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O impacto da pandemia do coronavírus nas grávidas vem sendo analisado por vários pesquisadores, principalmente após a morte de várias gestantes com a covid-19, inclusive no Brasil. Um estudo, publicado no jornal acadêmico Jama Pediatrics, concluiu que a covid-19 na gravidez foi associada a aumentos consistentes e substanciais na morbidade e mortalidade materna grave e complicações neonatais. 

Grávida sentido dor  (Foto: Getty Images)

Grávida sentido dor (Foto: Getty Images)

O estudo foi realizado com 2.130 mulheres grávidas em 18 países, incluindo o Brasil, entre março e outubro de 2020. Entre as participantes tinham 706 mulheres grávidas com covid-19 e 1.424 mulheres grávidas sem diagnóstico. Segundo os pesquisadores, as gestantes infectadas tinham maiores taxas de resultados adversos, incluindo mortalidade materna, pré-eclâmpsia/eclâmpsia e parto prematuro, em comparação com gestantes sem diagnóstico de covid-19. 

Entre as mulheres diagnosticadas com a covid-19, 8,4% tiveram quadros de pré-eclâmpsia ou eclâmpsia, 7,4% parto prematuro, 8,4% foram admitidas nas Unidades de Terapia Intensiva e 49% precisaram passar por uma cesárea. Já entre as mulheres sem diagnóstico de covid-19, os números foram menores: 4,4% tiveram quadros de pré-eclâmpsia ou eclâmpsia, 6,2% parto prematuro, 1,6% foram admitidas nas Unidades de Terapia Intensiva e 38,8% precisaram passar por uma cesárea. 

Os pesquisadores ainda complementam que entre todas as admissões na UTI, as mulheres com diagnóstico de covid-19 permaneceram 3,73 dias a mais do que as mulheres sem diagnóstico da doença.

Com relação aos óbitos, onze mulheres (1,6%) com diagnóstico de covid-19 morreram. Destas, quatro tinham pré-eclâmpsia grave, incluindo três mulheres que tiveram insuficiência respiratória, que exigiu ventilação mecânica e a quarta mulher que morreu de embolia pulmonar. Cinco mulheres tiveram agravamento da insuficiência respiratória no pré-natal, duas das quais foram submetidas a parto cesáreo e, apesar do suporte respiratório intensivo, faleceram posteriormente.

 As duas mulheres restantes desenvolveram febre, tosse e falta de ar dentro de sete dias do parto sem intercorrências e morreram logo depois, apesar dos cuidados na UTI. No grupo de mulheres sem diagnóstico de covid-19, houve apenas um óbito devido a neoplasia maligna do fígado preexistente e cirrose. Em relação a infecção dos bebês, 12.9% deles testaram positivo para a Sars-CoV-2, mas a amamentação não foi associada à transmissão. 

De acordo com os pesquisadores, mulheres com diagnóstico de covid-19 tinham 22 vezes mais probabilidade de morrer. "Essas mortes concentraram-se em instituições de regiões menos desenvolvidas, o que implica que, quando os serviços integrais de UTI não estão totalmente disponíveis, a covid-19 na gravidez pode ser letal", disse a publicação. 

Os riscos de complicações neonatais graves, incluindo permanência na UTI neonatal por sete dias ou mais, bem como o índice resumido de morbidade neonatal grave e seus componentes individuais, também foram substancialmente maiores no grupo de mulheres com diagnóstico de covid-19, diz o estudo. Os especialistas também fazem um apelo para que se monitore as gestantes e os bebês, principalmente em relação a efeitos a longo prazo. 

VACINAÇÃO DAS GESTANTES 

Com o avanço da vacinação contra a covid-19 pelo país, alguns estados começaram a vacinar, esta semana, grávidas e puérperas – mulheres até 45 dias depois do parto. Mas há quem esteja vacinando todas as mães nestas condições, e aqueles que estão dando prioridade apenas àquelas com comorbidades.

No início da campanha de vacinação, as grávidas e puérperas não eram consideradas como parte do grupo prioritário, embora sejam suscetíveis a desenvolver a forma mais grave do coronavírus. Isso porque os estudos feitos com as vacinas em aplicação não tinham incluído gestantes. Análises posteriores, porém, começaram a apontar a segurança e eficiência da vacinação para essas mães, e as gestantes e puérperas foram incluídas nas recomendações para receber a imunização.

O Plano Nacional de Imunização (PNI), do Ministério da Saúde, recomendou que gestantes ou puérperas pertencentes a um dos grupos prioritários (como profissionais de saúde, por exemplo), e com alguma comorbidade deveriam receber a vacina. Já gestantes sem comorbidades e que pertençam aos grupos prioritários devem ter seus casos analisados individualmente pelo médico que acompanha o pré-natal.

