No último mês de fevereiro, a prestigiada revista médica The Lancet publicou uma série de artigos sobre amamentação, assinados por duas dezenas de especialistas dos cinco continentes. A amamentação diminui as infecções infantis, a mortalidade, a desnutrição e o risco de obesidade posterior, enquanto as mulheres que amamentam têm um risco menor de câncer de mama e dos ovários, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. Apesar disso, o lucro com as vendas de fórmulas lácteas tem aumentado para cerca de US$ 55 bilhões por ano em todo o mundo.
![Fórmula infantil (Foto: HUIZENG HU/Getty Images) — Foto: Crescer](https://s2-crescer.glbimg.com/dj3wh1GXC657OchGHmaGSFb_X3I=/0x0:5760x3840/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_19863d4200d245c3a2ff5b383f548bb6/internal_photos/bs/2022/v/j/buGnM4SzGImhZH4B8CBw/2022-05-16-gettyimages-1298845287.jpeg)
Com essa receita, a indústria (nas mãos de algumas grandes empresas) pode gastar cerca de US$ 3 bilhões por ano em marketing. Com tanto dinheiro, dá para fazer muita coisa. Pode-se subsidiar congressos médicos e sociedades científicas, conseguindo assim reorientar a direção da educação, da formação e da pesquisa. Os cientistas e especialistas que gostam da indústria terão mais voz do que aqueles que se incomodam ou a criticam.
Nos países onde ainda é permitido, pode ser feita publicidade direta dos produtos ao público – e essa publicidade chega também, graças à internet, aos países onde ela é proibida. As influenciadoras podem contar “espontaneamente” sobre as dificuldades que tiveram com a amamentação e como esta ou aquela marca de leite funcionou bem para elas. Os lobistas da indústria trabalham para evitar leis adversas, defendendo sempre a “autorregulação”.
Mas talvez o mais notável, como salienta aThe Lancet, seja a forma como a indústria tem explorado os medos e as inseguranças dos pais e mães, transformando muitos comportamentos normais dos bebês em “problemas” ou mesmo “doenças”.
Porque os bebês choram, acordam à noite, ficam inquietos, pedem colo, querem mamar com frequência, regurgitam, se mexem, soltam pum, fazem cocô líquido, com muco ou de cor incomum ou ficam alguns dias sem fazer cocô. Conseguiram fazer com que muitas mães interpretem estas coisas esperadas (e frequentes) como sinais de que o seu leite é insuficiente ou de “má qualidade”. E se o “problema” não desaparecer com a mamadeira, melhor ainda! O bebê provavelmente “precisa” de um leite especial e mais caro, claro: antirrefluxo, hipoalergênico, “premium”, anticonstipação, com baixo teor de lactose, enriquecido com qualquer bobagem, para “estômagos delicados” ou para “desconfortos digestivos”.
![Carlos González tem três filhos, é um dos pediatras mais famosos na Espanha e autor de livros como “Bésame mucho” e “Meu filho não come!” (Foto: Divulgação) — Foto: Crescer](https://s2-crescer.glbimg.com/uLYnnx8EVn9MMVV1XZQ0QZxqlpk=/0x0:620x200/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_19863d4200d245c3a2ff5b383f548bb6/internal_photos/bs/2022/u/D/Psns7CTOWE8STT5t63Zw/2021-04-26-carlosgonzalez.jpeg)
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