• Daniele Zebini
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Às vezes, o bebê parece mais manhoso. Ou apresenta uma febrinha. Ou então, simplesmente, amanhece um pouco desanimado. Afinal, o que tudo isso quer dizer? Preciso me preocupar? Vamos por partes! “Dificilmente fazemos um diagnóstico baseado em apenas um sintoma. Uma febre, isoladamente, pode ser indicativa de várias coisas, assim como o choro fácil ou o cansaço. Então, é preciso avaliar o conjunto de sintomas para chegar ao diagnóstico”, explica o pediatra Eduardo Gubert, do Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba (PR).

Apesar de não serem determinantes quando em separado, alguns sintomas são um sinal de alerta para os pais. A seguir, elencamos sete deles, para que você acenda a luz amarela, e, se necessário, busque atendimento médico. Confira:

337 Atencao aos sinais (Foto: Getty Images)

 (Foto: Getty Images)

Febre

É sempre motivo de atenção. O estudo Fever in Children: Pearls and Pitfalls, realizado por acadêmicos do Institute for Maternal and Child Health IRCCS; Università degli Studi della Campania “Luigi Vanvitelli”; Universidade de Trieste, todos na Itália; e Harvard Medical School, nos Estados Unidos, mostrou que a febre continua sendo uma das principais causas de investigação laboratorial e internações hospitalares, responsável por 15 a 25% dos atendimentos nos serviços de atenção primária e de emergência. Além disso, os antipiréticos (contra febre) são os medicamentos mais comuns administrados às crianças. De acordo com os autores, embora a maioria dos pequenos febris tenha doenças virais leves e que se resolvem sozinhas, uma minoria pode estar com alguma infecção de maior risco.

“Em bebês de até 3 meses, é bom sempre procurar atendimento médico diante do primeiro pico febril – a partir de 37,8 °C. Isso porque, nessa faixa etária, o sistema imunológico ainda está se constituindo, o esquema vacinal, incompleto, e a criança corre mais risco de infecções generalizadas”, alerta a pediatra Aline Gomes, supervisora da Unidade de Internação Pediátrica do Hospital Jutta Batista, da Rede D’Or, no Rio de Janeiro (RJ). Ela explica que, após essa idade, na maioria das vezes, a causa da febre é uma infecção viral, aquelas doenças comuns da infância, que fazem parte do desenvolvimento imunológico, como as enteroviroses (que podem cursar com vômitos e diarreia e até  “manchinhas” no corpo) e viroses respiratórias.

“A febre é uma resposta normal do corpo a qualquer agente externo que esteja provocando algum tipo de infecção ou inflamação. É como se fossem os soldados da infantaria do nosso organismo: eles não sabem o que têm de atacar e o corpo manda essa resposta de defesa antes de enviar as respostas específicas”, afirma Gubert. Por isso, em crianças acima de 3 meses, deve-se aguardar de 24 a 48 horas para se fechar um diagnóstico, já que outros sintomas costumam surgir após esse período.

Neste intervalo de tempo, o bebê deve seguir em observação e, se a temperatura for igual ou maior de 37,8 °C, usar antitérmico, sempre sob orientação médica.

Choro constante ou irritabilidade

Aqui estão dois sintomas bem subjetivos, porque podem representar infinitas possibilidades, desde uma mudança na rotina até um problema de saúde. É fundamental a gente lembrar que o choro é a comunicação do bebê — ele não fala! Então, qualquer que seja o motivo do incômodo, ele irá chorar. Por isso, a primeira dica é verificar se o seu filho está limpo e alimentado, se está com frio ou calor.

“Devemos tirar as roupas e a fralda, atentando para alguma alteração física, como aumento de volume na região inguinal (abaixo do abdômen, porque pode ser uma hérnia no local), assaduras e lesões na pele”, diz a pediatra Aline. Se os pais verificarem algum desses sinais, devem consultar o pediatra para saber como proceder. Também é importante perceber se houve alguma alteração na rotina da criança, porque isso também causa irritabilidade.

Se o choro estiver difícil de consolar e o bebê, tão nervoso a ponto de não aceitar a alimentação, é preciso ficar atento, já que é possível ser uma manifestação de dor que necessita avaliação pediátrica.

