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Jornalista, historiador e empresário de São Paulo, Francisco Borges (@paifranciscoborges), 46 anos, já cuidava sozinho de um filho biológico quando decidiu entrar na fila de adoção. Ele, que atualmente mora em São José dos Campos com os seis filhos — entre eles, cinco adotivos —, já viveu o sentimento do abandono. "Fui abandonado pela minha mãe quando tinha 3 anos. Ela me deixou no bairro Pacaembu, dizendo que iria comprar bala e já voltava, mas nunca mais voltou", lembra.

Na época, Francisco foi levado por policiais para uma instituição. "Anos depois, soube que essa instituição se chamava Febem. Fiquei lá por cerca de três anos até ser adotado por um casal que não tinha filhos. Tive a oportunidade de receber desse casal carinho, afeto e amor, mas, infelizmente, minha mãe faleceu quando eu tinha 12 anos e meu pai, quando eu tinha 15. Depois disso, fui cuidado por uma tia, irmã do meu pai adotivo. Ela era tutora de outras três sobrinhas. A casa estava sempre cheia e acho que foi daí que nasceu o desejo de também ter uma família grande", conta.

Hoje, o pai solo de seis meninos — Victor Eduardo, Gabriel, Maikon, João, Davi e Miguel, todos com idades entre 8 e 16 anos — entende tão bem a complexidade do processo de adoção que ajuda outras pessoas que têm desejo de adotar. "Muitas vezes, a sociedade enxerga os pais que adotam como 'santos', quando, na verdade, a adoção é uma forma legítima de constituir família. Claro, também é uma maneira de olhar para as realidades sociais e entender que a gente pode, sim, interferir através da nossa ação. Mas é preciso estar comprometido e entender que não são crianças de comerciais publicitários. São crianças reais, com problemas, sonhos e ansiedades", afirma. Em depoimento à CRESCER, ele relembrou um pouco da história de cada um e como se tornou pai solo de seis.

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Francisco é pai solo de seis meninos — Foto: Arquivo pessoal
Francisco é pai solo de seis meninos — Foto: Arquivo pessoal

"Eu tenho seis filhos — um deles biológico, que mora comigo desde que nasceu. A mãe já tinha outros filhos e concordamos que não ficaríamos juntos. Na época, ela achou melhor que eu cuidasse dele. Eu tinha o desejo intenso e verdadeiro de ser pai, e ela já tinha vivenciado a experiência da maternidade. Então, comecei a minha paternidade cuidando do meu filho biológico que, hoje, tem 16 anos. Victor Eduardo é um menino muito inteligente, organizado e sensível.

Lembro que, quando ele tinha 10 anos, conversamos sobre a possibilidade de aumentar a nossa família, e dei a ele um tempo para refletir. Então, um ano depois, dei entrada no processo de adoção. Naquele momento, o propósito era adotar apenas um. Busquei grupos de apoio à adoção para estudar e entender melhor — queria saber o que passava na mente da maioria das crianças e adolescentes. Descobri que, mesmo tendo sofrido tanto, muitos ainda tinham apego à família biológica e a tudo o que viveram. Alguns, inclusive, criam situações que não existiram para justificar o amor que ainda sentem pelos seus pais.

Família de quatro

Oito meses depois, fui habilitado e, em março de 2020, me tornei pai de Gabriel, na época com 11 anos, e Maikon, com 8 anos. Eles tiveram uma infância muito difícil — a mãe biológica era usuária de drogas e acabou sendo assassinada. Eles, que já cuidavam um do outro e até sustentavam a casa, foram recolhidos para um abrigo, onde ficaram por oito meses. Quando os conheci, foi algo especial, porém, não romantizado. Fiquei ansioso para ouvi-los e conhecer suas histórias.

Porém, ao mesmo tempo, sabia que minha família, que estava prestes a aumentar, precisaria de vários cuidados para que, de fato, acontecesse. Além do amor, que é algo que não nasce da noite para o dia, eu teria que ter compromisso com todas as etapas do processo — de aproximação, de criação de vínculo, o olhar de atenção para com eles e entender que eles tinham marcas muito profundas, por terem sido expostos a várias precariedades. Eu sabia que não bastava apenas amá-los, mas teria que olhar para eles como sujeitos de direitos, capazes de amar e serem amados. Muitas vezes, na adoção, as pessoas querem amar seus filhos, mas rejeitando tudo aquilo que eles já viveram. Se eu fizesse isso, estaria machucando-os ainda mais, pois estaria tentando apagar quem eles são.

Assim que a aproximação foi autorizada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, fui acompanhado por uma equipe técnica e recebi todo o suporte — me contaram tudo o que sabiam sobre eles e, ao mesmo tempo, deixaram claro que eu poderia ter surpresas, já que se tratam de crianças e adolescentes que, muitas vezes, romantizam a história com sua família de origem ou até omitem fatos. E, naquele momento, me comprometi em ser o pai dos dois.

A adoção é mais do que amor, é um ato de responsabilidade social. A maioria das crianças que esperam por um lar são crianças negras — pardas e pretas —, e quando olhamos de uma forma mais específica, percebemos que as crianças pretas, em sua maioria, carregam um abandono duplo: por terem sido abandonadas pela família de origem e negligenciadas por um estado omisso e, ao mesmo tempo, por continuarem nos abrigos recebendo um olhar, em sua maioria, de desprezo.

