Saúde & bem-estar
 
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Mais de 106 mil mulheres acima de 40 anos se tornaram mães em 2022 no Brasil. Esse número, recém-divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), representa um aumento de 65,7% em comparação a 2010. “A gravidez tardia tornou-se uma realidade e acompanha uma tendência comportamental e cultural entre as mulheres de forma global. As conquistas femininas de independência financeira e autonomia já chegaram há algum tempo na realidade da maternidade. E o adiamento da gestação está relacionado ao maior acesso aos métodos contraceptivos, à priorização do crescimento profissional, à espera por um relacionamento estável que garanta uma real parceria na criação de filhos e até mesmo à mudança na visão sobre a maternidade compulsória”, analisa o obstetra Eduardo Cordioli, diretor médico do Grupo Santa Joana (SP).

Mulher deitada fazendo exame; gravidez após os 40 anos; maternidade; gestação — Foto: Getty Images
Mulher deitada fazendo exame; gravidez após os 40 anos; maternidade; gestação — Foto: Getty Images

E por ser cada vez mais comum, essa é também uma questão de saúde pública, uma vez que uma gravidez considerada tardia, ou seja, após os 35 anos, exige cuidados especiais — sobretudo se ocorrer depois dos 40 anos.

“É importante entender que, com o passar do tempo, os óvulos também envelhecem”, explica a obstetra Thaís Domingues, especialista em reprodução assistida na Huntington Medicina Reprodutiva (SP). Esse envelhecimento, conforme explica a especialista, aumenta o risco de algumas complicações, como aborto espontâneo e parto prematuro.

Nem tudo, no entanto, são pontos de atenção. Novas pesquisas têm demonstrado que, apesar dos riscos, essas gestações podem ter um desfecho positivo desde que sejam tomados os devidos cuidados. Nesta reportagem, você vai descobrir um pouco mais sobre os desafios e as alegrias da maternidade tardia, seja ela biológica ou não.

Curvas da vida

Após um ano de namoro com o engenheiro eletricista Filipe Galvani, a gerente de recursos humanos Vânia Medina, aos 39 anos, parou o anticoncepcional e engravidou no mês seguinte para surpresa de todos. Mas, infelizmente, com dois meses de gestação, após um sangramento, eles descobriram que o feto não tinha mais batimentos cardíacos. O mesmo aconteceu em uma segunda tentativa. Dessa vez, a obstetra pediu a curetagem para realizar uma biópsia no feto. O resultado mostrou uma síndrome incompatível com a vida.

“Partimos, então, para um procedimento de fertilização in vitro (FIV). Apesar de não ter problemas para engravidar e ter uma quantidade boa de óvulos para a idade, eles não tinham qualidade. A FIV possibilitaria que implantássemos apenas o embrião saudável”, conta Vânia. Pois bem. Dos 16 folículos, 11 foram fecundados e 6 se desenvolveram. “Fizemos a biópsia em quatro deles e todos apresentavam síndromes genéticas. Partimos para os últimos dois, e apenas um deles era saudável. O que parecia impossível, havia acontecido”, relembra Vânia.

Após a implantação e uma espera angustiante de dez dias, o exame de gravidez positivo veio para coroar os dias de luta. “A minha gravidez foi muita tranquila e a nossa filha Estela chegou saudável em nossos braços, realizando o sonho da nossa família”, conta.

Empolgados com o resultado positivo da primeira FIV, partiram para uma segunda tentativa. “Aos 41 anos, meu corpo já estava diferente. Eu tinha menos óvulos e nas cinco (sim, isso mesmo!) tentativas que fizemos durante três anos, todos os embriões apresentavam síndromes genéticas. Quando a especialista em reprodução assistida conversou conosco sobre a ovodoação, nós demoramos a aceitar, mas fomos em frente. No entanto, antes da implantação, eu descobri que estava grávida aos 44 anos, e naturalmente”, relembra Vânia. Durante a gestação, provavelmente por influência do estresse e da rotina alterada na pandemia, ela teve diabetes gestacional. Mas, com o tratamento adequado, deu tudo certo. Apesar do histórico, a caçula, Nicole, nasceu saudável, em julho de 2020.

A história da Vânia e do Filipe parece coisa de novela com final feliz, mas mostra as dificuldades que uma gestação tardia pode trazer, como as alterações cromossômicas e o aborto de repetição – e reforça a importância do acompanhamento médico e um bom pré-natal para contornar os possíveis obstáculos.

Quais são os riscos?

É fato que os números não são animadores para as mulheres que desejam engravidar após os 35 anos – e é preciso saber disso. “O pico de fertilidade da mulher acontece aos 28 anos. Depois, o potencial vai caindo, pouco a pouco, ano após ano. De modo que, após os 40 anos, a chance de engravidar naturalmente cai para 5%”, explica o urologista e Ph.D. em reprodução humana Daniel Suslik Zylbersztejn, coordenador médico do Fleury Fertilidade (SP) e diretor médico da DSZ Medicina Reprodutiva (RS).

