Saúde
Todos os dias, 8 crianças morrem e 288 são hospitalizadas por causas acidentais no Brasil
"A maioria dos acidentes poderia ser evitada com medidas de proteção e maior prevenção”, alerta Erika Tonelli, coordenadora geral do Instituto Bem Cuidar. Durante a pandemia, apesar do número de hospitalizações ter diminuído, casos de intoxicação, afogamento e sufocação cresceram
4 min de leituraAcidentes são a principal causa de morte de crianças de 1 a 14 anos de idade no Brasil. Uma análise dos dados mais recentes do Datasus/ONG Criança Segura indica que em 2019, 3.165 meninos e meninas morreram e, em 2020, outras 105 mil crianças foram hospitalizadas por causas acidentais. A boa notícia é que em comparação aos anos anteriores, houve redução de 4,6% nos óbitos e 7% nas internações.
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“A queda nos números de acidentes é algo importante, mas todos os dias, 8 crianças morrem e outras 288 são hospitalizadas por causas acidentais no Brasil. É um grande impacto na vida de tantas famílias, levando-se em conta, principalmente, que a maioria dos acidentes poderia ser evitada com medidas de proteção e maior prevenção”, destaca Erika Tonelli, coordenadora geral do Instituto Bem Cuidar, braço de conhecimento da Aldeias Infantis SOS Brasil e responsável pela continuidade do legado da ONG Criança Segura.
Acidentes na pandemia
Em 2020, 105.060 crianças de até 14 anos foram hospitalizadas em decorrência de acidentes, sendo que as maiores vítimas foram crianças de 5 a 9 anos (35,6%), seguidas dos de 10 a 14 anos (32,8%), 1 a 4 anos (26,6%) e menores de 1 ano (5%). Entre as principais causas de internação estão quedas (44%), queimaduras (19%) e trânsito (10%) – felizmente, todas apresentaram diminuição quando comparadas a 2019. No entanto, casos de intoxicação, afogamento e sufocação cresceram 8%, 7% e 6%, respectivamente. "Isso indica que precisamos intensificar as campanhas para que as famílias e profissionais estejam melhor preparados para proteção das crianças no que se refere ao ambiente doméstico, mas também ao entorno da sua comunidade", alertou a coordenadora.
"Ações simples, como dificultar o acesso aos produtos de limpeza e remédios, por exemplo; estar atento para o fato de os brinquedos ofertados terem selos do InMetro e estarem de acordo com a faixa etária indicada, e aos alimentos oferecidos, já contribuem para prevenir a sufocação. No caso de afogamento, nunca deixar vasos sanitários sem travas de segurança, bacias com água ao alcance dos pequenos. A supervisão das crianças ao brincar com água é fundamental. São alguns exemplos de cuidados para deixar as crianças em espaços mais protetores e seguros", recomendou.
“O alerta dado por organizações que trabalham pela segurança e proteção das crianças no Brasil pode ter contribuído para a adoção de medidas de prevenção por pais e responsáveis. Por outro lado, também não descartamos que os acidentes em ambientes externos tenham diminuído com o isolamento social, como no caso da queda, que reduziu 12%, ou que a ida ao hospital em casos mais leves tenha sido evitada pelo medo de contaminação pela covid-19”, avalia Erika. Ela reforça que os números positivos não devem ser justificativa para diminuir a atenção com as crianças, principalmente em relação aos acidentes que registraram alta; e, pelo contrário, a proteção e a prevenção devem ser prioridades.
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Mortes de crianças por acidentes
Em 2019, 3.165 crianças de até 14 anos de idade perderam a vida devido aos acidentes. O trânsito continua sendo a principal causa acidental de morte, representando 29% do total, seguido por afogamento (26%) e sufocação (25%). Comparando com 2018, o número de óbitos por acidentes recuou 4,6%, sendo que as maiores reduções registradas foram nos casos de intoxicação (-32,2%), armas de fogo (-15,8%), queimadura (-10,5%) e trânsito (-9,2%). Os dois tipos de acidentes que aumentaram no período foram queda (+1,9%), depois de uma redução de 15,5% entre 2017 e 2018, e sufocação (+1,3%), pelo segundo ano consecutivo (+1,8% em 2018). Em relação à faixa etária, o período da Primeira Infância (do 0 aos 4 anos) concentra a maior taxa de mortalidade por acidentes (54%).
Mais dicas de prevenção
Confira, abaixo, outras dicas de como evitar acidentes:
- Ao cozinhar, vire os cabos das panelas para o lado de dentro do fogão.
- Objetos cortantes, de vidro, fósforos e isqueiros devem ficar em gavetas e armários com travas.
- Mantenha sempre produtos de limpeza em suas embalagens originais e fora do alcance de crianças.
- Nunca deixe a criança na cozinha ou no banheiro sem a supervisão de um adulto.
- Não compre álcool líquido 70%, utilize o álcool em gel somente quando não houver água e sabão por perto e guarde-o em local seguro.
- Informe-se sobre plaanta tóxicas e evite-as dentro de casa.
- Mantenha a tampa do vaso sanitário fechada e, se possível com trava.
- Guarde medicamentos e cosméticos em armários altos. Se os armários foram baixos, tranque-os.
- Retire aparelhos elétricos da tomada após o uso.
- Prefira móveis de cantos arredondados. Em casos de móveis com quinas, cubra-os com protetores de silicone.
- Tenha cuidado ao optar por beliches. Eles devem ter grades.
- Prenda os cobertores e lençóis nos “pés” da cama.
- Posicione sofás ou cadeiras longe das janelas.
- Coloque portões ou grades no primeiro e no último degrau das escadas.
- Cerque a piscina e mantenha o portão sempre fechado. Também é válido cobrir com lona e adquirir um alarme.
- Não deixe baldes e bacias com água no chão.
- Proteja as tomadas elétricas que estão fora de uso.
- Janelas e sacadas receber redes ou grades de proteção.