente de Novos Negócios da Galápagos Jogos, uma das principais editoras de jogos do Brasil.

É o que sente já há alguns anos a profissional de marketing e relações públicas Bárbara Reis, 37 anos, mãe de Alice, 6. Ela lembra que começou a jogar com a filha quando ela tinha 2 anos, e hoje é a brincadeira preferida da casa. “Não há nada mais prazeroso do que todos conectados por uma atividade. Em meio a uma pandemia, aprendemos como é importante estar junto de quem amamos. Hoje, o que mais valorizo é o tempo de qualidade com a minha filha, além da construção de memórias afetivas que são eternizadas com a família reunida em volta da mesa para jogar”, diz

Nova era dos jogos

Muito desse crescimento do universo dos jogos de tabuleiro – cerca de 7,5% nos últimos anos, conforme dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq) – vem da expansão do mercado dos chamados jogos modernos. O “pai” da atual geração de jogos de tabuleiro é o alemão Klaus Teuber, que lançou oficialmente, em 1995, o jogo Colonizadores de Catan, que logo ganhou o principal prêmio da área e continua sendo um dos mais populares até hoje.

Mas o que esses jogos têm de diferente dos nossos clássicos da infância? Segundo o especialista Fernando Tsukumo, professor de criação de jogos de tabuleiro do curso de pós-graduação em Educação Lúdica do Instituto Vera Cruz e fundador da Sua Vez, empresa especializada no uso dos jogos na educação, os jogos modernos surgiram a partir de avanços do mercado de desenvolvimento de produtos que trazem vivências mais interessantes. Assim, aos poucos, foram eliminadas as experiências chatas, desagradáveis, maçantes ou negativas, para dar lugar a algo mais positivo, desafiador, educativo, interessante e divertido.

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Como exemplo, ele cita três experiências “chatas” dos jogos antigos, como ser eliminado antes do final do jogo, perder a rodada e partidas intermináveis. “Essas mecânicas foram sendo suprimidas para fazer com que todos os jogadores fiquem até o fim do jogo, sentindo que têm condições de ganhar e com um tempo de brincadeira e uma experiência muito mais interessantes. Costumo dizer que a diferença que existe entre um jogo moderno e jogos tradicionais a que estamos acostumados é basicamente a mesma que há entre um Atari e um PlayStation 4”, afirma.

O médico ortopedista Halan Presa, 44 anos, pai de Leonardo, 12 anos, e Rafael, 9, sentiu essa mudança, e foi a partir dos jogos modernos que o hábito virou febre em sua família. “Começamos a jogar quando descobrimos os jogos de tabuleiro modernos, três anos atrás. É incrível como eles desenvolvem senso de estratégia, organização e planejamento”, conta.

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Desenvolvimento, conexão, entretenimento: com tudo isso, não faltam motivos para brincar com os jogos de tabuleiro – os novos e os tradicionais. Junte a família e divirtam-se!

EU QUERO!

Ficou curioso sobre os jogos modernos? Posso dizer, por experiência própria, que vale a pena conhecer. Lembra dos meus jogos de infância preferidos, de que falei lá no início? Continuamos usando aqui, mas agora eles dividem a mesa com outros dessa nova leva, como Dixit, Ticket To Ride, Concept e Cadê o Lobo?. Quer saber como começar a introduzi-los na sua casa também? Veja três respostas para perguntas que você já deve estar se fazendo:

Existe uma idade mínima para inserir a criança no universo dos jogos?
Não, mas claro que as muito novas têm um tempo de atenção e concentração mais limitados. “Porém, se entendermos que há passos que levam da brincadeira ao jogo, podemos já fazer pequenas atividades e ir estruturando (leia-se criando regras) cada vez mais para que ela vá entrando na mentalidade de jogo”, diz Fernando Tsukomo. Sim, os jogos têm uma indicação mínima de idade, por conta de complexidade ou temática, mas adaptações das regras são possíveis e comuns quando jogam na companhia de adultos.

Os jogos são pensados para que nossos filhos aprendam algo ou trata-se apenas de entretenimento?
As duas coisas — e o recomendado é que se misture um pouco de ambas. Dar brinquedos não estruturados para crianças ou dar jogos mais livres e divertidos estimulam a criatividade, e isso não pode ser deixado de lado. O importante é saber que nem todo jogo educativo é divertido, mas todo jogo divertido pode ser educativo. Tudo depende da lente que é trazida para a brincadeira.