Meus filhos chegaram com muitas marcas — foram explorados pela família, que fez com que fossem aos faróis venderem coisas e deixando de ir à escola. Soube que, quando chegavam em casa com menos dinheiro do que deveriam, eram agredidos fisicamente, e isso me machucou muito. Eu também precisei buscar apoio psicológico para compreender verdadeiramente a história deles. Maikon e Gabriel chegaram no meio da pandemia de covid, o que possibilitou uma maior aproximação entre a gente. Eu trabalhava home office e eles estudavam em casa. Maikon estava no terceiro ano do ensino fundamental, mas não sabia ler e escrever. Já Gabriel, prestes a completar 12 anos, sabia ler, mas não sabia escrever e não tinha noção alguma de compreensão de texto.

Ensinei Maikon a ler e escrever, e tive a oportunidade de apoiar Gabriel a descobrir que ele era capaz não só de aprender, mas de ressignificar sua própria história. Ele aprendeu que tudo aquilo que ele viveu não foi culpa dele e, agora, ele tinha a possibilidade de reconstruir a sua vida. Foi um período muito intenso — nem tudo são flores, mas conseguimos. E conseguimos porque eu, como adulto e pai deles, compreendi que não poderia fazer isso sem apoio psicológico. Existiam marcas e dores que eu não daria conta sozinho.

Passados seis meses da chegada deles, eu pude compreender que estávamos bem — eles já haviam me legitimado como pai, me reconheciam como responsável e entendiam que estavam em uma nova família. Mas Gabriel, em especial, o mais velho, ainda sentia muita saudade da mãe — ele sentia como se tivesse traindo a história da família biológica, mesmo ela já tendo falecido. Então, aos poucos, consegui mostrar que não estávamos apagando a história dele, mas ressignificando tudo o que ele viveu. E, antes de 1 ano de convivência, nossa história já era outra.

Enfim, pai de seis

Decidi continuar ativo no cadastro de adoção e, dois anos depois da chegada de Gabriel e Maikon, decidi que era o momento de aumentar a família. Dessa vez, através do processo de busca ativa. Lembro que, através do grupo, recebi o vídeo de três irmãos — eles não tinham pretendentes e pensei que, talvez, essas três crianças pudessem receber aqui, tudo o que necessitavam.

Entrei em contato e começamos uma aproximação virtual, já que eles moravam no Espírito Santo. Foram 45 dias assim até que, em julho de 2021, fui com meus três filhos para lá passar um mês de férias. Assim, nos conhecemos e fizemos a aproximação com João, que tinha 4 anos, Davi, 5, e Miguel, 10. Hoje, 3 anos depois, eles já fazem parte da nossa família.

Como pai solo de seis, obviamente, eu já cheguei a pensar que não daria conta — tem que lavar, passar, cozinhar, escutar, dar amor e, claro, chamar atenção quando precisa. Mas depois de alguns meses, as coisas começam a se organizar. Hoje, não digo que eu 'dou conta', porque a gente não precisa dar conta de tudo, mas a rotina está organizada. Por exemplo, costumo cozinhar e congelar duas vezes na semana para, diariamente, só servir as refeições. Tem dia certo para lavar as roupas de cama; já os uniformes, lavo diariamente para não acumular.

Cada um dos meus quatro filhos mais velhos também ajudam com a rotina da casa e, no fim, dá tudo certo. Nesse momento, optei por não ter funcionários para poder vivenciar a rotina com eles. Mas em 2025, o objetivo é voltarmos para São Paulo e, aí sim, pretende contar com uma rede de apoio. No momento, minha prioridade é dar carinho, amor, atenção e afeto para os meus filhos, e meu maior desafio é olhar o coletivo de um jeito singular. Olhar com a atenção que cada um merece — e isso requer tempo. Mas não descarto, no futuro, a possibilidade de adotar outras crianças.

Francisco é pai solo de seis — Foto: Arquivo pessoal
Francisco é pai solo de seis — Foto: Arquivo pessoal

Sobre a adoção

O principal desafio do processo de adaptação é que, muitas vezes, essas crianças estão aprendendo a ser filhos. A maioria acaba ficando muito tempo em abrigos, onde são apenas cuidados. Lá, elas recebem cuidados básicos, e muitos não sabem o que é ter pai ou mãe. Então, nesse processo de adaptação, é importante saber esperar para que eles também entendam e consigam reconhecê-lo como família — e não é algo que acontece em poucos meses.

Quando começam a se sentir mais seguros, eles deixam de demonstrar apenas o melhor que têm, por medo de serem devolvidos, e demostram tudo o que carregam em si — é quando aparecem os problemas e as dificuldades. Na maioria das vezes, os adultos já estão comprometidos, bem orientados e preparados para esse momento. Esse período nunca é leve, mas é importante lembrar que é apenas uma fase passageira. Depois de aprender sobre tudo isso, passei a coordenar o Gaacsp — Grupo de Apoio Adoção na cidade de São Paulo. Lá, eu converso com futuros habilitados, pessoas que estão dando início ao processo de adoção. É importante desmistificar e não romantizar.

O que eu diria para pessoas que têm o real desejo de adotar é 'vá em busca'. Busque um grupo de apoio à adoção para receber todas as orientações, procure o Fórum da sua cidade para saber quais são os primeiros passes e esteja comprometido com cada etapa do processo. Muitas vezes, a sociedade enxerga os pais que adotam como 'santos'; quando, na verdade, a adoção é uma forma legítima de constituir família. Claro, também é uma forma de olhar para as realidades sociais e entender que a gente pode, sim, interferir através da nossa ação. Mas devemos estar comprometidos e entender que não são crianças de comerciais publicitários — são crianças reais, com problemas, sonhos e ansiedades. O medo do abandono, muitas vezes, continua existindo e a acompanha nessa nova família."

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