• Adriana Toledo
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Alterações metabólicas típicas da gravidez reduzem a ação da insulina – (Foto: Thinkstock)

Você espera um filho. É magra, não tem pais, irmãos nem avós diabéticos, tampouco exagera no consumo de alimentos açucarados. Então, o diabetes gestacional está longe da sua realidade, certo? Não é bem assim. Saiba que até o sexo do bebê pode representar um risco maior de descompasso nas taxas de glicose. É o que sugere um novo estudo da Universidade de Toronto (Canadá), que envolveu mais de 600 mil mulheres e associou a gravidez de meninos a um aumento na probabilidade de desenvolver o problema.

O que acontece é que as alterações metabólicas típicas da gravidez reduzem a ação da insulina – hormônio envolvido no aproveitamento do açúcar como energia. Em um mecanismo de compensação, o pâncreas deve incrementar a liberação dessa substância. Quando isso não acontece, sobra açúcar em circulação e o diabetes gestacional se instala. “Há também evidências de que as células pancreáticas atuam de forma menos eficiente no organismo de quem espera um menino”, explica o autor da pesquisa, Baiju Shah, em entrevista à CRESCER.

FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O DIABETES GESTACIONAL

Não só o gênero da criança, mas uma série de fatores favorece a ocorrência desse quadro. Os mais conhecidos são a herança genética, o sedentarismo, a alimentação inadequada, a obesidade e o ganho exagerado de peso ao longo dos nove meses. Mas outros aspectos não tão óbvios também colaboram como surgimento do problema. A idade avançada está entre os principais. “Existem indícios de que, a partir dos 25 anos, as mulheres ficam cada vez mais propensas a apresentar a disfunção. Gravidez de gêmeos, hipertensão, síndrome dos ovários policísticos, uso de certos medicamentos, como os do grupo dos corticoides, e parto anterior de bebê muito grande, com mais de quatro quilos, também fazem soar o sinal de alerta para a doença”, enumera a endocrinologista Lenita Zajdenverg, da Sociedade Brasileira de Diabetes.

Com tantos pontos de vulnerabilidade, não é à toa que o problema chega a acometer até 14% das gestantes, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, deixando-as à mercê de uma série de complicações – infecção urinária, pré-eclâmpsia, necessidade de cesárea e parto prematuro. Sem falar nos riscos para o bebê, que incluem fratura ao nascer, devido ao grande tamanho, desconforto respiratório e hipoglicemia.

A POLÊMICA DO AÇÚCAR

Diabetes (Foto: Thinkstock)

Dificilmente, o descontrole na taxa de glicose provoca sintomas, como sede excessiva e mal-estar. Se ele não dá sinais, a melhor estratégia para detectá-lo é fazer um rastreamento. Por isso, é comum que, logo no início do pré-natal, a gestante seja submetida a um teste de glicemia de jejum, realizado a partir de uma amostra de sangue para mensurar seus níveis de açúcar. Se o resultado for superior a 126, considera-se que já era previamente diabética e ela passa a ter um acompanhamento ajustado a essa condição. Nesse caso, a conduta é substituir medicamentos antidiabéticos, como a metformina, por insulina sintética.

Já quem estampa um número inferior a 92 no laudo médico não precisa, a princípio, se preocupar com o problema e só passará por uma reavaliação entre a 24ª e a 28ª semanas, período crítico da gravidez em que as alterações hormonais instigam a subida da taxa de açúcar. Nesse momento, será realizado o chamado teste oral de tolerância à glicose, que consiste na medição da glicemia em três momentos distintos: em jejum, uma e duas horas depois de a paciente beber um concentrado de glicose. É essa avaliação que serve como a prova dos nove para o veredito de diabetes gestacional.

Entre esses dois extremos há a glicemia de jejum que marca de 92 a 125 e vem gerando controvérsia entre os especialistas do mundo todo. Alguns deles seguem um critério mais radical, em que os resultados dessa faixa – considerados normais ou limítrofes na população geral – nas grávidas levam a um diagnóstico de diabetes gestacional. “No primeiro trimestre, a produção de insulina cresce. Por isso, é esperado que a glicemia caia. Então, os limites tolerados são mais baixos”, justifica a obstetra especializada em saúde materno-infantil Rosiane Mattar, da Universidade Federal de São Paulo

Entretanto, ela, assim como outros médicos, prefere seguir uma conduta mais conservadora, em que se aguarda o teste oral de tolerância à glicose sem fechar a sentença de diabetes gestacional. Enquanto isso, orienta-se uma mudança de hábitos, na tentativa de controlar a taxa de açúcar e prevenir complicações mais para frente.

O EXERCÍCIO COMPENSA

Mexer o corpo na gravidez pode representar um risco 28% menor de desenvolver diabetes gestacional, segundo uma revisão de estudos da Universidade de Massachusetts (EUA), envolvendo mais de 3 mil participantes. “Uma caminhada de 30 minutos, em intensidade moderada, pelo menos cinco vezes por semana, já é capaz de melhorar a ação da insulina”, reforça Rosiane Mattar. Mas vale lembrar que a atividade física só deve ser praticada quando não há contraindicações e sob orientação do obstetra.  

EM BUSCA DO EQUILÍBRIO

Seja qual for o parâmetro adotado, ninguém discute que não se deve esperar até o quinto mês para tomar as devidas precauções. “Uma glicemia entre 92 e 125 no primeiro trimestre é motivo suficiente para a adoção de dieta e exercícios, medidas capazes de controlar cerca de 70% dos casos de diabetes gestacional”, afirma Rosiane.

Embora não haja um consenso, alguns obstetras também propõem o uso doméstico de um glicosímetro, aparelho praticamente indolor, que informa rapidamente a glicemia a partir
de uma gota de sangue. Nesse caso, o monitoramento é realizado algumas vezes ao dia, especialmente em jejum e após as principais refeições, e ajuda a nortear o tratamento. 

Mesmo com tantos cuidados, às vezes há risco de o açúcar ir às alturas no segundo trimestre. Aí, pode ser necessário apelar para a insulina sintética. Se for o seu caso, não desanime. “Com a doença sob controle, a expectativa é que a gravidez tenha uma boa evolução, com ótimas condições de saúde e um parto próspero para mãe e filho”, assegura Lenita.

E, para que tudo continue bem, a ordem é manter o controle da glicemia com dieta e exercícios no pós-parto. Isso porque, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, de 10% a 63% das mulheres que tiveram diabetes gestacional correm risco de se tornarem diabéticas nos 16 anos subsequentes. É melhor cuidar!

A alimentação é uma grande aliada no controle e prevenção da diabetes. Clique aqui e veja 5 dicas de como organizar suas refeições

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