Além disso, é importante ressaltar, segundo Cordioli, do Grupo Santa Joana, que a gestação tardia aumenta de forma exponencial os riscos de abortamento, diabetes gestacional, doenças da tireoide, malformações e alterações cromossômicas do feto. Elas sobem com a idade da mulher devido à diminuição da qualidade ovariana e ao aumento das chances de internação por pré-eclâmpsia e eclâmpsia – que podem repercutir na sobrevida do bebê e na mortalidade materna.

Apesar de tantos avanços, a medicina ainda não conseguiu atrasar a idade dos óvulos de forma natural, apenas por meio do congelamento. “A gente vive uma fase como sociedade em que queremos tudo e realmente acreditamos que podemos ter tudo. Entretanto, temos de aceitar os nãos da vida, sendo que o não do nosso corpo é um deles. Todas as escolhas trazem renúncias. Ter um filho mais cedo ou mais tarde também. É preciso aceitar e se preparar”, reflete a psicanalista Elisama Santos, colunista da CRESCER.

Por isso, a melhor forma de diminuir os riscos quando se adia a maternidade por quaisquer que sejam os motivos é visitar um ginecologista periodicamente e realizar uma consulta e exames pré-gestacionais. Além de ter uma rotina saudável com alimentação balanceada, controle do peso e prática de exercícios físicos, evitando cigarro e excesso de bebidas alcoólicas, para manter o maior número possível de óvulos de qualidade ao longo da vida fértil.

Esse conselho, aliás, vale para todas as mulheres. Os especialistas garantem que a idade não é o único fator de preocupação. “A condição de saúde, independente da idade, é fundamental. Ou seja, uma mulher com menos de 35 anos, mas com fatores de risco associados, como obesidade, hipertensão ou diabetes, tem mais riscos de desfechos gestacionais ruins e alterações cardiovasculares do que uma mulher saudável com 40 anos”, afirma a cardiologista Danielle Brandão, presidente do departamento de cardiologia da mulher da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj).

De mãe para mãe

A psicanalista Elisama Santos afirma que a caixa de ferramentas das mulheres tem instrumentos diferentes, de acordo com a idade e a experiência. Mas é aí que está a magia da maternidade. “Ela nos coloca no mesmo degrau de dificuldades e descobertas e possibilita a troca de aprendizado até no simples observar a forma que outra mãe cuida do filho próximo a você. Isso vai aumentando os recursos e aprimorando o nosso jeito de ser mãe”, diz.

Pode ser que a mulher mais jovem tenha um “alicate” que a mais velha nunca viu, e elas podem “emprestar ferramentas” entre si. Nos grupos de mães, por exemplo, existem diferentes tipos de mulheres. Não é apenas a idade que as difere, mas a forma de educar, o estilo de vida, as prioridades e os valores. Pena que, aos poucos, as afinidades surjam e os grupos se afunilem. Porque a troca e o aprendizado entre mães nos faz aprender, refletir e evoluir a cada conversa. Pense nisso.

A importância das boas escolhas

A empreendedora Raquel Ziskind Estácio, 44 anos, colheu os frutos de uma vida saudável ao engravidar naturalmente do seu primeiro filho aos 41 anos. Apesar do diagnóstico de baixa reserva ovariana e de todo o preparo para um tratamento de reprodução assistida, inclusive com consulta marcada, ela já havia se antecipado. Seguindo as indicações do seu ginecologista, perdeu 10% do peso, continuou fazendo atividade física regular e diminuiu a bebida alcoólica para uma vez ao mês.

Alguns dias antes da consulta na clínica de fertilidade, Raquel percebeu que estava com a menstruação atrasada. “Resolvi mandar uma mensagem para o meu médico. Ele me pediu para fazer um Beta HCG. O resultado positivo foi uma surpresa”, conta.

Durante a gestação, ela continuou se cuidando. “Um dos exames no início da gravidez acusou a falta de uma proteína que poderia causar trombose. O médico me receitou o uso diário de uma injeção anticoagulante até 60 dias após o nascimento do Luiz, em agosto de 2021”, lembra Raquel.

Uma abordagem integral da medicina consegue rastrear boa parte dos pontos de atenção em uma gravidez tardia, de acordo com os especialistas consultados pela CRESCER. “Atualmente, quando atendemos uma mulher de 35 anos, realizamos uma avaliação estruturada de maneira preventiva e, se forem identificados fatores de riscos, buscamos diminuir a chance das complicações inerentes à idade. Além disso, quando ela engravida, é possível captar dados ainda no primeiro trimestre (por meio de exames moleculares, biomarcadores, dados ultrassonográficos, histórico e o exame físico) e colocá-los numa calculadora para predizer o risco de desenvolver determinadas doenças”, explica Cordioli, do Santa Joana.

