• Amanda Oliveira
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A técnica agropecuária Érica Braga da Silva Rodrigues, 29 anos, do Rio de Janeiro, sempre sonhou em ser mãe. No entanto, ela não imaginava que a maternidade iria bater em sua porta em dose dupla — e de uma forma rara! Ela engravidou já estando grávida, um fenômeno conhecido como superfetação [confira a explicação no fim da reportagem]. 

Casada há oito anos, Érica mora em Cabo Frio, e deu à luz Cecília e Helena em abril deste ano. Em entrevista exclusiva à CRESCER, ela conta que começou a tentar engravidar em 2018, no entanto, não teve sucesso. "Como mulher, sempre preocupada, fiz todos os exames solicitados pela minha médica, mas não deram nenhuma alteração comigo", lembra. Então, ela e o marido, Welton de Souza Rodrigues, decidiram ir até um urologista no início de 2021 e, após avaliar o caso, o especialista disse que ele tinha uma baixa contagem de espermas e com pouca qualidade. "Segundo os médicos, seria impossível engravidar de forma natural, estava muito abaixo do desejado", explica a jovem.

Mãe engravida estando grávida  (Foto: Arquivo Pessoal )

Mãe engravida estando grávida (Foto: Arquivo Pessoal )

"Foram dias bem difíceis, pois ficamos sem chão, mas Deus sempre nos dá a direção e, então, meu marido procurou ajuda com um especialista do Rio de Janeiro e nossas forças foram renovadas", contou. "O médico receitou algumas medicações e, após o período de tratamento, repetimos os exames e graças a Deus a contagem tinha melhorado consideravelmente. Então, segundo o médico, poderíamos engravidar de forma natural", acrescentou. 

O médico recomendou que o casal tentasse engravidar por seis meses. Porém, esse período de expectativa não foi fácil. "Foram passando os dias e nada acontecia. Meu esposo já estava ficando ansioso, porque o tempo estava se esgotando e teríamos que iniciar outros métodos, que não seriam naturais. Faltando um mês para acabar o prazo, descobrimos a gravidez". 

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Érica e o marido tiveram dificuldade para engravidar (Foto: Arquivo Pessoal)

Érica e o marido tiveram dificuldade para engravidar (Foto: Arquivo Pessoal)

Érica se lembra nitidamente do dia em que descobriu que estava grávida. "Eu estava viajando quando descobrimos. Logo, fiz a transvaginal e eu só tinha quatro semanas, bem no início. Voltando para Cabo Frio (RJ). Começamos o acompanhamento com o obstetra, que na primeira consulta ouviu o coração do bebê", diz ela. Uma nova consulta foi marcada para a semana seguinte. "Retornamos ao consultório e na hora de fazer novamente a transvaginal, foi identificado dois sacos gestacionais, e que havia uma diferença entre eles de uma semana. Ou seja, eu engravidei estando grávida, segundo meu médico isso é um caso raríssimo de acontecer", explica a mãe. 

Na ocasião, o casal ficou surpreso, mas bem feliz. "Levamos um susto bom. Foi mais emocionante do que descobrir a gravidez, meu esposo mal conseguia dirigir até em casa, de tão nervoso, foi uma surpresa maravilhosa para nossa família e amigos, uma novidade! Uma criança já traz muita alegria, imagina duas", declara Érica. A técnica agropecuária conta que leu uma matéria sobre um caso de superfetação nos Estados Unidos, dias antes de receber a notícia.  

Quanto à gravidez, Érica menciona que foi bem tranquila. A ideia era levar a gestação até as 38 semanas, no entanto, as pequenas resolveram vir antes, com 36 e 37 semanas. "Eu já estava com a barriga muito grande e pesada, já não dormia há dias. Quando foi na manhã do dia 6 de abril, tive muito sangramento. Fui correndo para a maternidade. Chegando lá eu já estava com dois centímetros de dilatação, pressão alta e sangrando com coágulos. Precisamos fazer a cirurgia rapidamente e liguei para meu médico. Foi o tempo dele vir correndo e fazer a cirurgia, 10:30 a Helena nasceu e 10:33 a Cecília. Foi tudo muito rápido", completa.

Agora que as meninas nasceram, a família está tentando se adaptar à nova rotina. "Tem dias que levo de boa, mas há dias que dá um cansaço grande. Eu tenho pessoas me ajudando diariamente, família e amigos, pois eu e meu esposo não damos conta das duas. Geralmente, elas acordam e dormem no mesmo horário, mas nem sempre é assim, desregula tudo [risos]. Há dias que passo praticamente a noite toda acordada, com alguns cochilos", conta Érica. "Principalmente quando trocam o horário da mamada", acrescenta. 

A técnica agropecuária relata que o primeiro mês foi o mais desafiador devido à recuperação da cesárea. Ela chegou a ter uma anemia profunda e precisou ser medicada, porém, agora a mãe já está bem. Hoje, as meninas já estão com três meses e estão se adaptando bem. "Hoje, não me vejo mãe de uma só, eu nasci para ser mãe de gêmeas. O maior presente que Deus poderia ter me dado. O privilégio de amar e cuidar de duas princesas", declara Érica.

Cecília e Helena  (Foto: Arquivo Pessoal )

Cecília e Helena (Foto: Arquivo Pessoal )

Superfetação

Apesar de muito rara, engravidar já estando grávida é uma possibilidade real. Ou seja, uma mulher pode, sim, experienciar uma gravidez em dose dupla a partir de duas concepções diferentes, separadas por até algumas semanas. A superfetação acontece quando uma mãe grávida continua a ovular e tem relações sexuais desprotegidas nesse intervalo. A segunda gravidez pode acontecer entre 1 e 4 semanas depois da primeira, mas, de qualquer forma, os bebês devem nascer ao mesmo tempo, assim como gêmeos.

Sérgio Podgaec, médico ginecologista e obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein (SP), ressalta que a condição é raríssima. “Sequer existe um número para superfetação, porque se trata mais de uma possibilidade do que uma realidade. Nunca vi um caso desses em consultório e nunca ouvi falar de colegas, mas ainda é uma possibilidade”, explica. O “diagnóstico” da superfetação seria feito ao se constatar no ultrassom uma clara diferença de tamanho entre os bebês — supostamente gêmeos — com um embrião de 2 semanas e outro de 6, por exemplo. “Por mais folclórico que pareça, pode acontecer, até de pais diferentes”, destaca Sérgio.

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