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Daniela Tófoli

Seu filho não é convidado para a festa de aniversário de um amigo. O que fazer?

Veja o que diz a psicóloga da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, Rita Calegari

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Daniela Tófoli

O que fazer se o seu filho não foi convidado e boa parte dos amigos dele sim?

Poucas situações são tão complicadas no convívio social da infância do que esta. Os pais devem pensar muito ao fazer festinhas e excluir colegas da lista de convidados - sabemos que esta atitude esta relacionada ao controle do custo da festa e, embora pareça uma boa solução, só quem teve um filho excluído sabe como isso dói.

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Quando a criança é muito pequena, é difícil ela entender que não foi convidada por alguma razão - e o impacto é totalmente afetivo - ou seja, ela se sentirá excluída, menos amada, triste e pode até acreditar que é culpada por isso (uma fantasia de que algo que ela fez causou esta exclusão, pois nós - pais - sempre reforçamos que se a criança for "boa" ela será recompensada). Porém, a criança menor sofre muito, mas tende a aceitar  ou "perdoar" mais facilmente. Já as crianças maiores podem ser convencidas com bons argumentos, porém, ficam mais magoadas e passam a ter um comportamento mais "vingativo" (na minha festa não irei chamar ele).

Se houver algum fato que possa ser usado para os pais justificarem essa exclusão - do ponto de vista racional - ou seja, ela e o aniversariante não se gostam, já brigaram, o aniversariante já foi excluído de alguma festinha promovida pela criança excluída - o argumento pode contribuir para formar o raciocínio da criança, especialmente o da ação-reação. No entanto, os pais devem abordar isso de forma amorosa e não culposa. O intuito será aproveitar um fato da realidade para formar a consciência da criança sobre as relações com os outros e que o que fazemos provoca uma reação na outra pessoa e talvez, nesta situação ( de existir um argumento racional para a exclusão, embora não haja culpados, não há vitimas também (já que somos parte desta relação com o outro).

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Se não houver nenhum fato destes, os pais podem usar a questão do custo da festa e da necessidade de escolha dos pais do amiguinho em selecionar os convidados. Aqui, o bom é que deslocamos parte da questão para os pais, desfocando do aniversariante - que, afinal de contas, irá continuar a conviver com seu filho após a festa, e não desejamos criar um clima de animosidade entre os pequenos. Se for possível, os pais devem ter uma atitude empática com a decisão dos pais do aniversariante, ajudando seu filho a superar esta frustração e entendê-la como parte da vida.

Se os pais tiverem sensibilidade e não estiverem magoados com a decisão dos pais do aniversariante, pode-se ainda (para ajudar na formação ética e moral da criança) incentivá-la a fazer um desenho ou um cartão de parabéns para entregar quando encontrar o colega, como forma de valorizar a amizade e estreitar os vínculos das crianças. Isso incentiva a tolerância - pois podemos interpretar que muitos problemas de relacionamento surgem quando nós julgamos que os outros devem fazer as coisas do jeito que a gente quer, como quer. Embora seja frustrante não sermos eleitos como vínculos de maior proximidade, o fato é que as pessoas não têm "obrigação" de fazer o que a gente quer... Isso pode propiciar um diálogo muito rico entre filhos e pais.

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O que fazer se os colegas ficam contando detalhes de como será esse aniversário e o provocam por não ter sido convidado?

Se a situação for em escola, vale a pena pedir apoio da coordenadora pedagógica, porque dificilmente só uma criança terá sido excluída (e se o foi, precisamos discutir juntos o problema entre família e escola porque o caso se encaminha quase que para o bullying). Os pais do aniversariante também devem orientá-lo para não fazer isso, respeitando os colegas que não puderam fazer parte da lista de convidados.

Há casos de mãe cujo filho não foi convidado que, educadamente, ligou para a mãe do aniversariante e disse que o filho dela gostaria muito de participar da festa. Isso é válido?

Não existe certo ou errado, cada família precisará encontrar seu jeito de lidar com esta questão, mas lembremos que existem algumas outras saídas:

- levar o filho para fazer um passeio bacana no dia da festa;
- dizer a criança que nem sempre - mesmo convidada - ela irá participar das festas dos amigos, pois existem compromissos familiares que impedem os pais a aceitar todos os convites;
- chamar aquele(a) tio(a) ou padrinho (madrinha) que a criança gosta tanto para passar o dia com ela;

É bom lembrar que, embora doa muito para os pais e pareça injusta, essa situação pode ser uma oportunidade de fortalecer os valores familiares e educar a criança para o mundo - já que frustrações fazem parte. Nem sempre a menina(o) que o seu filho (a) se apaixona irá corresponder; nem sempre ele ganhará o presente de Natal que desejou; nem sempre ele irá passar no vestibular da faculdade que escolheu em 1ª opção. Enfim, o mundo não gira em torno das nossas expectativas. Quanto mais cedo a criança entrar em contato com esta realidade, e quanto mais amoroso e apoiadores forem os pais na assimilação desta vivência, melhor e mais forte será esta pessoa, pois ela terá aprendido (ainda na infância sob o olhar dos pais e da família) a ser resiliente.

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