Bebês prematuros: entenda por que eles têm mais riscos de desenvolver doenças e veja como protegê-los

Especialistas ressaltam a importância de imunizar os pequenos que chegam antes do previsto e têm um sistema imune mais imaturo

Por Amanda Oliveira — São Paulo


Contar as semanas até a hora do parto e ficar na expectativa para essa data é inevitável para as mães. Mas, infelizmente, nem sempre os bebês chegam no tempo esperado. Nesses casos, as famílias passam a lidar com uma nova realidade e, assim, nascem os pais de prematuros, que precisam estar atentos a uma série de cuidados com os filhos. “Nós temos que olhar com carinho para esses bebês para aumentar a sua qualidade de vida”, afirmou a médica neonatologista Lilian Sadeck, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em um evento virtual promovido pela Sanofi, no último dia 9 de novembro.

A especialista destacou, ainda, que é preciso entender que o prematuro faz parte de um grupo heterogêneo. É considerado prematuro todos os bebês que nascem com menos de 37 semanas de gestação. No entanto, existem classificações mais específicas: pré-termo extremo (menores que 28 semanas), muito pré-termo (28 a 31 semanas e seis dias), pré-termo moderado (32 a 33 semanas e seis dias) e pré-termo tardio (34 a 36 semanas e seis dias).

344 Por um fio — Foto: Getty Images

“Quando estamos lidando com essas crianças, é importante essa diferenciação”, disse a médica. “Bebês com menos de 28 semanas terão mais riscos de ter problemas respiratórios e cardiácos, já os com menos de 32 semanas têm mais chances de ter quadros infecciosos”, completou. Diante desse cenário, a especialista fez um alerta: “Não podemos achar que todos os prematuros são iguais”.

A boa notícia é que a maioria dos bebês – mais de 93% – nasce a termo, no Brasil. Mas, com o tempo, o número de partos prematuros vem crescendo. Em sua apresentação, Sadeck apontou que a incidência desses nascimentos no país ficou em torno de 11%, tanto em 2019 como em 2020. Em 2010, esse número era de cerca de 7%. A neonatologista explica que o avanço da medicina tem permitido que os bebês nasçam mesmo com poucas semanas. Assim, há um contingente maior de crianças que necessitam de cuidados especiais.

Por que os prematuros têm mais riscos de desenvolver doenças?

A especialista da FMUSP afirma que os bebês pré-termos têm mais chances de desenvolver doenças, como coqueluche e influenza. Esses quadros ocorrem, principalmente, pois o recém-nascido tem um sistema imune ainda imaturo.

Os prematuros também têm menores estoques de células brancas, que protegem contra os agentes infecciosos. Outro problema é quanto à passagem de anticorpos da mãe para o filho. A neonatologista explica que a transferência começa, em geral, a partir de 28 e 29 semanas e isso vai aumentando progressivamente. “Quanto mais prematuros, menos anticorpos eles vão ter recebido da mãe”, ressaltou.

Como proteger os prematuros?

Se os bebês pré-termo têm um sistema imaturo, eles respondem às vacinas? A resposta é sim! A especialista diz que estudos já apontaram que os prematuros respondem aos imunizantes de forma muito semelhante aos bebês que nascem a termo.

No caso daqueles que vieram ao mundo antes de 32 semanas, eles têm mais dificuldades para produzir anticorpos em relação à hepatite B, por exemplo. Por isso, eles precisam receber quatro doses da vacina. A BCG, que protege contra a tuberculose, também tem uma particularidade: o bebê precisa ter no mínimo 2 kg. Caso contrário, essa vacina precisa ser adiada até chegar a esse peso. Confira o calendário de vacinação do prematuro da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Casos específicos

A médica Sonia Faria, do Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE) de Santa Catarina, também participou do evento da Sanofi e ressaltou a importância da vacinação de bebês prematuros. “A maioria das vacinas disponíveis para os bebês estão disponíveis no SUS”, ressaltou a médica.

Em casos específicos, a especialista explicou que as famílias podem recorrer aos CRIEs de sua região para imunizar os pequenos. Para quem não conhece, os CRIEs são unidades especializadas que oferecem imunizantes que não integram o calendário básico de saúde da rede pública, porém, são necessários para pacientes com necessidades personalizadas de vacinação, como é o caso dos prematuros. Segundo a médica, a instituição oferece vacinas combinadas, que protegem contra várias doenças ao mesmo tempo, em uma única injeção. No entanto, a aplicação só é feita com prescrição médica. Assim, o profissional de saúde faz o pedido do produto e a criança pode receber na própria unidade do CRIE ou no hospital.

Outra particularidade dos bebês prematuros é que eles precisam ser protegidos contra o Vírus Sincicial Respiratório (VSR). A única forma de prevenção do VSR, além dos cuidados de sempre, como higiene das mãos, etiqueta da tosse, evitar aglomerações, aleitamento materno, ou seja, tudo que serve para proteger o bebê de qualquer doença respiratória, é a imunização passiva. Existem anticorpos artificiais, como o chamado monoclonal palivizumabe, específico para o VSR, que se utiliza nos bebês de maior risco (prematuros, cardiopatas e os com doença pulmonar crônica).

O anticorpo é injetado via intramuscular na criança, em doses mensais, na estação em que o vírus circula, durante cinco meses. Essa profilaxia é disponibilizada pelo Ministério da Saúde, gratuitamente, para bebês que nascem com menos de 29 semanas de gestação ou cardiopatas. Desde 2018, entrou no rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde (ANS) e é disponibilizado também pelos planos de saúde, que são obrigados a cobrir o procedimento.

Na rede pública, o medicamento deve ser solicitado pelo médico e encaminhado para o o Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE).

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