• Fernanda Montano
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Lenise  (Foto: Arquivo pessoal)

Lenise: a chegada de Pietro mudou sua vida (Foto: Arquivo pessoal)

"Minha gestação foi muito tranquila e saudável, meu sonho era ter parto normal. Um dia fui à missa e uma mulher começou a puxar papo comigo, contando que estava com dores no peito, que o filho dela estava em casa e tinha nascido antes do tempo e tal. Mesmo eu não dando corda, ela não parava. Na hora pensei que aquilo era um aviso. Cheguei em casa por volta das 23h e passei a noite fazendo muito xixi. Tive contrações, mas achei que eram de ensaio, eu estava com 31 semanas. Tinha feito ultrassom 4D um dia antes pra ver o rostinho dele, mal sabia que no dia seguinte já poderia vê-lo. Lá pelas 6h acordei meu marido e falei que precisava ir para o hospital, comecei a vomitar e ter diarreia. Foi 'engraçado' porque eu estudei muito sobre parto, mas em nenhum momento sobre prematuridade. No hospital comecei a ficar desesperada, porque eu não queria cesárea, nem algum tipo de indução. A médica plantonista pegou na mão do meu marido e disse 'sua esposa e seu filho estão correndo risco de morte. Eu vou salvar a vida deles'. Na mesma hora ele só disse 'faça o seu trabalho, você vai ser guiada por Deus'. Minha dilatação chegou a 10 cm. Eu não sou nada fresca para dor, mas estava me incomodando demais. Quando eu imaginava meu parto, pensava ser domiciliar, eu maquiada, com meu marido ao meu lado, fazendo massagem. E naquela hora ali eu nem queria vê-lo na minha frente! A pediatra veio se apresentar e eu pedi por favor que pudesse ter o rosto dele junto ao meu. Ela logo respondeu 'desculpe, mas não poderei fazer isso, ele vai direto para o respirador'. Eu, aquela pessoa que sabia de tudo, na mesma hora não sabia de nada. Pietro nasceu todo cabeludo, de parto normal. Depois de me recuperar do parto, tomei banho, me maquiei e fui para a UTI. Ao chegar lá, vi aquele pacotinho, com a cabeça enfaixada, tomando banho de luz, eu não podia tocá-lo. Não consegui prestar atenção em nada do que o médico me falou naquele momento. No dia seguinte me disseram que eu poderia tirar meu leite para ele tomar pela sonda. Levei 1h30 para tirar 1 ml de leite e ele precisava de 4 ml. Foram os dias mais difíceis da minha vida: eu sonhava com a amamentação e não podia dar de mamar e também não conseguia ordenhar direito. Com 30 dias de UTI a médica disse que o ideal seria Pietro fazer uma transfusão de sangue. Foi a melhor coisa, parece que deu um gás a mais nele. A alta veio quatro dias depois. Fizemos acompanhamento com fonoaudióloga, neurologista e ele não tem sequela nenhuma, é um verdadeiro milagre. Ele é falante, gosta de estar próximo das pessoas, não gosta de ver briga e é muito ligado a mim e ao pai. A primeira vez que ele mamou no seio foi no Dia dos Pais e amamentei por um ano e 10 meses. Pietro é a maior vitória da nossa vida."
Lenise Sokulski, 28 anos, empresária, mãe de Pietro, 1 ano e 11 meses

Júlia e a pequena (Foto: Arquivo pessoal)

Júlia e a pequena Maria Elisa (Foto: Arquivo pessoal)

"Maria Elisa nasceu no dia 05/12, às 15h28, em Belo Horizonte (MG). Com 30 semanas, comecei a entrar em trabalho de parto e identificamos que ela estava com restrição de crescimento, então fiquei afastada por 15 dias e retornei ao trabalho em home office para me esforçar menos e tentar levar a gestação até 37 semanas com a medicação. Um dia antes de ela nascer comecei com mal estar, dor de cabeça e ela ficou bem quietinha. Eu estava de 34 semanas e fomos ao pronto socorro conforme solicitado pela minha médica. A plantonista fez ultrassom e me disse que ela estava em sofrimento fetal e teria que nascer. Eu, que sempre falei 'vem no seu tempo, meu amor', não imaginava que viria tão cedo. Tentamos de tudo para que ficasse uma semana a mais, mas de um jeito totalmente inesperado minha filha mostrou que estava pronta e eu não! Um quarto montado, malas prontas, roupas lavadas e separadas, um desejo de descanso, de dormir um pouco mais, de curtir nossa barriga, fazer nossas fotos, tinha tantos planos para nós. Eu ouvi seu choro, mas não a senti, não a toquei, não tivemos nossa golden hour, nao tivemos nosso primeiro encontro registrado. Foi tudo muito intenso, em um momento estávamos juntas e em outro eu sentia o vazio da sua ausência, uma barriga sem vida e um coração em mil pedaços. Eu chorei, e como chorei por não poder vê-la, por saber que minha filha precisava mais dos primeiros cuidados do que do meu toque. Eu achei que no dia seguinte já pegaria no colo, amamentaria, que ela poderia ir para o quarto comigo. Mas não foi assim, ela ainda estava muito cansada, e então começou o desespero de saber quando teria alta. Quando me vi tendo que me higienizar o tempo todo, sem poder segurá-la, vendo-a pela incubadora, aquilo me deixou mal. Naquele momento nada do que eu aprendi nos cursos de gestação adiantava, era uma nova realidade, curso nenhum te ensina a lidar com uma vida prematura. Tive alta e ela não, mas eu ficava lá o dia inteiro e só voltava para casa para dormir. A alta dela veio 14 dias depois e aí deu medo! Como eu ia dar banho naquele bebê tão pequeno e frágil que parece que vai quebrar? Mas foi tranquilo, única coisa complicada foi a privação de sono, pois ela tinha que mamar de três em três horas. Quando me adaptei a isso, ela passou a ganhar peso, só no peito. O maior cuidado foi a restrição às visitas, mesmo ela sendo uma bebê muito esperada. Mantivemos em casa a rotina de higiene antes de tocar nela, ficamos até um pouco neuróticos com isso. Aí veio a quarentena e a nossa rotina continuou como era, de hábitos de limpeza e sem sair, mas neste momento achei que já estaríamos começando a dar uns passeios por aí. O principal desafio de ser mãe de prematuro é a solidão, por ter a restrição de visitas e passeios. Contei muito com apoio de amigas que tiveram bebê mais ou menos na mesma época que eu, isso de trocar experiências, mesmo à distância, foi muito importante. Mas senti muita falta das minhas irmãs, dos meus avós, depois que minha filha nasceu. Senti falta da minha rede de apoio, nem tanto pela ajuda com a bebê ou com as coisas da casa, mas sim pelo lado emocional."
Julia Gomes, 24 anos, assistente administrativa, mãe de Maria Elisa, 5 meses

