• Raíssa Rivera, do home office
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Chloe Maddin e seu filho, Reggie (Foto: Reprodução/Kera Robson)

Chloe Maddin e seu filho, Reggie (Foto: Reprodução/Kera Robson)

Uma mãe abriu seu coração ao falar sobre a luta de seu recém-nascido pela vida e o impacto que o episódio gerou em seu psicológico. A britânica Chloe Maddin havia enfrentado problemas de saúde mental quando tinha cerca de 20 anos e conseguiu manter o controle durante quase uma década.

No entanto, ela soube, minutos após o parto de seu filho, Reggie, que a saúde do bebê não ia bem. A preocupação dela com a vida do bebê, em um ambiente hospitalar, em meio à pandemia, acabou fazendo com que ela desenvolvesse um quadro de estresse pós-traumático, uma condição que costuma ser associada a soldados que voltam da guerra.

Chloe, 30, já era mãe de duas crianças quando Reggie, seu terceiro filho, veio ao mundo. "Após dar à luz, fui informada de que Reggie estava muito doente. Minutos após nascer, foi levado à UTI neonatal do hospital Leicester Royal Infirmary. Seus pulmões pararam, tinha umidade dentro deles e uma válvula de seu coração não fechou corretamente", contou, em relato publicado pelo portal Derby Telegraph.

"Seu corpo não conseguia regular a pressão ou a temperatura do sangue, o que fez com que ele precisasse tomar relaxante muscular e fosse colocado em um respirador. Ainda hoje, não sabemos a causa", contou.

O estresse pós-traumático pode ser causado por uma experiência de violência ou de quase morte, gerando um trauma que, com o tempo, leva a pânico, flashbacks, pesadelos, insônia e isolamento social. No caso de Chloe, a luta de Reggie pela vida e as primeiras experiências do filho no hospital acabaram desencadeando a crise.

"Os profissionais da UTI o chamavam de bebê milagre, porque não esperavam que ele fosse sobreviver. Em muitos momentos, eu não sabia se Reggie ia vencer isso e presenciei alguns procedimentos perturbadores sendo feitos", relembrou.

A pandemia de coronavírus também foi um agravante para o desenvolvimento do estresse pós-traumático, já que a mãe não podia ter contato com a família ou amigos. "Também havia uma grande tensão por conta da crise de covid-19, restringindo visitas da família e, consequentemente, me separando por muitas vezes da minha rede de apoio."

PARTO E ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO

De acordo com uma pesquisa de 2017 da Edinburgh Napier University, uma em cada 20 mulheres desenvolve estresse pós-traumático após o parto, por exemplo. Entre as principais causas apontadas pelo estudo, estão o descaso e maus tratos de equipes médicas - a chamada violência obstétrica. A solução mais eficaz seria uma comunicação melhor entre os profissionais da saúde e as pacientes, assim como um suporte melhor.

Ser ajudada - e ajudar

Chloe vive em Ashby, na Inglaterra, e conseguiu apoio de um psicólogo, que iniciou um tipo de terapia chamada de "técnica de regressão". A técnica é considerada completa quando uma pessoa está em um estado profundo de relaxamento. O paciente é levado para uma visualização guiada de seu "espaço seguro".

Assim, ele pode ser capaz de "rebobinar" a si mesmo pelo seu trauma. "Por um período relativamente curto de tempo, isso me fez sentir como eu mesma novamente. Sem a ajuda e o apoio que eu poderia rapidamente acessar, temo que o trauma que eu experienciei continuaria me assombrando até hoje", disse Chloe.

Os problemas de Chloe a inspiraram a ajudar outras pessoas que enfrentam problemas psicológicos, criando um serviço chamado Colega Mental. Ela, que já tem seus próprios negócios como maquiadora e esteticista, disse que quer fazer com que mais pessoas tenham acesso mais rápido a cuidados com saúde mental.

Chloe Maddin cria o Mental Mate (Colega Mental em tradução literal) para oferecer apoio psicológico gratuito (Foto: Reprodução/Crowdfunding)

Chloe Maddin cria o Mental Mate (Colega Mental em tradução literal) para oferecer apoio psicológico gratuito (Foto: Reprodução/Crowdfunding)

"Eu queria falar com terapeutas e sempre demorava muito para conseguir qualquer ajuda, especialmente agora, por causa da covid. É maravilhoso quão rápido você pode se sentir melhor depois de falar com alguém, mas nem todo mundo tem acesso ou oportunidade para isso", conta. 

Ela ainda relembrou que enfrentou problemas de saúde mental anos antes. "Quando eu tinha 20 e poucos anos, eu fiquei mal e minha mãe era um grande apoio; eu pedia ajuda a ela quando precisava", disse. Chloe enfrentou dificuldades para se comunicar até mesmo com a secretária de seus médicos.

"Até que as pessoas consigam a ajuda de que precisam, elas podem acabar viciadas em drogas ou álcool, ou, no pior cenário possível, algumas acabam até mesmo se suicidando. Eu adoraria poder pagar para todas as pessoas terem a ajuda que precisam, mas não posso, então tive a ideia do Colega Mental, pelo qual pessoas conversar com um especialista de graça e a terapia é paga por meio de doações", explica.

"Eu sei que existem muitas pessoas como eu por aí, que vão querer fazer algo para ajudar, então, dei uma chance", declarou. Chloe conseguiu a ajuda de dois psicólogos, incluindo a pessoa que a ajudou a melhorar após o parto de Reggie. Ela criou uma página de doações online para cobrir os custos, para que pessoas que querem encontrar ajuda possam fazê-lo de forma rápida.

"Se o pior acontecesse e ninguém precisasse dessa ajuda, usaríamos o dinheiro para doar a uma instituição de saúde mental. Um dos terapeutas é especializado em crianças, então podemos ajudar pessoas de várias idades", disse.

Ela ainda explicou como funciona o processo para conseguir a ajuda gratuita por meio do serviço que criou. "Eu peço permissão à pessoa para compartilhar seu endereço de e-mail com o terapeuta que fará contato inicial com ela e marcar um horário de triagem. Então o terapeuta mandará mensagem pela página do Colega Mental. A resposta tem sido boa até agora, mas nós precisamos continuar recebendo doações. É surpreendente quantas pessoas se acomodaram em seus próprios problemas. Espero que as mais privilegiadas possam ajudar e doar para ajudar aqueles que estão em uma posição que é praticamente o oposto", disse.

Chloe Maddin e seu filho, Reggie (Foto: Reprodução/Kera Robson)

Chloe Maddin e seu filho, Reggie (Foto: Reprodução/Kera Robson)