Por mais nítido que seja para quem observa de fora, quando se está dentro de uma situação que envolve violência doméstica, como vítima, nem sempre a clareza é tão grande. Em um depoimento anônimo, publicado pelo site Kidspot, uma mãe contou que sua filha mais nova, uma criança, enxergou primeiro o que estava acontecendo e tentou avisá-la, mas ela demorou para dar ouvidos – e se arrependeu profundamente.
“Os sinais sempre estiveram lá”, começa ela. “Todo mundo diz isso quando fala sobre violência doméstica, não é? São pequenas coisas que seu cérebro doente usa a desculpa de que é amor”, diz a mãe. “O pior é que minha filha mais nova tentou me contar; tentou me fazer ver. Em vez disso, eu estava concentrada, tentando salvar um navio que estava afundando”, reconhece.
Ela conta que acreditava em frases que dizia para si mesma, como: “Ele me ama tanto, é por isso que fica com ciúmes” ou “Ele me ama tanto que não suporta me ver conversando com outro homem. É por isso que ele quebra as paredes”.
A mãe conta que as brigas e situações violentas aconteciam com tanta frequência, que ela foi aceitando que aquilo era normal. Ela se culpava e achava que era culpa dela; ela tinha feito o marido reagir daquele jeito.
“O que mais me mata sobre aqueles momentos é como eles fizeram minha filha se sentir. Eu estava tentando resolver as coisas, e pensei que estava fazendo a coisa certa”, desabafa. “Lembro-me das noites em que minha garotinha me entregava bilhetes enquanto discutíamos na frente dela. “Por favor, pare”, ela me implorava, silenciosamente, em um rabisco. “Eu odeio quando vocês brigam”. E teve uma, em particular, da qual ela se lembra e se arrepende ainda mais por não ter prestado atenção imediatamente. A pequena escreveu: “O Dia dos Pais será tão diferente este ano".
Era o jeito de a criança dizer que elas precisavam ir embora – mas a mãe não entendeu na mesma hora. “Eu poderia ter nos salvado daquela situação muito antes. Eu poderia ter dado a ela a paz que temos agora, muito antes”, diz ela, já separada, tempos depois. “Eu me sinto tão culpada por isso”, afirma.
“Mas mesmo que o ímpeto para determinar o fim relacionamento tenha chegado muito mais tarde do que deveria, ele veio, e sou eternamente grata por encontrar essa força interior para ir embora. Por ela”, escreve a mulher.
“Agora, conforme nosso primeiro Dia dos Pais separados se aproxima rapidamente, sinto um tipo único de tristeza. Não por mim, mas pela minha filha”, afirma. E, então, ela escreve frases direcionadas à menina, pedindo perdão por não a proteger rápido o suficiente. “Desculpe-me por não ter escutado antes. Desculpe-me por não ter percebido o que você viu: que não havia sentido em lutar. Nós apenas tínhamos que ir embora. Sinto muito por nunca ter lhe dado o pai estável e amoroso que você merecia”, diz ela.
A mãe completa: “Nunca é tarde demais para devolver o futuro aos seus filhos. É disso que tentarei lembrar, já que não comemoramos o dia dos pais com o pai da minha filha”.