O que você vai ser quando crescer? Essa é uma pergunta que ouvimos desde cedo. Quem aqui não ouviu isso do pai, da mãe, dos avós, ou da professora quando era criança? "A fulana vai ser uma ótima médica!" (detalhe: se ela vê um pingo de sangue, desmaia no mesmo segundo).
![Mãe e filha conversando sobre o futuro — Foto: Freepik](https://s2-crescer.glbimg.com/w3-3a6-AHxQGhK7IYUvGOtuziqU=/0x0:1500x1001/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_19863d4200d245c3a2ff5b383f548bb6/internal_photos/bs/2024/e/5/1kxnyqRImUBuQxLiNoVQ/2148389419.jpg)
Quantas vezes, agora adultos, inconscientemente estimulamos determinados direcionamentos para nossos filhos? Olha euzinha, falando com a Chiara, minha filha, repetindo padrões:
"Nossa, você vai ser uma médica maravilhosa, vou deixar seu consultório chiquérrimo".
"Estuda muito pra passar na faculdade de engenharia".
"Já te vejo igualzinho ao seu pai, empreendendo".
Essas são apenas algumas das frases que repetimos, projetando nos nossos filhos uma idealização equivocada sobre o futuro profissional que desejamos, mas que não nos pertence.
Eles são tão novos, recebendo tanta carga sobre algo que deveria ser natural. Eles são livres para ser qualquer coisa e, o principal: serem felizes!
Quando era jovem, entendi rapidamente o que queria fazer. Foi mágico e rápido, meu pai tinha uma indústria de piscinas, e muito cedo, eu trocava qualquer passeio em um parque de diversões para assistir ele ali, vendendo sonhos, produzindo formas inusitadas com aquelas fibras que coçava minha pele, mas tinham o poder de fazer o próximo sorrir.
Tive a sorte de ter pais que me deixaram à vontade para escolher e me orientaram com exemplos.
Sempre penso o quanto é nossa responsabilidade introduzir o conceito de trabalho na vida das nossas crianças de forma didática e realista. Meu pai era franco sobre isso: nem tudo vai ser bom. E errado, não estava.
Primeiro capinamos a grama, depois ela fica bonita. E ficava mesmo. As piscinas, azuis, brilhantes, em formatos diversos, faziam os clientes felizes. Aprendi desde pequena a importância da jornada. Podíamos até nos machucar no meio desse processo no sentido figurado, mas ele ia me orientado a importância das etapas.
Hoje, em tempos de imediatismo, celular, tecnologia, e até chatbots para responder o dever de casa, onde está o desejo? Cabe a nós, adultos – pais, familiares, professores – talvez precisemos dar essa forcinha extra.
O que você vai ser quando crescer? É uma pergunta que ainda tem um peso com um preço.
Você mãe, pai que está ausente, em uma reunião, conte como é o seu dia a dia – explique sobre o que é o seu trabalho - que tem um começo, meio e fim. Que nada do seu lar caiu do céu! Eles precisam conhecer e valorizar a sua jornada.
Aqui em casa, tenho o hábito de todos os dias contar algo do meu trabalho, ainda que seja minúsculo, mas que para eles sei que é importante, aproxima.
Não espero o extraordinário. Pode ser uma entrega que foi muito legal, um cliente satisfeito, ou até um B.O; faça ser leve, engraçado, com pitadas de emoção.
Faço para que entendam o que é trabalho, o que acontece, o fruto disso. Faço para que respeitem essa palavra, para que entendam o quanto a realização profissional será importante no futuro e, mais uma vez, para que sejam livres para viver essa paixão, escolhendo como queiram.
Que tenham desejo, em tempos voláteis. De amores líquidos.
É muito normal que queiramos inserir nossos filhos no nosso contexto profissional, quase como uma continuidade do que fazemos. O empresário que quer que o filho suceda, a executiva que sonha que a filha seja sua cópia do futuro e por aí vai.
Mas penso em um novo momento , uma vela para uma nova direção, onde o que é priorizado não são os privilégios, e sim a capacidade. Então vou inserindo no dia a dia com vontade e com a verdade.
A caminhada, os aprendizados, e tudo que se ganha e amadurece no processo é algo a ser vivido de maneira individual, por eles. Por isso, por mais que seja incontrolável, vamos respirar em 3, 2, 1 e pensar nisso tudo: amor ao trabalho, escolha livre, caminhada e jornada.
Então, o que você vai ser quando crescer? O que eles quiserem, mas não projetem, provoquem.
![Anny Meisler é mãe de três: Nick, Tom e Chiara, e fundadora da LZ Studio, LZ Mini e LZ Corporativo, todas empresas do segmento de mobiliário e decoração — Foto: Arquivo pessoal](https://s2-crescer.glbimg.com/oGJY1Cx5l8T72DBSjFXbH5wrngc=/0x0:747x656/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_19863d4200d245c3a2ff5b383f548bb6/internal_photos/bs/2022/x/Q/jGehBHShafDn6A6C3O3Q/anny-meisler.png)
Quer falar com a colunista? Escreva para [email protected]