Como saber em quais investir e não se perder entre tantas opções?
Se você normalmente só olha a idade recomendada na caixa, tente mudar um pouco e identificar o “perfil” da sua família: são jogadores de primeira viagem ou já têm o costume de jogar juntos? Quantas pessoas participarão das partidas? Há uma diferença de idade entre as crianças? A partir daí fica mais fácil buscar informação. Há alguns canais na internet que se dedicam a falar de jogos para crianças e pais. Além disso, a maioria das lojas de jogos modernos no Brasil oferece um serviço de recomendação de acordo com o perfil, faixa etária, estilo, número de jogadores e tempo de jogo. As editoras também têm catálogos educativos que valem a pena ser consultados. Outra dica é procurar por jogos cuja temática interesse às crianças. Com tantos títulos lançados anualmente, há uma gama grande de temas, como mundo animal, desafios com números, fatos da história, geografia e até franquias de sucesso na cultura pop, como Harry Potter.

10 jogos para diferentes situações

Conheça um pouco sobre 10 jogos e escolha os que têm mais a ver com a sua família, de acordo com diferentes situações. Eles não estão limitados a idades, pois dá para adaptá-los aos participantes:

Para levar no bolso ou na mala

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(Foto: Divulgação)

1. Black Stories
Uma consagrada série de enigmas em cartas para dois a infinitos participantes. Uma pessoa lê uma história misteriosa que deve ser desvendada pelos demais com perguntas que só podem ser respondidas com “sim”, “não” ou “irrelevante”. Conta com várias temáticas, como ficção científica, crimes reais, cinema, e até a linha júnior, pensada especialmente para os menores.

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2. Story Cubes
É uma brincadeira de contar e criar histórias com dados. Cada dado contém seis das 54 imagens que podem ser misturadas de várias maneiras e formas de jogo. As histórias podem ser contadas individualmente ou em grupo.

Para agradar a crianças de idades diferentes

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3. Dobble
É um divertido jogo de cartas que desafia a velocidade e observação das pessoas. Com regras que podem ser aprendidas em um minuto, é rápido, fácil e para qualquer idade. Cada jogador deve identificar qual o símbolo em comum entre duas cartas antes dos demais participantes.

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4. Taco Gato Cabra Queijo Pizza
Um daqueles jogos em que nossa mente está sempre pronta para nos pregar uma peça. Cada um deve jogar uma carta enquanto fala uma das palavras na ordem correta. Assim que coincidir uma carta jogada com a palavra falada, o jogador corre para bater sua mão na pilha central. O último a bater pega o monte todo.

Para as crianças menores

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5. Cadê o Lobo?
É um jogo da memória em que os participantes se unem para ajudar os animais da fazenda a se esconderem do lobo.

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6. Rhino Hero
Traz um rinoceronte incrivelmente heroico — e bastante pesado — que está ansioso para escalar um edifício alto. Antes de tudo, porém, é preciso construir esse edifício, com as cartas de telhado.

Para jogar em família

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7. Dixit
É um dos títulos mais aclamados do mundo. Os participantes precisam descobrir qual é a carta de um dos jogadores com base em uma dica dada por ele, seja um gesto, um som, uma palavra ou qualquer outra ideia. Só não pode ser muito fácil nem muito difícil. As ilustrações do jogo são verdadeiras obras de arte.

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8. Cupcake Academy
É um jogo recém-chegado ao mercado brasileiro, em que os jogadores trabalham em equipe para organizar suas forminhas de cupcake de acordo com as imagens das cartas de cada rodada. Mas não vai ser fácil: os confeiteiros só podem mover uma forminha por vez e empilhá-las uma em cima da outra, deixando as maiores em cima das menores — isso tudo, antes que o tempo acabe.

Para rir muito

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9. Exploding Kittens
É um jogo de humor nonsense. No estilo roleta-russa, os jogadores compram cartas até que um deles encontre um gatinho explosivo, que vai detonar tudo e levar esse jogador junto. O único jeito de evitar a explosão é usando uma das cartas de desarmar, que tem o poder de acalmar os bichanos.

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10. Só Uma
Levou o prêmio de melhor jogo do mundo em 2019. É um incrível exercício de comunicação em que cada participante escreve “só uma” palavra como dica para que o jogador da vez descubra o que está escrito em sua carta. Todos escrevem secretamente em seus cavaletes, e depois revelam, anulando as palavras que forem repetidas. Então, é preciso usar a criatividade!

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