Barriga solidária: Luciana e Elaine (Foto: Arquivo pessoal)

Barriga solidária: Luciana e Elaine (Foto: Arquivo pessoal)

"Quando me casei, meu marido já tinha feito vasectomia. Foi, então, que comecei a pesquisar sobre fertilização in vitro (FIV) e noitei que o assunto ainda é um tabu. Muitas mulheres se sentem inferiores e discriminadas por não poderem ter filhos. Falta aceitação e apoio". Essas palavras são de Elaine Lakeisha, 33. Pouco tempo depois, graças ao procedimento, ela engravidou, mas acabou abortando.

A experiência foi o empurrão que precisava para começar a escrever. Ela, que é formada em direito, resolveu redirecionar sua vida para apoiar outras mulheres. "Não só pessoas inférteis, mas também para mulheres que sofreram um aborto. Queria ajudar as pessoas que já tinham passado por essa dor. Hoje, a maternidade tardia e a manopausa precoce são uma realidade. Eu acompanhei casos e resolvi ser doadora de óvulos", conta.

Ela criou um blog para pessoas que se identificavam com o tema. Paralelamente a essa caminhada, Elaine fez uma segunda tentativa e teve suas gêmeas, Helena e Valentina, 3 anos. A chegada das meninas deu ainda mais forças para que ela continuasse falando sobre o assunto. E foi assim que ela conheceu a professora Luciana Domingues. "Participei de toda a luta dela. Eu a vi sofrer todas as perdas, inclusive, de gêmeos. Ela fez todos os tipos de tratamentos e chegou a engravidar naturalmente. Uma vez, saímos para comemorar, pois ela nunca tinha chegado a 9 semanas, mas justamente nesse dia, ela sofreu um aborto", lembra Elaine.

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Barriga solidária

Num determinado momento, Luciana desistiu. "Depois de várias tentativas e tantas perdas, resolvi que meu limite havia chegado, não via mais saída e não tinha vontade de continuar lutando. Buscar uma barriga solidária nem passava pela minha cabeça, até que comentei com a Elaine que havia desistido e ela perguntou se nós topariamos", lembra a professora.

Elaine conta que, na época, Luciana disse algo que a marcou muito. "Em uma conversa por telefone, ela me disse: 'Eu não aguento mais matar meus filhos'. Ela já estava na fila de adoção há quatro anos, então, conversei com meu marido e pensei: 'São alguns meses para salvar uma vida inteira pra eles'. Eles estão tentando há dez anos, é o sonho da vida deles", lembra. Foi nesse momento que Elaine decidiu "emprestar" seu útero e se tornou "barriga solidária" de Luciana. "Meu marido me apoiou. Minhas filhas já estavam na escola. Combinamos que eu iria me organizar e faríamos no ano seguinte", conta.

Elaine engravidou por fertilização. "Eles já tinham embriões congelados. Eu apenas emprestei meu útero. Não é algo comum aqui no Brasil ainda, então, as pessoas tem muitas dúvidas. Mas desde 2017, isso é possível graças a uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM)", conta. Nesse caso, os pais biológicos e a mulher que se dispõe a ser barriga solidária assinam um documento que assegura os termos dessa gravidez. Por exemplo, ele determina que todos os gastos devem ser mantidos pelos pais biológicos da criança e garante a eles o direito de fazer o registro do filho logo após o nascimento.

Elaine grávida de Laís (Foto: Arquivo pessoal)

Elaine grávida de Laís (Foto: Arquivo pessoal)

A espera de Laís

"Sobre a nossa expectativa? Ah, você não faz ideia da nossa ansiedade. O quartinho está pronto e todinho feito por nós! Não vemos a hora de chegar novembro e termos a concretização do nosso sonho de tantos anos", diz Luciana, emocionada. "E o legal é que Luciana não está grávida e tem disposição de sobra para poder fazer tudo isso. Eles também vão às consultas e exames, mas tomam muito cuidado para não me sufocar ou me deixar constrangida", conta Elaine. 

Sobre as filhas, ela conta que Helena e Valentina ainda não têm maturidade para entender o que está acontecendo. "Mas já expliquei que esse bebê é filho da tia Lu e do tio Ronaldo. E que quando nascer, ele vai para casa deles. Elas falam isso pra todo mundo. Já sabem que a Laís será uma amiguinha. Por enquanto, elas curtem, colocam as mãos e conversam com a barriga", completa. 

Luciana, Elaine, esperando Laís, e as gêmeas (Foto: Arquivo pessoal)

Luciana, Elaine, esperando Laís, e as gêmeas (Foto: Arquivo pessoal)

A previsão é de que Laís chegue até o dia 20 de novembro. "Minha únicas exigências são não amamentar, pois o vínculo é muito forte, e fazer o parto com meu médico. Luciana já está se preparando fazer lactação. Também quero tentar o parto normal. Eles vão acompanhar tudo", diz Elaine, ansiosa. 

Já sobre a reação das pessoas, Elaine disse que foi um surpresa para todos. "Nem minha família sabia, contei somente com 12 semanas de gestação. Mas as reações são todas positivas, o que me deixa muito feliz. Não recebi nada de negativo", diz. "Eu quero quebrar essa barreira. Falo abertamente sobre fertilização e barriga solidária. Me perguntam muito se eu tenho medo de me apegar ao bebê, mas convivo com pessoas que sonham em ter filhos diariamente. Há 7 anos, meu mundo é esse", explica.

"Estou mudando a vida de uma família inteira com uma ação. Os avós sonharam com netos. Não acho que todo mundo precise fazer barriga solidária, mas uma simples ajuda já basta. Deixar de falar uma frase negativa para uma pessoa que não pode ter filho, é um exemplo. Eu trabalho muito a questão da empatia com as minhas filhas. Está faltando muito isso no mundo. Não podemos pensar só na gente, mas também nas pessoas que estão a nossa volta. Estamos com 27 semanas e interajo com esse bebê, mas não vejo a hora de ele nascer para poder entregá-lo para os pais", finaliza.

Amigas: Luciana e Elaine (Foto: Divulgação)

Amigas: Luciana e Elaine (Foto: Divulgação)

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