Phillippa Hentsch, uma britânica de 37 anos, tinha o sonho de ser mãe. Como não conseguiu engravidar naturalmente, ela decidiu buscar ajuda médica, em uma clínica de fertilidade. Seu objetivo era ter um bebê e ela não imaginou que voltaria para casa com uma notícia dura de aceitar: ela tinha câncer. “Muitos dias ainda são uma luta, mas tenho que ser otimista porque sei que conhecimento é poder”, afirmou, em entrevista ao Express.
O difícil diagnóstico de câncer no endométrio veio quando ela estava com 36 anos, o que é incomum. Como essa forma da doença é causada por danos acumulados no DNA, só quatro em cada 100 mil mulheres desta faixa etária deparam-se com o problema.
O câncer era a última coisa em que Phillippa pensava quando começou a ter um bebê, há três anos, junto com o marido, Matt, 38. Depois de várias frustrações e abortos espontâneos precoces, o casal, que é de Birmingham, na Inglaterra, decidiu recorrer à reprodução assistida. Eles fizeram os exames e a parte inicial do processo, mas, na hora de implantar o embrião, os médicos descobriram que havia algo errado. "Eles encontraram pólipos, que são bastante comuns. A grande maioria é benigna", lembra ela.
Inicialmente, não parecia uma notícia ruim. Afinal, a presença dos pólipos poderia explicar a infertilidade. Então, havia uma boa chance de removê-los e conseguir uma gestação saudável. "Eles [os médicos] me disseram: 'Teremos que tirá-los e enviá-los para uma biópsia, mas não há nada com que se preocupar'. Nunca esperei receber uma ligação dizendo: 'Você tem câncer'. Uma coisa é esperar pelos resultados dos exames quando você está ansiosa com os sintomas, mas isso foi muito inesperado. Foi devastador. Passamos da esperança de poder seguir com o tratamento de fertilidade para a percepção de que eu deveria me preocupar com a preservação da minha vida”, lembra.
Apesar disso, Phillippa enfatiza que foi muito bem assistida. "Não posso culpar o atendimento que recebi na clínica de fertilidade e não há nenhuma sugestão de isso tenha contribuído para meu câncer. Devo minha vida aos médicos porque eles foram os únicos a detectar algo, porque eu não estava agindo de acordo com meus sintomas”, afirma. “Olhando para trás, se eu não estivesse tão focada em ter um bebê, eu provavelmente teria dito: 'Espera aí, por que minhas menstruações ficaram tão intensas de repente? Por que às vezes tenho manchas?' É muito importante ouvir seu corpo”, aponta. É justamente essa mensagem que ela pretende passar, ao compartilhar sua história difícil. "Aumentar a conscientização sobre o câncer de útero e outros cânceres ginecológicos — e a importância de uma boa rede de apoio — é uma das razões pelas quais estou contando minha história hoje”, destaca.
Depois de descobrir que tinha câncer, Phillippa foi encaminhada ao Hospital da Universidade de Birmingham para fazer uma histerectomia completa. Foi um golpe devastador, suavizado apenas pela chegada de Alba, a cadela adotada pelo casal. “Falávamos sobre ter um cachorro há muito tempo, mas nunca parecia ser o momento certo”, diz.
Exatamente no dia em que Phillippa foi diagnosticada, Matt e ela decidiram que não podiam esperar mais. Em outubro do ano passado, Phillippa passou por uma cirurgia para remover seu útero, ovários e vários gânglios linfáticos. Biópsias e outros testes confirmaram que ela tinha câncer em estágio quatro. Ainda era curável, mas, infelizmente, as notícias ruins iriam ainda mais longe.
Phillippa também descobriu que tem síndrome de Lynch e carrega um gene defeituoso, que aumenta seu risco de vários tipos de câncer. Apesar disso, ela se mantém positiva. "Você tem que manter a esperança no futuro e olhar para frente, então, nos agarramos aos nossos sonhos de ter uma família — só que não da maneira que imaginávamos”, explica. O casal voltou para casa com uma pilha de papéis e muitas informações — Alba destruiu tudo na primeira oportunidade. "Era como se ela soubesse que era maligno", brinca sua dona. Os dois, é claro, ficaram momentaneamente irritados, antes de cair na gargalhada com a clássica cena do cachorro que comeu “a lição de casa”.
Depois de passar pela cirurgia, Phillippa precisou iniciar ciclos de quimioterapia e radioterapia simultâneos. Então, fez mais quimioterapia e, agora, ela toma medicamentos de imunoterapia, que age tentando detectar e destruir quaisquer células cancerígenas restantes. O prognóstico dela é bom, mas ainda há dúvidas.
Sobre o sonho de ter um bebê, o casal pensou em apelar para a técnica da barriga de aluguel, usando seus embriões. "Mas isso nos exporia ao ciclo de esperança e potencial decepção que enfrentamos com a infertilidade. Há também o medo de que os embriões carreguem a síndrome de Lynch. Você pode fazer testes genéticos, mas eu não gostaria que uma criança soubesse que poderíamos tê-la destruído como um embrião”, diz ela, que, por enquanto, pretender ficar apenas com Alba.