Michelle Loreto

Por Michelle Loreto

Jornalista, apresentadora do Bem-Estar e mãe de Aurora

 


Foi, mais ou menos, trinta minutos depois que Aurora nasceu. Durante a golden hour (a primeira hora depois do nascimento do bebê quando ele fica em contato pele a pele com a mãe), minha filha procurou meu peito, achou e começou a mamar. Foi lindo. A pega perfeita! Sem nenhuma dificuldade para ela. Apenas um pouco de desconforto para mim, mas que logo passou.

Michelle Loreto amamentando Aurora — Foto: Ana Pendloski
Michelle Loreto amamentando Aurora — Foto: Ana Pendloski

Eu queria muito amamentar - totalmente focada nos benefícios incontestáveis do leite materno. Mas eu não sabia se conseguiria porque fiz uma redução mamária há mais de dez anos e isso poderia dificultar, segundo alguns médicos.

Os dias foram passando, eu comecei a enfrentar as dificuldades da amamentação: apojadura, dores, o timing da mamada. Exaustivo. Difícil. Dolorido. Não existe nada de romântico na amamentação. Ela é física e psicológica.

Tentei de tudo que você possa imaginar. Mas minha filha perdeu muito peso e não ganhava o necessário. Quando ela tinha 35 dias, o pediatra falou: “vamos ter que introduzir a fórmula”. Não era meu desejo, mas era o certo. Aceitei sem discutir. Mas, confesso, chorei ao dar a primeira mamadeira. Me senti fracassada. Mesmo assim, desafiei e prometi: “ela não vai largar meu peito”. E assim fomos. Até quase 5 meses, Aurora com amamentação mista: 50% peito, 50% fórmula. O pediatra vibrava com a continuidade do aleitamento materno. A mamãe aqui se sentia muito feliz e 100% poderosa.

Costumo dizer que a minha amamentação foi racional. Não gostei de amamentar. Mas não desisti porque sabia que era o melhor para minha filha. Segui em frente e não me arrependo. Até que, quando a Aurora fez 7 meses e já estava na introdução alimentar, decidi parar. Tive muitas dúvidas antes disso? Milhões! Pensava no desmame. Depois desistia. Mas entendi que a hora tinha chegado.

Poucos dias depois, sem imaginar o que provocaria em mim, um amigo perguntou: “por que você parou de amamentar?”. Aquilo me paralisou e comecei a listar todos os motivos que me levaram a essa decisão. Saí dali com aquilo na cabeça, remoendo, me questionando se parar foi o certo. Me senti culpada, uma mãe que não estava fazendo de tudo pela filha.... Ahhhhhhh!!!!!!!

E não parou por aí. Sei lá mais quantas vezes fui indagada: “por que você parou de amamentar?”. Também tinha aquela cobrança disfarçada de pergunta: “você está amamentando ainda, né?”. E cada vez que eu era questionada, vinha um sentimento horrível de culpa e uma necessidade de justificar.

Mas será que eu teria que me sentir assim? Pense bem comigo: tenho 44 anos, minha filha está crescendo lindamente, saudável, a filha é minha, a vida é minha, as decisões são minhas. Meu marido e minha mãe tiveram uma longa conversa comigo quando me viram agoniada. Não! Eu não deveria estar sentindo nada disso. Sim! Eu sou uma ótima mãe e faço de tudo pela Aurora. Eles, que acompanharam de perto, ao vivo, toda a minha luta para amamentar. Eles entendiam o meu sentimento. Além do pediatra que viu a minha angústia, me olhou nos olhos e falou: “tem que ser bom para você também, sua escolha vai ser a certa, você fez de tudo e teve muito sucesso”. Por que raios, então, eu dava vez a esses sentimentos estranhos? Por que a pergunta me incomodava? Por quê?

Na psicologia, achamos respostas. Freud diz que, quando a gente não se entristece pelas perdas, não consegue elaborá-las. Por esta ótica, então, tudo bem. Mas eu sei que isso me incomoda porque a mãe “perfeita” é desejada por nós e cobrada pelos outros. E assim vai se formando um padrão cruel, onde só a mãe é responsável por tudo de bom e de ruim que acontece com o filho. Só que, de novo, pense comigo: quem é perfeita? O que é perfeição? Quem ditou essa onda? Quem disse que uma mãe que amamentou até os 2 anos é melhor do que uma outra que amamentou até os 6 meses ou que não conseguiu amamentar? A régua não é essa. Sem culpa. Sem cobrança. Quando o assunto é amamentação, cerque-se de conhecimento e decida seus próprios limites. E repito: o leite materno é maravilhoso, é a primeira vacina do bebê, tem tudo o que ele precisa, cria um laço forte entre mãe e neném. Eu sempre vou levantar essa bandeira. Mas nunca vou me calar ao ver uma mãe sendo julgada por escolhas que lhe foram doídas.

E para os curiosos desavisados, aqui vai meu recado: nunca pergunte o motivo de uma mãe ter parado de amamentar, nem de continuar amamentando até a idade que for. Muito menos pergunte se ela conseguiu amamentar. Isso não te interessa. Isso é pessoal e intransferível. Cada um sabe da sua vida. Cada um tem suas dificuldades. E nenhuma experiência é igual. Ao fazer esse tipo de pergunta, você pode acionar um gatilho e tocar em alguma questão ainda mal resolvida ou não elaborada pela mãe.

Eu parei de amamentar, mais ou menos, às 8 da noite do dia em que Aurora completava 7 meses. Tivemos uma longa conversa sobre aquele último “tetê”. Ela me olhou nos olhos, sorriu, mamou bastante. Eu chorei de emoção. Sorri de volta. Ali era o fim de um ciclo e o começo de outro. Por que eu parei? Não interessa a ninguém. Eu e Aurora sabemos. Estamos bem. E isso já basta.

Michelle Loreto — Foto: Arquivo pessoal
Michelle Loreto — Foto: Arquivo pessoal

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