Moises Chencinski - Eu Apoio Leite Materno

Por Moises Chencinski

Moises Chencinski é pediatra, membro afiliado da WABA. Coordenador do livro "Aleitamento Materno na Era Moderna. Vencendo Desafios", da SPSP

 


Estamos nos aproximando da Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM) e do Agosto Dourado, época em que o foco está na sensibilização sobre a importância da amamentação para a saúde materno-infantil, para a sociedade, para o ecossistema entre outras influências.

O leite materno é considerado pela ciência como o padrão-ouro da alimentação infantil e essa informação é de conhecimento praticamente universal, reforçado a cada geração através dos meios de comunicação, por profissionais de muitas áreas do conhecimento.

Olhar atento e cuidados necessários para as mães que amamentam e também para as que não  — Foto: Crescer
Olhar atento e cuidados necessários para as mães que amamentam e também para as que não — Foto: Crescer

O leite materno é considerado um alimento vivo, que se modifica e se adapta do começo ao final da mamada, do começo ao final do dia e com o decorrer do tempo para oferecer ao bebê a composição mais adequada, que pode suprir suas necessidades nutricionais, desde o nascimento, em cada fase de sua vida, até quando ocorrer o desmame total oportuno.

Só o leite materno tem fatores de imunidade (anticorpos e outros) espécie-específicos, que são transmitidos para o bebê enquanto o leite for parte do seu “cardápio”. E isso vale para cada espécie de mamíferos. Aliás, a temporada de COVID, através da vacinação de lactantes, trouxe de volta mães que haviam deixado de amamentar para que suas crias pudessem receber a proteção comprovadamente transferida pela produção e passagem de anticorpos específicos contra a doença pelo leite materno.

Também é muito divulgada a ideia de que amamentar é um direito de mães e bebês e não uma obrigação, e que a mulher que, apesar de informada, não consegue, não pode ou não quer amamentar, por qualquer razão, não faz parte do grupo de “menos mães” ou não “ama menos” seus filhos.

E, apesar desse resumo beeeem resumido de informações com evidências científicas, o leite materno e a amamentação não são unanimidades e não têm nem a “maioria dos votos” da comunidade nacional e internacional, sendo sempre questionados.

Ainda assim, nos últimos 15 anos, temos visto taxas de aleitamento materno no Brasil que evoluem de forma muito tímida e ânimos acirrados que surgem e se fortalecem sempre que um novo estudo aponta para alguma ação “vantajosa” do leite materno ou sempre que se aproxima a SMAM.

Mas e os novos estudos? Mais polêmicas?

Depois da explosão das redes sociais, não há mais “reserva de mercado” do conhecimento. O Google (para citar uma das fontes) disponibiliza informações sobre tudo o que se quiser saber em qualquer área. Para quem tem familiaridade com os programas de inteligência artificial, quase não há limites para o aprendizado. Isso quer dizer que se eu quiser saber uma receita de um prato, ou como consertar um motor de um carro, ou técnicas de costura, ou diagnósticos médicos, é só ir ao Google.

E essa é uma das razões de tanto debate e tanta animosidade nas redes sociais. Você já tentou cozinhar, sem ter técnica, sem conhecimento da área, seguindo qualquer receita, por mais explicada que ela seja? E achar e resolver o problema daquele barulhinho no motor do seu carro? E fazer amigurumi? Sabe o que é isso? Mas tem tudo isso explicado na internet. Complicado, não é? Aí é melhor procurar quem entende disso, não é? Melhor não arriscar.

Masssssssssss... quando se trata de saúde, surgem, de repente, especialistas muito embasados que conseguem diferenciar, entre os artigos e vídeos de profissionais, médicos, cientistas, quem está correto e quem não sabe do que está falando e chegam a confrontar profissionais respeitáveis sem pestanejar, até de forma agressiva. E esse foi o panorama das redes sociais durante 3 anos de pandemia. Foi assim que fake news se disseminaram e, muitos profissionais absolutamente desconsiderados nos meios científicos espalharam sua desinformação que negava a ciência e os pesquisadores que se dedicavam (e ainda de dedicam) aos estudos pormenorizados sobre o tema.

