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Uma revisão de estudos, publicada na última quarta-feira (16) no British Medical Journal (BMJ), analisou que apenas 1,8% dos bebês nascidos de mães que testaram positivo para a covid-19 também foram infectados. Com base nesse resultado, o documento destaca o baixo risco de transmissão do vírus entre mãe e filho.

Mulher grávida com as mãos na barriga (Foto: Daniel Reche/ Pexels)

Mulher grávida com as mãos na barriga (Foto: Daniel Reche/ Pexels)

Pesquisadores da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, revisaram dados de 472 estudos globais, que continham informações sobre 14.271 bebês nascidos de mães com covid-19. O objetivo era avaliar as taxas de positividade entre bebês nascidos de mães com o vírus, o provável momento da transmissão de mãe para filho e se fatores associados ao trabalho de parto ou à amamentação aumentariam o risco de o bebê também contrair o vírus.

No geral, 1,8% dos 14.271 bebês também tiveram resultado positivo para covid-19. Desses, apenas 14 confirmaram a transmissão de mãe para filho: sete no útero, dois durante o parto e cinco durante o período pós-natal. As evidências sugerem, no entanto, que os bebês de mães que contraíram formas mais graves da doença podem ter maior probabilidade de também serem infectados.

Ainda segundo o documento, estudos anteriores detectaram a presença do vírus da covid-19 na placenta, líquido amniótico, fluidos vaginais e leite materno de mães infectadas. Apesar disso, os resultados mostram que o risco de transmissão entre mãe e filho é “extremamente baixo”. “As evidências atuais não apoiam cesarianas, separação mãe-bebê no nascimento ou alimentação com fórmula como intervenções para evitar a transmissão do SARS-CoV-2 aos bebês”, diz o documento.

Outro fator importante é a localização: enquanto na América no Norte o risco transmissão mãe-bebê é de apenas 0,1%, em países da América Latina e Caribe essa taxa é de 5,7%. Os pesquisadores, no entanto, admitem que o estudo tem algumas limitações, como a diferença de precisão entre os diversos tipos de testes usados nos estudos.

“As taxas gerais de positividade para SARS-CoV-2 em bebês nascidos de mães com infecção por SARS-CoV-2 são baixas. Foram encontradas evidências de transmissão vertical confirmada do vírus, embora os números absolutos sejam baixos. A covid-19 materna grave pode estar associada à positividade para SARS-CoV-2 em bebês, mas não ao parto vaginal, amamentação ou contato mãe-bebê após o nascimento”, concluiu o documento.

Para Catherine McLean Pirkle, professora associada da Universidade do Havaí, os achados dessa análise são tranquilizadores. “Combinados, os resultados sugerem que quando medidas preventivas adequadas são tomadas durante o período intraparto e pós-parto precoce, como o uso consistente e apropriado de equipamentos de proteção individual, a infecção de recém-nascidos é improvável", avaliou.

Palavra de especialista

"Esse é um dado que a gente já imaginava. Vimos muitas grávidas infectadas e poucos recém-nascido infectados. Essa desproporção tem mais a ver, eu acredito, com a idade com que as crianças manifestam sintomas. Mesmo no contato mais íntimo, essa transmissão ser reduzida é um ótimo sinal, os números são pequenos demais, o que chama a atenção. Mas a gente nunca consegue reconhecer quem será essa criança que pegará uma infecção grave, com hospitalização e complicações. É bom lembrar que a letalidade da doença no primeiro ano de vida, entre a pediatria, é maior", destaca o pediatra e infectologista Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim), sobre os resultados.

Ouvido pela CRESCER, Kfouri explica, ainda, a importância dos protocolos de segurança para a proteção dos bebês. "Hoje, temos protocolos e cuidados muito bem definidos para as mães que se infectam com a covid-19. Embora não se possa ter controle sobre a transmissão vertical (ou seja, dentro do útero), dentro das maternidades, a transmissão perinatal (na hora no parto e no pós-parto), há medidas de controle que têm sido muito assistidas, especialmente nos países onde o estudo foi feito, como o isolamento e uso de máscara."

Como lembra Kfouri, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) foi uma das primeiras a preconizar o aleitamento materno de mães positivas, entendendo que o benefício era maior do que o eventual risco. Mas a amamentação e a proximidade deve ocorrer com cuidados, segundo o especialista, como máscara e lavagem de mãos. "Vale lembrar, ainda, que o período de transmissão é curto, entre 7 a 10 dias", ressalta.

O especialista ressalta também que as crianças podem desenvolver formas assintomáticas, por isso os dados precisam ser olhados com cautela. "Existem limitações. É uma avaliação feita em um cenário de muita precaução, e com pouca testagem das crianças", completa.

Vacinação de gestantes

Sobre a vacinação das gestantes, os dados mostram que a passagem transplacentária de anticorpos protege a criança. Se a mãe for vacinada no terceiro mês, a redução é de até 80% no risco de hospitalização desses bebês menores de 6 meses. "A despeito desse risco menor, a vacinação da grávida e a amamentação, enquanto nós não dispusermos de vacinas para as crianças, continuam sendo ferramentas extremamente importantes para a prevenção da doença nesse período da vida", conclui o médico.

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