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“Não estou com medo”, disse Nadia Chaudhri, tranquilizando seus seguidores nas redes sociais, recentemente. “Estou cercada de amor e pronta para a dor acabar”, completou. A professora de psicologia de 44 anos da Concordia University em Montreal, Quebec, no Canadá, está recebendo cuidados paliativos em um centro médico local depois de ser diagnosticada com câncer de ovário em junho de 2020. Inicialmente, os médicos confundiram seus sintomas com uma infecção do trato urinário, contou ela.

No entanto, o câncer se espalhou e ela não vai mais voltar para casa. Nos últimos dias, inclusive, ela tem falado abertamento sobre o assunto em suas redes sociais. Nadia tem narrado sua experiência, incluindo o dia em que contou ao filho de apenas 6 anos que iria "partir". A neurocientista tem sido prática sobre suas realidades: ela não pode mais sair da cama sem ajuda e precisa de morfina a cada quatro horas.

Ela disse que tem compartilhado “abraços preciosos” com seu filho, que começou a primeira série no mês passado, tem recebido a família, amigos e colegas no hospital e tem ocupado seu tempo pintando. Um de seus desenhos mostra seu “Sol e Lua”, que representa seu filho e marido, colocando suas cinzas na base de uma árvore de cereja — uma forma de ajudar seu filho a visualizar seus desejos, disse ela.

Nadia, em uma foto tirada pelo filho de 6 anos (Foto: Reprodução/Today)

Nadia, em uma foto tirada pelo filho de 6 anos (Foto: Reprodução/Today)

O diagnóstico

Segundo o Today, Nadia disse que queria compartilhar sua história, que levou ao seu diagnóstico terminal, na esperança de aumentar a conscientização sobre o câncer de ovário. Através de seus posts, ela contou que os primeiros sintomas começaram em janeiro de 2020, com fadiga, dor abdominal vaga, dor lombar intensa e um leve aumento na frequência de urinar. Depois de ser tratada com antibióticos, foi submetida a uma ultrassonografia pélvica, que mostrou a possibilidade de um cisto ovariano rompido. Quando seus sintomas voltaram, em fevereiro, seu médico prescreveu um novo tratamento com antibióticos.

Em março, o abdômen de Nadia estava inchado e ela sentia dores moderadas, mas não pôde ver seu médico por causa da pandemia de coronavírus. Ela disse que se sentiu “incrivelmente cansada”, mas achou que era estresse por conta do momento. Em abril, ela passou por um terceiro tratamento de antibióticos e, em maio, uma segunda ultrassonografia pélvica mostrou que seus ovários estavam aumentados. O radiologista, então, sugeriu que fosse endometriose, mas quando Nadia compartilhou seus exames com um tio, que é ginecologista, ele a aconselhou a fazer um exame de sangue para verificar se havia marcadores de câncer. Um dos testes, veio muito alterado. Então, ela foi submetida a uma laparotomia, uma operação cirúrgica geral que busca lesões ou doenças. “Na verdade, eu estava com câncer”, disse. Os cirurgiões removeram o tumor visível durante o procedimento, que aconteceu em junho de 2020, seis meses depois que ela começou a sentir os sintomas.

Nadia iniciou com a quimioterapia, que funcionou no início, mas, em dezembro, seus marcadores de câncer começaram a subir novamente, indicando que sua doença superou o tratamento. Foi, então, que ela recebeu o diagnóstico oficial de "câncer de ovário epitelial sérico de alto grau, resistente à platina", escreveu ela. Isso levou a várias obstruções intestinais, com a última a impedindo de digerir normalmente. Por causa disso, ela passou a tomar fluidos intravenosos.

Vigilância aos sintomas

Agora, Nadia incentiva outras mulheres a conhecerem seus corpos. “Preste atenção à fadiga e às mudanças nos movimentos do intestino/trato urinário. Certifique-se de entender todas as palavras em um relatório médico. Não despreze sua dor ou mal-estar. Encontre médicos especialistas”, orientou.

Setembro é o mês da conscientização sobre o câncer de ovário. Apenas cerca de 20% dos cânceres de ovário são descobertos precocemente, de acordo com a American Cancer Society, principalmente porque os sintomas podem ser vagos. Jason Wright, chefe de oncologia ginecológica da Universidade de Columbia em Nova York, disse que os sinais de alerta incluem queixas gastrointestinais, náusea, vômito, inchaço e sintomas geniturinários, como ardor ao urinar, alterações na frequência de micção e dor pélvica. “Muitas vezes, as mulheres não vão ao médico quando têm esses tipos de sintomas por um período prolongado de tempo e, portanto, na maioria das mulheres com câncer de ovário, o câncer já se espalhou para fora do ovário no momento do diagnóstico", disse o especialista.

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Segundo o médico, esse tipo de câncer normalmente se espalha dentro da cavidade abdominal, com nódulos crescendo nos intestinos. Eles geralmente se espalham para o revestimento do abdômen e produzem "líquido" dentro da barriga. Não há exames de rotina para câncer de ovário e nenhum teste de detecção precoce. O teste CA-125, que Nadia fez, não é solicitado durante os exames de rotina para mulheres, pois é muito inespecífico. “Qualquer tipo de inflamação, qualquer tipo de infecção, miomas, endometriose, todas essas coisas podem causar uma elevação nos níveis de CA-125”, observou ele. No entanto, exames pélvicos regulares podem ajudar na detecção. Outra ferramenta para localizar tumores é um ultrassom transvaginal. 

Estima-se que mais de 21 mil mulheres receberão um novo diagnóstico de câncer de ovário este ano e quase 14 mil morrerão disso. É o quinto câncer mais mortal entre as mulheres, de acordo com a American Cancer Society. Como os sintomas são “muito vagos”, as mulheres precisam ser suas próprias defensoras, aconselhou Nadia. Se os sintomas persistirem, piorarem ou não melhorarem com outros tratamentos, elas devem levantar a possibilidade de câncer de ovário com seu médico, alertou.