Formato F de leitura

Sabe o que é isso? Eu não sabia, aprendi e acho importante trazer essa informação aqui para embasar. Ela é baseada em muita pesquisa sobre usuários que leem páginas na Web, de forma rápida, e em poucos segundos terminam a “análise” do texto. A velocidade e o excesso de informações trazem a necessidade de uma leitura que seja mais eficaz, porém, menos criteriosa.

O padrão F tem 3 componentes (veja se isso parece familiar):

  • O usuário lê, primeiro, a parte superior do texto (título);
  • Depois ele desce um pouco na página e faz um segundo movimento horizontal de leitura (menor do que o primeiro);
  • Em seguida, o usuário “escaneia” o texto da esquerda (o começo das linhas e parágrafos), em um movimento vertical.

Algumas poucas vezes, pode acontecer o padrão E com 3 partes horizontas (a terceira para ler a “conclusão”).

Resultados:

  • Não existe a leitura do texto na íntegra, que pode ser cansativa, especialmente se é um assunto que não se domina ou se conhece pouco.
  • Nem sempre, os dois primeiros parágrafos, que são os mais lidos, trazem as informações mais importantes, mas é aí que se capta a atenção do leitor.
  • Nem sempre se lê a conclusão do texto e, quando se lê, ele pode não fazer sentido porque não se seguiu a evolução do raciocínio.

E tem aleitamento nisso, quer apostar?

Aliás, foi o que motivou esse texto. Recentemente, foi publicado um estudo realizado pela Universidade de Oxford, em que se avaliou a relação de duração de amamentação e o desempenho educacional na Inglaterra, em um pesquisa significativa incluindo cerca de 5.000 crianças, com avaliações em inglês e matemática, feitas no final do ensino médio.

Os resultados do estudo apontaram que amamentação mais longa (mais de um ano) foi associada a melhores desempenhos educacionais, com menores chances de falhas nos exames. Comparados aos que nunca foram amamentados, aqueles que foram por pelo menos 4 meses também tiveram melhores resultados.

Essa informação gerou fortes reações que foram publicadas em vários sites de jornais pelo mundo, em que se demonstrava insatisfação e até irritação por sobrecarregar e culpabilizar mães que não conseguiram, não puderam ou não quiseram amamentar. Algumas chegaram a dizer que não foram amamentadas e se consideravam inteligentes o suficiente. E assim, a leitura em padrão F trouxe suas consequências.

Em primeiro lugar: os testes mostraram resultados de desempenhos em provas no final do ensino médio de matemática e inglês em um grupo de crianças na Inglaterra e os relacionaram à amamentação presente ou mais prolongada.

Mas, se a leitura de um estudo científico fosse feita como deveria ser, por quem deveria ser, com todas as análises, mas principalmente a conclusão, muito constrangimento poderia ter sido evitado.

Conclusão:

Maior duração da amamentação foi associada a melhorias modestas no desempenho educacional aos 16 anos, depois de controlar importantes fatores de confusão.

O aleitamento materno tem características próprias que merecem divulgação e que, por si só, fizeram a OMS recomendá-lo desde a sala de parto até dois anos ou mais, exclusivo e em livre-demanda até 6 meses.

Com a informação disseminada, mas também com necessidade de rede de apoio, de políticas públicas favoráveis, de condições socioeconômicas e culturais apropriadas, e, principalmente, de um olhar atento, amplo, mas também, levando em conta cada individualidade, a proposta é proteger, apoiar e promover a amamentação para as mães que optarem e desejarem amamentar, sem deixar de ter o mesmo olhar cuidadoso para as mães que não amamentam e para seus bebês.

Dr. Moises Chencinski é pediatra, membro afiliado da WABA. Coordenador do livro "Aleitamento Materno na Era Moderna. Vencendo Desafios", da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) — Foto: Arquivo pessoal
Dr. Moises Chencinski é pediatra, membro afiliado da WABA. Coordenador do livro "Aleitamento Materno na Era Moderna. Vencendo Desafios", da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) — Foto: Arquivo pessoal

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