• Mônica Kato
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Imagine as cenas: a criança sentada no chão, brincando com objetos de montar. Mão no bloco, mão no chão, mão na boca. Depois, comendo uma fruta com as mãos, além do pedaço da pera, leva mais da metade da mão para dentro da boca também, ajudando a empurrar a comida. Outra situação: assistindo a um vídeo descontraidamente, passa a mão em objetos à sua volta e depois põe a mão na boca ou esfrega os olhos.

Criança com brinquedo na boca (Foto: getty images)

Criança com brinquedo na boca (Foto: getty images)


Sentiu uma certa aflição? Pois ela faz sentido. Primeiro, porque não tem jeito: criança põe a mão na boca e pronto. Depois, porque, afinal, se o chão, as superfícies, o objetos e as mãos da criança não estiverem limpos, o risco de doenças,claro, aumenta. “As regras de higiene são importantes na infância, e elas ganham relevância ainda maior nesse período de pandemia, porque, obviamente, pode haver uma eventual transmissão de doenças em um ambiente contaminado”, afirma o pediatra Eitan Berezin, presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).


O médico explica que, para os pequenos, os problemas mais frequentes costumam ser as doenças diarreicas. Elas podem ser provocadas por micro-organismos, como vírus e bactérias e, se não forem cuidadas a tempo, podem levar a quadros de desidratação, o que é perigoso para eles. De acordo com Berezin, ainda é preciso considerar outro tipo de má higiene, a alimentar, que pode causar a hepatite A – isso ocorre quando os alimentos não são devidamente higienizados antes do consumo. Por mais que haja vacina contra essa doença, lavar bem frutas, legumes e verduras é fundamental. “Qualquer doença que não for tratada de forma rápida e adequada pode levar a um quadro mais grave”, diz o pediatra Eitan Berezin.

E a tal da "vitamina S"?

Muito se fala da importância de deixar a criança conviver com a “vitamina S” – S de sujeira. Que não seria saudável protegê-la de toda sujidade do mundo, porque seria bom se expor a ela para criar anticorpos. “A vitamina S não existe, mas claro que é importante para o desenvolvimento infantil que o pequeno conviva com a natureza, que fique ao ar livre”, afirma Berezin. “Existem teorias, como a chamada teoria da higiene, que afirmam que crianças com mais contato com a natureza têm menor tendência a desenvolver doenças alérgicas. No entanto, manter a higiene é bastante importante, sem extremos, claro. A higienização de superfícies deve ser diária. Mas ninguém precisa perseguir um ambiente asséptico”, diz.

Nada mais do que o básico

Além da limpeza diária do chão, móveis e objetos, como brinquedos, feita com produtos habituais, como desinfetantes, água sanitária e álcool a 70%, por exemplo, outro ponto essencial para manter a saúde em dia é a higienização frequente das mãos. Crianças e adultos devem lavá-las constantemente ou utilizar álcool em gel, quando isso não for possível. Não tem segredo: o básico é justamente o necessário.

Em tempos de covid-19, quando a preocupação com a higiene aumentou significativamente, é melhor ser prudente, mesmo que o risco de infecção pelo contato com um brinquedo, por exemplo, seja pequeno. “A transmissão da covid dificilmente será feita por meio de objetos, mas, sim, por contato pessoal. O contágio por fomite (objetos contaminados por secreção respiratória e da boca de alguém infectado) pode até ocorrer, mas vale considerar que a sobrevivência do vírus em superfícies é de no máximo algumas horas. Portanto, se um objeto é contaminado pelo novo coronavírus, ele se torna um veículo de contágio apenas se tiver sido infectado recentemente por alguém, por meio de tosse ou secreção respiratória. A limpeza de brinquedos e outros objetos, além de superfícies com álcool a 70% em gel, por exemplo, resolve esse problema”, afirma Eitan Berezin. Por mais que a correria tome conta de todos nós e a sobrecarga de trabalho não dê trégua, é importante não relaxar com os cuidados com a higiene pessoal e de casa. Tudo pelo bem da família.