Moises Chencinski - Eu Apoio Leite Materno

Por Moises Chencinski

Autor da coluna "Eu apoio leite materno"

 


Recentemente (e não tão recentemente também), tenho sentido uma certa dificuldade na minha compreensão sobre o que dizem e escrevem a respeito da amamentação.

Esse texto tem relação com um post do Instagram sobre venda de poltronas de amamentação e que, de brinde, dá uma almofada de amamentação (tá percebendo a repetição? Intencional). Volto a ele no final da matéria.

Você sabe mesmo o que é amamentação?   — Foto: Getty
Você sabe mesmo o que é amamentação? — Foto: Getty

Conceitos e definições

O Caderno 23 de Atenção Básica do Ministério da Saúde, sobre Aleitamento Materno e Alimentação Complementar, traz, no seu Capítulo 2 (que é só uma página mesmo):

“É muito importante conhecer e utilizar as definições de aleitamento materno adotadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e reconhecidas no mundo inteiro (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2007). Assim, o aleitamento materno costuma ser classificado em:

  • Aleitamento materno exclusivo – quando a criança recebe somente leite materno, direto da mama ou ordenhado, ou leite humano de outra fonte, sem outros líquidos ou sólidos, com exceção de gotas ou xaropes contendo vitaminas, sais de reidratação oral, suplementos minerais ou medicamentos.
  • Aleitamento materno predominante – quando a criança recebe, além do leite materno, água ou bebidas à base de água (água adocicada, chás, infusões), sucos de frutas e fluidos rituais.
  • Aleitamento materno – quando a criança recebe leite materno (direto da mama ou ordenhado), independentemente de receber ou não outros alimentos.
  • Aleitamento materno complementado – quando a criança recebe, além do leite materno, qualquer alimento sólido ou semissólido com a finalidade de complementá-lo, e não de substituí-lo.
  • Aleitamento materno misto ou parcial – quando a criança recebe leite materno e outros tipos de leite”.

Amamentar no dicionário

Do Michaelis (com exemplos):
Criar ao peito; dar de mamar; aleitar, lactar: “Mulheres amamentavam o filhinho ali mesmo, ao ar livre, mostrando a uberdade das tetas cheias” (Aluízio Azevedo – O Cortiço). Mães que amamentam criam filhos mais saudáveis.

Do Houaiss
Alimentar ao seio; dar de mamar a; aleitar ‹a. uma criança recém-nascida› ‹seios que amamentam

Do Aulete digital
Dar o leite do peito a; ALEITAR: Amamentava o bebê com grande alegria.

Baseado em definições e significados de três dos mais conhecidos, utilizados e respeitados dicionários da língua portuguesa (usem mais, usem sempre), há dois conceitos que precisam ser bem fixados para se evitar erros. Não fale ou escreva:

1-A criança amamentou
Errado.
Ou a criança mama ou a criança está sendo amamentada.

Criança não amamenta.

Muitas vezes, crianças (meninas e meninos) recebem cultural e socialmente, em casa pela família, ou através de educação nas escolas, a mensagem da importância e da naturalidade da amamentação. A partir daí, elas “brincam” (como brincar é importante!) e “fantasiam” que “amamentam seus bebês” dando de mamar para suas bonecas (que também pode ser brincadeira de menino, sem nenhum preconceito).

2-A amamentação materna
Errado.
No Brasil, não é recomendada a amamentação cruzada, ou seja, uma lactante dar de mamar a um bebê que não é nascido de seu ventre.

Assim, pela definição dos dicionários, e por nossa prática cultural e de saúde, uma amamentação (dar de mamar ao peito) sempre será materna.

Não existe “amamentação” que não seja “materna”.
Só “amamentar” ou “amamentação” já é suficiente.

Amamentação materna é um vício de linguagem, usando muitas palavras desnecessárias para explicar uma mesma coisa, uma mesma ideia, um mesmo raciocínio, conhecido como redundância ou pleonasmo ou tautologia (qualquer uma serve – repetição intencional).

E qual é essa história da poltrona?

Em um daqueles posts que o algoritmo ou os amigos sempre fazem questão de jogar na minha cara (podem continuar), um perfil novo propõe a venda de poltronas de amamentação com um puff e, de brinde, uma almofada de amamentação.

Corta para a cena (imagine):

O “reel” começa com uma mãe sorrindo. Ela conversa e “brinca” com seu lindo bebê que também sorri. Ela coloca e tira uma chupeta da boquinha de seu bebê. A seguir, ela retira da lateral da poltrona uma mamadeira com leite e oferece ao bebê que mama.

A poltrona é boa, prática e confortável? Não sei.
A almofada é útil? Nem prestei atenção.

Então qual o problema?

O problema? Não. Os problemas.
Vamos retornar aos conceitos e definições da matéria aqui.

Essa é uma propaganda enganosa.
O “nome dos produtos” apresentados está errado e totalmente incoerente.

Essa poltrona, que inicialmente pode ser usada para amamentação, da forma que está sendo apresentada, como um produto comercial, poderia ser chamada de poltrona de aleitamento, de alimentação, de conforto ou qualquer outro nome.

Mas, “esse produto anunciado” NUNCA deveria ser chamado de POLTRONA DE AMAMENTAÇÃO, porque a mãe não está amamentando e ainda está normalizando o uso de chupeta e mamadeira, que concorrem diretamente com a amamentação.

De acordo com o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990):

Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.
§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.

Afinal, amamentar é criar e dar de mamar e alimentar ao seio (outra redundância minha, proposital).

Essa publicidade mostrando uma mãe que oferece chupeta e mamadeira ao seu lactente, em uma ação de marketing, fere a Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras (NBCAL – Lei nº 11.265/2006), tanto na questão comercial mas, principalmente falha na questão educativa.

Art. 19. Item III aborda “os efeitos negativos do uso de mamadeira, bico ou chupeta sobre o aleitamento natural, particularmente no que se refere às dificuldades para o retorno à amamentação”.

Nem toda mãe pode, consegue ou quer amamentar e nessas situações, sem nenhum julgamento, ela pode recorrer ao pediatra para esclarecimento e orientação. No Brasil, pelas estatísticas do ENANI-2019, o uso de mamadeiras (52%) e chupetas (43%) ainda é cultural e acima do desejado, e favorece o desmame precoce.

É preciso falar sobre amamentação constantemente. É quase uma alfabetização.

Segundo atribuído a Paulo Freire:
“A alfabetização é mais, muito mais, do que ler e escrever. É a habilidade de ler o mundo”.

E, nesse caso, o nem tão conhecido como deveria: o mundo da amamentação.

Obs.: Nesse texto, a palavra amamentação aparece 20 vezes. Amamentar (o verbo) e suas conjugações aparecem 14 vezes. Todas as vezes em destaque. Não contabilizei mamar ou aleitamento materno. Redundância ou pleonasmo ou tautologia? Sim. Mas, tudo absolutamente intencional.

Dr. Moises Chencinski é pediatra, membro afiliado da WABA. Coordenador do livro "Aleitamento Materno na Era Moderna. Vencendo Desafios", da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) — Foto: Arquivo pessoal
Dr. Moises Chencinski é pediatra, membro afiliado da WABA. Coordenador do livro "Aleitamento Materno na Era Moderna. Vencendo Desafios", da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) — Foto: Arquivo pessoal
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