Teresa Ruas - Vida de Prematuro

Por Teresa Ruas

Doutora em Ciências da Saúde, especialista em desenvolvimento infantil, fundadora do @prematurosbr e mãe de dois prematuros

 


Um mesmo cenário, a mesma sala, duas mulheres distintas, com histórias de vida diferentes. Enquanto eu chegava em um determinado destino, com uma mulher e mãe que havia acabado de perder o seu bebê, nesse mesmo local havia uma outra mulher que tinha acabado de me contar por uma ligação no celular, no dia anterior, que estava grávida pela primeira vez. As duas protagonistas dessa história com trajetórias diferentes iriam se encontrar.

"Um abraço verdadeiro pode dizer muito mais do que mil palavras!" — Foto: Freepik
"Um abraço verdadeiro pode dizer muito mais do que mil palavras!" — Foto: Freepik

A mulher protagonista irradiante, com sua próspera gestação no primeiro trimestre, foi a responsável por abrir a porta e nos recepcionar. O meu desejo foi de abraçá-la imensamente, com muita alegria e gratidão à vida. E assim foi feito, pois a vida precisa ser comemorada. Uma primeira gestação e tão sonhada precisa ser comemorada. E, após esse abraço na mulher irradiante, o meu instinto/“poder de escuta” me fez voltar para essa outra mulher e dar-lhe um abraço apertado, caloroso, acolhedor e que não necessitou de nenhuma palavra vinda de nossas bocas para explicar a importância daquele ato humano, afetivo e empático. Aquele abraço sem a emissão de nenhuma palavra, com toda certeza, significou muito mais do que um diálogo longo e denso. Afinal de contas, um abraço verdadeiro pode dizer muito mais do que mil palavras!

Creio que ninguém que estava naquela mesma sala, exceto eu e a mulher que recebeu meu segundo abraço, compreendeu o motivo daquele ato, possivelmente, inesperado para ela. Ouvi meu coração, meu instinto, minha empatia e tudo o que tenho aprendido nessa longa jornada com propósito com a prematuridade, gestações de alto risco, bebês arco-íris e mães que vivenciam a experiência dolorosa de sentirem os seus úteros e braços vazios, diante da perda gestacional e/ou neonatal.

Morte e vida estavam expostas claramente naquela sala. Situações antagônicas que necessitam receber abraços e entorno afetivo. Um dos abraços foi sentido como força, fé, esperança, resiliência, apoio, acolhimento, saudade, frustração, tristeza, lágrimas... E, no final, um sorriso por ter recebido um abraço tão verdadeiro, tão cheio de sentimentos, tão cheio de amor. O outro abraço recebido com a vitalidade de uma mãe de primeira viagem, que sente a intensidade e profundidade de ter em seu ventre o início de uma vida tão desejada.

O que me conduziu nessa experiência foi a minha condição de ser empática, de me colocar no lugar do outro e de ter a “escuta” para as diferentes expressões e sentimentos. Cada mulher, com suas histórias, valores, crenças e destinos.

Choro e sorrisos estiveram presentes, mas ali somente eu sabia o que realmente estava acontecendo. Ali, as explicações e exposições sobre gestação, filhos, sonhos não era necessário. Diferentemente do que ainda acontece em muitas maternidades, quando colocam lado a lado mulheres que recebem os seus filhos em seus braços e mulheres que vivenciam o vazio dilacerador da perda em suas mentes e corpos. Diferentemente quando mulheres com a perda neonatal são convocadas a voltar para o trabalho, sem o direito da licença maternidade. Diferentemente quando mulheres que perdem os seus filhos, ainda no ambiente intrauterino, também “perdem o título” de mãe, pela sociedade. Diferentemente de olhares e condutas que expressam apenas piedade ou dó, diante de uma perda gestacional/neonatal. Diferentemente quando essas mulheres percebem que o filho, tão desejado e que viveu por um período curto em seus ventres, torna-se um “simples” aborto espontâneo.

O abraço sempre significará e estará presente nos momentos felizes e/ou tristes da vida humana, especialmente em nossa cultura latino-americana. A vida sempre nos mostrará antagonismos e extremos. Mas a qualidade de nossa entrega, escuta, empatia deve ser conduzida pelo contexto e necessidade de cada realidade e experiência. Cada mulher deve ser respeitada e valorizada diante de suas dores, labutas e conquistas. Aqui não cabe julgamentos, piedades, explicações... Cabe apenas o afeto para que ele dirija os nossos comportamentos, olhares, abraços e escuta. Eu tenho certeza de que os meus olhares trocados com cada uma dessas duas mulheres protagonistas, complementados com o meu abraço verdadeiro, falaram a elas tudo o que meu coração estava realmente sentindo e querendo narrar para cada uma delas.

Espero que o afeto, o amor nos conduza em nossas ações, palavras, atitudes e narrativas diante das experiências antagônicas do existir humano: A VIDA E A MORTE.

Com afeto, Teresa Ruas, uma aprendiz diária e nesse texto uma narradora de duas histórias de vida...

Teresa Ruas, doutora em Ciências da Saúde, especialista em desenvolvimento infantil, fundadora do @prematurosbr e mãe de 2 prematuros (Foto: Teresa Ruas) — Foto: Crescer
Teresa Ruas, doutora em Ciências da Saúde, especialista em desenvolvimento infantil, fundadora do @prematurosbr e mãe de 2 prematuros (Foto: Teresa Ruas) — Foto: Crescer

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