• Nathália Armendro
Atualizado em

Juntas há 11 anos, Nicolle Zabatiero Cordaro, de 32 anos, e Mariana Battistini, 35, sempre sonharam em ser mães. As duas são enfermeiras e chegaram e adiar o sonho da maternidade por conta da pandemia. Mas após quatro anos de planejamento, o casal decidiu que era hora de encarar uma inseminação artificial.

A primeira tentativa, no final de 2020, infelizmente não teve sucesso. Mas depois de uma nova aposta, no início de 2021, veio o tão sonhado positivo: elas estavam grávidas! Já na quarta semana de gestação, o ultrassom apontou a presença de quatro sacos gestacionais e dois embriões, ou seja, elas teriam gêmeos, mas a maior probabilidade era de que os dois sacos gestacionais aparentemente sem embriões fossem reabsorvidos pelo organismo da Nicolle – que é quem gesta os bebês. Às cinco semanas de gestação, porém, um outro exame e a notícia: elas estavam grávidas de quadrigêmeos.

Mariana e Nicolle descobriram que esperavam quadrigêmeos às cinco semanas de gestação (Foto: Arquivo Pessoal)

Mariana e Nicolle descobriram que esperavam quadrigêmeos às cinco semanas de gestação (Foto: Arquivo Pessoal)

“A notícia dos gêmeos já nos pegou de surpresa, tínhamos 8% de probabilidade apenas. Mas uma semana depois, ver quatro corações batendo, na hora a gente não conseguia processar. Não sabíamos o que fazer. Saímos de lá sem respirar. Foi um choque. Claro que é uma bênção, mas tem um lado prático que nos preocupava – e ainda preocupa”, contaram as mães à CRESCER. 

Segundo o Dr. Mário Macoto Kondo, Chefe da Obstetrícia do Grupo Santa Joana, a probabilidade de ocorrer uma gestação de quadrigêmeos é rara, em torno de 1% dos tratamentos. E essa é uma gestação que exige cuidados especiais.

“Um pré-natal cuidadoso com consultas mensais, quinzenais ou semanais é muito importante para detectar e tratar a anemia, que é frequente. Assim como detectar e tratar a infecção urinária que é causa comum de parto prematuro, além das infecções vaginais”, explica o médico. Ele destaca ainda que a incidência de pré-eclâmpsia e do diabetes gestacional são mais frequentes em gestações múltiplas, por isso a necessidade de um acompanhamento de perto. Outro controle importante é a medida do comprimento do colo do útero, realizado pela ultrassonografia.

As mães já ultrapassaram a barreira da prematuridade extrema, e caminham rumo às 32 semanas de gestação (Foto: Arquivo Pessoal)

As mães já ultrapassaram a barreira da prematuridade extrema, e caminham rumo às 32 semanas de gestação (Foto: Arquivo Pessoal)

Do momento da descoberta em diante, a gravidez – considerada de alto risco pela chance elevada de prematuridade – foi acompanhada ainda mais de perto pela equipe médica. Nicolle foi afastada do trabalho já na oitava semana de gestação e segue acompanhamento com obstetra, nutricionista e medicina fetal. Na décima quarta semana de gestação, ela passou por um procedimento preventivo, a cerclagem uterina, no qual o colo uterino é costurado para evitar o nascimento precoce. Além disso, segue à risca a recomendação de fazer pouco esforço e muito repouso.

“Nosso primeiro medo foi a prematuridade. Somos enfermeiras, então temos uma visão bem racional dos riscos. No começo temíamos pelo desenvolvimento deles, agora tememos pelo tempo que eles podem precisar ficar na UTI, tempo de entubação, tempo sem contato físico com a gente... Mas seguimos, uma semana de cada vez. E falamos muito com eles. Como são corajosos, e como estamos todos juntos nessa”, diz, emocionada, Mariana.

Os cuidados com os bebês

Depois de vencerem a importante barreira dos prematuros considerados extremos, as mães caminham para as 32 semanas de gestação de Gregório, Beatriz, Luiza e Guilherme nesta sexta-feira (20). Mas até as 34 semanas, os bebês podem precisar de cuidados iniciais para suporte da respiração e evitar a queda da temperatura. “Esses cuidados consistem na administração de oxigênio por máscara, cateter nasal e, em casos mais graves, na intubação orotraqueal. É comum estes recém-nascidos serem encaminhados para a Unidade de Terapia Intensiva Neonatal”, explica o médico.

O parto está planejado para ser uma cesárea, depois que Nicolle entrar em trabalho de parto. Após as 32 semanas, a equipe médica estuda a internação, para um acompanhamento mais próximo da vitalidade das crianças. “Mas a meta é, pelo menos, passa de 34 semanas”, diz Nicolle.

Após o marco das 34 semanas, os riscos diminuem. “É quando o bebê pesa em torno de 2kg. A partir desse momento, a maturidade dos principais órgãos está mais próxima do ideal", explica Dr. Mário.

As mães já sabem que a Bia, uma das bebês, tem uma cardiopatia congênita, e pode precisar passar por uma cirurgia. "Na gestação múltipla ou única, o bebê que nasce com cardiopatia necessita de suporte clínico e de medicação com preparo para uma eventual cirurgia. Felizmente, são poucas as situações que requerem a cirurgia logo após o nascimento", destaca o médico.

Nomes dos bebês já foram escolhidos: Gregório, Luiza, Beatriz e Guilherme (Foto: Reprodução/Instagram/Jornada dos Sonhos)

Nomes dos bebês já foram escolhidos: Gregório, Luiza, Beatriz e Guilherme (Foto: Reprodução/Instagram/Jornada dos Sonhos)

Vida nova à vista

À espera das crianças, as mães já mudaram de casa, trocaram o carro para um em que coubessem as quatro cadeirinhas e Mari mudou até de emprego, para poder ajudar no repouso da Nicolle. 

“Tudo isso estava totalmente fora do nosso orçamento. Uma avalanche de gastos não esperada para este momento. Mas algumas coisas nós improvisamos. Optamos por duas camas no chão, em vez de quatro berços – pela praticidade e espaço – e contamos com o apoio da nossa família, que nos fortalece demais”, diz Mari.

O casal pretende abordar com naturalidade com os filhos o fato de eles terem duas mães. “A gente pretende que seja muito claro, muito leve. Eles não têm pai. É isso. Temos muitos exemplos na nossa família que saem do tradicional e está tudo bem. Alguns preconceitos ainda estão enraizados, mas estamos todos aprendendo muito com esse processo."

Saiba como assinar a Crescer para ter acesso a nossos conteúdos exclusivos