Comportamento
 

Por Bruna Menegueço


Feche os olhos e busque na mente uma memória da sua infância. Qual foi a primeira lembrança que você teve? Algumas vezes, ela tem o cheiro daquele bolo que sua avó preparava. Pode também ser das viagens de férias com a família. Ou, ainda, do cafuné que sua mãe fazia nos seus cabelos antes de dormir.

A verdade é que todo mundo tem uma lembrança de algo trivial vivido na infância, que enche o coração quando vem à memória. “Experiências positivas, ricas em afeto, marcam nossa vida e são capazes de despertar reações e sentimentos bons quando entramos em contato com algum elemento, como um cheiro, um gosto, a voz de uma pessoa, uma imagem e até o toque na pele ou um tipo de brincadeira. Ao trazer uma recordação para o nosso consciente, há liberação de hormônios relacionados ao prazer, como a serotonina, a dopamina e a ocitocina”, diz a pediatra Ana Márcia Guimarães Alves, especialista em desenvolvimento e comportamento infantil e vice-presidente da Sociedade Goiana de Pediatria (SGP).

Memórias afetivas com os filhos vão desde cheiros, sentimentos até experiências de viagem — Foto: Getty Images
Memórias afetivas com os filhos vão desde cheiros, sentimentos até experiências de viagem — Foto: Getty Images

Você já parou para pensar nos rituais e nas atividades cotidianas que estarão na memória dos seus filhos? Pode até parecer bobagem, mas são esses momentos que, além de proporcionar prazer, fortalecem o vínculo familiar e, por consequência, influenciam positivamente o desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças. Algo que notamos na prática, e é amplamente comprovado pela ciência. Um grande estudo realizado pela Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, com mais de 37 mil adolescentes de 26 países, mostrou que o apego e o vínculo familiar nos primeiros anos de vida fazem diferença no desenvolvimento dos adolescentes, que apresentam mais segurança para buscar seus objetivos e, assim, têm mais chances de sucesso.

Cérebro em construção

“Toda a arquitetura do cérebro se dá na gestação, na primeira infância e, depois, na adolescência. As habilidades do órgão em formação dependem das relações e das experiências que as crianças vivenciam. Se forem positivas e prazerosas, formarão conexões fortes com redes neurais de aprendizado que vão durar por toda a vida”, explica a neuropediatra Liubiana Arantes de Araújo, presidente do Departamento de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Como mães, pais e cuidadores, sabemos que a responsabilidade de criar e educar uma criança é enorme. A tomada de decisões constante aumenta o nosso nível de estresse, ainda mais em uma sociedade que impõe padrões de competitividade. Estamos sempre em busca dos melhores cursos extracurriculares e outras atividades, muitas vezes, preenchendo a agenda do pequeno completamente. “Sobra pouco tempo para o essencial. Justamente os momentos de simplicidade que enriquecem a nossa vida. O jantar em família, a conversa sobre o dia que está chegando ao fim, o ritual de secar os cabelos do seu filho após o banho, de preparar um bolo no fim de semana. Perceba: não são objetos nem coisas. O que estrutura a nossa memória são as atitudes feitas com amor”, explica o educador Marcelo Cunha Bueno, colunista da CRESCER e autor de No chão da escola: por uma infância que voa (Editora Passarinho).

São essas situações corriqueiras, mas repletas de amor, que completam esta reportagem. Buscamos 20 inspirações na ciência, com especialistas e, claro, com famílias, para ajudar você a tornar a rotina com seu filho ainda mais especial e memorável. Aproveite!

1- Diga sim!

Normalmente, você passa o dia falando “não” para o seu filho, não é mesmo? Faz parte. Um dos nossos papéis como responsáveis é justamente estabelecer limites, explicar que existem regras e que elas precisam ser respeitadas. Mas que tal fazer diferente apenas um dia? A ideia do “dia do sim” é justamente liberar o proibido. Vale brincar de pula-pula no sofá, dormir mais tarde, repetir a sobremesa e até fazer piquenique na cama.

2- Deixe recados na lancheira

Não há nada mais gostoso do que se deparar com um recadinho-surpresa no lanche. Se você não consegue fazer esse agrado todos os dias, aproveite para surpreender seu filho de vez em quando ou caprichar em datas especiais. Use até mesmo a casca da banana para fazer um desenho para o seu filho, caso ele ainda não saiba ler.

3- Priorize uma refeição em família

Os benefícios são tantos que valem a pena os esforços. Além da conexão e do ritual, fazer uma refeição juntos é uma oportunidade para conversar sobre o dia que está começando ou que terminou. A ciência comprova, ainda, que as crianças que se reúnem à mesa com os familiares são mais ativas, consomem menos refrigerantes e alimentos gordurosos, além de serem mais hábeis socialmente.