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Baba em excesso ou vômito

Antes de tudo, saiba que bebês simplesmente... babam! Em especial, entre 3 e 6 meses, quando começam a produzir saliva e ainda não sabem deglutir. Porém, a partir dos 6 meses, vale observar a causa da baba: pode ser o nascimento dos dentes, por exemplo, ou algo que mereça mais atenção. “Excesso de baba pode significar dificuldade para deglutir, seja por dor (estomatites, amidalites), alterações mecânicas (malformações) ou funcionais do trato digestivo (causas neurológicas, por exemplo)”, afirma Aline Gomes. 

Quanto aos vômitos, é fundamental diferenciá-los do regurgito. “No começo de vida, algumas crianças regurgitam mais, especialmente a partir de 2 meses, quando a amamentação fica mais efetiva, ou seja, a criança mama mais e se movimenta mais. Por volta dos 3 meses, o bebê descobre as mãos, coloca-as na boca e pode levar o dedo mais profundamente a ponto de causar um reflexo de ânsia de vômito e fazê-lo regurgitar com maior frequência”, explica Eduardo Gubert. No entanto, se houver dificuldade para aceitar a alimentação ou ocorrerem vômitos que não são regurgitação, a criança deve ser avaliada pelo pediatra.

Alterações nas fezes

Elas dizem respeito a mudanças na frequência habitual da evacuação e o seu aspecto, como consistência e coloração. “Tudo que estiver entre três tons de cores: amarelo, verde e marrom está dentro do normal”, afirma Gubert. Fezes esbranquiçadas sempre devem ser investigadas, pois podem significar desde infecções virais, como hepatites, até patologias que necessitem de tratamento cirúrgico, como malformações de vias biliares.

Sangue no cocô também é sinal de alerta, algo que a empreendedora na área de marketing digital Jeane Almeida do Nascimento, 38, captou rapidamente em seu filho. Quando Benício, hoje com 4 anos, estava com 5 meses, ela notou sangue e muco nas suas fezes. “Corri para o pronto-socorro na hora, e ainda levei a fralda suja”, lembra Jeane. Lá, foi encaminhada pela pediatra para uma consulta com o gastropediatra, que chegou ao diagnóstico de APLV (Alergia à Proteína do Leite de Vaca).

Mas essa não é a única causa de sangue nas fezes. “Esse sinal é motivo de consulta de urgência, pois pode significar, ainda, gastroenterite por bactérias invasivas, sendo necessário tratamento com antibiótico”, alerta a pediatra Aline.

Outro problema que merece atenção são as diarreias. Elas podem ser manifestações de viroses, que não são graves, mas oferecem risco de desidratação, especialmente nos casos com vômitos associados e/ou recusa de aceitação de líquidos pela criança. Dependendo do grau, é necessária internação para suporte com hidratação venosa.

Já o oposto, que é a constipação, requer cuidados também. As características são fezes endurecidas, evacuações dolorosas, em cíbalos (bolinhas). Se não for  tratada, a constipação leva a fortes dores abdominais, inclusive com necessidade de encaminhamento ao hospital para ajudar o pequeno a eliminar as fezes.

Erupções na pele

É muito comum que alguns pais ou cuidadores exagerem na quantidade de roupas que colocam nos bebês, seja no inverno ou no verão. Isso acontece porque os menores de 3 meses não controlam muito bem a temperatura periférica corporal. Então, mãos, pés e nariz ficam mais gelados do que o centro do corpo — o que leva os adultos a pensarem que o bebê está com frio.

Esse excesso de roupa faz a criança suar mais, provocando o surgimento de manchas vermelhas, as chamadas brotoejas. Elas são inofensivas e tendem a desaparecer sozinhas, uma vez que o agente causador, ou seja, o calor em excesso, é eliminado.

Porém, excluída essa possibilidade, as erupções na pele podem fazer parte de algum quadro das inúmeras viroses comuns da infância, sem significar gravidade. No entanto, se as manchinhas vierem acompanhadas de febre nas primeiras 24 horas, é preciso consultar o pediatra para descartar possíveis infecções bacterianas mais graves, como a meningite meningocócica.

