• Juliana Malacarne
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Receber um diagnóstico de câncer de mama nunca é fácil e pode ser especialmente desafiador durante a gravidez e o pós-parto. Neste mês em que ocorre o Outubro Rosa, movimento internacional de conscientização sobre a doença, conversamos com o presidente da Comissão Nacional Especializada em Mastologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Felipe Zerwes, e a presidente da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), Maira Caleffi, sobre as principais dúvidas que existem em relação ao câncer de mama nesse período.

câncer de mama; câncer (Foto: Shutterstock)

A prevenção antes de uma possível gravidez é essencial (Foto: Shutterstock)

Os mastologistas esclareceram questões que vão desde a prevenção do câncer de mama até a gravidez e o puerpério depois do diagnóstico, passando pelos tratamentos indicados para cada período e as restrições que podem ser necessárias durante a amamentação. Confira:

1. Antes de engravidar é preciso fazer check-up dos seios?
Se a mulher tiver menos do que 40 anos e não apresentar outros fatores de risco para câncer de mama não é necessário realizar nenhum exame de imagem específico. Um exame físico realizado pelo ginecologista/obstetra geralmente é suficiente. Já para as mulheres acima de 40 anos ou que têm histórico familiar da doença é recomendada a realização da mamografia antes da gestação, além do exame físico.

2. Na gravidez e na amamentação, como diferenciar um possível nódulo de um inchaço natural das mamas?
Não é fácil realizar um diagnóstico de lesão nas mamas durante a gestação e no puerpério devido às modificações naturais que ocorrem nesse período. Qualquer área considerada mais endurecida ou assimétrica (presente em uma mama, mas não na outra) deve ser avaliada pelo médico. O obstetra vai determinar se é necessário realizar ultrassonografia ou ecografia das mamas de acordo com o caso.

3. É possível fazer mamografia durante a gravidez?
O mais indicado é que as mulheres façam os exames de rotina antes da gestação, mas é possível, sim, realizar a mamografia durante a gravidez, apesar de não ser comum. Geralmente, utiliza-se a ultrassonografia mamária na investigação inicial de qualquer problema durante a gestação, mas em casos de dúvidas ou suspeitas de câncer, a mamografia deve ser realizada. Ela é um exame de baixa radiação focado apenas nas mamas e coloca-se um avental de chumbo protegendo a barriga/pelve da mulher. A indicação durante a gestação restringe-se a casos em que há necessidade de investigação de lesões suspeitas.

4. O câncer de mama sempre causa um nódulo que é possível identificar em um exame de toque?
Nem sempre, por isso é importante reconhecer os outros sinais da doença: alterações na pele, como abaulamentos ou depressões e secreção sanguinolenta ou cristalina espontânea pelo mamilo. Já as alterações simétricas, que ocorrem em ambas as mamas, na maioria das vezes são benignas, mas devem ser relatadas ao médico de qualquer forma. Além disso, resultados de mamografia que indicam a presença de microcalcificações também precisam ser investigados, pois podem ser indícios de câncer ou alterações benignas.

A forma como o bebê abocanha a mama é muito importante  (Foto: Thinkstock)

A amamentação pode ser suspensa em casos de tratamento contra o câncer (Foto: Thinkstock)

5. O câncer de mama gestacional é comum? Como é o tratamento nesses casos?
Não, o câncer de mama gestacional é incomum e corresponde a cerca de 3% de todos os cânceres de mama diagnosticados. Os tratamentos devem ser personalizados, respeitando a fase gestacional e a saúde da mãe e do feto. Por exemplo, no primeiro trimestre é proibida a utilização de quimioterápicos. Já as terapias anti-her2 (medicações utilizadas para determinado tipo de câncer de mama) são contraindicadas em qualquer fase gestacional, assim como a radioterapia. As cirurgias, por sua vez, podem ser realizadas em qualquer período.

6. No caso de câncer de mama em mulheres jovens, como preservar a fertilidade?
Alguns tratamentos utilizados para o câncer de mama podem prejudicar a fertilidade futura da mulher. Atualmente, o congelamento de óvulos é uma das opções mais bem estabelecidas e bem-sucedidas para preservação da fertilidade. Esse procedimento pode ser realizado em qualquer idade reprodutiva, porém cabe lembrar que as chances de sucesso diminuem conforme a idade vai aumentando. Isso porque mulheres de 38-40 anos têm diminuição na qualidade dos óvulos, interferindo nas chances de uma gravidez futura. Outra alternativa para preservar a fertilidade, dependendo do caso, é utilizar uma medicação para tentar proteger os ovários durante a fase da quimioterapia.

7. Depois de um câncer de mama, quanto tempo a mulher deve esperar para tentar uma gravidez? Os tratamentos de reprodução são permitidos?
Não há consenso sobre qual o tempo mínimo recomendado. Os casos devem ser individualizados conforme idade da paciente e tamanho, tipo e agressividade do tumor, mas de maneira geral, recomenda-se aguardar pelo menos dois anos após o diagnóstico. Alguns médicos, porém, sugerem aguardar um mínimo de cinco anos. Já o uso de tratamentos com estimulação de hormônios deve ser evitado após o tratamento de câncer de mama.

8. A mulher que já teve um câncer de mama e fez o tratamento tem mais risco de sofrer um aborto espontâneo?
Não. Os estudos demonstraram que as taxas de aborto espontâneo são semelhantes entre mulheres que passaram por tratamentos contra o câncer de mama e aquelas que não tiveram a doença.

9. Quem descobre um câncer de mama após o parto pode continuar amamentando?
Geralmente, suspende-se a amamentação no momento do diagnóstico de um câncer de mama, pois algumas medicações de quimioterapia ou hormonioterapia podem não ser seguras para o bebê e a amamentação dificulta a avaliação da doença pelos exames de imagem.

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