4- Encoraje seu filho

Após um longo período em casa durante a pandemia, Anthony, 7 anos, filho da bióloga Joyce Madeira, 40, teve dificuldade para se readaptar à escola. “Ele dizia que estava sentindo saudade de mim. Passei, então, a desenhar um coração em seu pulso antes de ir para a aula e explicava que, todas as vezes que sentisse a minha falta, ali estava meu coração com ele. Os meses foram passando, e o desenho, se tornando supérfluo. Um tempo depois, fiquei doente. Estava deitada na cama quando Anthony chegou com uma caneta na mão. Pegou meu braço e desenhou um coração com dois bonequinhos. Explicou que éramos nós dois, e que eu não precisava sentir medo. A emoção foi tão grande que tatuei o desenho. Ainda hoje ele me pede para desenhar um coração ao se deparar com situações desafiadoras”, diz.

5- Demonstre entusiasmo

Expresse sua emoção e empolgue-se com seus filhos diante dos passeios. Vale desde aquele grito de adrenalina em uma montanha-russa, vibrar ao ver um jogo de futebol ou até mesmo na descida de um escorregador ou balanço. Esse sentimento de empatia é importante para que o pequeno se sinta confiante e perceba que seu comportamento está sendo aprovado.

6- Transforme um dia difícil

Todos os meses, Alice, 8, toma uma injeção para bloqueio hormonal, como parte de um tratamento para puberdade precoce. “É um momento estressante para todos, especialmente para ela, que chora muito. Então, decidi inventar situações para tornar esse dia especial. Após a injeção, fazemos um programa legal juntas”, conta a publicitária Ana Paula Lombardi, 42. Tudo começa na magia do carro. Ana esconde um brinquedo pequeno ou uma lembrança e avisa que tem um mimo para ela ali. “Depois, vamos ao shopping, tomamos lanche, brincamos. Outras vezes, andamos de bicicleta. O objetivo é criar memórias doces, apesar de tudo”, diz Ana.

7- Institua o dia do filho único

Se você tem mais de um filho, faça um passeio com cada um separadamente, como o dia de filho único. Escolha programas de interesse da criança, para incentivar a individualidade. “Quando temos mais de um filho, eles fazem tudo juntos. Acontece, então, de a personalidade de um se sobressair. Ou, ainda, de um se espelhar tanto no outro que acaba se perdendo de si mesmo. Sem a competição natural que existe entre os irmãos, cada filho pode se expressar, interagir e criar diferentes conexões e memórias com a mãe ou o pai”, explica Pat Camargo, especialista em desenvolvimento infantil pelo brincar e cofundadora do Tempojunto (SP).

8- Leia um livro à noite

Que a leitura traz inúmeros benefícios para a criança, não é novidade. Olha que a lista é grande! Estudos comprovam que ler para o seu filho fortalece a conexão entre vocês, desenvolve a atenção, a concentração, o vocabulário e a memória, além de estimular a imaginação, a linguagem e a escrita. Colher todas essas vantagens é simples. O ritual pode começar na escolha do livro antes de dormir. Cada dia um elege o título da noite. Se possível, inclua vários estilos. Todo mundo sai ganhando.

9- Surpreenda!

Na casa da professora Janine Moura, 42 anos, mãe da Isabela, 7 anos, e do Rafael, 11, as manhãs dos aniversariantes da família são animadas. “Criamos o ritual de preparar um café da manhã-surpresa para o aniversariante. Muitas vezes, o irmão fica mais ansioso do que o próprio aniversariante. É uma delícia!”, conta. Além do aniversário, que tal copiar a ideia para outras datas comemorativas?

10- Combine as roupas

Repare no brilho do olhar do seu filho ao surgir na frente dele com uma camiseta ou acessório igual. “As crianças têm admiração pelos pais. Vestir-se da mesma forma é como devolver esse sentimento para eles. É como se fossem promovidos enquanto filhos”, explica o neuropediatra Saul Cypel, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

11- Seja turista na sua cidade

A verdade é que andamos no piloto automático pela nossa cidade. Que tal ligar o modo turista aí mesmo? Envolva seus filhos nesse processo, como vocês fazem nas viagens para outros lugares. Crie roteiros, pesquise detalhes dos pontos turísticos, restaurantes diferentes, passeios e outras experiências. Escolha roupas confortáveis, leve água e, claro, tire muitas fotos. Certamente eles – e você – não vão esquecer esse dia!

12- Acampe na sala ou no quintal de casa

“Se esse ritual fez parte da sua infância, você deve se lembrar com saudades”, diz Liubiana, da SBP. Se moram em apartamento, coloque colchões no chão da sala e durmam todos ali, juntinhos. Para completar a diversão, escolha um filme para embalar a noite antes de o sono chegar. Se você mora em casa e quiser uma aventura maior, use o quintal para armar uma barraca. Lanchinhos e jogos vão tornar o evento ainda mais especial.

13- Organize uma festa do pijama

Receber os amigos para uma noite de diversão, com bagunça, filmes, comida... Uma festa do pijama é inesquecível em todas as idades. Para poucos ou muitos colegas, as memórias desse dia se multiplicam.

