Enquanto a Boston Landmarks Orchestra interpretava “Adoration” de Florence Price, o violinista canadense Adrian Anantawan aguardava seu solo com expectativa. Para ele, esse momento não era apenas uma oportunidade para mostrar seu talento, mas também para transmitir o que o violino representa: o som da possibilidade. “Muitas vezes, deixamos o medo nos impedir de tentar qualquer coisa”, disse Anantawan ao site Good Morning America. “Para mim, minha história sempre foi sobre simplesmente tentar, aceitar o fracasso e ver quais resultados surgem.” Sobre a peça que tocava, ele destacou: “No meu caso, é realmente uma música bonita e expressiva.”
No entanto, a música não foi inicialmente pensada para pessoas como Anantawan. Nascido sem a mão direita e a maior parte do antebraço direito, ele possui apenas cinco dedos, o que representou um desafio inicial. Quando estava na quinta série, seu professor de música queria que todos aprendessem a tocar flauta doce. Diante desse obstáculo, Anantawan e seus pais decidiram procurar um instrumento mais adequado para seu talento musical. O trompete foi considerado, mas Anantawan não gostou do som. A família então optou pelo violino “porque era o instrumento mais bonito”, conforme Anantawan. Eles procuraram um hospital em Toronto para criar um molde adaptável que permitisse ao jovem de 10 anos segurar o arco.
Uma equipe de engenheiros colaborou com Anantawan para desenvolver um dispositivo chamado espátula, um molde de gesso com uma extensão na ponta. Esse equipamento permitiu que Anantawan usasse seu ombro para deslizar o arco e produzir som. “Desde a primeira nota que toquei, fiquei realmente atraído pelo som e pela conexão do meu corpo com o instrumento, além da possibilidade de expressar minha imaginação”, lembrou ele.
Anantawan valoriza a tecnologia que possibilita o acesso à música para pessoas com deficiência, mas acredita que o mais crucial é a atitude de professores, apoiadores e outros que incentivam jovens músicos a superarem desafios. Em sua atuação como professor associado no Berklee College of Music, ele fundou o Music Inclusion Ensemble, um grupo que proporciona acomodações para estudantes com deficiências e promove a inclusão musical.
“A ideia é que todos nós nos unimos em torno de uma causa comum, e os resultados do que fazemos refletem nossas vozes coletivas e uma defesa do que a deficiência pode ser e como ela pode ser percebida pela sociedade”, explicou Anantawan.
Ele espera que aqueles enfrentando desafios em suas vidas se sintam inspirados a encontrar maneiras de se expressar. “Meu dever é usar esta plataforma para mostrar o que uma pessoa com uma deficiência visível pode fazer. É sempre uma honra, e você nunca sabe quem na plateia pode se sentir comovido ou inspirado a mudar sua própria vida”, afirmou.
Anantawan deseja ser reconhecido não apenas pelos desafios que enfrenta, mas também por sua singularidade e por seu esforço contínuo para melhorar. “Eu quero ser definido como alguém que é inerentemente único, tanto quanto qualquer outra pessoa”, disse ele. “Gostaria de ser percebido primeiramente como uma pessoa, um músico, alguém que luta como todos, mas que também busca se tornar a melhor versão de si mesmo.”