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Desânimo

Prostração em criança sempre preocupa. Mas vale lembrar que os pais precisam alinhar suas expectativas à realidade dos bebês, porque eles tendem a dormir bastante nos primeiros meses de vida. Por isso, é importante conversar com o pediatra nas consultas de rotina para entender os marcos do desenvolvimento e o que é esperado para o pequeno em cada fase. Conhecendo essas características, se não houve qualquer atividade fora do habitual que justifique a maior necessidade de repouso – como passar o dia na piscina e adormecer mais cedo –, os pais devem ficar atentos e programar uma visita ao pediatra para uma avaliação mais ampla.

Se outros sinais e sintomas surgirem associados à mudança de comportamento da criança, como febre, vômitos, recusa alimentar, dores nos membros ou em outra região do corpo, vale um atendimento de urgência.

Alterações respiratórias

Dificuldade respiratória é sempre emergência. Mas como identificá-la? “Procure o pronto-socorro quando se deparar com estes sinais: abertura das narinas (batimento de asa de nariz) e afundamento da barriga abaixo das costelas e/ou na região final do pescoço, no início do tórax”, orienta a pediatra Aline.

O aumento da frequência respiratória também é um sinal de alerta. Apesar de ser uma tentativa de o organismo equilibrar seu funcionamento, como quando a criança corre, salta etc., a causa desse desequilíbrio pode ser um processo inflamatório (asma, por exemplo), metabólico (diabetes melitus descompensada) ou infeccioso. Neste último, enquadram-se a pneumonia e a bronquiolite, normalmente causada pelo vírus sincicial respiratório (VSR).

“Quando falamos de alterações respiratórias, a doença que mais assusta os pais é, com certeza, a bronquiolite. Ela pode começar com um resfriado, no decorrer dos primeiros três a quatro dias da doença, e evoluir para um cansaço, um chiado no peito e uma dificuldade para mamar e se alimentar, com esforço para respirar. Na maioria das vezes, é possível tratar em casa mesmo, mas pode ser necessária a internação nos casos mais graves”, afirma Gubert.

De acordo com o estudo Acute bronchiolitis in children, do Pandit Bhagwat Dayal Sharma Post Graduate Institute of Medical Sciences, na Índia, publicado no Journal of Pediatric Critical Care, a bronquiolite é a doença respiratória mais comum em crianças com menos de 2 anos: 40% dos pequenos são afetados no primeiro ano de vida.

A filha da fisioterapeuta Viviane Mattos Lopes de Souza, 38, entrou para essa estatística. Isabella, 2, teve bronquiolite quando tinha apenas 1 mês. “Ela começou com uma febre baixa e no segundo dia estava com uma tosse esquisita. Filmei e mandei o vídeo para a pediatra, que quis vê-la imediatamente, e diagnosticou a bronquiolite”, lembra. Isabella fez o tratamento em casa, com corticoide e fisioterapia respiratória, e se recuperou cerca de uma semana a partir do início dos sintomas.

Será que é covid-19?

Neste momento, é normal que os pais se preocupem com o contágio pela covid-19. De acordo com o pediatra Eduardo Gubert, todos os sintomas citados nesta reportagem podem aparecer durante uma infecção por covid-19, mas não isoladamente. “É importante analisar se os pais estão positivos para a doença, já que uma criança menor de 1 ano dificilmente terá contato com pessoas fora do círculo familiar durante esse período de pandemia”, explica. “Se os pais estão positivos e a criança evolui naquele mesmo período com sintomas como febre, mal-estar ou alterações respiratórias, isso pode indicar que ela também está com covid”, diz.

A pediatra Aline Gomes lembra, ainda, que a febre pode ser o único sinal aparente de infecção pelo coronavírus na população pediátrica, logo, está indicada a realização de testes [a partir de 24 horas de vida] para a confirmação diagnóstica, seja com o exame RT-PCR ou com o antígeno, conhecido como teste rápido. “Se não for testada ou se for e der positivo, a criança deverá seguir em isolamento por dez dias a partir do aparecimento do primeiro sintoma”, esclarece.

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