14- Mostre fotos da sua infância

“Quando minha mãe teve que mudar de casa, há dois anos, tivemos que fazer uma limpeza no sótão. Foi uma verdadeira aventura reencontrar brinquedos e fotos da minha infância. Até a coleção de papéis de carta encontrei intacta”, conta a advogada Susana Campos, 41, mãe da Nicole, 9, e da Giovana, 6. “Levei tudo para casa e criei um ritual. As fotos da minha infância me ajudam a contar as histórias de brincadeiras e aventuras que vivi. Faço isso algumas vezes por semana, após o jantar. As meninas adoram ouvir e, assim, sem querer, também surgiram momentos de conversa, porque elas passaram a dividir acontecimentos do dia”, finaliza.

15- Capriche no café da manhã

Na casa da secretária-executiva Lais Adamoski, 36 anos, mãe da Laura, 8 anos, e do Olavo, 6, as manhãs de domingo têm cheiro de bolo. A preparação já começa durante a semana. “Sempre pergunto qual será o próximo sabor. Claro que chocolate ganha disparado, mas eu tento propor laranja, limão ou cenoura. Eles me ajudam a separar os ingredientes e a misturar. Outras vezes, preparamos ‘cueca virada’, que, aqui em casa, chamamos de orelhinhas de gato. Cada um tem o seu rolo de macarrão para me ajudar na missão de abrir a massa. É uma delícia”, conta Lais.

16- Exiba as obras de arte das crianças

Usar os colares de macarrão que seu filho fez ou pendurar seus desenhos em um lugar especial na casa dá a eles uma sensação de orgulho, realização e autoconfiança. Como não se lembrar disso?

17- Quebre a rotina

“Não me esqueço do dia em que meu pai me buscou na escola e, em vez de virar para a rua de casa, ele pegou a estrada e me levou para a praia. Assim, de surpresa”, conta o gerente comercial Rodolfo Marques, 38 anos, pai de Lucca, 6. “Tento fazer o mesmo com meu filho. Nem sempre dá certo fazer uma viagem, como fez meu pai na minha infância, mas o levo para a casa da avó, a sorveteria e a praça. Já fomos ao barbeiro, muitas vezes, ao restaurante preferido dele e, claro, para a praia”, completa.

18- Lidere a bagunça

Quer ver o rosto do seu filho se iluminar? Pegue um travesseiro e comece uma guerra. Ou, então, corra para a chuva e o convide para um banho. Pule na lama e faça a maior sujeira. Para o psicólogo infantil Frederico Veloso, diretor do Instituto BoraBrincar (MG), ver a mãe ou o pai começar uma bagunça mostra uma versão diferente dos responsáveis, mais leve, divertida, e garante aos pequenos que, naquele momento, a bagunça é permitida e muito bem-vinda.

19- Dê autonomia

Permita que seu filho escolha a roupa que vai vestir para ir ao mercado, mesmo que a combinação não seja a mais bonita. Também é importante deixá-lo participar das tarefas domésticas. Você pode começar oferecendo um pano na mão dele. Veja como ele se diverte ao tirar o pó de móveis ou dos brinquedos. Outra ideia é pedir ajuda para fazer a cama, guardar roupas ou secar potes de plástico. “Além de melhorar a coordenação motora, essas atividades fazem com que ele desenvolva senso de responsabilidade e cooperação, se sinta importante e ainda mais parte da família”, completa o neuropediatra Cypel.

20- Faça um cartão de aniversário

Quantos desenhos você já recebeu do seu pequeno? Aqui a ideia é justamente preparar um cartão de aniversário dos mais caprichados para ele, com direito a desenho, cartolina, cola glitter e lantejoula. Não importa se você não sabe desenhar, faça o seu melhor e o resultado vai ser atingido: um sorriso no rosto do seu filho daqueles inesquecíveis. Pois como diria o poeta Manoel de Barros, um entusiasta da infância, “a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças ou barômetros, e sim pelo encantamento que produz em nós”.

Raio-X da memória

Como a memória se desenvolve na infância?
O desenvolvimento do cérebro começa ainda na gestação, continua na infância e na adolescência e tem sua maturação biológica aos 22 anos. Fatores externos influenciam, tais como vínculo afetivo, confiança em seus cuidadores, escolaridade, contato social e estímulos musicais, esportivos e linguísticos. Todos funcionam como traços que, aos poucos, formam a memória, desenhada em um cérebro organizado por todas as suas experiências. Em geral, as primeiras lembranças da infância começam por volta dos 3 anos.

Por que certos episódios são mais lembrados do que outros?
Recordamos mais algumas situações porque elas nos marcam positivamente ou negativamente. Se o seu filho tem uma experiência com uma liberação grande de hormônios do prazer, essa memória vai se fortalecer com mais facilidade.

E se meu filho se esquecer?
Mesmo a criança não lembrando das experiências, todo o entorno que ela viveu foi importante para construir a arquitetura cerebral. Ou seja, vale o investimento nas vivências com seu filho.

Fontes: Saul Cypel, neuropediatra e professor da FMUSP; Liubiana Arantes de Araújo, pediatra da SBP.

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