O leite materno é o alimento mais completo que existe para o bebê e o Ministério da Saúde defende que ele deve ser oferecido em livre demanda - isso significa que o bebê escolhe quando e por quanto tempo mamar. Mas, e se o pequeno quiser mamar o tempo todo, de hora em hora, por exemplo? É normal? "Sim, e não! Pode ser somente uma forma de expressar que ele mama com intervalos curtos. Porém, precisamos saber se esse bebê está mesmo conseguindo se alimentar ou se está somente plugado ao seio", diz a enfermeira obstetra Cinthia Calsinski, consultora internacional de lactação.
Vale destacar que é comum que, principalmente nos primeiros dois ou três meses, a frequência das mamadas seja maior, cerca de 8 a 12 vezes por dia. "O estômago do bebê é menor e ele precisa mamar mais vezes. O trato gastrointestinal ainda está imaturo e, por conta disso, tem maior necessidade de mamadas com intervalos mais curtos", explica a pediatra Elisabeth Fernandes, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Com o passar do tempo a tendência é esse intervalo aumentar, mas não é uma regra.
Como saber se o bebê está mamando o suficiente, então?
"O mais importante é o ganho de peso e desenvolvimento do bebê e não o intervalo entre as mamadas. Tudo bem mamar a cada hora um período do dia se depois ele consegue dar intervalos maiores de madrugada e fazer boas sonecas durante o dia", acrescenta a pediatra. Segundo Elisabeth, o problema surge quando o bebê mama a cada hora de dia e de madrugada também.
"Nesse caso precisamos avaliar a mamada por completo. Entender se este bebê está conseguindo sugar uma boa quantidade de leite, se não tem uma pega errada ou posição errada na mamada ou até mesmo um freio lingual curto que atrapalha o posicionamento da língua do bebê na mamada. Também precisamos ter um olhar mais atento e cuidadoso com as mães que possuem cirurgia de redução mamária", alerta. Em todas essas situações, o bebê mama uma menor quantidade de leite, estimula menos a produção de leite materno e acaba tendo fome a cada hora durante dia e noite.
Por isso, a solução não é restringir as mamadas. "É sempre melhor errar para mais do que para menos. É mais arriscado mamar menos do que mais. Se o bebê pedir, é melhor oferecer o seio", diz Cinthia Calsinski. As mães devem ficar atentas aos sinais do bebê.
Quais são os sinais de alerta?
"O mais importante não é a frequência das mamadas e sim a qualidade. O bebê precisa conseguir mamar com força, com a boca bem aberta, precisamos ouvir a deglutição do leite na boca dele. E, somado a uma boa mamada, devemos avaliar ganho de peso e desenvolvimento", diz Elisabeth Fernandes. Veja alguns sinais de alerta de que algo não está certo em relação à amamentação do bebê:
- Ganho de peso inadequado (para mais ou para menos)
- Choro fraco e bebê hipoativo
- Redução ou ausência de urina na fralda
- Menos que quatro evacuações no quarto dia de vida ou fezes com mecônio no quinto dia de vida
- Regurgitação após mamadas
"Se perceber algum destes sinais e estiver na dúvida se o bebê está mamando adequadamente, é importante passar com uma consultora de amamentação e com o pediatra para que eles ouçam as queixas, entendam o caso e acompanhem uma mamada inteira para entender o que de fato acontece", orienta Cinthia Calsinski.
Amamentação:
- Aleitamento materno: O que você quer saber?
- "Rede de apoio é o mundo conspirando a favor da amamentação"
- Amamentação e rede de apoio: especialistas explicam por que essa não é uma tarefa exclusiva da mãe
- Amamentação: pesquisa aponta principais dificuldades que as mães enfrentam nos três primeiros dias após o nascimento do bebê
Choro sempre indica fome?
Não! "É isso que, muitas vezes, faz a livre demanda ser mal interpretada. Claro que nem sempre teremos certeza do que realmente o bebê deseja, mas tentar algumas possibilidades, pensar no que pode ser antes de colocar ao seio pode ser mais efetivo. Nem todo choro é fome", alerta Calsinski. Com o tempo, as mães vão pegando o jeito. "Depois de uns três meses, normalmente, elas já conseguem entender melhor o choro dos bebês e diferenciar um choro de fome de um choro de dor ou de sono", finaliza Elisabeth Fernandes