O Pé Torto é uma deformidade congênita, isto é, já nasce com a criança. Nesse caso, os bebês vêm ao mundo com os pezinhos virados para dentro. Segundo Tatiana Guerschman, especialista no Método Ponseti no Brasil e ortopedista do Sabará Hospital Infantil (SP), os especialistas ainda não sabem quais genes causam essa deformidade, mas suspeitam que as células da parte interna do pé, por volta do segundo trimestre de gestação, começam a se modificar e trazer o pé da criança para dentro.
A médica ressalta que o PTC é relativamente frequente e acomete duas vezes mais meninos do que meninas, sendo que essa deformidade atinge duas a cada mil recém-nascidos no mundo, segundo estatísticas. O diagnóstico pode ser feito pelo ultrassom, porém, há casos em que não é percebida. "Após o exame, o bebê não será tratado dentro do útero, mas a vantagem de os pais saberem com antecedência é que eles podem procurar informações e um ortopedista pediátrico para já se preparar", alerta a especialista.
Tratamentos existentes
De acordo com Tatiana, até os anos 2000, o tratamento para pé torto era basicamente cirúrgico. Dessa forma, os pequenos passavam a infância inteira operando o pé para colocar no lugar e, às vezes, precisava colocar o gesso também. "Cada vez que ia mexendo, o pé ficava mais fraco e mais dolorido. Fora todo o trauma e estresse para a criança e família", explica a médica.
A partir dos anos 2000, os ortopedistas passaram a aplicar o método Ponseti. Criada pelo médico Ignacio Ponseti, a técnica consiste em manipulações suaves dos pés, que permitem o alongamento dos músculos e dos tendões. Segundo a ortopedista, a criança também coloca um gesso, que é trocado semanalmente. O tratamento dura de cinco a sete semanas e na última troca de gesso, o paciente já pode fazer a tenotomia (incisão no tendão atrás do pé). "É um procedimento rápido e o bebê vai embora no mesmo dia", afirma a especialista.
Após a cirurgia, o bebê fica com um gesso por mais duas semanas e depois começa a usar a ortese, que é uma espécie de botinha com uma barrinha no meio. Ela serve para manter a correção dos pés. O uso da ortese é necessário por 23 horas por dia durante os três primeiros meses e, depois, apenas para dormir até os 4 anos. A especialista explica que o tratamento é 95% eficaz, isto é, os pés podem voltar ao normal. Apenas em poucos casos, é preciso fazer uma nova cirurgia.
Para um tratamento menos traumático, o ideal é começar no primeiro mês de vida do bebê, já que, a partir de 14 dias, é possível colocar o gesso. Tatiana ressalta que tratar a deformidade mais cedo é importante para que o pé torto não prejudique o desenvolvimento da criança, como andar e engatinhar. Além disso, quanto mais tempo passa, os pequenos ficam com o pé menos flexível.
Apesar disso, é possível fazer o tratamento em crianças maiores. A especialista aponta que o Pé Torto Congênito não impede a criança de andar, mas acarreta mais dificuldade e pode causar até mesmo feridas. "Sem contar que o pé torto é um estigma social e emocional, porque, às vezes, as famílias não conseguem buscar tratamento e ficam com vergonha de levar os filhos à escola para que ele não sofra bullying", a especialista finaliza.