São consideradas comorbidades diabetes, doenças pulmonares crônicas graves; hipertensão, cardiopatias, doença cerebrovascular, doença renal crônica, imunossuprimidos (implantados, pessoas convivendo com o HIV e indivíduos com neoplasia hematológica, entre outros), anemia falciforme, obesidade mórbida e cirrose hepática. (A lista completa está na página 27 do PNI)

Na terça-feira (11), no entanto, em coletiva de imprensa, o Ministério da Saúde anunciou a interrupção de vacinação contra covid-19 em gestantes sem comorbidades no Brasil. A decisão foi tomada depois da notificação do óbito de uma gestante de 35 anos nesta segunda feira (10), dias após a aplicação da vacina AstraZeneca/Fiocruz. A gestante apresentou acidente vascular cerebral hemorrágico e o feto também veio a óbito. O caso ainda está sendo investigado pelo Ministério da Saúde para comprovar se houve relação com a vacina. De acordo com a pasta, gestantes com comorbidades devem continuar sendo imunizadas com as vacinas Coronavac e Pfizer.

SUSPENSAO DA ASTRAZENECA

Estados brasileiros anunciaram na manhã desta terça-feira (11) a suspensão da aplicação da vacina da AstraZeneca/Fiocruz contra a covid-19 em grávidas com comorbidades. São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul foram os primeiros a divulgar a mudança no calendário de imunização.

A decisão vem logo após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitir recomendação para a suspensão imediata do uso da vacina AstraZeneca em gestantes. A Nota Técnica foi divulgada nesta segunda-feira (10), após o monitoramento de reações adversas neste grupo de pessoas.

De acordo com a Anvisa, “o uso off label de vacinas, ou seja, em situações não previstas na bula, só deve ser feito mediante avaliação individual por um profissional de saúde que considere os riscos e benefícios da vacina para a paciente. A bula atual da vacina contra a covid-19 da AstraZeneca não recomenda o uso da vacina sem orientação médica”.

A indicação é de que apenas as vacinas Coronavac e Pfizer sejam aplicadas nas mulheres grávidas. “A orientação é resultado do monitoramento de eventos adversos feito de forma constante sobre as vacinas contra covid em uso no país", diz a nota da Anvisa. A Agência, no entanto, não divulgou nenhum efeito adverso em gestantes brasileiras.

A decisão foi baseada na recomendação do Comitê Conjunto de Vacinação e Imunização do Reino Unido (JCVI, em inglês) que indicou o uso da AstraZeneca apenas em pessoas com mais de 40 anos. A determinação se deu após o registro de 242 casos raros de trombose em pessoas que receberam o medicamento, com 48 mortes, não relacionadas diretamente à vacina. Por isso, o Comitê britânico reforça que os benefícios da vacina continuam maiores do que os riscos, considerados baixos pelas autoridades de Saúde.

Em São Paulo, a aplicação em puérperas – mulheres com filhos de até 45 dias – com comorbidades segue normal. Também começa hoje no Estado a vacinação de pessoas com deficiência, entre 55 e 59 anos (inscritos no Benefício de Prestação Continuada), metroviários e ferroviários.

"Doença tem risco maior que a vacina", dizem especialistas
Especialistas brasileiros lembram que a suspensão total da vacinação em gestantes pode trazer ainda mais riscos. “A decisão foi baseada em um único caso de trombose que não se sabe ainda se foi decorrente da vacina ou da própria gravidez. Esses eventos precisam ser monitorados e não concordamos com a suspensão da vacina", afirma a ginecologista e obstetra Melania Amorin, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) à CRESCER. "Mas se forem suspender que pelo menos garantam a vacinação das gestantes com a Pfizer e a Coronavac pois muito maiores que quaisquer eventuais riscos de vacinas são os riscos da covid-19 na gravidez", completou.

A médica lembra que a própria gestação é fator de risco para trombose e a incidência do problema é de 1-2 para 1.000 em gestantes/puérperas. “Se temos 3 milhões de gestantes a serem vacinadas no país, é previsível ter, no cenário mais conservador, ao longo do ano em torno de 3 mil casos de trombose relacionada com o ciclo gravídico-puerperal e que podem coincidir com a gravidez.”

A obstetra destaca que a trombose trombocitopênica induzida pela vacina tem um mecanismo imune e não está relacionada com os fatores de risco habituais para trombose, incluindo a gravidez. “Portanto, países onde a vacina está disponível, como o Reino Unido, não contraindicam a vacina em gestantes depois que elas recebem as informações necessárias.”

A pesquisadora ressalta que o que leva a mortes maternas não são as vacinas, mas a covid-19, que tem risco de 16,5% de trombose nas suas formas graves. “Estamos em um cenário de falta de vacinas que não foi culpa nossa e sim do governo, que, no ano passado, falhou em adquirir vacinas suficientes, porém, continuamos insistindo que gestantes são grupos prioritários", diz a médica.

Na opinião dela, a vacinação não pode parar. “Não podemos admitir retrocessos, sabemos que direitos tão duramente conquistados sempre podem ser colocados em cheque - principalmente os direitos das mulheres. Todos os esforços devem ser feitos para que as vacinas continuem chegando nos braços das gestantes", afirma.