Uma pesquisa realizada em maio deste ano revelou que quase 40% das crianças e adolescentes brasileiros, em idade escolar, exercem algum tipo de trabalho infantil. O percentual é oito vezes maior do que os dados oficiais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontam apenas 4,9%, informou o Tribunal Superior do Trabalho.
As informações estão no relatório “Evidências da prevalência de trabalho infantil na população escolar brasileira”, do professor de Educação da Universidade de Stanford, Guilherme Lichand. A pesquisa completa foi apresentada no “Seminário Internacional Comemorativo dos 5 anos do Pacto Nacional pela Primeira Infância”, que aconteceu em Brasília, na última sexta-feira (30) — uma realização conjunta do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e da Justiça do Trabalho, por meio do Programa de Combate ao Trabalho Infantil e de Estímulo à Aprendizagem da instituição, além de Signatários do Pacto Nacional pela Primeira Infância.
Para o estudo, foram entrevistados 2.889 alunos em 162 escolas de todos os estados brasileiros. Como forma de garantir a representatividade nacional, as entrevistas foram feitas em escolas urbanas e rurais, públicas e privadas. Os estudantes foram questionados se faziam alguma atividade por pelo menos uma hora de maneira remunerada ou alguma atividade não remunerada acompanhada de algum adulto.
Segundo o professor, o resultado de 40% é mais fidedigno, pois as perguntas foram feitas diretamente às crianças. “Como a pesquisa foi feita dentro das escolas, conseguimos ter dados que mostram um real retrato dessa situação e como os dados oficiais podem estar subestimados,” afirma.
A metodologia indicada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) é perguntar aos pais ou responsáveis se seus filhos trabalham e por quantas horas. Somente em caso de resposta afirmativa, as crianças também são questionadas sobre as condições desse trabalho. Uma resposta negativa dos pais é um fator importante para subestimar os dados.
Lichand comenta que, apesar de os dados da pesquisa representarem a população em idade escolar, a partir do primeiro ano do ensino fundamental até a terceira séria do ensino médio, isso não significa que o trabalho infantil não possa estar presente entre crianças mais novas. “Como o seminário é focado na primeira infância, destacamos alguns dados por idade para mostrar que não é verdade que os números são muito menores entre os mais novos, pois o trabalho infantil é um problema que pode existir mesmo antes da idade escolar”, afirmou.