Todo mundo sabe que, durante a gravidez, é importante tomar um cuidado especial com a alimentação. Mas o consumo de alimentos ultraprocessados, que deveria ser mínimo ao longo dos nove meses, compõe quase um terço (32%) da dieta das grávidas, como mostra uma nova pesquisa feita pela Unversidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto. De acordo com o estudo, mulheres mais jovens, de classes mais altas e aquelas que já tinham excesso de peso antes da gestação têm maior tendência a esse tipo de alimentação. Refrigerantes, pão de queijo, bolachas e linguiça estão entre os mais consumidos.
![32% das grávidas consomem ultraprocessados — Foto: Reprodução/Getty Images](https://s2-crescer.glbimg.com/_MFTjMWomsKO93SNDZhlRHr8lqM=/0x0:612x408/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_19863d4200d245c3a2ff5b383f548bb6/internal_photos/bs/2024/e/a/VaSvmNT2C3tBP0mv90IA/istockphoto-1326561773-612x612.jpg)
"O resultado não nos surpreende porque há uma mudança no padrão de consumo em geral que vem sendo acompanhado pelas gestantes, com aumento da ingestão de ultraprocessados e redução da ‘comida de verdade’, aquela que inclui frutas, legumes, verduras e alimentos minimamente processados", diz a nutricionista Natália Posses Carreira, autora do estudo.
Segundo a pesquisadora, estes alimentos estão sendo utilizados como substitutos das refeições. "Em vez de comer uma fruta no lanche, [as gestantes] preferem bolacha ou pão de queijo, por exemplo. Esses são itens dispensáveis, carentes em nutrientes essenciais como vitaminas, minerais e proteína, e que contribuem significativamente para a ingestão calórica diária", afirma.
Por outro lado, as gestantes mais velhas parecem ter mais acesso a informações sobre a qualidade das comidas. Além disso, grávidas de classes menos favorecidas também acabam consumindo mais alimentos tradicionais, como arroz e feijão. "Apesar disso, sabemos que também há uma mudança nesse aspecto, pois estudos mostram que o preço dos ultraprocessados vem caindo desde os anos 2000 e isso, aliado à facilidade de acesso, facilita o consumo mesmo pelas classes mais vulneráveis", observa a nutricionista.
Riscos dos ultraprocessados na gravidez
Os dados preocupam, pois o consumo exagerado de alimentos ultraprocessados durante a gestação pode trazer diversos riscos. "Para a mãe, o excesso desses alimentos pode aumentar o risco de ganho de peso excessivo, favorecer o desenvolvimento de complicações, como diabetes gestacional e pré-eclâmpsia, comprometer a absorção de nutrientes essenciais e desequilibrar a microbiota intestinal, afetando a saúde digestiva", explica Julia Leite, nutricionista especialista em saúde da mulher.
Estes alimentos também não oferecerem os nutrientes e minerais fundamentais para o desenvolvimento do bebê. Além disso, podem afetar a criança a longo prazo. "Já para o bebê, os ultraprocessados podem contribuir para o aumento da propensão ao desenvolvimento de obesidade infantil, influenciar negativamente o paladar e preferência por alimentos pouco saudáveis, impactar o desenvolvimento cerebral e cognitivo, além de aumentar o risco de alergias alimentares e de doenças crônicas na infância", diz a nutricionista.
Dicas para evitar o consumo de ultraprocessados
Vale lembrar que os ultraprocessados são alimentos e bebidas que passaram por grande transformação na indústria, envolvendo várias técnicas de processamento, e que contêm aditivos, como corantes e conservantes que mudam cor, textura, sabor e aroma. Alguns exemplos são refrigerantes, biscoitos recheados, chocolates, cereais matinais, embutidos, salgadinhos, pratos prontos, macarrão instantâneo, entre outros.
Por isso, é importante ficar atento aos rótulos dos alimentos na hora das compras. A dica para identificá-los é observar se há mais de cinco ingredientes na composição, principalmente aqueles com nomes estranhos. "Fique longe principalmente dos alimentos ricos em açúcar, gorduras trans e sódio", orienta Julia Leite.
A nutricionista afirma que o ideal é incentivar uma alimentação saudável e balanceada durante a gravidez. Para isso, é fundamental priorizar o consumo de alimentos in natura e minimamente processados (que passaram por poucas alterações, como limpeza e pasteurização), incluindo uma variedade de frutas, legumes, verduras, grãos integrais, proteínas magras e gorduras saudáveis. "Manter-se bem hidratada, buscar orientação de um nutricionista especializado em gestação para um plano alimentar adequado e realizar atividades físicas seguras e adequadas para gestantes também são essenciais", finaliza.