• Aryane Cararo
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Cena do livro O Pato, a Morte e a Tulipa, de Wolf Erlbruch (Foto: Divulgação)

Cena do livro O Pato, a Morte e a Tulipa, de Wolf Erlbruch
(Foto: Divulgação)

Falar de morte nunca é fácil. Até porque evitamos conversar sobre isso, a não ser que ela chegue bem perto do nosso círculo social. Ou que as crianças apareçam com essa dúvida. Mas a verdade é que elas convivem com a morte muito mais do que a gente consegue perceber. É a planta que murcha e seca, o inseto que é morto, o super-herói que mata o vilão, o animal de estimação que parte. Portanto, apesar de ser um tema espinhoso e difícil de tratar, ele não deve ser escondido ou poupado das crianças quando a dúvida surgir ou uma morte mais dolorida aparecer. E precisa ser abordado de forma simples e direta, dizem alguns especialistas, usando a palavra morte e evitando comparações como “foi fazer uma viagem” ou “foi dormir para sempre” (leia aqui), que podem dar a impressão de que outros membros da família que precisarem viajar podem não voltar ou medo de dormir e não acordar mais.

Para ajudar nessa tarefa, selecionei seis livros infantis que falam sobre a morte e que me marcaram muito. Alguns são bem diretos, outros mais poéticos. Confira:

Capa do livro O Pato, a Morte e a Tulipa, de Wolf Erlbruch  (Foto: Divulgação)

Capa do livro O Pato, a Morte e a Tulipa,
de Wolf Erlbruch (Foto: Divulgação)

O Pato, a Morte e a Tulipa (Wolf Erlbruch, Cosac Naify)
Ainda hoje me emociono toda vez que leio este livro. Tem poesia, tem tristeza e tem beleza. E tem essa coisa que se chama morte e que nos acompanha desde que nascemos... Certo dia, o pato vê uma caveira andando atrás dele. É a morte. Ele já não ia bem, mas não queria morrer naquele momento. Ela, então, explica que sempre esteve por perto, para o caso de algum acidente, uma gripe forte ou algum improviso. Eles vão passar juntos as últimas semanas de vida do pato e travar diálogos maravilhosos, como este:


“Vai ser assim quando eu estiver morto”, pensou o pato. “O lago, sozinho. Sem mim.”
Às vezes, a morte podia ler pensamentos.
- Quando você estiver morto, o lago também não vai estar mais lá – pelo menos não para você.

Capa do livro Mas Por Quê??! A História de Elvis, de Peter Schössow (Foto: Divulgação)

Capa do livro Mas Por Quê??!
A História de Elvis, de Peter
Schössow (Foto: Divulgação)

Mas por quê??! A História de Elvis (Peter Schössow, Cosac Naify)
– A menina esbraveja, precisa gritar ao mundo “Mar por quê??!”. Por onde passa, atrai curiosos para sua demonstração de indignação. Até que, finalmente, ela conta que Elvis está morto, mas não o cantor, seu passarinho. Os amigos, então, providenciam seu enterro e vivenciam com ela esse momento de luto e tristeza, mas também de boas lembranças. Uma leitura que mostra que todo luto merece ser vivido, esbravejado, mas que, no fim, o que fica são as boas memórias. Este livro me marcou muito, pois mostra para o leitor que, sim, ele pode extravasar toda a dor e que precisa passar por esse momento de tristeza, mas que tudo fica bem no final.

Capa do livro É Assim, de Paloma Valdivia (Foto: Divulgação)

Capa do livro É Assim, de Paloma Valdivia
(Foto: Divulgação)

É Assim (Paloma Valdivia, Edições SM)
Há aqueles que chegam e aqueles que vão. Os que hoje chegaram, um dia também partirão. Pode ser o peixe da sopa de ontem, o gato do vizinho ou a tia Margarida. “Nós, que aqui estamos, choramos pelos que partem. É bonito lembrar. Nós, que aqui estamos, nos alegramos com aqueles que chegam. Damos a eles boas-vindas, gostamos de celebrar”. É dessa forma simples que a autora chilena explica o nasce-e-morre da vida. Gosto muito dessa simplicidade sem rodeios e sem mistérios, mostrando que tudo faz parte do ciclo da vida.

Capa do livro Para Onde Vamos Quando Desaparecemos, de Isabel Minhós Martins (Foto: Divulgação)

Capa do livro Para Onde Vamos Quando
Desaparecemos, de Isabel Minhós Martins
(Foto: Divulgação)

Para Onde Vamos Quando Desaparecemos? (Isabel Minhós Martins e Madalena Matoso, Tordesilhinhas)
Este é um livro cheio de perguntas que nos fazem refletir e de conceitos para filosofar sobre o tempo, sobre o que é aparecer e desaparecer, sobre a finitude da vida e da existência. Para desaparecer, algo precisa ter aparecido primeiro para alguém. Algumas coisas desaparecem em um dia para aparecer no outro, como o sol. Outras, como as meias, caso apareçam, será sempre em um lugar inacreditável. Até as rochas desaparecem. Fato é que nada dura para sempre. E, nós, para onde vamos? Paramos em lugares improváveis como as meias? Vamos para o céu como a água da poça? E quem fica, fica com o quê? Uma série de perguntas difíceis de responder! É daqueles livros que plantam sementinhas na cabeça da gente e que, para as crianças, mostra como tudo desaparece na vida – às vezes para reaparecer em outro lugar.

Capa do livro O Coração e a Garrafa, de Oliver Jeffers (Foto: Divulgação)

Capa do livro O Coração e a Garrafa, de Oliver
Jeffers (Foto: Divulgação)

O Coração e a Garrafa (Oliver Jeffers, Salamandra)
A menina era como todas as outras garotas curiosas de sua idade: gostava de olhar para as estrelas, para o mar e para tudo o que fosse novo. E perguntar. Um dia, a cadeira do homem mais velho que sempre estava com ela em suas descobertas apareceu vazia. Provavelmente era seu avô, que havia morrido. A menina, então, insegura com a perda, decidiu colocar seu coração dentro de uma garrafa, um lugar longe de qualquer perigo. Mas, com o tempo, ela deixou de ser curiosa e de prestar atenção em um monte de coisas. Até encontrar com uma criança que era curiosa como um dia ela já tinha sido. E vai precisar colocar seu coração no lugar. Essa narrativa poética mostra como podemos ficar tristes, e que isso leva um tempo, mas que o lugar do coração é mesmo batendo no peito,

Capa do livro O Anjo da Guarda do Vovô, da Jutta Bauer (Foto: Divulgação)

Capa do livro O Anjo da Guarda do Vovô, da
Jutta Bauer (Foto: Divulgação)

O Anjo da Guarda do Vovô (Jutta Bauer, Cosac Naify)
Uma linda história de despedida entre avô e neto. No hospital, o idoso conta sua vida, suas aventuras, as dificuldades pelas quais passou. Em cada página, o leitor pode ver um anjo da guarda salvando o avô, desde quando era menino, das enrascadas e perigos em que se metia. Até que a cama do hospital fica, finalmente vazia, e o neto é que agora aparece sendo seguido por um anjo da guarda. Independentemente das crenças, é uma história bonita e bem-humorada para falar sobre como uma geração sucede a outra, deixando para trás a memória de uma vida.

Aryane Cararo (Foto: Amanda Filippi)

Aryane Cararo (Foto: Amanda Filippi)



ARYANE CARARO é editora-chefe da CRESCER e apaixonada por literatura infantil. Quer escrever para ela? [email protected].

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