A pequena Olívia chegou antes do tempo (Foto: Arquivo pessoal)

A pequena Olívia chegou antes do tempo (Foto: Arquivo pessoal)

"Olívia nasceu às 0h34 da madrugada de 18 de março depois de uma cesárea de emergência. Eu estava de 30 semanas e, apesar da prematuridade, ela chorou, fazendo desse momento o mais especial de sua chegada! A gestação foi ótima, no entanto, eu tive uma síndrome causada pela hipertensão - chamada HELLP - e corria risco de morte caso não fosse realizada a cesárea. Esse foi nosso primeiro susto! Afinal, tudo estava bem e a síndrome foi muito aguda e rápida. Como prematura, Olívia foi internada na UTI Neonatal, em Curitiba (PR), onde permaneceu por dois meses. Foram dias muito difíceis e duros, até porque com a situação atual (Covid-19) as visitas ficaram restritas e os protocolos bastante rígidos. Nesse tempo, o que mais me fortalecia - além de todo carinho e apoio da família e amigos - era a atenção das enfermeiras e médicos e, especialmente, a convivência com outras mães com as quais dividia o tempo na sala de espera e de extração de leite. Cada dia foi uma vitória! Eu e Diego (meu marido e pai da Olívia) nos revezávamos nas visitas e contávamos cada dia como um a menos para estar com nossa filha nos braços! Esse dia chegou em 16 de maio, quando Olívia recebeu alta para o quarto. Depois de dois dias viemos para casa e agora vivemos nosso sonho! Acredito que o principal desafio de ter um bebê prematuro é compreender que tudo o que planejamos foi totalmente reformulado; há de repensar tudo o que pensamos como ideal. São muitas informações e adaptações, mas assim que tudo se ajeita - e, com certeza essa sensação vem com a chegada em casa - o coração fica mais calmo e percebo que temos um bebê perfeito e que como toda mãe, farei tudo que está ao meu alcance para que essa história seja apenas a primeira grande superação da vida da minha filha!"
Gabriela de Almeida Lopes Loureiro, jornalista, 34 anos, mãe de Olívia, 2 meses

Quenanna e a pequena Laura (Foto: Arquivo pessoal)

Quenanna e a pequena Laura (Foto: Arquivo pessoal)

"Tive sangramento com 30 semanas, fiquei cinco dias internada e nesse período já fui me preparando psicologicamente para o parto prematuro. Tive muitas dores no pré-parto, então o nascimento em si foi um alívio para mim, também por saber que minha filha não estava mais sofrendo. Laura nasceu com 31 semanas, 1.700 kg e 41 cm, o médico dizia que ela ficaria mais de um mês na UTI, mas eu pensava muito que sairia antes. Eu ficava lá direto, tirando leite para ela. Foi muito complicado ver minha filha tão pequena, naquele bercinho, cheia de fios. Mas todo dia eram pequenas conquistas. O pior de tudo foi receber alta do hospital sem levar minha filha comigo. A pandemia já tinha começado e ficamos muito receosos. Ela era pequena mas muito forte, eu ia cedo e voltava tarde do hospital. Cantava todo dia para ela, dizendo que parecia impossível, mas que conseguiríamos. Começamos o processo de amamentação antes do esperado e a partir daí foi um salto, ela foi ganhando peso, chorei de felicidade! Na UTI parece que o tempo não passa, temos que viver um dia de cada vez. Encontramos força onde nem sabíamos que tinha. As mães de UTI são muito guerreiras, é impressionante. Foi uma experiência muito dolorosa, porque a gente não sabe quando termina. Laura recebeu alta 25 dias depois e hoje está grande, saudável, uma bebezona linda! Acho que o grande aprendizado é sempre falar coisas boas, ter fé e pensamento positivo."
Quenanna Lopes, 33 anos, fotógrafa, mãe de Laura, 3 meses

O canal CRESCER COM SAÚDE é um especial da CRESCER, realizado com apoio de ABBVIE.