• Malu Echeverria
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Crescimento em xeque (Foto: Thinkstock Photo)

Crescimento em xeque (Foto: Thinkstock Photo)

Você já ouviu falar em RCIU? A sigla designa a restrição de crescimento intra-uterino, uma condição que atinge até 15% das gestações*. O termo é usado para classificar bebês que, por alguma razão, não atingiram o tamanho esperado para a idade gestacional em que se encontram. Mas o que estaria por trás do problema? Antes, é preciso compreender os métodos que avaliam o desenvolvimento fetal ao longo da gestação.

Antigamente, tal avaliação restringia-se à medida da altura uterina com uma fita métrica (do osso púbico até a parte superior do útero). Além disso, no fim da gestação, o médico apalpava o bebê para ter uma ideia do tamanho e do peso dele. “Com o advento da ultrassonografia obstétrica, entretanto, a análise se tornou mais confiável, pois se baseia em medidas objetivas”, explica o ginecologista e obstetra Jurandir Piassi, da Unifesp.
Atualmente, de acordo com o especialista, o cálculo do peso do bebê se baseia na medida do fêmur, da cabeça e do abdome fetal. Outras medidas mais modernas foram acrescentadas, como volume de membros (coxa e braço), que utilizam a tecnologia 3D. Ainda assim, a taxa de erro é de 10%.

O peso é calculado em percentil (ou seja, uma escala que varia de 0 a 100). Por exemplo: se o bebê tiver o percentil 40, isso significa que 60% dos bebês de mesma idade são maiores do que ele, enquanto 40% são menores. A variação do percentil considerado normal é ampla, vai de 10 a 90. “Bebês abaixo do percentil 10 são ditos pequenos para a idade gestacional (PIG, na sigla médica), enquanto os maiores de 90, grandes”, afirma Piassi.

Quando a criança está abaixo da curva, o obstetra deve investigar os motivos, com a ajuda de exames complementares. A preocupação tem razão de ser: a RCIU está relacionada a um risco maior de mortalidade perinatal, atraso no desenvolvimento cognitivo e doenças crônicas na vida adulta (hipertensão, problemas cardiovasculares e diabetes, por exemplo).
 

Causas mais frequentes


As causas são placentárias, maternas ou genéticas. A principal é o déficit da passagem de nutrientes e oxigênio através placenta, o que faz com que o bebê diminua o ritmo de crescimento ou até pare de crescer. Doenças como hipertensão arterial, trombofilia, pré-eclâmpsia, lúpus, cardiopatias e problemas circulatórios tendem a afetar o transporte de nutrientes. Tal qual o uso de álcool, drogas e cigarro durante a gestação. A desnutrição materna, mais comum nos países em desenvolvimento, também é um dos fatores que levam à RCIU. “Rubéola, hepatites, toxoplasmose, citomegalovírus e outras infecções também podem interferir no desenvolvimento do bebê”, alerta Roberto Cardoso, coordenador do setor de medicina fetal do Femme – Laboratório da Mulher (SP). Por último, síndromes e alterações cromossômicas também estão relacionados à doença.
 

Tem cura?


A resposta depende da causa. As infecções podem ser tratadas com medicamentos, ao passo que o obstetra pode recomendar que a gestante mude comportamentos prejudiciais ao bebê (cigarro, por exemplo). “Nos casos em que a RCIU está ligada à placenta, entretanto, é difícil reverter o quadro”, lamenta o obstetra Piassi. A saúde do bebê será, então, monitorada com a ajuda de exames como a cardiotocografia (frequência cardíaca), o perfil biofísico fetal (líquido amniótico, tônus, movimentos corporais e respiratórios do bebê) e a dopplervelocimetria das artérias umbilicais (medida do fluxo sanguíneo da placenta). Se houver suspeita de sofrimento fetal, o parto terá de ser adiantado.

O obstetra Cardoso destaca, ainda, dois fatores importantes: a data da última menstruação (DUM) e a influência genética. “Muitas vezes, a data lembrada pela gestante não reflete a real idade do bebê”, afirma. O que pode levar um bebê a ser classificado como PIG, quando ele é apenas mais jovem do que se imagina. Já um bebê cujos pais sejam magros e baixos, provavelmente, será constitucionalmente pequeno – desde que mantenha um ritmo de crescimento ao longo da gravidez, está tudo bem.

* De acordo com um revisão de estudos feita pela Escola Superior de Ciências da Saúde, de Brasília, em conjunto com a Faculdade de Medicina de Botucatu/Unesp.