Boas notícias

Mas calma, que também temos (muitos!) dados positivos para apresentar nesta reportagem. Enquanto o principal obstáculo é a saúde nas gestações tardias, há um senso indubitável de maturidade que vem junto com a idade. A desvantagem biológica está em certo grau equilibrada pela vantagem social, digamos assim.

Em uma pesquisa publicada no European Journal of Development, cientistas analisaram o desenvolvimento psicossocial de dois grupos de crianças com idades de 7, 11 e 15 anos. Um deles com mães abaixo de 31 anos e outro com mães acima de 31 anos. Os pesquisadores descobriram que as mães mais velhas eram menos propensas a repreender ou disciplinar fisicamente.

A psicanalista Elisama faz eco. “A mãe madura tem uma experiência de vida que, aos 20 e poucos anos, a gente nunca sonhou em ter. Ela viu e viveu bastante coisa e desenvolveu recursos para lidar com as dificuldades. É impossível a maternidade ser fácil em qualquer idade, mas as mães maduras têm uma caixa com mais ferramentas do que as mais jovens”, compara.

Para a cozinheira e influencer Lela de Vincenzo (@jantinhadehoje), a maternidade era um desejo antigo. “Eu e meu marido sempre imaginamos dois filhos, um por via natural e um por adoção”, revela. Entretanto, a gestação natural demorou a acontecer. “Aos 34 anos, comecei a fazer tratamento, mas a minha reserva ovariana era baixíssima. Eu tomava um monte de hormônios e não tinha óvulos. Após as tentativas, uma delas inclusive com ovodoação sem sucesso, entramos na fila de adoção”, conta.

Apesar de terem definido um perfil considerado amplo, que incluía crianças de até 6 anos, independentemente do sexo e da cor, a fila demorou quatro anos. A ligação da Vara da Infância aconteceu em outubro de 2020, em meio à pandemia. Kauê, hoje com 10 anos, chegou em dezembro de 2020 para transformar a vida de Lela e Wilson. “Me tornei mãe aos 42 anos e sinto que tudo aconteceu no tempo certo. Aqui em casa nunca teve tanta conversa como hoje em dia. Também existe mais estabilidade financeira. Certamente, não poderíamos oferecer a nosso filho na época recursos como escola particular, viagens e outras experiências que são possíveis atualmente”, completa.

Existem até mesmo dados científicos que comprovam essa percepção de Lela. “Mães mais velhas pela primeira vez têm maior probabilidade de serem social e economicamente favorecidas”, afirma a socióloga Emily Mann, que está conduzindo um estudo sobre idade materna avançada na Universidade da Carolina do Sul, nos Estados Unidos. O foco da pesquisa está no paradoxo dos riscos aumentados das gestações tardias versus melhores experiências para as mães e os seus bebês. Embora se baseie em dados norte-americanos, possivelmente por aqui teríamos desfechos semelhantes.

Fim dos tabus

E tem mais: um estudo recente da Universidade do Sul da Califórnia, também nos Estados Unidos, descobriu que dar à luz após os 35 anos melhora as habilidades mentais... da mãe. Os pesquisadores acreditam que isso se deve ao incremento de hormônios (estrogênios e progesterona) produzidos durante a gravidez, que atuam de forma positiva na química do cérebro e têm maior efeito quanto mais velha for a mãe. Para chegar a essa conclusão, foram feitos testes com 830 mulheres na menopausa: as que tiveram filhos a partir dos 35 mostraram melhor memória verbal e cognição.

E se um dos tabus da maternidade tardia é justamente parecer avó do seu filho ou não vê-lo crescer, a ciência vem – mais uma vez – derrubar barreiras. Um estudo realizado na Escola de Medicina da Universidade de Boston (Estados Unidos) investigou a expectativa de vida das mães mais velhas e concluiu que as mulheres que tiveram seu último filho depois dos 33 anos reúnem mais probabilidades de viver até os 95. “Obviamente isso não significa que as mulheres devam esperar para terem filhos em idades mais avançadas, a fim de melhorar sua expectativa de vida”, afirma o pesquisador Thomas Perls, autor do estudo. A explicação pode estar na saúde de modo geral. “A capacidade natural de ter um filho numa idade avançada provavelmente indica que o sistema reprodutivo da mulher está envelhecendo lentamente e, portanto, o resto do seu corpo também”, completa Perls.

Respondendo à pergunta do título da reportagem, a hora certa para ser mãe é você quem decide. O mais importante, diante das evidências científicas (e das voltas da vida também), é sempre cuidar da saúde física e mental, preparando-se na medida do possível. Independentemente da idade. Conte com a gente!

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